COMPORTAMENTO INGESTIVO DE OVINOS ALIMENTADOS COM CANA-DE-AÇÚCAR ENSILADA
COM ÓXIDO DE CÁLCIO OU UREIA*
Alberti
Ferreira Magalhães1, Aureliano José Vieira Pires2,
Fabiano Ferreira da Silva2, Gleidson Giordano Pinto de Carvalho3,
Daiane Maria Trindade Chagas4, Larissa Argôlo Magalhães5
RESUMO
INGESTIVE BEHAVIOR OF
SHEEP FED SUGAR CANE ENSILED WITH UREA OR CALCIUM OXIDE
INTRODUÇÃO
O valor nutritivo de diferentes volumosos pode ser melhorado com a
utilização de aditivos, como tem sido mostrado por tratamentos químicos (SANTOS
et al., 2004). Vários aditivos têm sido utilizados na ensilagem de
cana-de-açúcar com bons resultados (FREITAS, et al., 2006; BALIEIRO NETO et
al., 2007). Dentre os diversos aditivos utilizados, verifica-se que o óxido de
cálcio pode reduzir os constituintes da parede celular, preservar os nutrientes
solúveis e diminuir perdas do valor nutritivo da cana-de-açúcar (BALIEIRO NETO
et al., 2007).
Verifica-se que o conhecimento das atividades realizadas, como comportamento ingestivo (alimentação, ruminação e ócio), e dos hábitos alimentares contribui para a melhoria do bem-estar e do desempenho dos animais que são mantidos em confinamento, como também dos que estão em pastejo (BRÂNCIO et al., 2003; MENDONÇA et al., 2004; TREVISAN et al., 2005).
O comportamento ingestivo pode propiciar perspectiva para o modelo
convencional de abordagem zootécnica, de forma a melhorar a qualidade do
alimento, implicando em ponderações de ações de manejo, tornando-se uma
importante ferramenta de gestão do animal. Tal ferramenta possibilitará a
abertura de novos horizontes, trazendo inovações a situações ainda não
consideradas ou mal compreendidas, quanto às práticas de manejo (SILVA et al.,
2004). Poderá também ser utilizado como ferramenta para avaliação de dietas,
possibilitando ajustar o manejo alimentar dos animais para obtenção de melhor
desempenho (MENDONÇA et al., 2004).
Tem-se verificado que animais confinados tendem a consumir elevada quantidade de concentrados para suprir a demanda energética e proteica para manutenção e produção (CARVALHO et al., 2008). Dessa forma, o estudo do comportamento ingestivo pode ser utilizado como ferramenta para explicar parte das variações na ingestão de alimento (PEREIRA et al., 2007), visto que, associada ao concentrado, a cana-de-açúcar é utilizada para suplementação nutricional na época seca, sendo uma alternativa para minimizar a perda de peso ou favorecer o ganho (FERNANDES et al., 2003). Entretanto, pelo seu baixo teor de proteína bruta, fibra de degradação ruminal lenta e elevado teor de fibra não-degradável, ocorre limitação na ingestão (PEREIRA et al., 2001).
Este
trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o comportamento ingestivo de
ovinos recebendo cana-de-açúcar ensilada com dose de óxido de cálcio ou ureia
como parte da dieta.
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com cinco tratamentos, sendo quatro com doses de 0,0; 0,8; 1,6 e 2,4% de óxido de cálcio (CaO) e um tratamento com 1,5% de ureia, ambos na matéria natural da cana-de-açúcar. Todos os aditivos foram aplicados no momento da ensilagem, com oito repetições por tratamento.
As baias foram providas de comedouros e bebedouros, dispostos frontalmente, com 1,5 m2, e os animais foram alimentados com dieta contendo 70% da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio ou ureia e 30% de concentrado (Tabela 1). A composição das dietas encontra-se na Tabela 2.
Para confecção das silagens, a cana-de-açúcar de variedade RB 72-454 foi picada, em uma picadeira de forragem convencional, padronizando as partículas com tamanho de 1 a 2 cm, misturada em piso de alvenaria para uma completa homogeneização.
