ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO DA ARTÉRIA CELÍACA DE AVESTRUZES (Struthio camelus)
Bruno Gomes Vasconcelos1,
Frederico Ozanam Carneiro e Silva2, Renata Lima de Miranda3,
Cheston Cesar Honorato Pereira4, Amilton Cesar dos Santos1,
Maria Angelica Miglino5
RESUMO
A
exploração de avestruzes visa à comercialização das carnes, penas, couro e
gordura. Intimamente relacionado à produtividade está o sistema digestório e,
dentre os importantes vasos responsáveis pela sua nutrição, está a artéria
celíaca, cuja origem e distribuição foi aqui estudada. Em 30 exemplares, a artéria isquiática
esquerda foi canulada para injeção de solução marcadora de vasos sanguíneos, em
seguida, fixada em solução aquosa de formol 10%, mediante aplicações
intramuscular profunda, subcutânea e intracavitária. Concluímos que ela originou-se da aorta descendente, sendo o seu primeiro
ramo ventral e dirigindo-se para o antímero direito em seu trajeto enviou vasos
para: esôfago, proventrículo, ventrículo, baço, fígado, vesícula biliar,
pâncreas, duodeno, íleo, cecos esquerdo e direito.
PALAVRAS
CHAVES: aves; irrigação; sistema digestório.
Origin and
distribution of the celiac artery in ostrich (Struthio camelus)
ABSTRACT
The exploration of ostriches aims at
trading meat, feathers, leather and grease. The digestive system is intimately
related to productivity, and the celiac artery is amongst the major vessels
responsible for its nutrition. The artery´s origin and distribution was studied
here. In 30 specimens, the left ischiatic artery was cannulated for the
injection of a blood vessels marker solution and then fixed in formalin
solution 10% via deep intramuscular, subcutaneous and intracavitary
applications. We concluded that this artery originated from the descending
aorta, its first branch is ventral and it headed for the right side sending
branches to: esophagus, proventriculus, ventriculus, spleen, liver,
gallbladder, pancreas, duodenum, ileum, left and right cecum.
KEYWORDS: birds; digestive system; irrigation.
INTRODUÇÃO
O avestruz é a ave corredora de maior tamanho que
existe no mundo, com pernas largas, robustas e pés com apenas dois dedos. Seu
nome foi originado da junção de duas palavras: ave + estruz, derivado do latim Struthio camelus, que significa pássaro
camelo (CARBÓ, 2003).
Na atividade pecuária, a carne do avestruz, o
principal produto gerado, apresenta coloração escura bem característica e vem
ganhando popularidade em diversas partes do mundo. A pele é o segundo
subproduto do avestruz que encontrou um mercado restrito, porém expansivo e,
por último, encontram-se as plumas, consideradas como um subproduto marginal,
que são amplamente comercializadas no carnaval (CARBÓ, 2003).
O sistema digestório está intimamente relacionado
com a produtividade dos avestruzes, pois é nele que ocorre o processamento dos
alimentos. O reconhecimento de suas estruturas e fisiologia é fundamental para
se estabelecer uma nutrição mais adequada, voltada às particularidades
digestivas, visando à obtenção de uma ração de alta digestibilidade para que
ocorra um melhor aproveitamento pelo animal, proporcionando melhor conversão
alimentar e, consequentemente, aumentando sua produção (MIRANDA et al., 2009).
Após a
morte natural das aves, a artéria isquiática esquerda foi canulada para injeção
de solução aquosa a 50% de látex Neoprené “
Para dissecação da artéria
celíaca, utilizaram-se os instrumentos cirúrgicos adequados, auxiliados, quando
necessário, pelo campo visual de uma lupa monocular tipo Wild (l0X).
Subsequentemente às dissecações,
foram realizados esquemas de cada exemplar, em que se registraram a origem, o
número e a distribuição da artéria citada. Ainda confeccionaram-se
fotografrafias (Figura 1) e um desenho esquemático (Figura 2) para melhor
ilustração dos resultados.
