A síndrome vestibular periférica é
uma condição clínica comum em cães. Várias doenças podem causar essa
síndrome. Entretanto, sua patofisiologia ainda é pouco conhecida. As
alterações clínicas geralmente são autolimitantes, a recuperação pode
ser longa e, em casos crônicos, os déficits neurológicos podem ser
irreversíveis. Em medicina veterinária, há poucas opções terapêuticas.
Na Medicina, o dicloridrato de betaístina é amplamente utilizado. Essa
medicação foi empregada em seis cães com síndrome vestibular
periférica. Os resultados mostraram melhora clínica com sete a dez dias
de tratamento e recuperação quase completa entre vinte e trinta dias.
Este trabalho descreve a utilização da betaistina em cães com síndrome
vestibular periférica, a rápida melhora clínica e ausência de efeitos
adversos. Os resultados obtidos parecem justificar o uso de
dicloridrato de betaistina na terapia de distúrbios vestibulares
periféricos em animais de companhia.
PALAVRAS-CHAVES: Betaistina, cão, síndrome vestibular.
Vestibular disease is a common
syndrome in small animals that may resulst of central or
peripheral disease. The pathophysiology of peripheral vestibular
syndrome is unknown, however it can be related to an abnormal dynamic
of endolymphatic fluid or neuritis of the vestibular portion of the
VIII cranial nerve. The recovery of neurological sings is slow
and, in chronic cases, the neurological deficits can be irreversible.
In veterinary medicine, thera are few medical options to treat this
condition, however, in Medicine, betahistine dihydrochloride is used to
treat peripheral vestibular disorders. These drug was used in
four dogs with vestibular syndrome. The results showed clinical
improvement in 7 to 10 days of treatment and completed recovery in 20
to 30 days, followed by the cure. One year after the treatment, the
dogs did not have recurrence of the syndrome. This report shows the use
of betahistine dihydrochloride in dogs with peripheral vestibular
syndrome, with rapid clinical recover, without laboratorial
abnormalities or recurrence of the clinical signs .The results
encourage the use of betahistine dihydrochloride in the treatment
of peripheral vestibular disorders in small animals.
KEY WORDS: Betahistine, dog, vestibular syndrome.
A síndrome vestibular é um distúrbio
neurológico causada por disfunção no sistema vestibular. Esta condição
é comum em cães e gatos. Pode se apresentar sob a forma periférica e
central. A primeira forma envolve receptores periféricos no ouvido
interno e a segunda, os núcleos ou tratos do tronco cerebral (TAYLOR,
2003). A otite média-interna é uma importante causa de síndrome
vestibular periférica nos pacientes veterinários, provavelmente a mais
comum. Outras etiologias, como a idiopática, congênita ou secundária a
traumas, infecções e neoplasias, também podem desenvolver a síndrome
(INZANA, 2003). Sua patofisiologia ainda é pouco conhecida e
acredita-se que possa estar relacionada à dinâmica anormal da endolinfa
ou neurites da porção vestibular do VIII nervo craniano (SCHUNK &
AVERILL, 1983).
A otite média-interna pode ser sequela de uma otite externa. Neste
caso, a disfunção vestibular periférica pode ocorrer pela presença de
agentes infecciosos que causam lesão diretamente no ouvido médio e
interno, ou pela produção de toxinas, que provocam inflamação do
labirinto (TAYLOR, 2003). Labirintite linfocítica é outra causa de
síndrome vestibular periférica nos cães, porém sua etiologia também não
está determinada (FORBES & COOK, 1991). A doença vestibular canina
geriátrica e a síndrome vestibular idiopática felina também são causas
importantes de síndrome vestibular periférica em pequenos animais,
entretanto sua etiologia é desconhecida (TAYLOR, 2003).
Os sinais clínicos dessa síndrome desenvolvem-se agudamente e podem ser
precedidos por vômitos e náuseas. Os animais podem se apresentar com
inclinação de cabeça, nistagmo horizontal ou rotatório não posicional e
conjugado, desorientação, paralisia facial, síndrome de Horner, queda e
rolamentos (INZANA, 2004). A vertigem periférica é causada por uma
geração desordenada de impulsos nervosos que afetam o aparelho
vestibular (LORENZ & KORNEGAY, 2003). Clinicamente, pode ser
diferenciada da síndrome central. No quadro de origem central, ocorre
nistagmo posicional e não conjugado, que pode ser tanto horizontal,
vertical ou rotatório, inclinação da cabeça, ataxia simétrica, perda da
propriocepção e alterações de estado mental. Sinais cerebelares podem
estar presentes (TAYLOR, 2003).
