DOI:10.1590/1809-6891v15i314450
ESTUDO MORFOMÉTRICO DE Gliricola quadrisetosa Ewing, 1924 RECUPERADO EM Galea spixii Wagler, 1831
Josivania Soares Pereira1, Janilene de Oliveira Nascimento2, Kalianne Carla de Sousa Aguiar2, Moacir Franco de Oliveira3, Wesley A. Costa Coelho4, Sílvia Maria Mendes Ahid3
1Pós-Graduanda da Universidade Federal Rural
do Semi-Árido, Mossoró, RN, Brasil - josigej@ufersa.edu.br
2Graduandas em Medicina
Veterinária da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, RN,
Brasil.
3Professores
Doutores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, RN,
Brasil.
4Professor Doutos da
Faculdade de Enfermagem Nova Esperança, Mossoró, RN, Brasil
RESUMO
O estudo morfométrico de
piolhos que acometem Galea spixii auxilia na compreensão da
taxonomia desse Phithraptera. O trabalho objetivou realizar a morfometria
de espécimes de Gliricola quadrisetosa recuperados em G.
spixii. As análises foram realizadas com auxílio de microscópio
óptico de luz. Os dados foram apresentados na forma de média simples
e desvio padrão. Os machos e fêmeas apresentaram um comprimento
médio corporal de 98,01±2,43 e 117,97±4,75 μm; da face inferior da cabeça
de 16,42±3,41 e 18,43±2,61
μm; do protórax de 12,43±0,91 e
13,79±1,13 μm e do pterotórax de 13,57±1,07 e 14,88±1,84 μm,
respectivamente. A genitália do macho apresentou em sua placa basal
comprimento respectivo da margem lateral externa e interna de 28,86±1,29 e
21,88±1,91 μm; do ramo externo e interno de 2,94±0,38 e 7,25±0,72 μm. Na
genitália da fêmea, o comprimento da porção superior e inferior foi
respectivamente de 25,35±2,32 e 28,18±2,86 μm. As 11 cerdas apresentaram
comprimento médio de 2,99±0,17 μm. As
medidas obtidas contribuirão para padronização da taxonomia de Gliricola
quadrisetosa recuperados em Galea spixii.
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PALAVRAS-CHAVE: Ectoparasito, piolho, taxonomia.
MORPHOMETRIC STUDY OF Gliricola quadrisetosa Ewing 1924, RECOVERED IN Galea spixii Wagler, 1831
ABSTRACT
The
morphometric study on lice affecting Galea spixii helps in
understanding the taxonomy of this Phithraptera. The study aimed to
perform morphometry of Gliricola quadrisetosa specimens
recovered in G. spixii. Analyses were performed using light
optical microscope. Data were presented as simple average and standard
deviation. Males and females showed an average length of body of 98,01 +
2,43 and 117,97 + 4,75 μm; from the underside of the head 16,42 +
3,41 and 18,43 + 2,61 μm; prothorax 12,43 + 0,91 and 13,79
+ 1,13 μm and pterothorax 13,57 + 1,07 and 14,88 +
1,84 μm, respectively. The male genitalia lodged in their basal plate
showed length of its external and internal lateral margin of 28,86+
1,29 and 21,88 + 1,91 μm; external internal branch of 2,94 +
0,38 and 7, 25 + 0,72 μm. In the female genitalia, the length of
the upper and lower portions were, respectively, 25,35 +2,32 and
28,18 + 2,86 μm. The 11 bristles had an average length of 2,99+0,17
μm. The measurements will help to standardize the taxonomy of Gliricola
quadrisetosa recovered in Galea spixii.
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KEYWORDS: Ectoparasite, lice, taxonomy.
INTRODUÇÃO
A morfometria constitui o estudo da forma e do tamanho e de como essas duas variáveis se relacionam entre si. Trata-se de uma maneira de analisar os parâmetros corporais que podem auxiliar na verificação do dimorfismo sexual das espécies1. Permite também avaliar a variação intraespecífica, bem como a interespecífica e é um aspecto importante no diagnóstico característico dos organismos. Pelo estudo morfométrico, é possível observar as variações no tamanho de estruturas consideradas importantes para taxonomia dos seres vivos e, dessa forma, auxiliar na classificação e diagnóstico de espécies parasitárias que acometem os animais selvagens e domésticos2.
