EFEITO DO JEJUM NA GRANJA E
CONDIÇÕES DE TRANSPORTE SOBRE O COMPORTAMENTO DOS
SUÍNOS DE ABATE NAS BAIAS DE DESCANSO E LESÕES NA PELE
1. Pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves, Cx. Postal 21, CEP
89700-000, Concórdia , SC, Brasil. E-mail: osmar@cnpsa.embrapa.br
2. Departamento de Zootecnia, ETCO, FCAV/UNESP, CEP 14870-000, Jaboticabal, SP, Brasil
3. Sadia S.A., Concórdia, SC, Brasil
4. Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da
Universidade do Contestado e estagiária da Embrapa Suínos
e Aves
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do tempo de
jejum na granja (TJG= 9, 12, 15 e 18 horas) e da posição
do suíno no box da carroceria do caminhão (PBO= anterior,
central e posterior), no piso da carroceria (PPI= inferior e superior)
e lado (PLA= direito e esquerdo) sobre a ocorrência de
lesões nos suínos e nas carcaças e no
comportamento dos suínos nas baias de descanso no
frigorífico. Utilizaram-se 192 fêmeas de abate com peso de
abate de 133,1±10,9 kg oriundas de duas granjas. Verificou-se
alta porcentagem de suínos com lesão na pele na granja
(53,7%), no embarque (80,7%), no desembarque (91,2%) e ao abate
(95,8%). Suínos submetidos a TJG de 15 horas apresentaram menor
incidência de lesão de pele no embarque e maior
incidência de lesão no desembarque e, na carcaça,
maior incidência de lesão originada por briga em
relação aos suínos submetidos TJG de 12 horas. Os
suínos transportados no box da frente apresentaram menor
incidência de lesão por densidade na carcaça em
relação aos transportados no meio do caminhão.
Conclui-se que suínos submetidos a jejum de 15 horas apresentam
maior incidência de lesão na pele. Suínos
transportados no box da frente apresentam menor incidência de
lesão do que os transportados no meio. O tempo de jejum na
granja não apresenta efeito sobre o comportamento dos animais
nas baias de descanso do frigorífico.
PALAVRAS-CHAVE: Avaliação de carcaças,
condições de abate de suínos, escore de
lesões, manejo pré-abate, suínos de abate pesados.
ABSTRACT
EFFECT OF FASTING TIME AT FARM AND TRANSPORT CONDITIONS OF SLAUGHTER PIGS ON LAIRAGE RESTING BEHAVIOUR AND SKIN INJURIES
The objective of this study was evaluate the effect of pig fasting time
at farm (TJG= 9, 12, 15 or 18 hours) and the pen position into the
lorry’s livestock compartment (PBO= anterior, middle or rear),
deck (PPI= lower or upper) and side (PLA= left or right) on swine and
carcass skin bruises occurrence and swine resting behaviour on lairage
pens at abattoir. One hundred ninety two females weighing
133.1±10.9 kg from two finishing pig farms were evaluated. A
high percentage of pigs with skin bruises were observed at the farm
(53.7%), before loading (80.7%), after unloading (91.2%) and before
slaughtering (95.8%). Pigs submitted to a TJG of 15 hours presented
lower incidence of skin injuries at loading and higher incidence of
injuries at downloading and the carcasses had higher incidence of
lesions generated by fights when compared to pigs submitted to TGJ of
12 hours. Pigs transported in anterior lorry’s compartment had
lower incidence of skin damage on carcass due to density that those
transported in the middle position. It is concluded that pigs submitted
to 15 hours of fasting time at farm present higher incidence of skin
bruises. Pigs transported in anterior lorry’s compartment had
lower incidence of skin damage than pigs hold in middle lorry’s
compartment. The fasting time at farm had no effect on pigs resting
behaviour in abattoir lairage pens.
KEY WORDS: Carcass evaluation, heavy-weight slaughter pigs, pig skin
injuries index, pig slaughter conditions, pre-slaughter management.
INTRODUÇÃO
A presença de lesões localizadas na superfície da
carcaça de suínos detectadas após o abate é
um problema comercial sério, pois pode prejudicar a
classificação e em consequência o valor das
carcaças. No Brasil, a comercialização de
carcaças e meias-carcaças congeladas destinadas ao
mercado internacional corresponde a 28% do volume total de carne
suína exportada. Segundo a ABIPECS (2007), isso corresponde a
uma exportação anual de dois milhões
carcaças com 83,1 kg de peso médio por unidade. Durante o
abate, quando são detectadas lesões na carcaça, a
retirada da pele é realizada como parte do processamento antes
da frigorificação. Em função da retirada do
couro, perdas elevadas por desidratação são
observadas nos processos convencionais de resfriamento das
carcaças e alto grau de contaminação é
verificado.
