DOI: 10.5216/cab.v13i3.17511
CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA E BIOMETRIA TESTICULAR DE MACHOS BOVINOS
SUPERJOVENS NÃO CASTRADOS DE DIFERENTES GRUPOS GENÉTICOS
Fabiano Nunes
Vaz1, Jorge Luis Carvalho Flores2, Ricardo Zambarda Vaz3,
Leonir Luiz Pascoal1, Mozer Manetti de Ávila4
1Professores Doutores da
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil.
fabianonunesvaz@gmail.com
2Zootecnista do Instituto Federal
Farroupilha, São Vicente do Sul, RS, Brasil
3Professor Doutor na Universidade
Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil
4Graduando de Zootecnia da
Universidade Federal do Pampa, Dom Pedrito, RS, Brasil.
RESUMO
O
objetivo deste trabalho foi avaliar as características de carcaça e a biometria
testicular de machos não castrados superjovens das raças Hereford (H), 3/4H 1/4
Nelore (3/4HN), 5/8H 3/8 Nelore (5/8HN) e 3/4 Charolês 1/4 Nelore (3/4CN),
abatidos aos quatorze meses de idade.
Não houve diferenças estatísticas entre os grupos genéticos para pesos de
fazenda, de carcaça e rendimentos de carcaça. A percentagem de serrote foi
maior nos animais 3/4CN em relação aos outros genótipos. A percentagem de ponta
de agulha foi maior nos 5/8HN em relação aos 3/4HN e 3/4CN. A área de Longissimus dorsi foi maior nos animais
3/4CN (71,5 cm2) em relação aos Hereford (63,5 cm2).
Animais Hereford também apresentaram menor comprimento de membro posterior do
que todos os demais grupos. Os machos 3/4CN apresentaram menor (2,6 mm)
espessura de gordura subcutânea do que os Hereford (5,0 mm), 5/8HN (4,1 mm) e
3/4HN (4,1 mm). Concluiu-se que as características relacionadas à
musculosidade, como a conformação e o rendimento de serrote foram melhores no
genótipo mestiço Charolês, enquanto as características relacionadas à deposição
de gordura, como espessura de gordura e rendimento de ponta de agulha, foram
melhores nos animais Hereford e mestiços.
PALAVRAS-CHAVE: confinamento; cruzamento; Hereford;
Nelore; rendimentos.
CARCASS CHARACTERISTICS AND
TESTICULAR BIOMETRY OF YOUNG NON-CASTRATED MALES OF DIFFERENT GENETIC GROUPS
ABSTRACT
The objective of this work
was to evaluate carcass characteristics and testicular biometry of non-castrated
Hereford (H), 3/4H 1/4 Nellore (N), 5/8H 3/8N and 3/4 Charolais (C) 1/4 N
males, slaughtered at fourteen months of age. No statistical difference
occurred among genetic groups for final and carcasses weights and dressing
percentages. The sawcut yield was higher in 3/4CN than other genotypes. Ribcut
yield was higher for 5/8HN in relation to 3/4HN and 3/4CN. Longissimus dorsi area was higher for 3/4CN (71.5 cm2)
animals in relation to Hereford (63.5 cm2). Hereford animals also
showed lower leg length than all other groups. The 3/4CN males showed lower
(2.6 mm) subcutaneous fat thickness than Hereford (5.0 mm), 5/8HN (4.1 mm) and
3/4HN (4.1 mm) ones. In conclusion, all genetic groups get compatible carcass
characteristics for young cattle market. Besides, muscular development related characteristics,
such as conformation and sawcut yield, were better in Charolais crossbred
genotype, while characteristics related to fat deposition, such as fat
thickness and ribcut yield, were better in Hereford and crossbred Hereford
genotypes.
KEYWORDS: crossbred; feedlot; Hereford; Nellore;
yield.
INTRODUÇÃO
As variações climáticas que ocorrem de Norte a Sul do Brasil
estabeleceram diferentes sistemas produtivos pecuários do maior rebanho
comercial do mundo. Nesse contexto, os produtores rurais têm dúvidas sobre
quais genótipos são mais apropriados às finalidades estabelecidas em cada
sistema produtivo das empresas rurais brasileiras (SANTOS et al., 2002).
