REGIME ALIMENTAR DE GIRINOS DE RÃ TOURO
José Teixeira
de Seixas Filho1, Rodrigo Diana Navarro2, Silvana Lages
Ribeiro Garcia3, Ana Carolina da Silva Santos4
RESUMO
Foram
utilizados 525 girinos de rã-touro durante 60 dias, distribuídos em 15 caixas,
com um girino por litro. A água foi renovada 200%, a cada 24 horas. Os regimes
alimentares foram elaborados por meio de cinco arranjos elaborados com sete
rações comerciais com níveis de 22, 28, 32, 36, 40, 45 e 55% de proteína bruta
(PB), ministradas a cada 15 dias. Foi utilizado o delineamento em blocos ao
acaso, em parcela subdividida, com três repetições. As subparcelas foram
constituídas por cinco biometrias: na instalação do experimento, 15, 30, 45 e
60 dias. Os girinos submetidos aos regimes alimentares RA1, com 22, 32, 36, e
40% de PB, apresentaram o maior consumo e o mesmo desempenho dos demais. Já os
que receberam o RA5, com 40, 45, 45 e 50% de PB, apresentaram maior peso, mas o
menor ganho de peso, maiores consumo, conversão e mortalidade, indicando que
esses regimes oneram e não foram adequados ao manejo. Os regimes alimentares
com 28, 32, 36 e 40% de PB e com 32, 36, 40 e 45% de PB foram mais adequados a
esse tipo de manejo. Os animais, em todos os tratamentos, alcançaram desempenho
maior que os alimentados tradicionalmente.
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PALAVRAS-CHAVE: exigência nutricional; nutrição de rã; proteína.
FEEDING
PROGRAMS FOR BULLFROG (Lithabates
catesbeianus- Rana catesbeiana,
Shaw 1802)
ABSTRACT
We used 525 bullfrog tadpoles, distributed into 15 boxes with one tadpole per liter. The water was daily renewal (200%). The feeding regimes were constituted of five arrangements using seven commercial rations with levels of 22, 28, 32, 36, 40, 45 and 55% of crude protein (CP), supplied every 15 days. We used a random blocks design, subdivided plots with three replications. The subplots were constituted of five biometries: at the beginning of the experiment, at 15, 30, 45, and 60 days. The tadpoles submitted to feeding regime FR1, with 22, 32, 36, and 40% of CP, presented the highest consumption and the same performance as the others. Tadpoles that received FR5, with 40, 45, 45 and 50% of CP, presented greater weight, however, they showed smaller weight gain, greater consumption, conversion and mortality, indicating that this regime is expensive and not adequate for management. Feeding regimes FR2, with 28, 32, 36 and 40% of CP, and FR3, with 32, 36, 40 and 45% of CP, were more adjusted to this kind of management. Animals in all treatments showed higher performance that animals fed traditionally.
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KEYWORDS: bullfrog nutrition; nutritional requirement; protein.
INTRODUÇÃO
Na criação de girinos, a fase
aquática da ranicultura é a base para a obtenção de bom resultado do ranário
(ALBINATI et al., 2000), onde se registram grandes perdas e, ou, baixo
desempenho dos animais, geralmente, apresentando sinais prováveis de
deficiências nutricionais (SEIXAS FILHO, 2011a; BARBOSA et al., 2005);
associados à qualidade da água, conforme já relatado por FONTANELLO et al.
(1982). Segundo CASTAGNOLLI (1992) e
TAVAREZ (1994), a qualidade da água inclui todas as características
físico-químico-biológicas que possam influir na sua utilização, sem
interferência nos resultados de pesquisa.
LIMA & AGOSTINHO (1992)
relataram que o custo com a alimentação de rãs representa 57% do custo total da
criação. SEIXAS FILHO et al. (2011a) comentaram que o principal problema para
uma criação plena está relacionado à composição de um alimento nutricional
adequado, principalmente quanto ao índice proteico, devido à falta de
conhecimentos de suas exigências nutricionais.
No Brasil, principalmente, no
Rio de Janeiro, o mercado para carne de rã ainda é pequeno, mas estabilizado,
sendo que a totalidade dos ranicultores produz seus próprios girinos,
utilizando rações comerciais para peixe, ao longo de todo o período larval, com
um único nível de proteína, geralmente alto, aumentando os custos operacionais
e piorando a qualidade da água (SEBRAE-RJ, 2002).