Outro aspecto importante relacionado com as lesões é a
presença de hematomas no tecido subjacente e, em
consequência, a influência negativa sobre a qualidade da
carne, que pode gerar grandes perdas econômicas aos
frigoríficos e insatisfação aos consumidores que
se confrontam com produtos de qualidade inferior. Quando cortes
especiais de carne suína são submetidos a um exame
detalhado no frigorífico, nos açougues ou pelo
consumidor, pode ocorrer a sua rejeição, gerando dessa
maneira perdas econômicas e perdas na imagem do produto, em
virtude da concepção implícita de que o produto em
alguma fase da sua geração sofreu manejo inadequado.
Um relatório elaborado pelas universidades americanas para o
American Meat Science Association (SCANGA et al., 2003) indica que, nos
Estados Unidos, das cerca de 2,3 milhões de carcaças de
suínos que sofrem, anualmente, condenação total ou
parcial pelo serviço de inspeção federal, em torno
de 6,5% apresentam problemas de hematomas e 5,1% apresentam problemas
de lesão na pele. No Brasil não existem dados publicados
que indiquem uma quantificação precisa sobre tipo e
intensidade de lesões oriundas do manejo pré-abate
presentes nas carcaças de suínos abatidos. Entre os
principais fatores responsáveis pela incidência das
lesões de pele estão as condições
multifatoriais do manejo pré-abate (instalações,
rampas, tipos e dimensões das carrocerias, mão de obra,
jejum, densidade e descanso) e principalmente a mistura de lotes dos
suínos durante o manejo pré-abate.
Estudo realizado por BROWN et al. (1999b), em que se utilizaram 657
suínos de três granjas, mostrou efeito significativo do
jejum e da origem dos suínos sobre a incidência de
lesões na carcaça. Animais submetidos a jejum no
pré-abate, que variava entre doze e dezoito horas, tiveram as
carcaças com incidência mais elevada de danos severos da
pele em consequência de luta entre os suínos em
relação aos animais que foram submetidos a jejum de
até uma hora. MURRAY et al. (2001) encontraram efeito
significativo do jejum dos suínos durante o manejo
pré-abate, caracterizando que animais submetidos a jejum de
quinze horas na granja apresentaram maior incidência de
lesões e maior porcentagem de carcaças com escore igual
ou superior a 2 em relação aos que não foram
submetidos a jejum. MURRAY e JONES (1994) não encontraram efeito
significativo do manejo pré-abate (ausência de jejum ou
jejum de 24 horas) sobre o escore de lesões na carcaça
dos suínos.
A incidência de lesões na carcaça tem alta
correlação com a qualidade da carne e com o
período de descanso no ambiente dos abatedouros (WARRISS et al.,
1998a). Como relatado, essa etapa do manejo pré-abate tem como
objetivo fornecer um ambiente tranquilo aos animais, para que eles se
recuperem do estresse sofrido durante o seu deslocamento da granja
até o abatedouro. Se os suínos forem manejados de uma
maneira inadequada durante esse estágio, pode ser gerado
estresse adicional através do aumento de
interações agonísticas entre os animais (GISPERT
et al., 2000). Suínos submetidos a longos períodos de
descanso no frigorífico apresentaram aumento considerável
na intensidade e duração das interações
agonísticas, especialmente, quando ocorre a mistura de lotes
(GEVERINK et al., 1996; WARRISS et al., 1998a).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do tempo de jejum dos
suínos na granja e de sua posição na carroceria do
caminhão sobre o comportamento nas baias de descanso no
frigorífico e nas lesões de pele ao abate quando os
suínos são transportados até o abatedouro por
períodos de curta duração.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizaram-se 192 fêmeas oriundas de cruzamentos industriais com
peso vivo médio de 134,51±9,75 kg no inverno e de
131,75±11,80 kg no verão e um período de
alojamento médio de 144 dias, para as fases de crescimento e
terminação. Os animais deste experimento foram
identificados 48 horas antes do carregamento, na orelha, com brincos
plásticos dentro de cada tempo de jejum e tatuados na paleta e
pernil. O estudo considerou duas granjas UES (Unidades de Engorda de
Suínos), uma delas no verão (fevereiro de 2002, com
temperaturas mínima e máxima absoluta de 13,0 e 33,5oC,
respectivamente, e médias das temperaturas mínimas e
máximas de 19,9 e 27,2
oC, respectivamente) e outra no inverno (julho de 2002, com temperaturas mínima e máxima absolutas de 0,0 e 29,0
oC, respectivamente, e as médias das temperaturas mínimas e máximas de 12,8 e 18,8
oC, respectivamente).
