Na comparação individual dos
grupos, verifica-se a superioridade (P<0,0001) dos animais alto-alto e
alto-baixo até a idade do desmame, em média aos 210 dias, em que os mesmos foram
mais pesados quando comparados aos animais baixo-alto e baixo-baixo (Tabela 2).
Bezerras com maiores ganhos
durante o período pré-desmame foram em média 46,5 kg mais pesadas que
bezerras com menores ganhos de peso, correspondendo essa diferença em peso corporal
a 38% de superioridade das novilhas mantidas com maior ganho de peso corporal.
Esse fato é fundamental para resultados satisfatórios de prenhez a idades
reduzidas, sendo o desenvolvimento da novilha determinante no seu desempenho
reprodutivo (ROVIRA, 1996).
Após o desmame das bezerras,
a análise estatística, na comparação individual entre os quatro grupos, mostrou
efeito do ganho de peso, antes e após o desmame aos sete meses de idade, no
peso ao início do período reprodutivo aos 14 meses, mantendo-se essa
superioridade favorável a animais com maiores ganhos de peso corporal até o
final do acasalamento.
Animais com melhores
desempenhos no período pré e pós-desmame (alto-alto) foram 14,6, 21,1 e 31,0%
superiores em peso corporal ao início do período de acasalamento, quando
comparados com animais alto-baixo, baixo-alto e baixo-baixo, respectivamente.
Maiores pesos corporais de novilhas ao início do período reprodutivo são
influenciados pelo peso ao desmame e pelo nível alimentar no período pós-desmame
com correlações positivas no desempenho reprodutivo de novilhas de corte
(WILTBANK et al., 1985; PILAU & LOBATO, 2006).
Os pesos de 321, 280, 265 e
245 kg para alto-alto,
alto-baixo, baixo-alto e baixo-baixo, respectivamente, significam 71,3, 62,2,
58,9 e 54,4% do peso adulto do rebanho em estudo, no qual as vacas com
450 kg e com estado corporal
acima de 3 pesam em média
450
kg. Segundo o NRC (1996), novilhas
Bos taurus
devem ter no mínimo 60% do seu peso adulto para alcançar a puberdade e
conceber.
No presente estudo, somente
os grupos alto-alto e alto-baixo possuíam no início do período reprodutivo
pesos corporais aceitáveis para acasalamento aos 14 meses de idade. Esse fato
reflete a necessidade de adequado desenvolvimento das novilhas para desempenhos
reprodutivos compatíveis com uma pecuária de corte mais rentável.
A correlação entre peso ao
início do acasalamento e a manifestação de estros e a percentagem de prenhez
apresentou coeficientes de 0,48 e 0,37 (P<0,0001), respectivamente,
demonstrando a importância do peso mais elevado ao início do acasalamento para
melhores desempenhos reprodutivos, sendo o mesmo reflexo do desenvolvimento
anterior das fêmeas, tanto no período pré como pós-desmame. Diversos autores
observaram que o desenvolvimento pré-desmame tem influência no desempenho
reprodutivo (PATTERSON et al., 1992), assim como na taxa de crescimento na fase
pós-desmame (WILTBANK et al., 1985).
Novilhas com maiores ganhos
de peso no período pré-desmame apresentaram maior taxa de manifestação de
estros em relação aos demais níveis (
Tabela 3; P>0,05). Ocorreu um incremento
de 66,7% na taxa de manifestação de estros quando comparamos os tratamentos
alto-alto com baixo-alto e baixo-baixo.
Em sistemas produtivos, ao se
trabalhar com condições restritas de alimentação, deve-se melhorar o nível de
nutrição para se obter bom desempenho reprodutivo de novilhas submetidas à
reprodução em idades superjovens, ou ainda trabalhar com diferentes sistemas
alimentares priorizando animais de menores pesos e desenvolvimento (SEMMELMANN
et al.,
2001).
A manifestação de estro
(
Tabela 3) refletiu os ganhos de peso corporal pré e pós-desmame e o escore de
condição corporal ao final do período reprodutivo que as fêmeas apresentaram
(
Tabela 2). As percentagens de estros e de prenhez se correlacionaram de
maneira positiva com os ganhos de peso e a condição corporal com coeficientes
de 0,38 e 0,31 (P<0,0001), respectivamente. Esses resultados confirmam as
observações anteriores de RESTLE et al. (1999), em que os autores verificaram
ser a reprodução em fêmeas bovinas de corte altamente correlacionada com o
ganho de peso e a condição corporal dos animais.