A complementaridade das raças é a base do sucesso dos cruzamentos e
vários estudos têm mostrado que o melhor resultado na formação das raças
sintéticas é a combinação de zebu com raças europeias (KOGER, 1980). Entre as
zebuínas, a raça Nelore é a de maior participação no rebanho nacional, seja
para a produção de animais definidos ou para a produção de mestiços, resultado
do cruzamento com bovinos Bos taurus taurus.
Segundo TORAL et al. (2011), uma opção para acelerar a produção de carne bovina
nos trópicos é a utilização de raças de origem europeia sobre a base Nelore
existente no rebanho brasileiro. Para os autores, as raças europeias já
passaram por longo processo de melhoramento genético e, portanto, são mais
produtivas.
Atualmente, a raça Hereford é considerada, em todo o mundo, um dos
genótipos de corte mais precoce entre as raças que possuem rebanho expressivo.
Além disso, é reconhecida pela qualidade da carne, que possui acentuado
marmoreio e boa maciez, se comparada a outras raças de maior porte (SHERBECK et
al., 1995). Pela sua precocidade, a raça se constitui em um genótipo indicado
para sistemas de produção de ciclo curto (TORAL et al., 2011). Esses sistemas
geram carne de qualidade acentuada, em razão disso, melhor valorizada, gerando
melhor remuneração para toda a cadeia produtiva.
Por outro lado, a raça Charolês está presente em grande parte dos
cruzamentos da região Sul, mas também é expressiva no restante do Brasil. Isso
se deve pela sua adaptabilidade e pelo porte da raça que resulta em bezerros
mais pesados ao desmame e ao abate e carcaças de boa conformação e peso
(PEROTTO et al., 2000).
A literatura tem mostrado que a pesquisa de animais superjovens pode ser
justificada por três motivos principais: i) o abate de bovinos com um ano de
idade é uma boa opção para criadores de raças precoces, como é o caso do
Hereford e seus mestiços (SHERBECK et al., 1995); ii) sistemas produtivos de
ciclo curto são biológica e economicamente mais eficientes (IGARASI et al.,
2008); e iii) quanto mais jovem for a idade ao abate, melhor a qualidade da
carne (LAWRIE, 2005).
O uso de animais não castrados também se justifica por três razões
principais: i) animais não castrados têm maior velocidade de crescimento que
animais castrados e que as fêmeas, em função do efeito anabólico dos hormônios
masculinos (ÍTAVO et al., 2008); ii) em sistemas de ciclo curto, o processo de
castração e o estresse decorrente podem representar um pequeno período durante
o qual os animais perdem peso (BAKER, 2008); e iii) animais inteiros abatidos
em idade jovem não possuem carcaças com menor valor comercial, haja vista que o
dimorfismo sexual é pouco pronunciado até um ano de idade (BERG & BUTTERFIELD,
1976). Nesse sentido, este trabalho teve por objetivo avaliar as
características de carcaça e a biometria testicular de machos não castrados,
das raças Hereford (H), 3/4 H 1/4 Nelore (3/4HN), 5/8 H 3/8 Nelore (5/8HN) e
3/4 Charolês 1/4 Nelore (3/4CN), confinados e abatidos aos quatorze meses de idade.
MATERIAL
E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado no Setor de Bovinocultura de Corte do
Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do
Sul, no período de junho a dezembro de 1995, utilizando-se 32 bezerros machos
inteiros, desmamados aos sete meses de idade, nascidos e criados sob as mesmas
condições sanitárias, de manejo e de alimentação ao pé da vaca, sem o uso de creep feeding. No início do trabalho os
animais apresentavam peso médio de 195 kg, pertencentes a quatro grupos
genéticos, sendo oito da raça Hereford (H), oito 3/4 H 1/4 Nelore (N), oito
5/8H3/8N e oito 3/4 Charolês (C) 1/4 N, oriundos de propriedade particular.
