EXIGÊNCIAS DE FÓSFORO DISPONÍVEL PARA AVES COM O USO DO FOSFATO
MONOAMÔNIO
Livya Stefane
Borges de Queiroz 1, Camila Meneghetti 2, Antonio Amandio
Pinto Garcia Júnior2, Antonio Gilberto Bertechini3,
Eduardo Machado Costa Lima1, Henrique Braga Oliveira2
O objetivo do trabalho foi avaliar a exigência
de fósforo disponível (Pd) com o uso do fosfato monoamônio (MAP) como fonte de
fósforo para frangos de corte na fase inicial (
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PALAVRAS-CHAVE: desempenho; fonte de fósforo; frango
de corte; mineralização óssea.
AVAILABLE PHOSPHORUS FOR POULTRY WITH THE USE OF
MONOAMMONIUM
PHOSPHATE
ABSTRACT
The objective of this work was to evaluate the phosphorous
requirements (Pd) when monoammonium phosphate (MAP) is used as a phosphorous (P)
source for broilers in the starter phase (1 to 21 days). We used 800 male chicks
at one day old, in a 5x2 factorial arrangement, with five Pd levels (0.28, 0.34,
0.40, 0.46 and 0.52%) and two Ca levels (1.00 and 0.60), totaling ten treatments
and eight replicates. Significant interaction was observed between the
phosphorus and calcium levels from the diet, in the performances traits, bone
ashes and P retention and excretion. Utilizing the level of 1.0% Ca in the diet,
the best results of performance and bone ashes were founded when the levels of
0.42% and 0.439% Pd were used, respectively. Better contents of bone ashes were
observed with the use of 0.60% Ca in the diet only when the lowest level of P
was used. When the MAP was utilized as a source of P in the diet for broilers in
the starter phase, the use of the 0.43% of Pd and 1.00% of Ca is enough to
promote better performance and bone mineralization.
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KEYWORDS: bone mineralization; broiler; performance; phosphorus
source.
INTRODUÇÃO
O elemento fósforo (P) tem sido alvo de muitas pesquisas ao
longo dos últimos anos com o enfoque na melhor forma de utilização desse
mineral, tendo em vista o melhor desempenho das aves e o melhor custo/benefício.
Mais recentemente, também há preocupação com a excreção e a contaminação do
ambiente, havendo a necessidade de melhor conhecimento das fontes utilizadas
para adequação dos níveis de P nas rações.
As fontes de P utilizadas na alimentação animal diferem não
somente pela quantidade de fósforo disponível, mas também pelas matérias-primas
utilizadas e pelo processamento industrial empregado na fabricação dos
mesmos.
O fosfato monoamônio é uma fonte de P obtida através do
tratamento da amônia com o ácido fosfórico desfluorizado ou parcialmente desfluorizado, devendo apresentar-se na forma granulada,
para evitar empedramento e/ou reação do produto com outros componentes do
alimento (BUTOLO, 2002). Ao contrário dos fosfatos comumente utilizados na
alimentação de frangos de corte, o MAP é caracterizado por não fornecer Ca às
dietas, implicando no aumento do nível de inclusão de calcário nas rações de
frangos de corte em que se utiliza essa fonte de fósforo.
A composição do fosfato monoamônio é de aproximadamente 24% de
fósforo total, 0,30% de flúor e 11% de nitrogênio não proteico, sendo que a
biodisponibilidade relativa do P é considerada mais de 100%, segundo ROSTAGNO
et al. (2005).
Apesar do uso do MAP nas formulações de rações para frangos de
corte, ainda existe dúvida se, ao utilizá-lo, as recomendações de Pd seriam as mesmas quando se utiliza o fosfato bicálcico
como fonte. Alguns trabalhos evidenciaram a melhoria do Pd do MAP para aves, sugerindo mudanças nas recomendações
quando se utiliza essa fonte de P (GOMES et al., 1993;
DAMROM & FLUNKER, 1991), indicando como fonte alternativa de alta
biodisponibilidade. Trabalhos com poedeiras (COUTO et
al., 2008) também evidenciaram melhoria da produção e peso dos ovos quando
substituíram o fosfato bicálcico pelo MAP nas rações dessas aves.
Diversas fontes de P foram avaliadas recentemente por QUEIROZ
et al. (2008) e os autores concluíram que o MAP
proporciona resultados de desempenho e mineralização óssea satisfatórios, quando
são utilizados níveis adequados de fósforo disponível na ração.
Além da biodisponibilidade e retenção do fósforo é extremamente
importante se atentar para a relação Ca/Pd, o que pode
interferir diretamente na absorção desses minerais, principalmente do fósforo. A
inclusão de altos níveis de cálcio nos alimentos aumenta a necessidade de P para
frangos de corte. O cálcio interfere na absorção do P, complexando-o em nível de
intestino, tornando-o, assim, menos disponível, além de dificultar a absorção de
P fítico pela ave (DALE, 1983).