Embora o consumo dos animais não
tenha sido avaliado, provavelmente, animais mantidos em condições de baixo
ganho de peso não conseguiram suprir suas exigências nutricionais, prejudicando
a reprodução em detrimento da manutenção e do crescimento animal. Baixos níveis
alimentares são determinantes nas concentrações de hormônios relacionados à
manifestação da puberdade e na manifestação de cios férteis, com diminuição dos
níveis sanguíneos de GnRH, FSH e LH, determinantes de cios pobres, pouco
crescimento folicular e menor período de dominância do folículo (KINDER et al.,
1994).
Os pesos por ocasião da
inseminação foram bastante similares nos três grupos em que as novilhas tiveram
ganhos de peso corporal altos nos períodos pré, pós-desmame ou em ambos (
Tabela 3). Esse fato demonstra a importância da qualidade da alimentação no
desenvolvimento da novilha e sua relação com seu desempenho reprodutivo subsequente,
pois seu desenvolvimento após a concepção até o parto é prejudicado pelo
aumento das suas exigências nutricionais. Durante a gestação de novilhas, as
demandas nutricionais de proteína, energia e minerais como cálcio e fósforo
aumentam em 43, 55 e 66%, respectivamente, acentuando-se no terço final de
gestação (VALLE et al., 1998). Em situações de pastagens naturais, a qualidade
das mesmas não permite o aporte ideal de nutrientes necessário para que a
novilha atenda suas exigências nutricionais, tendo que recorrer a suas reservas
corporais para atender as exigências de manutenção, crescimento e gestação.
Para manifestar a puberdade,
é fundamental que a fêmea atinja um determinado grau de desenvolvimento e que a
idade à puberdade seja, principalmente, uma consequência da velocidade de ganho
de peso que, por sua vez, está condicionado ao meio ambiente, especialmente ao
nível alimentar imposto. RESTLE et al. (1999) observaram que, em fêmeas da raça
Charolês, a idade média à puberdade foi aos 626 dias, contra 391 dias obtidos
por GREGORY et al. (1991) em ambiente mais favorável, sendo os pesos à
puberdade similares. Dessa forma, a manifestação da puberdade se condiciona a
uma inter-relação entre o peso corporal e a idade da novilha.
No presente estudo, verificou-se
que os maiores ganhos de peso corporal no período pré-desmame resultaram em
melhor desempenho reprodutivo quando comparados com os tratamentos com maiores
ganhos de peso no período pós-desmame. Isso se deve, em parte, ao fato de o período
pré-desmame ser percentualmente maior do que o período pós-desmame, com valores
de 53,8 e 46,2%, respectivamente, ao se trabalhar com idade de acasalamento de
14 meses. Esse menor período da fase pós-desmame, embora com maiores ganhos de
pesos corporais, proporcionados pela melhor alimentação, não foram suficientes
para que novilhas compensassem o menor ganho de peso corporal no período pré-desmame.
À medida que se intensifica o sistema produtivo e se acasalam novilhas com
idades mais jovens, o período pré-desmame aumenta sua influência no
desenvolvimento e consequente desempenho reprodutivo de novilhas de corte
(RESTLE et al., 1999).
A idade com que as fêmeas
manifestaram o primeiro estro dentro do período reprodutivo foi influenciada
pelos ganhos de peso corporal das novilhas (
Tabela 3). VAZ et al. (2012) não
encontraram diferença na idade à puberdade
em novilhas Charolês,
Nelore e suas cruzas submetidas a diferentes níveis de
suplementação durante o período reprodutivo
aos 14 meses de idade.
ROCHA & LOBATO (2002)
mostraram que o desenvolvimento expresso em ganho de peso corporal das novilhas
é de extrema importância no aparecimento do primeiro estro, estando
inversamente relacionado com a idade de puberdade, concluindo ser a idade de
puberdade correlacionada ao melhor o nível nutricional.
A correlação entre a idade e
o peso, por ocasião da inseminação, independentemente dos ganhos de peso pré e
pós-desmame, mostrou um coeficiente de 0,60 (P<0,0001), indicando que
novilhas mais tardias dentro do período de reprodução também foram mais pesadas
na inseminação. No entanto, entre os tratamentos, a melhor condição alimentar
promoveu a inseminação dos animais com peso mais elevado e com idades menores.
VAZ et al. (2010) salientam a importância da seleção dos animais com
frames adaptados aos sistemas produtivos
nos quais são criados. Animais com maior peso na concepção e consequente peso
adulto são mais tardios além de aumentar as exigências de manutenção do rebanho
de cria (WILLIAMS & JENKINS, 1998), afetando os índices reprodutivos (VAZ
et al.
, 2010).