O diagnóstico baseia-se nos sinais clínicos, achados de otoscopia,
citologia de conduto auditivo externo ou de material obtido através de
meringotomia, radiografia, tomografia computadorizada ou ressonância
magnética do crânio. Muitas vezes os exames complementares não
evidenciam nenhuma alteração, levando a um diagnóstico de doença
idiopática ou geriátrica, todavia pequenas lesões podem não ser
evidenciadas (BAYENS-SIMMONDS
et al., 1997).
Não há tratamento específico para a desordem neurológica, apenas para a
causa primária. A doença pode apresentar caráter autolimitante. O tempo
de recuperação das alterações neurológicas é variável, entretanto, em
casos crônicos, os déficits neurológicos podem ser irreversíveis
(CHRISMAN, 1985). Os animais afetados podem compensar o déficit
neurológico completamente ou permanecerem com leves alterações. Nestes
casos, a compensação visual e tátil é muito importante e geralmente
precede a recuperação do sistema vestibular, entretanto recidivas podem
ocorrer (LEE, 1983). Em casos graves de vômitos, pode-se indicar o uso
de antagonistas dos receptores histaminérgicos H1 (difenidramina) ou
fármacos vestibulossedativos (meclizina) (TAYLOR, 2003).
A betaistina é uma medicação utilizada em humanos com distúrbio
vestibular periférico e até o momento não há relatos de uso clínico em
cães. Trata-se de uma molécula que possui afinidade com os receptores
H3 e H1 da histamina, tendo ação antagonista e agonista,
respectivamente. A betaistina também possui ação agonista sobre os
receptores H2, entretanto sua ação é fraca em todos os tecidos (GATER
et al., 1986). A dispepsia é uma reação adversa ocasional, mas a
betaistina não aumenta a secreção ácida estomacal no homem (COCHRAN
et
al., 1974). Em cães, também não foram detectados aumentos
significativos de secreção ácida durante tratamento com esta droga
(CURWAIN
et al., 1973).
Sua ação sobre receptores H1 nos vasos sanguíneos do ouvido interno
promove vasodilatação e aumento da permeabilidade, evitando, assim, a
expansão de volume e distensão do sistema hemolinfático. Entretanto,
sua ação agonista é fraca. Os receptores H3 encontrados nas membranas
pré-sinápticas dos neurônios histaminérgicos e de outros neurônios no
cérebro modulam a liberação de histamina e de outros
neurotransmissores. Acredita-se que a interação com os receptores H3
pode ser o principal mecanismo através do qual a betaistina exerça seus
efeitos clínicos, os quais decorrem do aumento de fluxo sanguíneo no
ouvido interno e da redução da atividade emissora dos núcleos
vestibulares no cérebro (AFANASYEVA
et al., 2003). Com a inibição dos
receptores H3, a betaistina induz a um aumento na síntese e liberação
de histamina no núcleo tuberomamilar, que, por sua vez, está conectado
ao núcleo vestibular, desempenhando este papel fundamental na
recuperação de lesões vestibulares (TIGHILET
et al., 2005).
Acrescenta-se ainda o efeito da betaistina sobre a dinâmica da
endolinfa na compensação do distúrbio vestibular periférico (TIGHILET
et al., 2002; AFANASYEVA
et al., 2003). Essa droga também aumenta o
fluxo sanguíneo cerebral em outras partes do cérebro, sendo indicada
para diversos distúrbios neurológicos de origem central em humanos
(MEYER
et al., 1974). Em cães anestesiados, a administração intravenosa
de 0,44mg/kg de betaistina aumentou em aproximadamente 200% o fluxo
sanguíneo cerebral, porém o significado clínico não foi explorado
(ANDERSON & KUBICEK, 1971; SMITH & MEYER, 1976).
Em estudos experimentais, a droga mostrou-se útil na resolução dos
sinais vestibulares de felinos domésticos (TIGHILET
et al., 1995).