As granjas tinham capacidade média de engorda de quinhentos
suínos e, em cada baia, eram alojados dez animais. Nas granjas
avaliadas foram escolhidas aleatoriamente quatro baias
(repetições) por tempo de jejum dos suínos e seis
animais/baia, totalizando dezesseis baias/granja e 96 suínos por
experimento. Os procedimentos do carregamento e transporte dos animais
foram definidos pelo frigorífico.
No manejo pré-abate, os suínos receberam os seguintes
tempos de jejum na granja antes do carregamento: 9, 12, 15 ou 18 horas.
O tempo gasto para o embarque desses animais foi de 29 e 45 minutos no
inverno e no verão, respectivamente. A granja utilizada no
experimento realizado no inverno estava a 23 km de distância do
frigorífico, resultando em uma jornada de 31 minutos, enquanto
que a granja utilizada para a realização do experimento
no verão estava a 45 km do frigorífico, distância
esta que foi percorrida em 75 minutos. No desembarque dos suínos
no frigorífico utilizou-se uma rampa móvel, sendo que os
animais receberam um período de descanso médio no
frigorífico de três horas. No deslocamento dos
suínos durante o embarque e desembarque não foram
utilizados choques elétricos, sendo que os animais foram
conduzidos com o auxílio de uma tábua de manejo.
O transporte dos suínos foi realizado em um modelo de carroceria
metálica dupla Triel–HT, com capacidade de transporte de
96 suínos e uma densidade média durante transporte de
0,45 m
2/animal ou 294,33±18,50 kg/m
2.
Nesse modelo de carroceria foram considerados os efeitos de piso
(inferior e superior), do lado (direito e esquerdo) e
posição (frente, meio e atrás). Empregou-se o
mesmo veículo de transporte e modelo de carroceria nas duas
granjas avaliadas.
A avaliação para determinar a incidência de
lesões na pele foi realizada na meia-carcaça esquerda dos
suínos, sendo registrada através de
avaliação visual, realizando-se a contagem do
número de lesões no lado esquerdo dos animais dentro de
cada parcela experimental. Tomou-se essa medida também em
três momentos: antes do abate (1- um dia antes do carregamento,
2- na descarga dos suínos no frigorífico e 3- na baia de
descanso, imediatamente antes do abate) e também na
carcaça, vinte e quatro horas após abate, quando foram
registradas a incidência de lesões por carcaça e a
origem das lesões, classificando-as em: a) manejo, b) densidade
e, c) briga. Para todas as avaliações visuais realizadas
nos animais foi calculada a frequência de animais que
apresentavam lesões. Para caracterizar as lesões
(índice, frequência e tipo) adotou-se a metodologia
descrita por ITP (1996).
As análises da porcentagem de suínos com lesão na
pele, avaliadas 24 horas antes do jejum (FLS-G), no embarque (FLS-E),
no desembarque (FLS-D) e na baia de descanso do frigorífico
(FLS-A) foram realizadas com a aplicação do Teste de
Qui-Quadrado. Os dados referentes a frequências de lesões
na pele por suíno, com avaliações na granja 24
horas antes do jejum (FLS-G), no embarque (FLS-E), no desembarque
(FLS-D) e na baia de descanso do frigorífico (FLS-A) e
frequências de lesões na pele da carcaça,
classificadas em função da origem em: manejo (FLC-M),
densidade (FLC-D), brigas (FLC-B) e total (FLC-T), foram transformados
para a raiz quadrada de (x+1).