Há necessidade, de constante atualização dos estudos das fontes
disponíveis comercialmente e, consequentemente, dos ingredientes utilizados na
alimentação animal, visto a grande importância nutricional e ambiental das
fontes de P e o impacto no desempenho das aves.
O objetivo deste trabalho foi avaliar as exigências de Pd na fase inicial de frangos de corte (
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos (desempenho e metabolismo) foram conduzidos no
Setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de
Lavras (UFLA), Minas Gerais, sendo utilizados 800 pintos de corte machos
Cobb-500 de um dia de idade, com peso médio de 42±2,0g, distribuídos em gaiolas
de metabolismo confeccionadas em arame galvanizado, em ambiente com controle de
temperatura e ventilação. Utilizou-se delineamento experimental inteiramente
casualizado, em esquema fatorial (5x2), totalizando 10
tratamentos, com oito repetições de 10 aves por unidade experimental. Foram
estudados cinco níveis de Pd (0,28; 0,34; 0,40; 0,46 e
0,52%) e dois níveis de Ca (0,60 e 1,00%). As relações de Ca/Pd foram: 2,1; 1,7; 1,5; 1,3; 1,1 para 0,60% de Ca e 3,5;
2,9; 2,5; 2,1; 1,9 para 1,00% .
As rações experimentais (Tabela 1) foram à base de milho e
farelo de soja, formuladas de acordo com as recomendações de ROSTAGNO et al. (2005) para a fase de
O desempenho das aves foi avaliado pelas características de
ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar das aves, no período de
Para o início do ensaio de metabolismo, foram realizadas as
pesagens das aves e da ração fornecida. A ração foi marcada com óxido férrico
para sinalizar o início da coleta. Foram realizadas duas coletas diárias, sendo
uma às 8:00 e a outra às 15:00 horas, evitando, assim,
o início de processo fermentativo nas excretas. Durante a coleta, foram
retirados resíduos de ração e de penas. As amostras de excretas foram
homogeneizadas, pré-secas, queimadas a
As análises de fósforo das excretas seguiram o método da AOAC
(1990), através de colorimetria, com a leitura
realizada em espectrofotômetro a 400 nm.
Ao final do período experimental (23° dia), foram abatidas duas
aves por parcela, sendo retiradas as tíbias, para a determinação das cinzas
ósseas. As tíbias foram desengorduradas inicialmente utilizando-se recipiente
fechado contendo éter etílico por dois dias. Em seguida, foram lavadas com éter
etílico por 12 horas em aparelho Soxhlet. Após secagem
em estufa a
Todas as análises foram realizadas no Laboratório de Pesquisa
Animal do Departamento de Zootecnia da UFLA.
As temperaturas máxima e mínima foram registradas diariamente,
às 16 horas, sendo observadas as médias de 29,5 e 22,5ºC, respectivamente. O
programa de iluminação adotado foi o de 24 h de luz constante durante o
ensaio.
As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o pacote
computacional SISVAR, descrito por FERREIRA (2000), por meio da análise de
regressão para os níveis de fósforo e teste F para os níveis de cálcio, a 5% de
probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados referentes ao desempenho de frangos de corte na
fase de 1-19 dias de idade estão apresentados na Tabela 3, sendo verificada
interação significativa (P<0,05) entre os níveis de cálcio e fósforo para as
variáveis de desempenho dos frangos de corte. Para o nível dietético de Ca de
1,00%, houve maiores valores de consumo de ração e de ganho de peso, com os
níveis de Pd de 0,419 e 0,426%, respectivamente,
utilizando o efeito quadrático observado. Ao utilizar o fosfato bicálcico como
fonte de fósforo, RUNHO et al. (2001) sugeriram o valor
de 0,455% de Pd para frangos de corte de
Estes valores de Pd encontrados na
literatura foram obtidos utilizando-se o fosfato bicálcico como fonte de fósforo
e pôde-se verificar que os valores de Pd indicados
para essa fase são maiores dos que o obtidos neste
trabalho, portanto, vindo ao encontro dos objetivos de redução da suplementação
e excreção deste elemento. Já para o nível de Ca de 0,6%, houve efeito linear
(P<0,05) dos níveis dietéticos de Pd havendo
redução no consumo e ganho de peso e piora na conversão alimentar.
Considerando os níveis de Ca em cada nível de Pd estudado, verificaram-se resultados superiores de
desempenho para o menor nível de Ca apenas no menor nível de Pd, havendo inversão do comportamento com o aumento do Pd na ração, em que maiores valores puderam ser observados
com o uso de 1,00% de Ca na ração. Esses resultados demonstraram o efeito da
adição desses minerais na dieta sobre a manutenção do equilíbrio orgânico por
meio da relação Ca/P. Esses minerais estão intimamente associados no metabolismo
animal, muitas vezes combinados entre si, de modo que a carência de um deles na
dieta limita o desempenho das aves (MACARI et al.,
2002).
