DOI: 10.5216/cab.v14i3.17147
IDENTIFICAÇÃO
DE
MAMÍFEROS SILVESTRES DO PANTANAL SUL-MATO-GROSSENSE PORTADORES DE Leptospira
spp.
Anahi Souto Vieira¹, Grácia Maria Soares Rosinha2,
Silvio Arruda Vasconcellos3, Zenaide Maria de Moaris4,
Rosielle Campozano Viana5, Carina Elisei de Oliveira2,
Cleber Oliveira Soares2, Flabio Ribeiro de Araújo2,
Guilherme Miranda Mourão2, Rita de Cassia Bianchi6,
Natalie Olifiers7, Vitor Rademaker7, Fabiana Lopes
Rocha8, Aiesca Oliveira Pellegrin9
1Médica
Veterinária, Mestre, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo
Garnde, MS, Brasil. anahi_sv@yahoo.com.br
2Pesquisadores Doutores da Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS,
Brasil.
3Professor Colaborador Senior da Universidade de São Paulo, São Paulo,
SP, Brasil
4 Técnica de nível superior da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP,
Brasil
5Bolsista PIBIc da Embrapa Pantanal, Corumbá, MS, Brasil.
6Pós-Graduanda da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo
Garnde, MS, Brasil.
7Pesquisador doutor do Laboratório de Biologia e Parasitologia de
Mamíferos Silvestres Reservatórios, Fundação Oswaldo Cruz, Manguinhos,
RJ, Brasil.
8Pós-graduanda da Fundação Oswaldo Cruz, Manguinhos, RJ, Brasil.
9Pesquisadora Doutora da Embrapa Pantanal, Corumbá, MS, Brasil
RESUMO
Foi
realizado
um levantamento da infecção por Leptospira spp. em mamíferos
silvestres do Pantanal sul-mato-grossense com o emprego da reação de
soroaglutinação microscópica (SAM) e da reação em cadeia da polimerase
(PCR). Os sorovares de maior frequência nos animais investigados foram
Hardjobovis (28%), Icterohemorhagiae (12%), M-110/2006 (isolado de Cerdocyon
thous; 16%), Canicola (L014 isolada de Bos taurus, 4%),
Whitcombi (4%), Pomona (20%), Autumnalis (12%) e Copenhageni (M9/99
isolada de Rattus norvegicus, 4%). Das 79 amostras examinadas
pela PCR, 21 (26,58%) foram positivas, com a amplificação de um
fragmento de aproximadamente 331pb. Dois fragmentos amplificados obtidos
de amostras de C. thous foram clonados, sequenciados e
identificados como L. interrogans por análise filogenética.
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PALAVRAS-CHAVE: leptospirose;
mamíferos silvestres; Pantanal; PCR; sorologia,
IDENTIFICATION
OF WILD MAMMALS FROM PANTANAL SUL-MATOGROSSENSE CARRIERS OF Leptospira
spp.
ABSTRACT
A survey of Leptospira
spp. in wild mammals from the southern Pantanal of Mato Grosso do Sul
was performed by microscopic agglutination test (MAT) and polymerase
chain reaction (PCR). The serovars most frequently found were
Hardjobovis (28%), Icterohemorhagiae (12%), M110/2006 strain (isolated
from Cerdocyon thous, 16%), Canicola (L014 isolated from Bos
Taurus, 4%), Whitcombi (4%), Pomona (20%), Autumnalis (12%) and
Copenhageni (M9/99 isolated from Rattus norvegicus, 4%). From
the 79 samples tested by PCR, 21 (26.58%) were positive, resulting in
the amplification fragment of approximately 331pb. Two amplified
fragments from C. thous were cloned, sequenced and identified as
L. interrogans by phylogenetic analysis.
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INTRODUÇÃO
A leptospirose
(Leptospiraceae: Leptospira) é uma doença re-emergente e
mundialmente distribuída que afeta animais silvestres, domésticos e o ser
humano (SCARCELLI et al., 2003). A doença acarreta elevados prejuízos
econômicos para a pecuária do Brasil, causando abortamentos,
natimortalidade, mastite, agalaxia e nascimento de bezerros fracos (BARR
& ANDERSON, 1994). Um dos maiores desafios do estudo da leptospirose
tem sido a caracterização de ambientes e modos de transmissão, condições
altamente dependentes dos sorovares. Alguns sorovares são endêmicos de
regiões particulares e cada um deles tende a ser mantido por um hospedeiro
específico. Embora as pesquisas sobre a leptospirose em animais silvestres
já tenham avançado em vários países, no Brasil as informações sobre o tema
ainda são escassas, deixando uma lacuna no conhecimento da cadeia
epidemiológica da doença e dificultando a elaboração de planos de controle
em regiões com grande densidade de animais silvestres e ambientes
ecologicamente favoráveis (GIRIO et al., 2003).