Para a frequência de lesões por suíno na granja
(FLS-G), antes do embarque (FLS-E) e na baia de descanso do
frigorífico antes do abate (FLS-A), adotou-se o procedimento GLM
(SAS, 2001), utilizando-se o seguinte modelo estatístico: Y
ijk = μ + BL
i + TJG
j + (BL×TJG)
ij +COV + e
ijk, em que: Y
ijk
= frequência de lesões por suíno na granja (FLS-G),
antes do embarque (FLS-E) e no desembarque (FLS-A); μ = média
geral; BL
i = bloco (estação do ano, i = 1 inverno e 2 verão); TJG
j
= tempo de jejum dos suínos na granja antes do carregamento, j =
1 (jejum de 9 horas), 2 (jejum de 12 horas); 3 (jejum de 15 horas) e 4
(jejum de 18 horas); (BL×TJG)
ij =
interação entre bloco e tempo de jejum dos suínos
na granja; COV = covariável de interesse (FLS-G na
análise da variável dependente FLS-E e FLS-D na
análise da variável dependente FLS-A); e
ijk = erro aleatório.
Na análise das variáveis FLS-D, FLC-M, FLC-D, FLC-B e FLC-T, foi utilizado o seguinte modelo estatístico: Y
ijklmn = μ + BL
i + TJG
j + (BL×TJG)
ij + PBO
k + PPI
l + PLA
m +COV + e
ijklmn, em que: Y
ijklmn = FLS-D, FLC-M, FLC-D, FLC-B e FLC-T μ = média geral; BL
i = bloco (estação do ano, i = 1 inverno e 2 verão); TJG
j
= tempo de jejum dos suínos na granja antes do carregamento, j =
1 (jejum de 9 horas), 2 (jejum de 12 horas); 3 (jejum de 15 horas) e 4
(jejum de 18 horas); PBO
k = posição do animal na carroceria, k = 1(frente), 2 (meio) e 3 (atrás); PPI
l = piso da carroceria, l = 1 (inferior) e 2 (superior); PLA
m = lado da carroceria, m = 1(direto) e 2 (esquerdo); (BL×TJG)
ij
= interação entre bloco e tempo de jejum dos
suínos na granja antes do carregamento; COV = covariável
de interesse (FLS-E na análise da variável dependente
FLS-D e peso dos suínos na granja na análise da
variável dependente FLCS-M, FLCS-D, FLCS-B, FLCS-T); e
ijklmn = erro aleatório.
Registrou-se o comportamento dos suínos mediante
avaliação de seis animais por baia e dezesseis baias (4
baias/tratamento) em cada época do ano, durante o período
de descanso no frigorífico, na baia de espera, considerando-se
as seguintes categorias: deitado, em pé, sentado, caminhando,
brigando, fugindo, bebendo água e montando um sobre o outro. Os
registros das observações foram realizados de forma
direta através do método de contagem (GONYOU, 1993) em
quatro momentos: quinze minutos do desembarque, e mais três
observações a cada trinta minutos. Para a análise
dos dados foi aplicado o Teste de Qui-Quadrado, calculando-se a
porcentagem de animais em pé (PSPE), deitados (PSDEI), em outras
atividades (PSUA): sentado, caminhando, brigando, fugindo, bebendo
água e montando um sobre o outro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente experimento foi desenvolvido em condições
normais de produção de suínos e, dessa forma,
reproduz parcialmente as condições naturais adotadas no
manejo pré-abate, exceto a um único fator de
variação incluído, que é o TJG. Nessas
condições as atividades desenvolvidas para a coleta dos
dados podem interferir na magnitude das respostas obtidas, porém
considera-se que todos os animais avaliados foram submetidos ao mesmo
conjunto de avaliações.
As porcentagens de suínos com alguma lesão de pele na
granja (53,7%), no embarque (80,7%), desembarque (91,2%) e antes do
abate na baia de descanso (95,8%) foram altas. Trata-se de valores que
podem ser decorrentes da utilização de fêmeas com
um peso de abate elevado (133,18±10,83 kg), do sistema de
alojamento em baias coletivas com piso de concreto sem cama, com
paredes de alvenaria rebocada, bebedouro do tipo concha
(ecológico) e comedouro linear, paralelo ao corredor, com
9,69±0,70 suínos/baia no inverno e 9,37±0,88
suínos/baia no verão e área por animal de
1,07±0,08 e 1,14±0,13 m2/suínos e de
126,79±10,0 e 115,96±10,9 kg/m
2 no
inverno e no verão, respectivamente. Observou-se aumento na
ordem de 27,0% na porcentagem de animais com lesões quando do
início do experimento (identificação dos animais
na granja) até antes do embarque dos suínos no
caminhão.