O experimento foi conduzido em confinamento, usando-se silagem de milho
como volumoso, sendo que a relação volumoso/concentrado variou de 70/30 no 1º
período até 40/60 no 7º período, apresentando relação média de 56,4/43,6 (base
da matéria seca - MS). O concentrado apresentava, na média, 46,8% de farelo de
soja, 51,0% de milho em grão triturado, 1,0% de sal comum e 1,2% de calcário
calcítico. Nos quatro primeiros períodos de 28 dias a dieta apresentou 16,1% de
proteína bruta, a partir do 5º período foi recalculada e apresentou 12,8% de
proteína bruta. A dieta oferecida possuía 3,16 Mcal/kg de energia digestível,
2,60 Mcal/kg de energia metabolizável, 1,69 Mcal/kg de energia líquida de
manutenção e 1,08 Mcal/kg de energia líquida para ganho de peso estimado em 1,0
kg por dia (NRC, 1996).
O período de adaptação dos animais à dieta e instalações foi de 14 dias.
A alimentação era fornecida à vontade duas vezes ao dia. Diariamente, pela
manhã antes da pesagem da dieta, eram retiradas as sobras do dia anterior e
registradas em uma planilha de campo para se obter o consumo do dia anterior.
As pesagens dos animais ocorreram no início do período experimental e, depois,
a cada 28 dias, com exceção do 3º e 7º período, quando foram realizadas com 27
e 21 dias, respectivamente, perfazendo um período total de 188 dias.
Antecedendo as pesagens, os animais eram submetidos a jejum de sólidos de 14
horas. Esse mesmo procedimento ocorreu antes dos animais serem enviados ao
abatedouro comercial, obtendo-se o peso de fazenda dos animais.
No momento da pesagem dos animais, antes do embarque para o abatedouro,
foi medido o perímetro escrotal, com auxílio de fita métrica.
Por ocasião do abate as duas meias carcaças foram identificadas com
fichas metálicas numeradas. O par de testículos de cada animal foi coletado
logo após a sua remoção na linha de abate, seguindo-se a separação da porção
glandular e imediata pesagem dessa porção.
Ao final da linha de abate, as duas meias carcaças foram pesadas, antes
da lavagem, para obtenção do peso de carcaça quente. Depois de lavadas, as
mesmas foram levadas para câmara fria, onde permaneceram por 24 horas, sob temperatura
de 1 grau centígrado.
Depois de resfriadas, as carcaças foram novamente pesadas, obtendo-se o
peso de carcaça fria dos animais. A diferença de peso entre as duas medidas,
expressa em percentagem do peso de carcaça quente, representou a quebra de peso
durante o resfriamento das carcaças. As medidas de comprimentos de carcaça, de
membro posterior e de membro anterior, a espessura de coxão e o perímetro do
membro anterior foram realizadas na carcaça direita, depois do resfriamento.
A meia carcaça esquerda foi dividida nos três cortes comerciais: serrote,
dianteiro e ponta de agulha, segundo o método usado pelos abatedouros
frigoríficos. O serrote ou traseiro especial compreende a região posterior
(caudal) da carcaça. O corte é separado do dianteiro e da ponta de agulha entre
a 5ª e 6ª costela, a ± 22 cm da
coluna vertebral, permanecendo com oito costelas. O dianteiro compreende a região anterior (cranial) da carcaça,
separado do traseiro e da ponta de agulha entre a 5ª e 6ª costelas, permanecendo com a 5ª costela. A ponta de agulha, ou
costilhar, compreende a região lateral e ventral da carcaça, formada pelas oito
costelas do traseiro e o vazio.
A espessura de gordura subcutânea foi medida em mm, após o resfriamento
das carcaças, medindo a gordura que recobre o músculo Longissimus dorsi, a partir do corte realizado entre a 12ª e 13ª
costela, sendo utilizada a média de duas leituras. A área de lombo foi medida
no músculo Longissimus dorsi, exposto
por um corte transversal na carcaça entre a 12ª e 13ª costela.