Dentre os animais selvagens, Galea spixii (Wagler, 1831) é um pequeno roedor de pelagem densa e híspida pertencente à Subordem Hystricognathi, Família Caviidae e Subfamília Caviinae3,4. É comumente encontrado em todos os estados da região Nordeste e também em Minas Gerais e Mato Grosso5, 6.
Quando em cativeiro, os preás podem ser acometidos por ectoparasitos, dentre os quais os piolhos, correspondentes à espécie Gliricola quadrisetosa Ewing, 1924, que interferem na saúde e bem-estar destes cavídeos por ocasionar prurido intenso, alopecia e crostas cutâneas na pele, predispondo à infecção bacteriana secundária7.
O estudo taxonômico de Gliricola quadrisetosa recuperados em pequenos roedores mamíferos foi descrito recentemente por Pereira7, que o descreveram como Amblycera com protórax arredondado, meso e metatórax fundidos (pterotórax), placa esternal com aspecto circular e côncava. As fêmeas diferenciam-se dos machos pela genitália e por apresentar como característica única e marcante desta espécie a presença de dois pares de longas cerdas localizadas no 2º e 3º pleurito abdominal.
Apesar do conhecimento de algumas características morfológicas que auxiliam na identificação de G. quadrisetosa, existe uma escassez de dados na literatura quanto à padronização da taxonomia deste Phthiraptera. Objetivou-se realizar a morfometria de algumas características morfológicas de espécimes machos e fêmeas de G. quadrisetosa recuperados em G. spixii cativos do Rio Grande do Norte, Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizaram-se 50 exemplares de Gliricola quadrisetosa,sendo 25 machos e 25 fêmeas, pertencentes ao acervo do Laboratório de Parasitologia Animal (LPA) da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Os piolhos foram recuperados por penteamento da área corporal dorsal de Galea spixii, cativo do Centro de Multiplicação de Animais Silvestres (CEMAS) da UFERSA, localizada na cidade de Mossoró/RN, autorizado para criação com fins científicos pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) sob número de registro 12.492-004.
Os ectoparasitos mantidos no LPA em frascos com álcool a 70% foram transferidos para placas de Petri contendo solução de hidróxido de potássio a 10% para realização do processo de clareamento. Posteriormente, os exemplares foram colocados entre lâmina e lamínula para morfometria, realizada com auxílio de microscópio óptico de luz em objetiva de 10X e 40X. As medidas obtidas em cada ocular micrométrica foram multiplicadas por fator de correção, sendo 1,36 para objetiva de 10X e 0,33 para objetiva de 40X.
Foram determinados o comprimento corporal, face inferior da cabeça, protórax e pterotórax. Nos exemplares fêmeas mediram-se as cerdas presentes no 2º e 3º pleuritos abdominais.
Realizaram-se delimitações de algumas áreas a serem medidas na genitália de ambos os sexos: o comprimento das margens laterais externa e interna e dos ramos externo e interno nos machos; e o comprimento da porção superior e inferior, além do comprimento das 11 cerdas presentes nos gonopodos e porção inferior nas fêmeas (Figura 1).
Os dados foram apresentados na forma de média e desvio padrão. A comparação estatística dos dados foi realizada por meio do Teste de Mann-Whitney. O nível de significância foi estabelecido como p < 0,05. As análises foram realizadas com auxílio do programa BioEstat 5.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da morfometria realizada, observou-se que todos os valores médios das medidas das fêmeas foram superiores aos dos machos (Tabela 1).
Morfometria em G. quadrisetosa foi recentemente realizada por Pereira et al.8 e Pereira et al.9. Medidas de comprimento total do corpo deste ectoparasito foi anteriormente realizada por Werneck10, que registrou para um espécime fêmea coletado em Cavia porcellus comprimento de 1,25 mm e para um macho, 0,88 mm.Este fato corrobora os dados obtidos na presente pesquisa na qual se observou que os machos apresentaram menor tamanho em relação às fêmeas.
Quanto à realização da morfometria na genitália dos machos e fêmeas do Phthiraptera estudado no presente trabalho, estas medidas foram obtidas pela primeira vez, sendo observado que, nos machos, a placa basal apresentou comprimento respectivo da margem lateral externa e interna de 28,86 + 1,29 e 21,88 + 1,91 μm; e do ramo externo e interno de 2,94 + 0,38 e 7,25 + 0,72 μm (Figura 2).