Houve aumento médio de 15,1% no número de suínos
com lesão de pele desde o embarque até o descanso no
frigorífico. Desse aumento, 69,5 % corresponderam aos processos
compreendidos entre a retirada do animal do ambiente habitual (baia na
granja) até a instalação nas baias no
frigorífico e 30,5 % corresponderam ao período de
descanso dentro das baias no frigorífico.
Considerando-se os procedimentos normais de produção e
manejo pré-abate, pode-se observar que 80,5% das lesões
de pele dos suínos ocorrem na granja antes de o animal deixar a
baia, e 19,5% ocorrem no período compreendido entre a retirada
do animal da baia até o abate.
O tempo de jejum dos suínos na granja não influenciou
significativamente a FLS-A (p=0,1320). Contudo esse tempo de jejum
influenciou significativamente a FLS-G (p=0,0061), FLS-E (p=0,0352) e
FLS-D (p=0,0314).
Observou-se efeito significativo (p=0,0061) do tempo de jejum dos
animais na granja sobre a FLS-G: suínos que receberam jejum de 9
horas apresentaram menor FLS-G em relação aos animais que
foram submetidos a jejum de 12, 15 e 18 horas. Como os suínos
dentro dos tempos de jejum foram escolhidos aleatoriamente, este efeito
não será considerado no presente estudo.
Suínos que receberam jejum de 15 horas na granja apresentavam
menor incidência de lesões na pele quando do embarque
(FLS-E), porém não diferiram significativamente
(p>0,05) dos suínos que receberam jejum de 18 horas conforme
apresentado na
Tabela 1.
Esses animais apresentaram maior frequência de lesões na
pele no desembarque, e não diferiram dos suínos que
receberam jejum de 9 e 18 horas. Animais que receberam jejum de 12
horas apresentaram menor incidência de lesão na pele por
suíno no desembarque.
A posição do box dentro da carroceria dupla (frente, meio
e atrás) no caminhão influenciou (p=0,0012) a FLS-D.
Suínos transportados na posição anterior da
carroceria apresentaram menor FLS-D em relação aos
transportados no meio e atrás. Animais transportados no meio e
atrás da carroceria do caminhão apresentaram valores de
FLS-D semelhantes entre si (p>0,05). Não foi observado efeito
significativo do piso (p=0,9248) e do lado direito e esquerdo
(p=0,6542) da carroceria sobre a FLS-D. Suínos transportados nos
box do meio e atrás estão sujeitos a uma maior
trepidação oriunda do sistema de tração do
caminhão (6 x4).
O tempo de jejum dos suínos na granja não influenciou
significativamente a FLC-M (p=0,9056), FLC-D (p=0,2324) e FLC-T
(p=0,0878). Entretanto observou-se efeito significativo do tempo de
jejum dos suínos na granja sobre a FLC-B (p=0,0261).
Suínos que foram submetidos a jejum de 15 horas na granja
apresentaram maior incidência de lesões na carcaça
provenientes de briga, porém não diferiram
significativamente (p>0,05) dos animais que receberam jejum de 9
horas. Ao avaliar a frequência de lesões na carcaça
proveniente de briga foi constatado também que suínos que
foram submetidos a um jejum de 9 horas não diferiram
significativamente (p>0,05) daqueles que receberam jejum de 12 e 18
horas conforme apresentado na
Tabela 2.
O sistema de alimentação adotado nas granjas avaliadas
era o de fornecimento controlado de ração três
vezes ao dia (de manhã, ao meio-dia e ao anoitecer). A
adoção dos diferentes tempos de jejum pré-embarque
possibilitou que o último fornecimento de ração
fosse às 10:00; 13:00; 16:00 e 19:00 horas para os tempos de
jejum de 18, 15, 12 e 9 horas, respectivamente. Os TJG de 9 horas e 15
horas representam a manutenção dos arraçoamentos
no padrão usual praticado pelas granjas avaliadas, enquanto que
os TJG de 18 horas e 12 horas representam uma antecipação
do horário de arraçoamento. Verifica-se que a
antecipação do arraçoamento (TJG de 12 e 18 horas)
e a manutenção do último arraçoamento
às 18 horas (para um TJG de 9 horas) condicionaram para um baixo
índice de lesões na carcaça originadas por brigas.