Também após o resfriamento, a conformação de carcaças foi realizada
visualizando-se as duas metades da carcaça, subjetivamente, por meio de uma
escala de pontos indicados por MÜLLER (1987), procurando-se evitar que a
gordura de cobertura interferisse na avaliação. Já para a avaliação da
maturidade fisiológica da carcaça, foi usada uma escala de quinze pontos
descrita por MÜLLER (1987). Essa medida foi realizada através da avaliação da
calcificação das cartilagens do processo espinhoso das vértebras torácicas,
lombares e entre as vértebras sacrais. Para a determinação da composição física
da carcaça, foi retirada uma secção incluindo a 9ª, 10ª e 11ª costelas, segundo
a metodologia proposta por HANKINS & HOWE (1946).
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com
quatro tratamentos e oito repetições, em que cada animal constituiu uma unidade
experimental. Foram realizadas as análises de variância, aplicando-se o teste F
e, quando as médias mostraram diferença estatística (P<0,05), foram
comparadas pelo teste de Tukey.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
A Tabela 1 apresenta os pesos e os rendimentos de carcaça e quebra
durante o resfriamento. Não foi observada diferença entre os grupos genéticos
para o peso de fazenda dos animais, bem como para o peso de carcaça quente e o
peso de carcaça fria (P>0,05).
As similaridades nos pesos de
carcaça quente e de carcaça fria observadas neste trabalho indicam que os
efeitos de heterozigose dos animais mestiços não foram pronunciados de forma a
resultar em maior peso de carcaça em relação ao genótipo Hereford puro. Tal
comportamento pode ser em razão de todos os genótipos envolvidos no experimento
se tratarem de raças de corte, diferente dos resultados de VAZ et al. (2002), que
verificaram peso de abate de 379,9 e 371,3 kg, respectivamente, para Hereford e
5/8HN, enquanto os animais 1/2 Jersey 1/2 Hereford mostraram valor inferior,
346,6 kg, em novilhos abatidos também aos
quatorze meses de idade.
Os valores de peso de abate e
pesos de carcaça dos animais dos diferentes genótipos se constituíam em uma das
grandes questões a serem estudadas no presente trabalho, buscando-se
compreender o efeito do cruzamento com Nelore sobre a alteração de peso em
relação aos Hereford definidos. A similaridade no peso de abate e nos pesos de
carcaça dos animais se refletiu em rendimentos de carcaça quente e fria também
similares entre os genótipos (P>0,05). Os valores médios para essas
características foram de 54,7 e 53,7%, respectivamente. A literatura cita que
animais mestiços zebuínos devem apresentar maior rendimento de carcaça que
raças britânicas (BIDNER et al., 2002). PACHECO et al. (2005) relataram
rendimento de carcaça quente de 57,5% nos novilhos com maior percentagem de
sangue zebu contra 54,1% nos novilhos com maior percentagem de raça
continental. O rendimento de carcaça fria também foi maior nos primeiros (54,8
contra 52,6%).
Mesmo inferior ao rendimento relatado
por PACHECO et al. (2005), o valor médio de rendimento de carcaça quente 54,7%
é considerado elevado se comparado com as médias verificadas em outros
trabalhos que pesquisaram animais superjovens, porém castrados (PACHECO et al.,
2005), efeito do dimorfismo sexual do animal inteiro, que, ao desenvolver maior
musculatura, resulta em maior rendimento de carcaça que o macho castrado
(PURCHAS et al., 2002). SAMPAIO et al. (1998) também observaram rendimento alto
(55,1%) em bovinos jovens não castrados mestiços Canchim. Além disso, é importante
salientar que as comparações entre rendimentos de carcaça medidos em diferentes
experimentos pode ser resultado de variação no método de recorte dos excessos
de gordura da carcaça e da gordura interna, que variam de frigorífico para
frigorífico e são subjetivos nos abatedouros experimentais.