Ao se trabalhar com entoure
precoce de novilhas, é importante que essas fiquem prenhes no início do
primeiro período reprodutivo, pois, após o parto, além dos requerimentos de
manutenção, lactação e subsequente reprodução, como ocorre com vacas adultas, as
novilhas ainda estão em crescimento. Quanto mais cedo a novilha entrar em estro
e ficar prenhe, maior o intervalo entre o parto e o período de reprodução
subsequente.
No tratamento alto-alto, no
qual os animais tiveram melhores desempenhos em ganhos de peso corporal, a
maior concentração de estro das novilhas se deu no primeiro terço do período
reprodutivo 57,14%, sendo esse superior em 61,87, 571,40 e 71,43% dos
tratamentos alto-baixo, baixo-alto e baixo-baixo, respectivamente (
Tabela 4).
VAZ et al. (2010), ao
trabalharem com diferentes idades de desmame das novilhas, não observaram
diferença entre as mesmas. Contudo,
as
maiores concentrações de estros nos períodos iniciais e intermediários do
primeiro acasalamento, repetiram-se no segundo período reprodutivo, concordando
com OSORO (1986), demonstrando que as novilhas que concebem no início do
período reprodutivo e, consequentemente, parem no início da parição, são as que
apresentam maior taxa de prenhez quando primíparas. Maior concentração de
partos no início da temporada de parição possibilita maior intervalo entre o
parto e o fim do segundo período reprodutivo.
ROCHA & LOBATO (2002)
concluíram que o peso ao desmame da bezerra é um bom indicador a ser usado
junto com estratégias de nutrição para que um maior número de novilhas consiga
conceber no início da reprodução e na temporada de monta subsequente e, mesmo
lactando, favorecer a obtenção de maior taxa de prenhez.
A idade da puberdade das
novilhas não foi avaliada, mas sim o número de serviços necessários para a concepção
das novilhas. Dessa forma, não se sabe se o estro manifestado nos primeiros
21-24 dias do período reprodutivo foi realmente o primeiro estro das novilhas.
O número de serviços necessários para a concepção foi crescente com menos
serviços para animais mantidos nos sistemas com ganhos de peso alto-alto e
alto-baixo, quando comparados com animais mantidos nos regimes alimentares
baixo-alto e baixo-baixo, com valores de 2,0 e 2,7 serviços, respectivamente.
Os maiores ganhos de peso das
novilhas proporcionaram menores números de serviços para concepção. Esse fato
demonstra a necessidade de um melhor nível nutricional para o desencadeamento
da puberdade precoce em novilhas, uma vez que a fertilidade dos estros em
novilhas aumenta com o passar dos mesmos e novilhas acasaladas no terceiro
ciclo estral apresentam melhor desempenho reprodutivo quando comparadas com
novilhas acasaladas durante os ciclos iniciais da puberdade (BYERLEY et al.,
1987). Dessa forma, nos sistemas produtivos, é aconselhável que as novilhas de
reposição alcancem a puberdade cerca de 60 dias antes da estação de monta para
terem condições de conceber no início do primeiro período reprodutivo e além de
maior tempo de recuperação do parto até o período reprodutivo subsequente.
O ganho de peso anterior ao
período reprodutivo é fundamental no desempenho reprodutivo de novilhas, pois
corresponde a um aporte de nutrientes adequado que desencadeia a secreção e
liberação de hormônios ligados à reprodução (SCHILLO, 1992). À medida que a
novilha recebe maior aporte de proteína e principalmente energia, os ciclos
pulsáteis de LH manifestam-se de forma mais intensa e com menor intervalo entre
eles, sendo o hormônio limitante para o desencadeamento da puberdade em fêmeas
bovinas (KINDER et al., 1994).
Na literatura, encontram-se
ganhos de peso, durante os períodos reprodutivos, muito variáveis devido às
condições de meio. No entanto, existe concordância que, independente do ganho,
o peso no início do período reprodutivo é fundamental em sistemas de pecuária
de corte intensiva (ROVIRA, 1996; VAZ et al., 2012).
O estudo realizado em
retrospectiva, de acordo com a manifestação de estros das novilhas,
independente dos ganhos de pesos pré e pós-desmame, comparando novilhas
cíclicas e não cíclicas, durante o período reprodutivo aos 14 meses de idades,
mostra diferença (P<0,01) nos pesos e ganhos de peso corporal médio diário
pré-desmame das novilhas cíclicas em comparação as não cíclicas, com exceções
do ganho de peso pós-desmame (P<0,0554) e o ganho de peso corporal durante o
período reprodutivo (P>0,05;
Tabela 5).