SHAFEY et al.
(1991) constataram que o excesso de fósforo e de cálcio na dieta pode
reduzir o desempenho das aves, por meio da diminuição na digestibilidade de
nutrientes, em função da queda da absorção dos mesmos e da permeabilidade da
parede intestinal. Além disso, o excesso de cálcio e fósforo na dieta pode
resultar em redução na disponibilidade desses minerais pela formação de fosfatos
de cálcio, insolúvel no trato digestível, o que, consequentemente, reduz a
absorção de ambos.
Os resultados de cinzas ósseas das aves (Tabela 4) mostram
interação significativa (P<0,01) dos níveis de Ca e Pd. Ao se utilizar o nível de 1,00% de Ca, houve efeito
quadrático (P<0,01) dos níveis de Pd, indicando o
valor de 0,439% de Pd como responsável pelos maiores
teores de cinzas ósseas nas tíbias. Ao se comparar os níveis de cálcio (0,60 e
1,00%) dentro de um mesmo nível de Pd, pode-se observar maiores valores de cinzas para o menor nível
de cálcio (0,60%) apenas para os tratamentos com nível inferior de Pd (0,28%).
Os maiores valores de cinzas ósseas foram observados quando se
obteve a relação de Ca/Pd em, aproximadamente,
2:1. Isso está de acordo com os
resultados obtidos no ensaio de desempenho, em que houve melhores resultados ao
se utilizar o nível de 1,00% de Ca nos maiores níveis de Pd. Porém, foi observado maior ganho de peso das aves
submetidas às rações com 0,60% de Ca com o menor nível de Pd (0,28%).
Uma relação linear entre a concentração de fósforo na dieta de
aves e valores de mineralização óssea puderam ser
observados por CORTELAZZI (2006), por meio do aumento de 36% nas cinzas
das tíbias de frangos de corte, em relação à dieta basal, na fase de
crescimento, com a adição de 0,16% de P em relação à suplementação de 0,08% de P
à dieta.
Cinzas ósseas tem sido o método mais utilizado para determinação
da disponibilidade biológica de fósforo em aves (WALDROUP, 1996). O método,
apesar de ser dispendioso em relação à necessidade de tempo e mão-de-obra, é um
dos mais precisos para essa finalidade (CORTELAZZI, 2006).
Na Tabela 5 encontram-se os resultados de retenção e excreção de
fósforo em que pode ser observada interação significativa (P<0,01) dos níveis
de Ca e Pd avaliados, para a excreção de Ptotal (g/dia) e para os CRP (%).
Maiores CRP foram encontrados para o nível de 1,0% de Ca, com a
utilização de níveis menores de Pd na ração (0,28 e
0,34%). Para o menor nível de Ca utilizado (0,60%), valores superiores de CRP
foram obtidos para o tratamento com 0,52% de Pd. Ao
utilizar o nível de 1,00% de Ca na dieta, observou-se uma regressão linear
(P<0,05) dos níveis de Pd avaliados, em que o menor
nível de Pd (0,28%) foi responsável pelo maior CRP
(66,05%).
A utilização de menores níveis de Pd,
com as dietas contendo 1,00% de Ca, foi responsável por menores excreções de
Pt. Os resultados
apresentaram comportamento contrário ao se utilizar o nível de 0,6% de Ca, em
que se pôde observar uma menor excreção de Ptotal para
o maior nível de Pd (0,52%). A análise de regressão
indicou efeito linear dos níveis de Pd, e,
independentemente do teor de Ca utilizado na ração, a utilização de menores
níveis de P foi responsável pela menor excreção do mesmo.
Os resultados obtidos demonstraram que, ao utilizar níveis de
Pd próximos aos recomendados pela literatura (0,40 e
0,46%), os níveis de cálcio estudados não influenciaram a retenção de P de
frangos de corte aos 21 dias de idade. Da mesma forma, não houve diferença entre
os níveis de cálcio sobre a excreção de P para o nível de 0,40% de Pd.
Ao avaliar o efeito da restrição de Ca e P em frangos de corte
de 1 a 18 dias, YAN et al. (2005), observaram maior
absorção para as aves que receberam dietas com níveis inferiores desses minerais
(0,30 % Pd e 0,60% Ca) com relação 2:1 de Ca/P. O
metabolismo desses minerais envolve um controle de autorregulação, demonstrado
pela capacidade adaptativa das aves quando expostas a situações de restrição de
nutrientes, por meio do aumento da taxa de absorção e eficiência de utilização,
com queda na excreção dos nutrientes.
CONCLUSÃO
Utilizando-se o MAP como fonte suplementar de fósforo e o nível
de 1,00% de Ca, o nível ideal de Pd das rações de
frangos de corte na fase de
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Protocolado em: 06 fev.
2012 Aceito
em: 31 maio 2012