No presente trabalho, as
quebras ao resfriamento da carcaça variaram de 1,28 a 1,98%, sem diferença
estatística entre os quatro genótipos. As quebras ao resfriamento verificadas
por PACHECO et al. (2005) (4,63% nos 5/8N3/8C e 2,74% nos 5/8C3/8N) e por VAZ
et al. (2002) (2,70% para Hereford e 2,37% para 5/8HN) não foram
estatisticamente diferentes entre os genótipos e ambas, na média, foram inferiores
às observadas no presente estudo. Essas diferenças nas quebras durante o
resfriamento da carcaça poderiam ser resultado de diferenças na cobertura de
gordura sobre as carcaças
ou alterações
no pH muscular (LAWRIE, 2005), decorrentes de variações durante o manejo pré-abate,
podendo ser prejudicado em função dos animais mestiços Nelore serem mais
susceptíveis a maior estresse pré-abate em relação aos Hereford. No entanto, o
fato de os animais permanecerem em confinamento por quase sete meses reduz a
susceptibilidade desses ao estresse pré-abate, em função do constante contato
com pessoas e espaços reduzidos no local do confinamento, condições similares
às encontradas no abatedouro.
Na
Tabela 2, observa-se que a
espessura de gordura subcutânea da carcaça foi inferior (P<0,05) nos animais
mestiços Charolês em relação aos demais, que não diferiram entre si.
Pesquisando bovinos Charolês em comparação com bovinos de raça britânica, no
caso Aberdeen Angus, BARBER et al. (1981) afirmam que a raça Charolês atinge
peso maduro em idade mais avançada, com isso, em pesos reduzidos, deve-se
esperar maior espessura de gordura sobre as carcaças de animais de raças
britânicas.
Poderia ser esperada, ainda,
diferença entre a espessura de gordura da carcaça dos animais mestiços Hereford
x Nelore das heterozigoses 50% (3/4HN) e 62% (5/8HN), o que não foi observado
(Tabela 2; P>0,05). Esperava-se isso, pois VAZ & RESTLE (2001) afirmam
que as medidas relacionadas à deposição de gordura da carcaça são as
características que possuem maior efeito de heterose. Similaridade entre
genótipos puros e mestiços que envolvem as raças Hereford e Nelore foram citadas
por VAZ et al. (2002), quando observaram 6,25 e 6,74 mm de espessura de
gordura, respectivamente, para os genótipos Hereford e 5/8HN, em novilhos
terminados em confinamento desde os sete meses e abatidos aos quatorze meses de idade.
No presente trabalho, a
conformação de carcaças foi maior (P<0,05) nos 3/4CN em relação aos mestiços
Hereford x Nelore, mas não diferiram do Hereford puro (Tabela 2). As raças
continentais, como é o caso da Charolês, são caracterizadas por carcaças com
melhor conformação em relação às britânicas, no caso a Hereford; no entanto, no
presente trabalho, somente quando o Nelore foi incluído no genótipo, a
conformação de carcaças decresceu. Os animais Hereford e mestiços Hereford x
Nelore não diferiram entre si nessa característica. A conformação verificada
por VAZ et al. (2002) foi similar, assim como as áreas absolutas de Longissimus dorsi, que foram de 55,5 e
57,0 cm2, respectivamente, para Hereford e 5/8HN. Ajustada para 100
kg de carcaça, os valores passaram a ser 28,4 e 29,0 cm2, citados na
mesma ordem.
No presente trabalho, assim
como a conformação, a área de Longissimus
dorsi absoluta, que também é um indicativo da musculosidade da carcaça
(BERG & BUTTERFIELD, 1976), foi superior nos 3/4CN, dessa vez em relação
aos machos Hereford, não diferindo dos mestiços 3/4 e 5/8 (Tabela 2). A
similaridade entre cruzados Charolês e Hereford indica que a heterozigose dos
últimos compensou parte da maior aptidão das raças continentais para
desenvolver a musculosidade na carcaça.