Análises
descritivas de porcentagem simples dos dados foram utilizadas para se verificar
diferenças estatísticas entre eles.
A
nomenclatura adotada para descrição dos resultados foi a Nomina Anatomica Avium
(Baumel, 1993).
O
trabalho foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética na Utilização de
Animais da Universidade Federal de Uberlândia, sob o número de protocolo
079/10.
RESULTADOS
Após a origem, emitiu as artérias proventricular dorsal e
lienal, em todos os exemplares, sendo que a primeira irrigou o esôfago em 10% e
o baço em 3,3%. Em seguida, a artéria celíaca dividiu-se em ramos direito e
esquerdo (Figura 1).
O ramo esquerdo enviou as artérias proventricular
ventral (90%), gástricas esquerda e ventral (100%) (Figura 1) e ramos
esofágicos (33,3%). O fígado recebeu suprimento arterial diretamente do ramo
esquerdo através da artéria hepática esquerda (13,3%) e indiretamente do ramo
esofágico (3,3%) emitido pelo ramo esquerdo.
O ramo direito da artéria celíaca ramificou-se nas
artérias hepática direita, da vesícula biliar e gástrica direita e dorsal
(Figura 1), em todas as aves. Próximo da transição gastroduodenal, o ramo
direito emitiu ramos esofágico (3,3%), duodenal (13,3%) e pancreático (46,6%);
e continou como artéria pancreaticoduodenal (Figura 1), que seguiu seu trajeto
entre a alça duodenal, vascularizou o duodeno e o pâncreas e terminou enviando
as artérias ileocecais (Figura 1) que irrigaram o íleo (86,6%) e ceco esquerdo
(100%) e direito (96,6%).
Com o
intuito de facilitar o entendimento da distribuição da artéria celíaca foi
realizado um desenho esquemático (Figura 2).
As
artérias lienais variaram de um a dois vasos, sendo um correspondente a 80% e dois
a 20%. O número de ramos para o proventrículo oriundo da artéria proventricular
dorsal, variaram de dois a 18 vasos, sendo dois, cinco, 13, 16 e 18
equivalentes a 3,3%, quatro, sete e 17 a 6,6%, seis e oito a 10%, dez e 14 a
13,3% e 12 a 16,6%; a artéria proventricular dorsal enviou colaterais ao
esôfago (10%) e ao baço (3,3%), emitindo um e dois ramos, respectivamente. Além
disso, o proventrículo foi irrigado pela artéria proventricular ventral emitida
pelo ramo esquerdo da artéria celíaca em 90% das aves, variando de um a nove,
sendo sete e nove correspondentes a 3,7%, três e oito a 7,4%, um a 11,1%, cinco
e seis a 14,8% e dois e quatro a 18,5%.
Posteriormente,
o ramo esquerdo dividiu-se em artérias gástrica esquerda e ventral (100%) e
ramos esofágicos (33,3%). A artéria gástrica esquerda enviou de dois a cinco
colaterais, sendo que 13,3% aprensentaram cinco; 16,6%, quatro; 26,6%, três e
43,3%, dois; e a gástrica ventral de três a 15, sendo que 3,3% presentaram três,
quatro, 14 e 15; 6,6%, seis e dez; 10%, nove e 12; 13,3%, cinco; e 20%, sete e
oito; já o ramo esofágico apresentou-se em número de um.
O fígado recebeu suprimento arterial diretamente do ramo
esquerdo através da árteria hepática esquerda (13,3%), obtendo de um a dois
vasos, sendo que 50% apresentaram um e dois; e, indiretamente, através de um
ramo esofágico (3,3%) emitido pelo ramo esquerdo.