SEIXAS FILHO et al. (2011b)
avaliaram o trato gastrintestinal de girinos da rã-touro e observaram que
somente no 25º dia após a alimentação exógena ocorreu a presença de células
hepáticas com arranjo glandular mais compacto, sugerindo funcionalidade, o que
permite inferir que a administração de ração com alto nível de nitrogênio,
desde o início da criação, pode criar uma situação de toxidez no animal, por
falta de condições fisiológicas para a sua metabolização, acarretando
mortalidade, redução do crescimento e heterogeneidade da população.
HIPOLITO et al. (2001) afirmaram
que todo o desempenho da rã-touro está baseado na alimentação e qualquer
alteração na função hepática pode comprometer todo o aproveitamento proteico e
nutricional. Nesse sentido, os mesmo autores, examinando fígado de rãs-touro
alimentadas com rações comerciais, observaram, na sua grande maioria,
vacuolização e rompimento do contorno celular, rarefação e degeneração celular
hidrópica, quadro histopatológico associado à deficiência de proteína, podendo
ser devido à má qualidade da proteína ou ao baixo aproveitamento pelo animal.
Pelo exposto, objetivou-se
avaliar uma nova metodologia de alimentação dos girinos nessa fase da criação,
testando-se regimes alimentares diferentes.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 525 girinos
de rã-touro Lithabates catesbeianus,
nova denominação da Rana catesbeiana (FROST et al., 2006), com 15
dias, no início da alimentação exógena, no estádio 25, segundo GOSNER (1960),
durante o período experimental de 60 dias. Na alimentação dos girinos, foram
utilizadas rações comerciais com sete níveis de proteína bruta (PB) – 22%, 28%
32%, 36%, 40%, 45%, e 55% – (Tabela 1), com granulometria de 0,5 mm,
administradas na proporção de 10% do
peso vivo dos girinos, distribuídas uma vez ao dia, às 12 horas, de acordo com
SEIXAS FILHO et al. (2011b). Os animais foram distribuídos em 15 caixas
plásticas com capacidade para 50 litros cada, com 35 litros, colocadas lado a
lado em bancada, contendo no seu interior um cocho de PVC, onde se concentrava
o alimento, e com densidade de um girino por litro de água, mantida durante
todo o experimento, retirando-se um litro de água para cada animal morto
(ARRUDA SOARES et al., 1983).
A renovação da água nas
caixas, mantidas a uma temperatura constante de 25oC (± 1°C), foi,
aproximadamente, de 200% do volume a cada 24 horas e foram escoadas por meio de
canaletas de PVC acondicionadas lateralmente às bancadas e conectadas ao
esgoto. O volume de água foi mantido por dispositivo tipo “joelho” adaptados às
caixas de acordo com SEIXAS-FILHO et
al. (1997).
Cada módulo experimental
recebeu aeração constante, por meio de soprador e mangueiras plásticas 3/16’,
providas de pedras porosas em suas extremidades e reguladas por registro de
mesmo tamanho.
O regime alimentar foi
elaborado de forma a permitir a introdução, de maneira gradual, a cada quinze
dias, de níveis crescentes de nitrogênio no metabolismo do animal, por meio de
arranjo entre as sete rações comerciais (Tabela 2).
A ração foi fornecida aos girinos acondicionada em cochos
que consistiam em tubos PVC de 50 mm, cortados no sentido do comprimento, com
extensão igual à largura da caixa. Os cochos foram fixados nas laterais do
módulo experimental, para que permanecessem sem movimento (Figura 1).
A limpeza das caixas foi
realizada todos os dias, por sifonagem de fundo, retirando-se as fezes e os
restos alimentares. Diariamente, pela manhã e à tarde, foram medidos os valores
de temperaturas do ar e da água por meio de termômetro de coluna de mercúrio,
com escala em centígrados, de 0 a 60°C. O controle da amônia e do pH foi
efetuado diariamente, por meio de titulometria e de aparelho digital,
respectivamente, a cada semana, com kit
utilizado para controle de água de piscina.
As
biometrias foram realizadas quinzenalmente, avaliando-se o peso, comprimento e
sobrevivência. Os girinos foram colocados sobre toalha de pano umedecida, para
retirada do excesso de água, sem que houvesse desidratação abrupta, e
mensurados da boca até a inserção da cauda, com auxílio de paquímetro digital,
com precisão de centésimos de milímetro. A seguir, cada animal foi transferido
para recipiente plástico com volume de aproximadamente 5 mL de água e pesado em
balança analítica, previamente tarada, com precisão de 0,001 g.