Embora os TJG de 9 horas e de 15 horas não apresentem
diferença estatística entre si, é possível
verificar que, ao se excluir o último arraçoamento (o
fornecimento de ração às 18 horas) para obter o
TJG de 15 horas, a frequência de lesões aumentou 41 % em
relação ao TJG de 9 horas.
A porcentagem de carcaças com lesão de escore=3,
ocasionadas por problemas de manejo (13,68%), briga (0,53%) e densidade
(5,79%) no presente estudo, foi baixa, todavia verificou-se alta
porcentagem de carcaças com baixa incidência de
lesões (escore=1) provenientes de problemas ocasionados por
manejo (68,95%), briga (94,21%) e densidade (94,21%). Essa maior
incidência de suínos com escore 1 pode ser parcialmente
atribuída ao período de 3 horas de descanso dos animais
adotado pelo abatedouro para o presente experimento. A ausência
de lesões e o escore de lesões na carcaça podem
ser considerados como um dos inúmeros possíveis
indicadores de bem-estar dos suínos durante o período
pré-abate. Assim, considera-se que, quanto maior a porcentagem
de carcaças com ausência de lesão ou quando da
presença de lesão, quanto menor for o escore de
lesão para um maior número de animais, tanto mais
adequada foi a condição geral de bem-estar dos
suínos durante o período pré-abate.
Os resultados obtidos no presente trabalho confirmaram os obtidos por
MURRAY & JONES (1994) e BROWN et al. (1999b), que não
observaram efeito da realização do jejum na granja sobre
o escore de lesões na pele. Porém diferem dos resultados
encontrados por MURRAY et al. (2001), que encontraram efeito do tempo
de jejum sobre o escore de lesões. Suínos que receberam
jejum na granja ou no frigorífico apresentaram maiores escores
de lesões e uma maior porcentagem de animais com escores maior
do que 2, em comparação aos animais que não
receberam jejum.
Nos estudos realizados por BROWN et al. (1999a), avaliando o escore de
lesões de 657 suínos de três granjas, foi
verificado que os suínos que receberam jejum ≤ 1 hora
apresentaram menor porcentagem de animais com escore ≥ 3 em
relação aos que foram submetidos a jejum de 12 ou 18
horas, e a origem dos suínos (granja) influenciou no escore de
lesões e na porcentagem de suínos com escore ≥ 3.
Verificou-se efeito significativo (p=0,0174) da
localização do animal dentro da carroceria (frente, meio
e atrás) sobre FLC-D. Suínos transportados no meio e
atrás apresentaram maiores valores de lesões na
carcaça oriundas por densidade, não diferindo
significativamente (p>0,05) entre si. Os animais transportados na
frente apresentaram um menor FLC-D diferindo (p<0,05) somente dos
transportados no meio da carroceria do caminhão. Não foi
observado efeito significativo da posição na carroceria
sobre FLC-M (p=0,4062), FLC-B (p=0,2451) e FLC-T (p=0,01937) e do piso
(inferior e superior) sobre FLC-M (p=0,0710), FLC-D (p=0,0816), FLC-B
(p=0,9780) e FLC-T (p=0,1367) e do lado (direito ou esquerdo) da
carroceria sobre FLC-M (p=0,3705), FLC-D (p=0,3961), FLC-B (p=0,9817),
e FLC-T (p=0,3673), conforme apresentado na
Tabela 2.
O efeito significativo para FLC-D em função da
posição do suíno na carroceria pode ser
atribuído a três causas principais que têm
influência simultânea. Dois deles referem-se à
dimensão e lotação da carroceria e o terceiro
é vinculado à reação do suíno ao
transporte.
A caracterização da carroceria usada nas
avaliações indica duas condições
importantes. No presente experimento a altura característica
apresentada em cada piso na carroceria é de 90 cm e é
adequada apenas para animais com peso vivo com até 100 kg. Mesmo
assim a FLC-M e FLC-D tiveram nível de significância de
p=0,0710 e p=0,0816, respectivamente. Adicionalmente, segundo BROOM et
al. (2002), deve ser considerado um padrão de área
útil (A, m
2) por suíno transportado a curtas distâncias que segue a equação A = 0,0192 W
0,67
, em que W é o peso médio do suíno em kg. Nestas
condições a área média disponível
nas presentes avaliações deveria ser de 0,5085 m
2
por suíno, ou seja, uma área cerca de 13 % maior. A
área total calculada indica a possibilidade de alojar no
máximo 261,83 kg/m
2. A densidade de 294,33±18,50 kg/m
2
(considerando a área total) adotada no experimento está
acima da recomendação para suínos com o peso vivo
indicado.