Felinos tratados com betaistina apresentaram rápida melhora dos
distúrbios vestibulares induzidos (neurectomia vestibular unilateral)
em comparação aos animais tratados com placebo (LACOUR, 2000).
Com base nos resultados em felinos com doença vestibular induzida,
utilizou-se dicloridrato de betaistina em seis cães com síndrome
vestibular periférica. A dose foi extrapolada do trabalho de ANDERSON
& KUBICEK (1971), no qual aproximadamente 0,5mg/kg aumentou o fluxo
sanguíneo cerebral de forma significativa. Na ausência de sinais
gastrintestinais nos primeiros três casos, essa dose foi aumentada para
1mg/kg, para facilitar a administração da medicação.
RELATO DE CASO
Seis cães com síndrome vestibular periférica foram tratados com
dicloridrato de betaistina. Antes de iniciar o tratamento,
submeteram-se os pacientes a um exame físico geral e neurológico, para
caracterizar a síndrome vestibular periférica. Após, foram submetidos à
avaliação hematimétricas, otológicas e radiográficas para caracterizar
a possível etiologia do distúrbio vestibular. Selecionaram-se pacientes
com síndrome vestibular com diagnóstico presuntivo de otite
média-interna, doença vestibular geriátrica e doença vestibular
idiopática.
Primeiro caso: Inicialmente,
foi atendido um Pastor Alemão, fêmea, de 13 anos, com histórico de
incoordenação motora e perda de equilíbrio havia um mês e vômitos e
sialorreia fazia dois dias. Ao exame físico, o animal apresentava
inclinação da cabeça e andar em círculo para o lado direito, ataxia e
nistagmo horizontal. A avaliação otoscópica evidenciou radiopacidade em
membrana timpânica direita e ausência de alterações em condutos
auditivos. Foram realizados exames hematimétricos (hemograma,
alanina-aminotransferase, creatinina) e radiografia de crânio. A
avaliação hematimétrica não revelou alterações, contudo a radiografia
de crânio, para avaliação das bulas timpânicas, mostrou aumento de
radiopacidade bilateral. As suspeitas clínicas foram otite
média-interna e doença vestibular canina geriátrica. Com base no
histórico, em sinais clínicos e nos resultados dos exames, iniciou-se
tratamento para otite média-interna com cefalexina (30 mg/Kg a cada
doze horas, por via oral) e dicloridrato de betaistina (0,5 mg/Kg a
cada doze horas, por via oral). Após 21 dias de tratamento, o animal já
apresentava melhora clínica sem sinais de perda de equilíbrio, ataxia
ou nistagmo, permanecendo apenas com discreta inclinação de cabeça. O
paciente não apresentou episódios de êmese ou diminuição do apetite
durante o tratamento. Não houve recidiva clínica após a interrupção do
tratamento.
Segundo caso: Uma cadela sem
raça definida, de cinco anos, apresentava rolamento para o lado
direito, inclinação de cabeça para o mesmo lado, perda de equilíbrio,
nistagmo horizontal e incoordenação motora. Realizaram-se hemograma e
perfil bioquímico sérico (proteínas totais, albumina, alanina
aminotransferase e creatinina), que não revelaram alterações. Avaliação
otoscópica, citologia do conduto auditivo externo e exame radiográfico
simples, para avaliação de bulas timpânicas, também não revelaram
alterações dignas de nota. Baseando-se no histórico, em sinais
clínicos, mesmo com ausência de sinais radiográficos, estabeleceu-se o
diagnóstico de síndrome vestibular periférica idiopática. Instituiu-se
terapia única com dicloridrato de betaistina (0,5 mg/Kg a cada doze
horas), obtendo-se melhora clínica evidente após dez dias de tratamento
e, aos trinta dias, remissão completa dos sinais clínicos. Não houve
relatos de alterações gastrintestinais durante o tratamento. Não
ocorreu recidiva da síndrome neurológica após a suspensão do tratamento.