Na região do Pantanal, as
condições ecológicas são altamente favoráveis à ocorrência de
leptospirose, uma vez que o microrganismo sobrevive mais tempo em áreas
alagadas e com temperaturas elevadas (LINZ et al., 1986), condição comum
neste bioma, que apresenta áreas extensas de várzea e campos inundáveis.
O teste considerado como
“Padrão Ouro” pela Organização Mundial da Saúde para o diagnóstico da
leptospirose é a soroaglutinação microscópica (SAM/ OIE, 2006). Porém,
essa técnica pode apresentar reação cruzada entre sorovares. A reação em
cadeia da polimerase (PCR) é um método de detecção direto, rápido,
sensível e específico, que pode ser utilizado diretamente em amostras
clínicas como sangue, urina ou humor aquoso (MÉRIEN et al., 1992; BALL et
al., 1994). A PCR tem sido utilizada para a detecção da infecção no ser
humano e nos animais domésticos, porém ainda foi pouco empregada em
estudos com animais selvagens.
Os objetivos deste trabalho
foram: identificar espécies de mamíferos selvagens infectados por Leptospira
spp. na região do Pantanal do Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil,
utilizando as técnicas de SAM e PCR; comparar o desempenho dessas duas
metodologias e caracterizar os sorovares predominantes que circulam nas
populações de animais silvestres estudados.
MATERIAL E MÉTODOS
As áreas estudadas estão
localizadas na região central do Pantanal brasileiro, conhecido como
Pantanal da Nhecolândia (18º 59’ 115’’ S, 56º 37’ 63’’N). O clima é
tipicamente pantaneiro, com temperaturas elevadas (19 a 28ºC) e médias
pluviométricas de 1200 mm/ano (GARCIA & CASTRO, 1986).
Foram capturados 159 animais
assim distribuídos: 57 roedores silvestres (49 Thrichomys pachyurus e
oito Oecomys mamorae), 38 cachorros-do-mato (Cerdocyon thous),
nove jaguatiricas (Leopardus pardalis) e
55 quatis (Nasua nasua). Para a captura dos roedores,
foram utilizadas armadilhas do tipo Sherman e Tomahawk, para
os carnívoros utilizaram-se armadilhas de ferro galvanizado tipo box
trap. Os animais foram anestesiados com Zoletil 50®
(Virbac) para coleta de sangue por punção cardíaca nos roedores e por
punção venosa (cefálica ou safena) nos carnívoros. O sangue coletado foi
acondicionado em tubos com anticoagulante (EDTA) e sem anticoagulante,
para obtenção de papa de hemácias e soro, respectivamente.
A manipulação dos animais
silvestres seguiu as recomendações de GANNON & SIKES (2007), para o
uso de animais silvestres em pesquisas e as capturas foram realizadas com
autorização de coleta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA): (16010-1) 6425591/33454426,
(003/2006) 0214.000540/2005-82, (005/2007) 02014.000382/2007-22,
(015/2007) 02014.000419/07-97, (003/2006) 0214.000540/2005-82.
A pesquisa de anticorpos
aglutinantes antileptospiras foi efetuada pela reação de SAM, de acordo
com GALTON et al (1965) e COLE et al (1973), os soros foram triados na
diluição de 1:100 e, quando houve aglutinação, os soros foram titulados em
uma série geométrica de diluição em razão dois. O título foi dado como a
recíproca da maior diluição em que houve aglutinação (FÁVERO et al.,
2002). Para o diagnóstico, foi utilizada uma coleção de antígenos vivos,
representantes de 19 sorogrupos de Leptospira interrogans,
composta pelos sorovares: Icterohaemorrhagiae, Copenhageni, Canicola,
Autumnalis, Pomona, Grippotyphosa, Hebdomadis, Wolffi, Bratislava,
Harjobovis e Hardjoprajtino, Castellonis, Batavie, Whitcombi, Cynopteri,
Butembo, Javanica, Panamá, Pyrogenes, Shermani, Tarassovi, Patoc e Sentot.