A silagem de cana-de-açúcar, nos tratamentos com CaO, no momento do fornecimento aos animais, foi corrigida para 1% de ureia (mistura de ureia + sulfato de amônio) na relação 9:1. As dietas foram calculadas com base no NRC (2006), para permitir que houvesse nutrientes (NDT e PB) suficientes para um ganho de peso de 150 g/dia. Elas foram balanceadas para conterem aproximadamente 13% de proteína bruta.
O experimento durou 77 dias, constituídos de três períodos experimentais, composto de 21 dias cada um, e ainda um período de 14 dias destinado à adaptação dos animais. No terceiro período experimental, foram realizadas coletas de fezes diretamente do reto do animal durante cinco dias.
As dietas experimentais foram fornecidas à vontade,
duas vezes por dia, às 7h00 e às 15h00, de forma que as mesmas foram ajustadas
para manter sobras de aproximadamente 10% do fornecido (Tabela 2). A composição
química da cana-de-açúcar com ureia e óxido de cálcio, calculada para ser
isoproteica, está disposta na Tabela 3. As avaliações bromatológicas das dietas
experimentais e das amostras de cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio ou com
ureia foram realizadas conforme SILVA & QUEIROZ (2002).
Para avaliar o comportamento ingestivo, os animais foram submetidos a períodos de observação visual, durante um dia do período experimental, determinando-se o comportamento alimentar durante 24 horas/dia, de acordo com FISCHER et al. (1998). O tempo despendido para alimentação, ruminação e ócio foi submetido a períodos de observação visual para avaliar o comportamento ingestivo durante um dia, na última semana do período experimental. Neste experimento, os animais foram observados durante 24 horas, em intervalos de 5 minutos, para a avaliação dos tempos de alimentação, ruminação e ócio. Durante a observação noturna, o ambiente foi mantido com iluminação artificial. Três dias antes da avaliação, foi fornecida luz artificial para adaptação.
No dia seguinte, foi realizada a contagem do número
de mastigações merícicas e do tempo despendido na ruminação de cada bolo
ruminal com a utilização de cronômetro digital. Durante a avaliação, foram
feitas observações de três bolos ruminais em três períodos diferentes do dia
(10-12h; 14-16h e 19-21h), calculando-se a média do número de mastigações
merícicas e o tempo gasto por bolo ruminal. Para estimação das variáveis
comportamentais, alimentação e ruminação (min/kg MS e FDN), eficiência
alimentar (g MS e FDN/hora), eficiência em ruminação (g de MS e FDN/bolo e g MS
e FDN/hora) e consumo médio de MS e FDN por período de alimentação,
considerou-se o consumo voluntário de MS e FDN do 17º e 18º dias do período
experimental, sendo as sobras computadas entre o 17º e 18º dias.
O número de bolos ruminados diariamente foi obtido dividindo-se o tempo total de ruminação (minuto), pelo tempo médio gasto na ruminação de um bolo. As concentrações de MS e FDN em cada bolo (g) ruminado foram obtidas a partir da divisão da quantidade de MS e FDN, consumida (g/dia) pelo número de bolos ruminados diariamente.
A eficiência de alimentação e ruminação foi obtida utilizando-se o seguinte método:
EALMS = CMS/TAL;
EALFDN = CFDN/TAL;
em que: EALMS (g de MS consumida/h); EALFDN (g FDN consumida/h) = eficiência de alimentação; CMS (g) = consumo diário de matéria seca; CFDN (g) = consumo diário da FDN; TAL = tempo gasto diariamente em alimentação.
ERUMS = CMS/TRU;
ERUFDN = CFDN/TRU;
em que: ERUMS (g MS ruminal/h); ERUFDN (g da FDN ruminal/h) = eficiência de ruminação e TRU (h/dia) = tempo de ruminação.
TMT = TAL + TRU
em que: TMT (minuto/dia) = tempo de mastigação total.
Esses procedimentos foram obtidos pela metodologia descrita por BÜRGER et al. (2000).