Para
avaliação do consumo (CO), a sobra da ração administrada aos animais foi
retirada dos cochos a cada 24 horas, por sifonagem, com auxílio de mangueira
com diâmetro de 3/16’ e filtragem, por meio de filtro com malha de 0,5 mm, sem
contaminação por fezes. As sobras foram secas em estufa ventilada a 55°C,
durante 24 horas. Após sua retirada da estufa, foram deixadas durante uma hora
para entrar em equilíbrio com o meio ambiente e pesadas em balança digital com
precisão de 0,001 g. O consumo foi então obtido pela diferença entre a
quantidade oferecida e a sobra de ração.
A
conversão alimentar aparente (CAA) foi obtida pela razão entre o consumo de
ração (CO) e o ganho de peso (GP). Por sua vez, o ganho de peso foi obtido pela
diferença entre os pesos de duas biometrias consecutivas.
Foi
utilizado o delineamento em blocos casualizados, no esquema em parcela
subdividida, com três repetições. Nas parcelas foram testados os regimes
alimentares (RA) (Tabela 1) e as subparcelas foram constituídas por cinco
biometrias: na instalação do experimento (inicial) e aos 15, 30, 45 e 60 dias
após a instalação. Os dados foram submetidos à análise de variância e teste F.
Os regimes alimentares foram comparados por meio do teste de Newman-Keuls a 5%
de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os girinos submetidos ao
regime alimentar RA5, com 40, 45, 45 e 50% de PB, apresentaram diferença
significativa (P<0,05) em relação aos outros tratamentos, sendo o maior peso
médio aos 60 dias (Tabela 3). Entretanto, apresentaram o menor ganho de peso e
a maior conversão alimentar aparente (Tabela 4), além de maior mortalidade
(34,3%), conforme resultados na Tabela 5. Isso indica que esse regime não se
mostrou adequado para essa fase de crescimento dos girinos, de acordo com os
achados de SEIXAS-FILHO et al. (2008).
Os demais regimes não
apresentaram diferenças significativas entre si (P>0,05) quanto ao
comprimento, ganho de peso e conversão alimentar aparente aos 60 dias,
indicando que, em relação a esses parâmetros, qualquer um deles poderia ser
indicado para o manejo dos animais.
Por outro lado, o regime RA1,
com 22, 28, 32 e 36% de PB, apresentou conversão alimentar aparente maior que
os demais, nos primeiros 15 dias de experimentação. Devido a isso, esse regime
não é recomendado, uma vez que demonstrou, apesar do baixo nível proteico, a
necessidade de utilização de uma quantidade maior de ração para atingir ganho
de peso semelhante aos animais alimentados com os demais regimes, apresentando
um pior índice de eficiência alimentar (IEA), que é o ganho de peso médio por
animal no lote, dividido pelo consumo médio de ração por girino. Isso implica
aumento de custos operacionais da criação, além de uma possível alteração
funcional do fígado, conforme relatado por HIPOLITO et al. (2001) .
Segundo LIMA & AGOSTINHO
(1992), o custo com a alimentação de rãs representa 57% do custo total da
criação. Dessa forma, os regimes RA2 e RA3, com 28; 32; 36 e 40% de PB e 32;
36; 40 e 45% de PB, respectivamente, parecem os mais adequados a esse tipo de
manejo, com menor custo operacional, uma vez que o RA3 e o RA4 (com 36, 40, 45
e 45% de PB) não apresentaram diferença significativa (P> 0,05) entre si.
Vale ressaltar que, em todos
os regimes, o peso e o comprimento médio dos animais aumentaram expressivamente
em relação aos manejos feitos com um único nível de PB encontrados na
literatura (SEIXAS FILHO, 1998a e b; ALBINATI, 2000; BARBOSA et al., 2005).
Esses resultados permitem inferir uma possível relação entre os níveis de
nitrogênio e o metabolismo inicial dos girinos, conforme relatado por SEIXAS
FILHO et al. (2008), que observaram, pela primeira vez, somente no 25° dia após
o início da alimentação exógena, a presença de células hepáticas, que se
encontravam com arranjo glandular mais compacto, e a formação dos acinos
pancreáticos, sugerindo funcionalidade.
Não se recomenda a utilização
do RA1 (22, 28, 32, 36%PB) por apresentar pior conversão alimentar aparente
para os primeiros quinze dias, podendo comprometer financeiramente o
empreendimento e fisiologicamente os animais nesse período de girinagem. Nas
condições deste experimento, recomenda-se o uso dos regimes RA2 (28, 32, 36 e
40% de PB) e RA3 (32, 36, 40 e 45% de PB) pelo desempenho dos girinos e pelo
menor custo operacional. Essas informações poderão nortear novos experimentos,
melhorar as condições de cultivo, valorizar a atividade no sentido econômico,
assim como aumentar o número de animais destinados à engorda.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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