No entanto, ainda na Tabela 2,
observa-se que, ao ajustar a característica para 100 kg de carcaça, a diferença
deixou de existir (P>0,05), embora numericamente o cruzado 3/4CN tenha
mostrado área 2,1 cm2 maior que o Hereford puro. A partir desses
resultados, pode-se inferir que o peso de carcaça afeta a área de Longissimus dorsi e, nessa medida, a
heterozigose dos animais mestiços pode reduzir a diferença de musculosidade
entre as raças britânicas como a Hereford e continentais como a Charolês
(PEROTTO et al., 2000).
Essa afirmação se consolida
quando se observa que, ao comparar os animais 3/4CN e 3/4HN entre si,
verifica-se que não houve diferença entre os grupos para nenhuma das
características métricas de mensuração da carcaça (Tabela 2). Também os 5/8HN
foram similares aos 3/4HN (P>0,05). O comprimento de carcaça, espessura de
coxão e perímetro de membro anterior não diferiram entre os grupos genéticos
(P>0,05). Ainda em relação às medidas métricas da carcaça, constata-se que
os animais Hereford apresentaram menor comprimento de membro anterior do que os
mestiços 5/8HN e 3/4CN e menor comprimento de membro posterior do que os demais
grupos (Tabela 2).
Os mestiços Nelore tendem a
ter membros mais compridos que as raças europeias definidas, resultado da
heterose individual para as características de desenvolvimento corporal (ARANGO
et al., 2004). Esse comportamento pode ser maximizado quando o genótipo mestiço
zebu envolver outra raça como a Charolês, uma raça continental de maior porte
que a Hereford. Ainda na Tabela 2, pode-se verificar que, se forem considerados
somente os animais Hereford e seus mestiços com Nelore, os comprimentos de
perna e de braço aumentaram com o incremento da proporção de Nelore.
Se considerados apenas os
machos Hereford e Hereford x Nelore, observa-se que a área de Longissimus dorsi em valores absolutos e
ajustado para peso de carcaça fria não foi afetada pelo cruzamento. SHERBECK et
al. (1995) afirmam que animais cruzados Brahman apresentam menor área de
longissimus dorsi do que novilhos de
raças britânicas.
A Tabela 3 mostra os dados
referentes aos pesos dos cortes comerciais das carcaças dos animais dos
diferentes genótipos, constatando-se que houve similaridade entre os genótipos
para os pesos dos três cortes comerciais. A similaridade entre os pesos dos cortes
decorre da similaridade nos pesos de carcaça dos animais (Tabela 1). Os
resultados indicaram não existir efeito das raças Nelore, Hereford e Charolês
para essa característica. OLIVEIRA et al. (2009) observaram maior peso de
dianteiro em tourinhos Nelore em relação a tourinhos Canchim, diferença que
também se constatou no rendimento percentual desse corte, que foi de 39,3 e
38,1%, respectivamente. Para os autores, tal diferença foi devido à presença do
cupim no corte dianteiro das carcaças de animais Nelore.
.Os resultados de
similaridade entre os genótipos estudados mostram que os padrões raciais
desenvolvidos no melhoramento das raças Charolês, Hereford e Nelore têm
mostrado harmonia entre elas. Embora alguns pesquisadores tenham salientado a
importância de o melhoramento buscar o aumento do peso de serrote, região onde
se localizam os cortes mais valorizados na carcaça bovina (PASCOAL et al.,
2011). VAZ et al. (2002), em seu estudo mostraram semelhança entre os genótipos
Hereford e 5/8HN, para percentagens de dianteiro (37,4% para ambos), de ponta
de agulha (14,2 e 15,1%, respectivamente) e de serrote (48,5 e 47,6%,
respectivamente).
No presente estudo, os
animais 3/4CN apresentaram o maior percentual de traseiro especial ou corte
serrote (48,1%), em relação aos outros grupos mestiços (3/4HN = 46,7% e 5/8HN =
45,3%), não diferindo do grupo Hereford (46,4%) (Tabela 3). O maior percentual
de serrote em mestiços de raças continentais é reflexo da seleção que essas
raças sofreram para conformação de carcaças (PEROTTO et al., 2000).