Terceiro caso: Um Pastor Belga,
macho, com 13 anos, apresentava inclinação da cabeça para o lado
esquerdo, andar em círculos e nistagmo com fase rápida ipsilateral e
ataxia. Não mostrava alterações em otoscopia, assim como no hemograma e
perfil bioquímico. Foi estabelecido diagnóstico de síndrome vestibular
geriátrica, sendo instituída terapia com o dicloridrato de betaistina
(0,5 mg/kg a cada doze horas). No terceiro dia de tratamento, o cão já
não apresentava andar em círculo e nistagmo, apenas permanecia com
discreta inclinação da cabeça. No décimo dia, o cão não apresentava
alteração clínica, sendo a medicação suspensa. O paciente não mostrou
alterações gástricas na época do tratamento. Após a suspensão do
tratamento, não houve recidiva do quadro neurológico.
Quarto caso: Um animal da raça
Cocker Spaniel, fêmea, com 11 anos de idade, apresentava inclinação
lateral da cabeça de início súbito havia aproximadamente dez dias. Não
mostrava ataxia, nistagmo ou outros déficits neurológicos. Não se
encontraram alterações na otoscopia, citologia do conduto auditivo
externo e no exame radiográfico de bulas timpânicas. Com base nos
achados clínicos, estabeleceu-se o diagnóstico de síndrome vestibular
periférica idiopática. Administrou-se dicloridrato de betaistina na
dose de 1mg/Kg a cada doze horas. Após uma semana de terapia, o animal
apresentou melhora significativa do quadro neurológico, sem apresentar
alterações gastrintestinais. A medicação foi suspensa no décimo dia e o
animal não apresentou recidiva.
Quinto caso: Um canino SRD,
fêmea, com 15 anos, apresentava andar em círculos, ataxia, inclinação
da cabeça e nistagmo rotatório fazia quatro dias. No otoscopia,
evidenciou-se conduto auditivo com secreção ceruminosa abundante. Na
citologia do conduto auditivo externo, revelou-se grande quantidade de
formas leveduriformes, sugerindo malasseziose. Após a lavagem do
conduto, a otoscopia foi realizada novamente e não se evidenciou
nenhuma alteração. A avaliação hematimétrica não revelou nenhuma
alteração significativa, assim como a radiografia de bulas timpânicas.
Suspeitou-se de síndrome vestibular geriátrica. Administrou-se o
dicloridrato de betaistina na dose de 0,5mg/Kg a cada doze horas. Após
cinco dias de terapia, o animal apresentou melhora significativa do
quadro neurológico, sem apresentar alterações gastrintestinais. A
medicação foi suspensa no décimo dia e o animal não apresentou recidiva.
Sexto caso: Um Fila Brasileiro,
macho, com 4 anos, apresentava síndrome de Horner, inclinação da
cabeça e ataxia fazia duas semanas. O exame otoscópico não
revelou nenhuma alteração. Realizadas radiografias simples e
contrastada (canulografia) das bulas timpânicas, nenhuma alteração foi
evidenciada. Os exames hematológicos também estavam dentro da
normalidade. Com base no resultados dos exames, suspeitou-se de
síndrome vestibular idiopática. Foi prescrito dicloridrato de
betaistina na dose de 0,5mg/Kg a cada doze horas. Com dez dias de
terapia, o animal apresentou melhora significativa do quadro
neurológico, sem evidenciar alterações gastrintestinais. A medicação
foi suspensa após duas semanas e o animal não apresentou recidiva.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os distúrbios vestibulares periféricos podem decorrer de fatores ou
causas muitas vezes não diagnosticadas por meio de exames
laboratoriais. Nesses casos, avaliações clínica geral, otológica e
neurológica minuciosa e criteriosa são de extrema importância para um
diagnóstico mais preciso. Entre os pacientes descritos neste trabalho,
não foram evidenciadas alterações significativas em perfil
hematimétrico e citológico do conduto auditivo. Somente o exame
radiográfico de um dos cães apresentou alteração, que pode ser
decorrente da enfermidade ou mesmo estar relacionada à senilidade do
paciente. A utilização de dicloridrato de betaistina resultou em
melhora significativa do quadro clínico, com um tempo de remissão
curto. A duração de tratamento foi curta, variando entre dez dias e
duas semanas. Neste período, a melhora neurológica já era evidente,
independente da causa da síndrome vestibular periférica. A resolução da
ataxia e nistagmo deu-se rapidamente, enquanto a inclinação da cabeça
se resolveu mais tardiamente. Como os parâmetros hematológicos se
encontravam dentro dos valores considerados normais, e as avaliações
clínicas e laboratoriais não contraindicavam a utilização da medicação,
o cloridrato de betaistina foi prescrito e nenhum efeito adverso ou
indesejável, durante o período do tratamento, foi notado.