Além das estirpes de referência, também foram utilizados como antígenos
estirpes de leptospiras autóctones isoladas de animais domésticos e
silvestres no Brasil: 4-B (VPS) isolada de gambá (Batávia ou
Brasiliensis), M7-87 isolada de suíno (Pomona), M4/98 isolada de búfalo
(Sejroe ou Guaricura), M9/99 isolada de rato (Icterohaemorragiae ou
Copenhageni), L0-1 isolada de cão doméstico (Canicola), L0-4 isolada de
suíno (Pomona), L0-14 isolada de bovino (Canicola), 2 A CAP isolada de
capivara (Gripptyphosa ou Bananal), M 110/2006 isolada de cachorro-do-mato
(ainda não caracterizada).
A extração do DNA genômico foi
realizada utilizando-se 175 μl
de papa de hemácia, de acordo com o protocolo descrito por ARAUJO et al.
(2009). Após a extração do pellet de DNA, o mesmo foi seco à temperatura
ambiente e ressuspendido em 50 ml de Tris EDTA (10 mM Tris HCl pH 7,4, 1mM
EDTA pH 8.0) e estocado a -20oC. O controle positivo foi obtido
de uma cultura em meio semi-sólido (Fletcher®) de L. interrogans, sorovar
Hardjo (Hardjoprajitno).
O par de oligonucleotídeos
utilizado foi desenhado segundo MÉRIEN et al. (1992), com a amplificação
de um produto de aproximadamente 331 pares de bases, que corresponde a uma
região conservada do gene 16S da estrutura primária de Leptospira
spp. A reação de PCR seguiu o protocolo de VIEIRA et al. (2011). Os
produtos da amplificação foram resolvidos por eletroforese a 100V por 1
hora, separados em gel de agarose a 1%, corados com Syber Gold
(Ivitrogen®) e visualizados por meio do sistema de captura de imagem X-ILP
(Loccus®) com transluminador sob luz ultravioleta.
Os produtos da PCR foram
clonados em plasmídios pGEM-T Easy (Promega®), de acordo com as instruções
do fabricante, utilizando-se E. coli TOP10 F’ como células
quimicamente competentes. A purificação dos plasmídios recombinantes foi
realizada com Kit de purificação “Wizard miniprep” (Promega®). O
sequenciamento dessas amostras foi realizado pelo método de Sanger, em
sequenciador automático ABI 3100 de 16 capilares (Applied Biosystems),
seguindo as recomendações do fabricante. As amostras foram sequenciadas
com os oligonucleotídeos do gene 16S de L. interrogans e
com o oligonucleotídeos do vetor pGEM-T Easy. Posteriormente, as amostras
foram analisadas por meio do Blast N (http://blast.ncbi.nlm.nih.gov)
e alinhadas com o auxílio do programa Mega 4 (TAMURA et al., 2007).
Uma árvore filogenética para Leptospira
spp. foi construída pelo método de “Neighbour-Joining” (SAITO & NEI,
1987), versão simplificada do método de mínima evolução (ME), o qual
escolhe uma topologia mostrando o menor valor da soma de todos os ramos
como uma estimativa correta da árvore. Para a construção da árvore
filogenética, foram utilizadas as seguintes sequências: AY714984.1,
FJ154579, AM050569, FJ154600, FJ154595,
FJ154593, FJ154580.1, EU159692, FJ 154543.1, FJ154557.1, DQ991469.1,
AM050586.1, FJ154580.1, AY293856.1, DQ991472.1, AY996790.2,
AM050570, AY996796.1, FJ154549.1, FJ154549.1, FJ154544.1,
FJ154552.1, EUA497661, DQ991478.1, AY631895.1,
FJ 154572.1, FJ154582.1, AY631883, que estão disponíveis no banco de dados
GenBank (http://www.ncbi.nlm.nih.gov).
Os resultados dos testes de
SAM e PCR para C. thous e N. nasua foram comparados utilizando-se
o teste do Qui-quadrado (χ2)
com, correção de Yates quando necessário e Odds Ratio (AYRES et al.,
2005).