No modelo de carroceria, em cada piso, estão alocados oito
compartimentos. Se for considerada uma perda de área de 10%, em
função das subdivisões internas da carroceria, a
densidade efetiva utilizada no presente experimento passa para 328,7
kg/m
2. WARRISS (1998) relata que uma densidade próxima a 250 kg/m
2 é considerada adequada para suínos na faixa de peso de 90 a 100 kg e o valor de 322 kg/m
2
foi apontado como indicativo claro de estresse físico. A
recomendação adotada visa garantir a área
necessária para que todos os animais no compartimento de
transporte possam descansar simultaneamente deitando livremente e sem
obstáculos em posição de decúbito esternal.
Atualmente, não existe uma classificação
padrão adequada, para enquadrar as diferentes
condições de transporte, levando em
consideração distância percorrida (curta,
média e longa) e/ou duração (curta, média e
longa). Adicionalmente, não se diferenciam, em termos de
recomendações técnicas, os padrões
específicos a serem adotados em cada situação para
suínos de abate leves (entre 80 e 100 kg), intermediários
(entre 100 e 120 kg) e pesados (acima de 120 kg), consideradas as
categorias de interesse específico nos frigoríficos.
A carroceria (modelo monobloco, em dois pisos, lateral fechada em 1/3
da extensão a partir da base de cada piso e os restantes 2/3 da
lateral de cada piso aberta e com divisórias internas) adotada
no experimento não representa um ambiente uniforme e os
diferentes pontos de localização apresentaram
condições mais ou menos propensas ao desconforto
físico dos suínos. Os suínos em peso de abate,
quando enfrentam a situação de transporte, apresentam
reação definida em função do nível
(duração e intensidade) de vibração e de
impactos a que são submetidos. A vibração é
um aspecto do movimento que se caracteriza pela direção
(horizontal ou vertical), pela aceleração e pela
frequência.
PERREMANS et al. (1998) definem o provável limite crítico
(expresso em RMS) dos suínos para a vibração
vertical em 3 m/s
2. A vibração é
afetada pelo tipo de suspensão, pela condição das
estradas, pela velocidade do veículo e pela carga total. No
presente estudo, o transporte foi realizado em caminhão
utilizando suspensão pneumática, em estradas
secundárias não pavimentadas, com uma velocidade
média de 40,3 km/hora e uma carga total média de 12.780
kg de suínos/viagem. Segundo NODDEGAARD & BRUSGAARD (2004),
exceto para o eixo de deslocamento, a taxa de vibração
para um caminhão carregado com suínos é
condição característica do motor em funcionamento
e está abaixo do limite crítico definido. Impactos, ao
contrário das vibrações, são definidos pela
forma de ocorrência (extemporânea, incerta e sem
padrão estabelecido) e pela sua consequência (baixa
intensidade com a manutenção do equilíbrio do
animal ou alta intensidade com queda do animal). Diversos relatos
definem o comportamento dos suínos nas carrocerias em
função de estarem localizados próximos (no meio da
carroceria) ou distantes (na posição anterior ou
posterior na carroceria) ao eixo de sustentação sobre o
rodado do caminhão. Mesmo com um curto período de viagem
(31 minutos no inverno e 75 minutos no verão), o efeito da
localização dos suínos na carroceria foi
significativo para a frequência de lesões na
carcaça por densidade segundo o índice estabelecido pelo
ITP (1996). Os suínos localizados na posição
central e posterior da carroceria apresentaram, respectivamente, uma
FLC-D duas vezes e 78% superior quando comparados com os localizados na
posição anterior.
Admite-se que os suínos da posição anterior
ficaram mais tempo deitados que os animais das outras
posições, o que pode ocorrer, porque o tempo
necessário para o carregamento (31 minutos no inverno e 45
minutos no verão) foi elevado quando comparado ao tempo
utilizado para transportar os animais ao frigorífico. Os animais
na posição central e posterior da carroceria, diante de
maior exposição a impactos, devem ter permanecido mais
tempo em pé e, dessa forma, a alta densidade e a altura entre
pisos contribuíram para a maior expressão de FLC-D.