O ramo direito enviou, em todas as aves, a artéria
hepática direita que variou de um a dois colaterais, 90% e 10%,
respectivamente. Anteriormente à ramificação da artéria hepática direita no
parênquima hepático, ela emitiu a artéria da vesícula biliar que recebeu um
ramo em todos os casos.
Em seguida, o ramo direito distribuiu vasos no ventrículo
através das artérias gástrica direita e dorsal. A primeira variou de dois a
seis colaterais, na seguinte proporção: quatro e seis, 10%; cinco, 20%; três,
26,6%; e dois, 43,3%. Já a artéria gástrica dorsal variou de dois a 14, sendo
dois, quatro e 14 equivalentes a 3,3%; 12 a 6,6%; cinco e nove a 10%; sete e 10
a 13,3%; seis a 16,6%; e oito a 20%. Em um espécime (3,3%), o ramo direito
terminou enviando um ramo esofágico.
Próximo da transição gastroduodenal, o ramo direito
emitiu ramo esofágico (3,3%) através de um colateral; ramo duodenal (13,3%)
apresentou de um a dois, sendo 50% com dois; e ramo pancreático (46,6%), variando
de um a cinco ramos, na proporção de 7,1% um e cinco, 14,2% dois, 28,5% quatro
e 42,8% três.
O ramo direito da artéria celíaca continuou como artéria
pancreaticoduodenal que irrigou o pâncreas e o duodeno e, para o primeiro,
enviou de nove a 18 ramos, sendo verificado 3,3% com 11; 6,6% com nove; 10% com
12, 14 e 17; 13,3% com dez e 13; e 16,6% com 15 e 19. Para o segundo enviou de 15
a 59 vasos, sendo 3, 33% com 15, 18, 21, 24, 31, 32, 41 e 59; 6,6% com 19, 20,
34 e 38; 10% com 25 e 27; 13,3% com 26 e 28.
As
artérias ileocecais originaram-se da artéria pancreaticoduodenal e apresentaram-se
em número de uma (90%) ou duas (10%), e irrigaram o íleo (86,6%), ceco esquerdo
(100%) e direito (96,6%). No íleo, os vasos variaram de um a 10, sendo 3,8% com
10, 7,6% com seis e sete, 11,5% com quatro, 15,3% com um e cinco, 19,2% com
dois e três; no ceco esquerdo, variaram de dois a 10, sendo 3,3% com dois,
três, cinco e dez, 10% com quatro, 16,6% com oito, 20% com seis e 40% com sete;
e no ceco direito variaram de dois a nove, sendo 3,4% com três e nove, 6,8% com
quatro e sete, 10,3% com dois, 20,6% com cinco e oito e 27,5% com seis.
O ramo esofágico, originário da artéria celíaca logo após
a sua origem, foi citado por BHADURI et al. (1957), SCHWARZE & SCHRODER (1972) e NICKEL
et al. (1977), em G. gallus; DRUMMOND
et al. (2000) em G. gallus domesticus e SILVA et al.
(2001) na linhagem Avian Farms. MIRANDA et al. (2005) na Redbro Plumé, complementaram que foi encontrado em 80%
do exemplares. Entretanto BAUMEL (1993) em G.
gallus, citou que esses ramos foram emitidos pela artéria proventricular
dorsal, com o que estamos de acordo, e esteve presente em 10% das aves, porém
encontramos ainda a irrigação através do ramo esquerdo da artéria celíaca em
33,3% e do direito em 3,3%.
Os ramos para o proventrículo, referidos por BHADURI et
al. (1957), SCHWARZE
& SCHRODER (1972), SISSON & GROSSMAN (1975), GETTY (1981) e BAUMEL (1993)
em G. gallus; DRUMMOND et al. (2000)
no G. gallus domesticus e SILVA et al. (2001), na Avian Farms, foram encontrados em 100%
das aves. MIRANDA et al. (2005) acrescenta que, na Redbro Plumé, esses vasos foram emitidos
pela artéria proventricular dorsal e pelo ramo esquerdo da artéria celíaca
através da artéria proventricular ventral, como foi observado nas aves deste
trabalho.