RESULTADOS
A frequência de animais
sorologicamente positivos para a Leptospira spp foi de 23,28% (Tabela
1). O número de reagentes por espécie animal e as reações
avaliadas com as de variantes sorológicas mais prováveis estão
demonstradas na Tabela
2.
Dos 75 animais examinados pelo
PCR para Leptospira spp., 28,00% apresentaram um fragmento de
aproximadamente 331pb. A sequência de oligonucleotídeos utilizada
amplificou todos os sorovares empregados na coleção utilizada para a
realização da SAM. Duas amostras de papa de hemácias, números 21 e 39,
colhidas de C. thous e positivas para Leptospira spp pela
técnica de PCR, foram clonadas e sequenciadas. Os resultados indicaram que
o DNA encontrado no animal de número 21 teve 99% de identidade e e-value
10-121 com L. interrogans sorovar Copenhageni (número
de acesso no GenBank FJ154569.1). O segundo DNA, do animal de
número 39, teve 97% de identidade e e-value 10-69 com L.
interrogans sorovar Sejroe (número de acesso no GenBank
FJ154558.1).
Com a construção da árvore
filogenética, observou-se a separação de Leptospira biflexa patoc,
Tuneria parva Parva e Leptonema ilinni Illini - out
group, (MOREY et al., 2006 ), de um grande grupo formado por
leptospiras patogênicas. Os isolados de C. thous foram similares à
L. interrogans, uma vez que ficaram dentro desse grupo (Figura
1). Não foi encontrada diferença na detecção de animais
positivos utilizando-se PCR ou a SAM (C.
thous:
χ2= 0,24; p=0,62 e OR= 1,50;
p= 0,93; N. Nasua:χ2= 1,49; p= 0,22 e OR= 3,33; p= 1,45).
DISCUSSÃO
Nasua nasua e C.
thous apresentaram a maior frequência de reações positivas para Leptospira
spp., tanto para os testes de SAM como de PCR. Ambas as espécies
apresentam alta densidade nessa região e se distribuem por diversos
ambientes no Pantanal (ALHO et al., 1987; TROLLE, 2003; BIANCHI, 2009;
DESBIEZ & BORGES, 2010). Como a transmissão ocorre por contato direto
do agente, isso está diretamente relacionado à taxa de contato entre
hospedeiro e/ ou à densidade desses no ambiente. Nesse contexto, tanto N.
nasua quanto C. thous são potencialmente importantes na
epidemiologia da leptospirose na área de estudo, uma vez que ambas as
espécies são abundantes (ALHO et al., 1987; TROLLE, 2003; BIANCHI, 2009;
DESBIEZ & BORGES, 2010). Além disso, ambas as espécies visitam com
frequência lagoas e campos inundáveis (ROCHA, 2006; BIANCHI, 2009).
Uma vez que o SAM
representa um teste para identificar
o sorovar predominante, o sorovar mais provável em C. thous foi
o Hardjobovis (50% de reações dominantes); enquanto para N. Nasua,
Pomona foi o mais provável, com 38,46% de reações dominantes, sugerindo
que C. thous e N. nasua são hospedeiros acidentais de tais
sorovares podendo, além de desenvolver a doença, disseminar o agente nas
áreas habitadas.
No levantamento realizado por
JORGE et al. (2010), na região da reserva SESC Pantanal (Mato Grosso),
39,5% (17/43) dos animais foram positivos para Leptospira spp.
pela técnica de SAM, sendo o sorovar Autummalis o mais prevalente.
SOUZA-JUNIOR et al. (2002) encontrou 20% de C. thous e 12.9%
de N. nasua reagentes
para anticorpos de Leptospira spp no estado de Tocantins,
corroborando os resultados do nosso estudo. O levantamento realizado no
Tocantins detectou outros sorovares, como Fluminense e Javanica em N.
nasua e Fluminense e Brasiliense em C. thous. No entanto,
GIRIO et al. (2003) testou nove N. nasua na mesma região deste
estudo, não encontrando nenhum dos animais reagentes para Leptospira
spp.