Desde a idade do desmame das
novilhas ocorreram diferenças no peso corporal, nas taxas de ganhos de peso
corporal médio diário e de escores corporais finais entre novilhas que viriam a
ciclar ou não. Resultados semelhantes foram encontrados por ROCHA & LOBATO
(2002) e VAZ et al., (2012), que observaram que as novilhas que não conceberam
foram desde o desmame até o final do acasalamento significativamente
(P<0,05) mais leves.
As diferenças de peso médio
corporal no início e final do período de acasalamento foram de 32,2 e
35,5 kg pró-novilhas
cíclicas, correspondendo esse valor a 12,70 e 11,83% a mais em peso vivo,
respectivamente. Em situações de propriedades, bezerras e novilhas com menores
pesos corporais no desmame podem receber um tratamento diferenciado (PEREIRA
NETO & LOBATO, 1998), possibilitando melhores condições de desenvolvimento
e, consequentemente, maior probabilidade de prenhez, bem como maior número de
fêmeas em condições de acasalamento em idades mais precoces.
Houve diferença no ganho de
peso realizado pelas novilhas no período pré-desmame (P<0,01), não ocorrendo
o mesmo no período pós-desmame e durante o período reprodutivo (P>0,05).
ROCHA & LOBATO (2002) também observaram ganhos de peso corporal
superiores desde o nascimento ao desmame das bezerras, porém, a partir dessa
data até o final do período reprodutivo, as novilhas que conceberam mantiveram
ganhos de peso corporal semelhantes ao das novilhas que não conceberam, embora
as primeiras tenham sido superiores em peso corporal em todas as idades
avaliadas desde o nascimento até o final do período reprodutivo.
O desenvolvimento pré-acasalamento
torna-se importante à medida que se reduz a idade do primeiro período
reprodutivo. Para tanto, tornam-se importantes os ganhos de peso corporal
pré-desmame (PATTERSON et al., 1992) e pós-desmame (ROCHA & LOBATO, 2002), sendo
que planos de nutrição baixa retardam a puberdade de novilhas, podendo ser
característica de seleção dentro dos rebanhos (CARVALHEIRO et al., 2006), não
sendo o acasalamento aos 14 meses generalizado para todas as novilhas de reposição
do rebanho.
Em rebanhos comerciais, a uniformidade da produção pode significar a
diferença no resultado econômico final (FRIES et al., 2002). A eliminação das
novilhas que não conceberam por uma menor precocidade sexual e possivelmente
menor eficiência produtiva futura (MORRIS, 1980) é fator de aumento nas taxas
de desfrute dos rebanhos (BERETTA et al., 2002).
Estudos demonstram que as novilhas estão aptas à reprodução em diferentes
idades, sendo as mais tardias ao primeiro parto consequentes de baixa herança
genética para puberdade precoce (LOBATO & MAGALHÃES, 2001), fator
determinante de eliminação em rebanhos com seleção para precocidade.
A diferença (P>0,05) na idade ao início do acasalamento das novilhas
diagnosticadas cíclicas em comparação as acíclicas (418 vs 400 dias,
respectivamente) foi fator determinante para o melhor desempenho reprodutivo
das mesmas. Melhores desempenhos reprodutivos são relatados com novilhas mais
velhas ao início do período reprodutivo (ROCHA & LOBATO, 2002).
Classificadas conforme faixas de pesos, independente dos ganhos de peso
corporal pré e pós-desmame, quanto maior o peso vivo, maior foi a prenhez
obtida (Tabela 6), confirmando a influência do peso corporal de novilhas ao
início do período de acasalamento no índice de manifestação de estros e de
prenhez.
Novilhas pesando 316 kg
ou mais, correspondendo a 70% do peso adulto do rebanho em estudo, obtiveram
100% de manifestação de estro e 93,8% de prenhez; portanto, em sistemas de
produção similares aos desenvolvidos no presente estudo, para se atingir
elevado índice de reprodução, recomendam-se níveis nutricionais em que as
novilhas possam obter ganhos de peso altos para chegarem ao início do período
reprodutivo com peso corporal adequado.
ROVIRA (1996) identificou
respostas crescentes em fertilidade até os 300 kg de peso vivo em
novilhas de raças britânicas ou suas cruzas, acasaladas aos 14 meses de idade.
Em estudo de probabilidade de prenhez para novilhas acasaladas entre 14 e 15
meses, BITTENCOURT et al. (2005) verificaram o peso ótimo de 338,8 kg. Os resultados
indicaram que 73,6% das variações na probabilidade de prenhez puderam ser
explicadas pela variável peso ao início do acasalamento.