A ação sinérgica, entre a estimulação de receptores H1, e inibição de
receptores H3 são benéficas em pacientes com distúrbios vestibulares.
Além disso, a administração oral de betaistina aumenta o fluxo
sanguíneo coclear (MEYER
et al., 1974). Com o aumento do fluxo
sanguíneo, ocorre uma regularização da dinâmica da endolinfa. Esse
fenômeno está relacionado com a recuperação da função vestibular
(TIGHILET
et al., 1995). Além disso, a ação antagonista H3 aumenta a
síntese e liberação de histamina em porções do sistema vestibular, que
desempenham papel fundamental na recuperação de lesões vestibulares
(TIGHILET
et al., 2002). Dessa forma, a betaistina auxilia os
mecanismos adaptativos envolvidos na compensação vestibular, tanto
dinâmica como estática (TIGHILET
et al., 2005). Em felinos, vários
estudos comprovam a eficiência da betaistina em acelerar a compensação
vestibular (TIGHILET
et al., 1995; LACOUR, 2000; TIGHILET
et al., 2002;
TIGHILET
et al., 2005).
Como há semelhanças entre os distúrbios vestibulares dos animais
domésticos e de humanos, algumas terapias utilizadas em medicina podem
ser extrapoladas para a medicina veterinária. Dessa forma,
teoricamente, medicações como o dicloridrato de betaístina, utilizados
no tratamento de doenças do labirinto em humanos, podem ser empregados
em cães e gatos, com distúrbios vestibulares periféricos. No presente
estudo, o dicloridrato de betaistina mostrou-se uma excelente opção
para ser utilizada isoladamente, ou como adjuvante à terapia para a
síndrome vestibular periférica em cães. Nos casos de síndrome
vestibular periférica por otite média-interna, medidas terapêuticas
para o tratamento da causa primária devem ser empregadas, mas medidas
auxiliares para facilitar a compensação vestibular podem acelerar a
recuperação das alterações neurológicas, trazendo conforto para o
paciente e seu proprietário. A persistência de algum grau de inclinação
de cabeça é uma consequência esperada também em humanos com distúrbios
vestibulares tratados com a betaistina (TIGHILET
et al., 2002;
AFANASYEVA
et al., 2003). Segundo CHRISMAN (1985), em alguns animais, a
recuperação pode ser demorada e alguns déficits neurológicos podem
permanecer necessitando de intervenção clínica. As causas de desordens
vestibulares periféricas são muitas e, em animais idosos, no caso da
doença senil, a recuperação pode ser espontânea (INZANA, 2004).
Contudo, mesmo nos casos em que ocorre recuperação espontânea, o
dicloridrato de betaistina pode ser empregado para acelerar a
compensação vestibular, tornando a recuperação mais rápida, como
evidenciaram LACOUR (2000) e TIGHILET
et al. (2005) em felinos.
Recidiva dos sinais clínicos, que pode ocorrer em alguns casos (TAYLOR,
2003), não foi registrada nos animais avaliados após um ano de
acompanhamento.
Apesar do número pequeno de animais, não foram notadas reações adversas
à medicação. Alterações gastrintestinais, relatadas ocasionalmente em
humanos, não foram evidenciadas nesses pacientes. Estudos em um número
maior de pacientes veterinários são necessários para assegurar a
segurança dessa medicação, entretanto, na opinião dos autores, a
medicação parece ser segura e eficiente.
CONCLUSÕES
O uso do dicloridrato de betaistina na terapia de distúrbios
vestibulares periféricos em animais de companhia causou rápida remissão
do quadro clínico. Não se evidenciaram alterações clínicas, recidivas e
efeitos adversos nesses pacientes. Um ponto importante foi a satisfação
do proprietário no que diz respeito a uma rápida resposta ao
tratamento. O uso de dicloridrato de betaístina pode ser indicado como
monoterapia ou terapia auxiliar, para o tratamento de pacientes com
síndrome vestibular periférica, independente de sua etiologia.
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Protocolado
em: 25 set. 2007. Aceito em: 22 dez.
2009.