O número de períodos de alimentação, ruminação e ócio foram contabilizados pelo número de sequências de atividade observadas na planilha de anotações. A duração média diária desses períodos de atividades foi calculada dividindo-se a duração total de cada atividade (alimentação, ruminação e ócio em min/dia) pelo seu respectivo número de períodos discretos. Os resultados foram submetidos à análise de variância, procedendo-se posteriormente ao teste Dunnett para avaliar o efeito das doses de óxido de cálcio em relação à ureia (testemunha) e à análise de regressão para o estudo do efeito das doses de CaO, a 5% de probabilidade. Foi utilizado o programa SAEG - Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas da UFV (RIBEIRO JR., 2001).
O consumo de matéria seca (MS) e fibra em detergente neutro (FDN) (kg) não foi afetado (P>0,05) pela utilização da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (CaO) em relação à silagem com ureia no período de 24 horas (Tabela 4).
As atividades de alimentação e ruminação em minutos/dia, minutos/kg de MS e minutos/kg de FDN não apresentaram diferença (P>0,05) entre a silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio e a silagem com ureia. Não houve efeito (P>0,05) das doses com óxido de cálcio na silagem de cana-de-açúcar.
Não houve diferença (P>0,05) da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia para a mastigação em número de bolo, segundo/bolo, nº/dia e minutos/kg de MS e FDN. As doses de óxido de cálcio na silagem de cana-de-açúcar não produziram efeito (P>0,05) sobre as variáveis citadas anteriormente (Tabela 4).
Alguns
fatores podem afetar a ingestão de alimentos, como altos níveis de FDN. Esse
fato foi observado nos valores das dietas experimentais em que houve diminuição
do FDN com o aumento das doses de CaO. Diferenças significativas nessas
variáveis seriam esperadas, caso o tempo de alimentação, ruminação e o tempo de
mastigação de MS e FDN fossem influenciados pelo aumento das doses de óxido de
cálcio. Embora o teor de FDN nas dietas (Tabela 2) tenha diminuído com o
aumento das doses de óxido de cálcio, estas não foram suficientes para provocar
alterações nas atividades do consumo. CARDOSO et al. (2006) não observaram
diferença nos tempos de ingestão, ruminação e mastigação em função do nível de
FDN em dietas de cordeiros quando esse nível é inferior a 44%, o que contraria
as constatações feitas por MERTENS (1996) de que há alterações significativas
em dietas com diferentes níveis de FDN e por VAN SOEST (1994) de que, ao elevar
o nível de FDN da dieta, há aumento no tempo despendido com ruminação, sendo
esse tempo gasto proporcional ao teor da parede celular.
É possível que o consumo de MS não tenha sido afetado em função de diversas variáveis como palatabilidade e seleção do volumoso e que essas ou outras variáveis podem ter contribuído juntamente com o uso do aditivo e a forma física da dieta.
Houve diferença (P<0,05) da mastigação em horas/dia da silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia. Houve efeito (P<0,05) linear decrescente na mastigação (horas/dia) da silagem quanto às doses de óxido de cálcio. Os tempos despendidos em alimentação, ruminação (minutos/dia), bem como os tempos de alimentação e ruminação (minutos/kg de MS e da FDN) verificados neste estudo (Tabela 4) foram maiores que os encontrados por ALVES et al. (2010), que obtiveram uma média de alimentação e ruminação de 317,19 e 468,59 minutos/dia, respectivamente, e média do tempo gasto com o consumo de 256,1 e 599,2 minutos/kg de MS e FDN, respectivamente. Verificou-se que o efeito do óxido de cálcio sobre a cana-de-açúcar ocorreu, possivelmente, em função do aumento das doses de aditivo que, por sua vez, fez com que os animais necessitassem de menos horas por dia para mastigar a silagem à medida que as doses de CaO foram aumentando. Isso só foi possível pela ação da cal sobre os constituintes da parede celular, que permitiram não só diminuir o FDN (Tabela 2) da dieta experimental, como também a fibra em detergente neutro (FDA) e a lignina (Tabela 3).