O maior percentual de ponta
de agulha (Tabela 3) foi observado nos animais 5/8HN, em relação aos 3/4HN e
3/4CN (P<0,05). Neste estudo, os animais 5/8 eram os que apresentavam maior
percentagem de genótipo zebuíno em relação aos demais. Esse resultado pode
indicar, para trabalhos futuros, a dessecação da ponta de agulha nos tecidos
principais, osso, músculo e gordura, visando estudar qual tecido estaria
refletindo em maior desenvolvimento desse corte em animais 5/8 europeu x zebu.
O estado sexual dos animais
poderia interferir nos percentuais dos cortes comerciais à medida que o
dimorfismo sexual do macho, ativado pelo efeito hormonal androgênico,
aumentaria os percentuais de dianteiro em detrimento ao percentual de serrote
(BERG & BUTTERFIELD, 1976). Em função de existirem dúvidas a respeito do
desenvolvimento e maturidade dos animais dos diferentes genótipos, no presente
trabalho foi estudada a biometria testicular, visando identificar possíveis
alterações no desenvolvimento das glândulas sexuais masculinas, que poderiam
resultar em diferenças nas produções de hormônios androgênicos e, com isso,
maior desenvolvimento de algumas características de carcaça mais expressivas em
machos não castrados (Tabela 4).
Das variáveis dependentes
mostradas na Tabela 4, a única característica que mostrou diferença (P<0,05)
entre os genótipos foi o perímetro escrotal ajustado para 100 kg do peso de
carcaça, que foi maior nos animais Hereford em relação aos 5/8HN. O perímetro
escrotal variou, sem diferença estatística, de 29,9 cm nos 3/4CN a 33,3 cm nos
machos Hereford. Menor perímetro escrotal, também chamado de biometria
testicular, em animais zebuínos é citado por VALENTIM et al. (2002), quando
compararam animais Nelore com mestiços Nelore x raças europeias. DAL-FARRA et
al. (2000) correlacionam as diferenças de perímetro escrotal à precocidade das
raças europeias em relação às zebuínas.
O monitoramento da biometria
testicular em trabalhos que comparam animais abatidos em idade jovem deve-se ao
fato de o melhoramento zootécnico buscar a precocidade dos animais, visando
reduzir a idade de abate, em vistas à melhoria da qualidade da carne e redução
dos custos do sistema de produção pelo aumento da taxa de desfrute. No presente
trabalho, parece evidente que o menor perímetro testicular do genótipo com maior
percentagem de genótipo zebuíno indica uma maturidade mais tardia, resultante
do cruzamento de uma raça dita precoce, no caso a Hereford, com uma raça mais
adaptada, porém mais tardia, no caso a Nelore. No entanto, as características
de precocidade de terminação associadas à deposição de gordura, possuem alta
heterose em cruzamentos de genótipos zebuínos e europeus (VAZ & RESTLE,
2001), fato que pode ter compensado um possível menor acabamento dos animais
que apresentassem uma maturidade mais tardia pelo maior grau de sangue zebuíno.
CONCLUSÕES
Não há diferença nos pesos de
carcaça quente e carcaça fria, rendimentos de carcaça quente e de carcaça fria
e na quebra ao resfriamento das carcaças entre machos Hereford, mestiços
Hereford x Nelore e mestiços Charolês x Nelore, implicando que esses genótipos
são adequados para o atual sistema de comercialização brasileiro, que não
diferencia composição dos tecidos da carcaça e percentagens dos cortes
primários.
Considerando-se a composição
da carcaça, animais mestiços Charolês apresentam melhor conformação e maior
área de Longissimus dorsi do que
novilhos mestiços Hereford. Estes últimos e o Hereford puro, em idade jovem,
possuem carcaças com maior gordura de cobertura e percentagem de ponta de
agulha que os mestiços Charolês.
Se avaliada a biometria
testicular, os animais 3/8 Nelore indicam ser mais tardios que os machos
Hereford puros, porém a heterozigose presente no genótipo pode melhorar o
acabamento desses animais.
REFERÊNCIAS
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Protocolado em: 14
mar. 2012 Aceito em: 10 set. 2012.