Já para a genitália da fêmea, o comprimento da porção superior e inferior foi, respectivamente, de 25,35 + 2,32 e 28,18 + 2,86 μm. Já as 11 cerdas presentes na porção inferior e nos gonopodos apresentaram comprimento respectivo de: 1,71 + 0,26; 2,19 + 0,48; 2,72 + 0,67; 3,83 + 0,86; 4,31 + 0,76; 4,04 + 0,77; 3,15 + 0,67; 3,07 + 0,68; 2,77 + 0,51; 2,71 + 0,44; 2,39 + 0,51 (Figura 3).
Como as cerdas do 2º e 3º pleurito abdominal são consideradas, segundo Werneck10 e Pereira et al.8, uma característica marcante nesta espécie, uma vez que somente neste piolho é que elas são observadas, fez-se pela primeira vez a morfometria das mesmas, sendo que a primeira, indicada através do número um, apresentou 14,39 + 2,78 μm e a segunda, indicada pelo número dois, teve 15,81 + 2,26 μm de comprimento (Figura 4).
CONCLUSÕES
As características morfológicas medidas em Gliricola quadrisetosa auxiliam na padronização da taxonomia desta espécie de piolho, bem como na classificação e diferenciação de outras espécies de Phthiraptera que acometem o Galea spixii. O presente trabalho relatou ainda pela primeira vez a realização de medidas das cerdas presentes no 2º e 3º pleurito abdominal, característica única e marcante desta espécie de piolho. Além de notificar medidas da genitália do macho e da fêmea, nunca antes descritas.
REFERÊNCIAS
1. Machado LF, Paresque R, Christoff AU. Anatomia comparada e morfometria de Oligoryzomys nigripes e O. flavescens (Rodentia, Sigmodontinae) no Rio Grande do Sul, Brasil. Papéis Avulsos de Zoologia. 2011; 51(3):
2. Gibbons LM. Revision of the genus Haemonchus Coob, 1988 (Nematoda: Trichostrongylidae). Systematic Parasitology. 1979; 1: 3-24.
3. Barbosa PBBM, Queiroz PVS, Jerônimo SMB, Ximenes MFFM. Experimental infection parameters in Galea spixii (Rodentia: Caviidae) with Leishmania infantum chagasi. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 2008; 103:545-548.
4. Bonvicino CR, Oliveira JA, D’Andrea PS. Guia dos roedores do Brasil, com chaves para gêneros baseadas em caracteres externos. Rio de Janeiro: Centro Pan-Americano de Febre Aftosa - OPAS/OMS. . 2008;120p. Disponível em http://www.fiocruz.br/ioc/media/livro%20roedores.pdf.
5. Moojen J. Os Roedores do Brasil. Rio de Janeiro: Ministério de Educação e Saúde. Instituto Nacional do Livro; Biblioteca Científica Brasileira; 1952. (Série A, v.2).
6. Lacher JR, T.E. The comparative social behavior of Kerodon rupestris and Galea spixii and the evolution of behavior in the Cavidae. Bulletin of Carnegie Museum of Natural History. 1981; 17:1- 71.
7. Pereira JS, Carvalho LCA, Soto-Blanco B, Oliveira MF, Ahid SMM. Ectoparasitos em preás (Galea spixii Wagler, 1831) cativos no semiárido do Rio Grande do Norte. Pesquisa Veterinaria Brasileira. 2012; 32 (8): 789-793.
8. Pereira JS, Nascimento JO, Aguiar KCS, Oliveira MF, Ahid SMM. Estudo morfométrico da placa esternal de Gliricola quadrisetosa Ewing, 1924 recuperados em Galea spixii Wagler,1831. Pubvet, Londrina. 2011;, 5 (38), ed. 185, Art. 1247.
9. Pereira JS, Melo AEC, Sousa FSR, Oliveira MF, Ahid SMM. Parasitismo por Gliricola quadrisetosa Ewing, 1924 em Galea spixii wagler, 1831: redescrição da placa esternal. Acta Veterinaria Brasilica. 2012; 6 (1): 45-47.
10. Werneck FL. Contribuição ao conhecimento dos Mallophagos encontrados nos mamíferos sul-americanos. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 1936; 31: 391-589.
Protocolado em: 25 ago. 2011 Aceito em 30 maio 2014