Houve diferença (P<0,05) do ócio em minutos/dia na silagem de cana-de-açúcar em relação à silagem com ureia, como também foi verificado efeito (P<0,05) linear crescente para o tempo despendido com ócio, de acordo com a inclusão do óxido de cálcio na cana-de-açúcar. Os animais alimentados com a silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio apresentaram valor médio de 641,25 minutos/dia para a atividade de ócio. O menor tempo despendido com ócio mostra que os ovinos tiveram mais tempo para promover a mastigação. À medida que as doses de CaO aumentaram, mais tempo foi despendido com o ócio, comprovando a hipótese de que o menor teor de FDN na cana-de-açúcar ensilada com maiores doses de CaO provocou diminuição na mastigação. Fato que foi constatado por MERTENS (1997), que observou que a elevação de quantidade de fibra nas dietas estimula a atividade mastigatória, ratificando os resultados encontrados neste estudo. Da mesma forma, os resultados obtidos por CARVALHO et al. (2006a), que trabalharam com níveis da FDN (20, 27, 34, 41 e 48%) provenientes de forragem em dietas para cabras na avaliação do comportamento ingestivo, mostraram aumento nos tempos de ingestão e ruminação e diminuição do tempo de ócio com a elevação dos níveis da FDN na ração. Esses valores são superiores aos encontrados por MACEDO et al. (2007), que avaliaram o comportamento ingestivo de ovinos em dietas contendo bagaço de laranja em substituição à silagem de sorgo, e relataram ponto de mínima de 335,02 min/dia.
Não houve efeito (P>0,05) para as atividades de alimentação e ruminação em min/dia. Embora o teor de FDN na silagem de cana-de-açúcar com CaO tenha decrescido (Tabela 2), não foi suficiente para provocar alterações nas atividades de alimentação e ruminação em min/dia. A silagem com ureia também não provocou alterações nas atividades supracitadas, estando de acordo com os achados de CARDOSO et al. (2006) e CARVALHO et al. (2006a).
Verificou-se, no presente estudo, que foram gastas em média 7,43 horas de ruminação, com 70% de volumoso e 30% de concentrado, valores similares aos que foram encontrados por CARVALHO et al. (2004), média de 7,60 horas/dia, ao trabalharem com dieta à base de silagem de milho; por ALVES et al. (2010), 7,81 horas/dia em ovinos com dieta de Tifton 85 como volumoso (40%) e 60% de concentrado composto de 30% de farelo de vagem de algaroba na dieta além dos outros ingredientes; por MACEDO et al. (2007), 8,16 horas/dia, ao estudarem ovinos recebendo dietas com diferentes níveis de bagaço de laranja em substituição à silagem de sorgo; e por MENDES et al. (2010), que obtiveram valores menores (médio de 4,91 horas/dia), quando trabalharam com cordeiros em dieta de bagaço de cana-de-açúcar in natura.
Ainda é possível verificar que os resultados dos tempos desprendidos com mastigação merícicas apresentados neste estudo corroboram os de CARVALHO et al. (2006b) quanto ao nº/dia, nº/bolo e horas/dia (com efeito linear). Esses autores avaliaram o comportamento ingestivo de ovinos com dietas compostas de silagem de capim-elefante, amonizado ou não, e subprodutos agroindustriais. VAN SOEST (1994) relata que pequenos ruminantes são especializados na seleção de alimentos, mas utilizam mal os carboidratos fibrosos. Possivelmente, o óxido de cálcio não foi eficiente para diferenciar os tempos de ruminação em segundo/bolo, visto que a FDN da silagem de cana-de-açúcar na dieta diminuiu em função das doses de CaO (Tabela 2).
Não houve diferença (P>0,05) quanto à eficiência de alimentação e ruminação (Tabela 5) na silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia, como também entre as doses de óxido de cálcio, possivelmente, pela ausência de efeito significativo no consumo de matéria seca observada nas atividades. A ausência do efeito observada nas atividades de alimentação e ruminação pode estar também relacionada com a aproximação entre a composição química das dietas (Tabela 2), em que os tamanhos das partículas dos alimentos apresentaram semelhanças, visto que seu processamento foi o mesmo para todas as dietas experimentais. Esses argumentos são confirmados por VAN SOEST (1994), para quem o tamanho da partícula pode ser um fator importante que influencia o valor nutricional do alimento, pois afeta tanto o consumo de matéria seca quanto a retenção ruminal, e por SAENZ (2005), para quem o tamanho de partículas dos alimentos exerce grande efeito sobre as atividades de ruminação e mastigação.