Segundo WARRISS (1998), os suínos preferem ficar em pé
durante viagens de curta duração, em
condições de alta intensidade de vibração e
de impactos e quando o piso é desconfortável. Os
resultados obtidos no presente trabalho expressam
condições diferentes de pré-abate daqueles
relatados por BARTON-GADE et al. (1996) e, em consequência,
diferem daqueles relatados. BARTON-GADE et al. (1996) encontraram um
efeito significativo do piso (inferior ou superior) sobre o escore de
lesões maior que 2, em que os suínos transportados no
piso inferior apresentaram uma maior incidência em
relação transportados no piso superior. Quanto à
posição, os animais transportados atrás
apresentaram maiores valores de escores de lesões em
comparação aos transportados na frente e no meio da
carroceria.
Os dados referentes ao comportamento dos suínos na baia de descanso no frigorífico estão representados na
Figura 1.
O tempo de jejum dos suínos na granja não influenciou
significativamente a PSDEI (p=0,8048), PSPE (p=0,0956) e a PSUA
(p=0,1583). Independente do tempo de jejum a que os suínos foram
submetidos na granja, 60,5% desses suínos permaneceram deitados
na baia de descanso do frigorífico, e 30,0% permaneceram em
pé e apenas 9,5% dos suínos exerceram outras atividades.
Na categoria de outras atividades (9,50%) verificou-se que os
suínos apresentaram apenas três atividades: sentados
(4,42%); caminhando na baia (4,30%) brigando (0,78%), e não
foram observados suínos exercendo as atividades de montar um
sobre o outro, beber água e fugindo das brigas. Os resultados
obtidos no presente estudo estão de acordo com os obtidos por
BROWN et al. (1999 a, b) que, estudando o efeito do jejum dos
suínos na granja (≤ 1, 12 e 18 horas), verificaram que os
suínos submetidos a jejum de 12 e 18 horas apresentaram
comportamentos similares de beber água, deitar, montar sobre
outro suíno e brigar junto à baia de descanso do
frigorífico e que os suínos submetidos a jejum menor que
uma hora aparentemente brigam menos, principalmente após 40
minutos de descanso. Entretanto, os resultados obtidos diferem dos
obtidos por FERNANDEZ et al. (1995), ao observarem alguma
evidência de que os suínos submetidos a jejum tendem a
lutar mais em relação aos suínos que não
foram submetidos a jejum durante o manejo pré-abate.
BROWN et al. (1999b), avaliando o efeito da duração do
transporte (0, 8, 16 e 24 horas) sobre o comportamento dos
suínos durante o período de descanso (6 horas) no
frigorífico, observaram um efeito significativo do tempo do
transporte sobre o comportamento dos suínos na baia de descanso
do abatedouro, e que os animais que foram transportados por 8 e 15
horas têm períodos mais longos de
alimentação e de beber água durante o tempo de
descanso antes do abate. Suínos transportados durante 8 horas
alimentam-se mais e tomam mais água no início e no final
do período descanso e os animais que foram transportados durante
16 horas alimentam-se e tomam água com mais frequência,
sendo observado o comportamento em três períodos (no
início, meio e final do descanso).
CONCLUSÕES
A carroceria não representa um ambiente uniforme e os diferentes
pontos de localização apresentaram
condições mais ou menos propensas ao desconforto
físico dos suínos durante o transporte. O principal
efeito ocorre com relação à distância ao
eixo de sustentação do rodado, sendo a
posição central (acima do rodado) e posterior da
carroceria as localizações que têm maior impacto
sobre a frequência de lesões quando as
condições de densidade excessiva se apresentam. Os
diferentes tempos de jejum têm efeito sobre a frequência de
lesões na carcaça ocasionadas por brigas, porque o jejum
pode alterar a rotina de alimentação estabelecida. Menos
lesões nas carcaças em virtude de brigas são
observadas quando o último arraçoamento é
antecipado ou quando são mantidos os horários de
alimentação, e maior índice de lesões
ocorre quando o tempo de jejum é estabelecido através do
não fornecimento da última refeição. O
tempo de jejum na granja e a localização do animal na
carroceria, em condições de alta densidade de transporte,
afetam a qualidade das carcaças oriundas de suínos de
abate pesados, mesmo que transportados durante curto período e a
curtas distâncias.
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Protocolado em: 31 ago. 2007. Aceito em: 30 maio 2008.