SILVA et al. (2001)
descreveram ramos da artéria celíaca para o coração na linhagem Avian Farms, o que não foi verificado
neste estudo.
A divisão da artéria
celíaca, em dois ramos, esquerdo e direito, foi descrita por BHADURI et al. (1957),
SCHWARZE & SCHRODER (1972), GETTY (1981) e BAUMEL (1993) em G. gallus; SILVA et al. (1996) na
linhagem Hubbard; SILVA et al. (2001) na Avian Farms e MIRANDA et al. (2005) na
Redbro Plumé, como foi observado em todos os espécimes desta pesquisa.
GETTY (1981) citou que, no
G. gallus, o ramo esquerdo irrigou o fígado
através da artéria hepática esquerda e o ramo direito emitiu a calibrosa
artéria hepática direita, que vascularizou o fígado e a vesícula biliar, como foi
observado nos avestruzes.
A irrigação do
ventrículo na galinha doméstica ocorreu a partir do ramo esquerdo da artéria
celíaca, denominado de artéria gástrica ventral por BAUMEL (1993), além de uma
artéria para face esquerda do ventrículo (Ede,
1965), que foi nomeada por BHADURI et al.
(1957) como artéria gástrica esquerda, com o que concordamos. MIRANDA et
al. (2005) relataram que as artérias gástrica ventral e dorsal, esquerda e
direita, na linhagem Redbro Plumé, irrigaram o ventrículo variando de seis a 12
colaterais. Essa variação ocorreu no presente trabalho de forma semelhante,
porém de dois a 15 vasos.
O baço em G. gallus, segundo BHADURI et al.
(1957), recebeu apenas uma delgada artéria esplênica, enquanto que NICKEL et
al. (1977) citaram vários pequenos vasos, SCHWARZE & SCHRODER (1972)
relataram de duas a três artérias e GETTY (1981) descreveu a irrigação do baço
como sendo efetuada pelas calibrosas artérias esplênicas cranial e caudal, não
se detendo a numerá-las. MIRANDA et al. (2005) verificaram que, na linhagem Redbro
Plumé, o ramo direito irrigou o baço variando de dois a cinco, o que não
aconteceu nos avestruzes, em que essas artérias foram emitidas através da
celíaca em 100% dos casos, variando de um a dois; e em 3,3% houve a
contribuição do ramo esplênico através da artéria proventricular dorsal.
Em relação à artéria
pancreaticoduodenal, GETTY (1981) na G.gallus;
SILVA et al. (1996) na linhagem Hubbard; SILVA et al. (1997) na Ross; DRUMMOND et
al. (2000) G. gallus domesticus;
SILVA et al. (2001) na Avian Farms e MIRANDA et al. (2005) na Redbro Plumé,
concordaram entre si que é uma continuação final do ramo direito da artéria
celíaca e que emitiu vasos ao pâncreas e ao duodeno. Informamos ainda que, no
avestruz, esses órgãos receberam irrigação diretamente do ramo direito, próximo
à transição gastroduodenal, o pâncreas em 46,6% das aves, variando de um a
cinco, e o duodeno em 13,3%, de um e dois.
Na galinha doméstica, as
artérias ileocecais originaram-se a partir da pancreaticoduodenal, que foram
citadas por EDE (1965) como ramos secundários; SCHWARZE & SCHRODER (1972)
relataram a emissão de uma artéria ileocecal após o envio das esplênicas, antes
do surgimento da pancreaticoduodenal; GETTY (1981) fez referência às artérias
ileocecais; com o que concordamos e acrescentamos que podem apresentar em número de um (90%) a dois
(10%) e que sua contribuição para o íleo foi de um
a 10 ramos, o ceco esquerdo, de dois a 10, e o direito, de dois a nove.
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