Outros resultados de trabalhos
com subprodutos e volumosos diferentes da cana-de-açúcar foram relatados por
CARVALHO et al. (2006b) e COSTA et al. (2010), que não observaram diferença na
eficiência de alimentação em g de MS e FDN/hora com capim-elefante amonizado e
não amonizado, com farelo de cacau 40% e torta de dendê 40%. Observaram-se, neste estudo,
valores médios de eficiência de alimentação (EAL), em g de MS/hora e g de
FDN/hora, de 120,55 e 57,11, respectivamente (Tabela 5). A média da eficiência
de ruminação ERU foi de 589,0 bolos (nº/dia), 1,19 g MS/bolo, 0,56 g de
FDN/bolo, 87,95 g de MS/hora e 41,81 g de FDN/hora.
Não houve diferença (P>0,05) nas observações do número de períodos/dia de alimentação, ruminação e ócio nem para o tempo gasto por período (em minutos) de alimentação e ruminação na silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia, como também não houve efeito (P>0,05) nas silagens com doses de óxido de cálcio. Entretanto, para o tempo gasto por período com ócio, houve efeito (P<0,05) linear crescente na silagem de cana-de-açúcar para as doses de óxido de cálcio, mas não houve diferença (P>0,05) para o tempo gasto por período (minutos) comparando-se a silagem de cana com óxido de cálcio com a silagem com ureia (Tabela 6). O consumo médio por período de alimentação em kg de MS e FDN foi semelhante (P>0,05) na silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio em relação à silagem com ureia. O consumo médio de MS e FDN não foram afetados (P>0,05) pelas doses de óxido de cálcio na cana-de-açúcar e os valores médios das silagens de cana-de-açúcar encontrados foram 0,029 e 0,014 kg de MS e FDN, respectivamente.
Foi verificado que o número de períodos de alimentação e o tempo médio gasto por período não foram diferentes e não influenciaram no consumo médio por períodos de MS e FDN na silagem de cana-de-açúcar com adição de óxido de cálcio, visto que existe uma relação direta entre as variáveis número de período e tempo gasto, em que o aumento em uma dessas variáveis implica a redução da outra. Os resultados aqui apresentados são concordantes com as constatações feitas por CARVALHO et al. (2006b) que, ao trabalharem com silagem de capim-elefante amonizada ou não e subprodutos em dietas para ovinos, observaram que não houve diferença no consumo médio por período de alimentação da MS e FDN.
A ruminação tem por objetivo diminuir o tamanho das partículas dos alimentos para facilitar a degradação, entretanto, o teor de fibra e a forma física das mesmas afetam o tempo de ruminação (VAN SOEST, 1994). As dietas (Tabela 2) apresentaram diminuição da FDN na medida em que se aumentaram as doses de CaO, com o mesmo tamanho das partículas, tanto da cana-de-açúcar (1 a 2 cm) como do concentrado e sua relação volumoso:concentrado, sendo que foi usado apenas um único tipo de volumoso e de concentrado para todos os animais. Foi verificado, então, que a inclusão de ureia na silagem da cana-de-açúcar disponibilizou maior quantidade de nitrogênio para os microrganismos do rúmen, o que aumentou a eficiência microbiana, melhorando a digestibilidade da MS e FDN, e aumentou o consumo médio por período de alimentação, diminuindo o tempo de ruminação que, neste caso, não apresentou diferença entre as silagens pela semelhança entre as dietas, as quais foram isoproteicas. No consumo médio por período, apesar de não ter sido observada diferença entre as silagens e entre os tratamentos com CaO, constatou-se que muitas variações podem ter acontecido, não provocando diferença entre os tratamentos, exatamente em função das variações nos teores de fibra e energia entre as silagens.
Silagem de cana-de-açúcar com óxido de cálcio (0,0; 0,8; 1,6 e 2,4%) ou ureia, quando fornecidos a ovinos, não afetam os tempos de alimentação e ruminação dos animais.
Dietas para ovinos confinados, contendo cana-de-açúcar ensilada com óxido de cálcio em doses de até 2,4% ou ureia na dose de 1,5%, diminuem a ruminação e mastigação e aumentam o ócio dos animais.
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