Os roedores domésticos são os
principais transmissores e reservatórios para leptospirose em humanos ou
no meio urbano (BRASIL, 2009). Em T. Pachyurus, encontramos títulos equivalentes ao ponte de corte, o qual
corresponde a uma reação positiva com título igual ou maior a
100. Com relação a isso, cumpre ressaltar que os roedores são os
reservatórios mais adaptados à infecção por leptospiras e, por isso, podem
não ter apresentado altos títulos no SAM, (BRASIL, 2009); entretanto,
quando são observados os resultados da PCR, pode-se constatar que dois
animais não reagentes na prova de SAM foram positivos na PCR, o que é
bastante justificado, uma vez que a técnica de PCR, aplicada em amostras
de sangue, detecta o agente em sua fase de bacteremia (SCARCELLI et al.,
2003), enquanto a SAM detecta a presença de anticorpos, em fase posterior
a essa (BRASIL, 2009). Dentre o sorovar mais provável está o
Icterohaemorrhagiae, para o qual os roedores são considerados
reservatórios (FAINE et al., 1999). Embora não existam trabalhos sobre Leptospira
spp. infectando T. pachyurus, essa situação é bastante
provável no Pantanal, uma vez que esse ecossistema reúne todas as
condições ecológicas para manter a enfermidade de forma endêmica.
A não detecção de anticorpos
ou DNA nas amostras coletadas dos roedores O. mamorae é
provavelmente decorrente dos hábitos desta espécie, que é
preferencialmente arborícola (BONVICINO et al., 2002) e sua frequência de
captura em áreas alagadas é baixa (RADEMAKER et al., 2009). Assim, essa
espécie estaria menos exposta à Leptospira spp, já que ambientes
alagados são os mais favoráveis à transmissão do agente.
Os sorovares mais prováveis em
carnívoros foram o Hardjobovis, Pomona e Icterohaemorrhagiae, porém este
último apareceu somente em um indivíduo de L. pardalis. No
entanto, baixos títulos sorológicos não devem ser considerados conclusivos
para atribuir uma condição de não infectado ao animal, pois o ponto de
corte do teste pode variar conforme espécie, o que significa que as
frequências de animais expostos a um determinado parasita podem estar
subestimadas (HERRERA et al., 2008).
Do espécime de C.
thous identificado como no 39 foi anteriormente isolada
uma amostra de Leptospira spp. (Delbem 2006, informe verbal)*
ainda não caracterizada. No presente trabalho, foram realizadas a
sorologia e a PCR de amostras desse indivíduo e o sorovar mais provável
foi o Hardjbovis (título de 1600), sendo também positiva frente à PCR.
Pela análise parcial do gene 16S comparada com sequências
depositadas no GenBank, esse isolado possui maior identidade, 97%
e-value 1069, com L. interrogans sorovar Sejroe cepa
3705 (número de acesso FJ154558.1). Os sorovares Hardjobovis e Sejroe
pertencem ao mesmo sorogrupo (Sejroe).
O antígeno denominado
“M-110/2006” utilizado na SAM foi produzido com um isolado obtido de um C.
thous em pesquisa anterior. Quando as amostras de soro foram
testadas para esse antígeno, 10% dos C. thous (1/10) e 23,07% dos
N. nasua (3/13) foram reagentes, o que indica que esse antígeno
está circulando no ambiente estudado, sugerindo que essas duas espécies
estejam participando da sua cadeia de transmissão.
CONCLUSÃO
Podemos concluir que os
sorovares mais prevalentes foram Hardjobovis, Pomona e
Ictrerohaemorrhagiae, sendo que as espécies C.thous
e N.nasua foram as que
apresentaram maior reação positiva para Leptospira
spp. E, quando o antígeno denominado “M-110/2006”, foi isolado de C. thous, foi utilizado, essas duas espécies foram reagentes,
indicando que o antígeno está circulando no ambiente e sugerindo que elas
estejam participando da sua cadeia de transmissão, devido à alta densidade
e modo de vida desses animais. Com a técnica de sequenciamento foi
possível verificar que esta amostra pertence ao mesmo sorogrupo do sorovar
Hardjobovis.
Não houve diferença
significativa entre as duas técnicas de diagnóstico utilizadas no
trabalho, porém cada técnica pode ser utilizada em momentos diferentes da
detecção do agente.
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Protocolado em: 14 fev. 2012.
Aceito em: 27 maio 2013.