VARIAÇÃO E MONITORAMENTO DA QUALIDADE DO LEITE ATRAVÉS DO CONTROLE
ESTATÍSTICO DE PROCESSOS
Fabio Henrique
Takahashi1, Laerte Dagher Cassoli2, Aline Zampar1,
Paulo Fernando Machado3
RESUMO
Objetivou-se
com este estudo avaliar o controle estatístico de processos (CEP) como
ferramenta de identificação de variações não naturais na qualidade do leite
passíveis de serem manipuladas. Utilizaram-se dados de produção de leite, de
contagem de células somáticas (CCS) e de contagem bacteriana total (CBT) de 384
fazendas. Avaliaram-se os efeitos naturais (época do ano e volume de leite)
sobre a variação de CCS e CBT; adicionalmente, foram gerados gráficos de
controle para escore de células somáticas (ECS) e contagem bacteriana transformada
(tCBT), com a finalidade de identificar a presença de fontes de variação não
naturais em um grupo de quatro fazendas. Verificou-se que a época do ano
influenciou significativamente o ECS e a tCBT. Os gráficos de controle, dentro
de cada época, indicaram a presença de variações não naturais no ECS e na tCBT
no grupo das quatro fazendas avaliadas.
Portanto, a aplicação do CEP dentro da fazenda é uma ferramenta adicional para
monitorar a qualidade do leite produzido.
PALAVRAS-CHAVE: contagem bacteriana total; contagem de
células somáticas; gráficos de controle; sigma.
VARIATION AND MONITORING OF MILK QUALITY BY
STATISTICAL PROCESS CONTROL
ABSTRACT
The aim of this study was to
evaluate the statistical process control (SPC) as an identification tool of
non-natural effects on milk quality, which may be manipulated. Data of milk
production, somatic cell count (SCC) and total bacterial count (TBC) from 384
farms were used. Natural effects (season and volume) on the variation of SCC
and TBC were evaluated; furthermore, control charts of somatic cell score (SCS)
and total bacterial count transformed (TBCt) were designed to find non-natural
variation resources on four farms. It was observed that the season affected
significantly the SCS and TBCt. Control charts, in each season, indicated the
non-natural variation in SCS and TBCt on the four farms evaluated. Therefore,
the application of SPC as a tool at farm level is an additional instrument for
monitoring milk quality.
KEYWORDS: control charts; somatic cell count; sigma; total bacterial count.
INTRODUÇÃO
Um dos principais fatores que
contribuem com o rendimento industrial e o preço do leite pago ao produtor é a
qualidade. A qualidade é avaliada segundo aspectos higiênico-sanitários, como a
contagem bacteriana total (CBT) e a contagem de células somáticas (CCS). Esses
parâmetros são utilizados, porque influenciam o rendimento e o tempo de
prateleira de derivados lácteos (BERRY et al., 2006; SHUKKEN et al., 2003),
assim como são utilizados como base para a precificação e aceitação no mercado.
Por essa razão, a CCS e a CBT são constantemente monitoradas em países como os
EUA e o Canadá (VALEEVA, LAM & HOGEVEEN, 2007; LUKAS et al., 2008; SOUTO et al., 2009). No Brasil, algumas indústrias possuem programas de pagamento do
leite pela qualidade e monitoram a CCS e a CBT, assim como a gordura, a
proteína e os sólidos totais do leite de fazendas, a fim de classificar e
bonificar seus produtores (RIBAS et al., 2004; ROMA JÚNIOR et al., 2009).
A qualidade do leite,
entretanto, sofre grande variação entre fazendas, pois cada propriedade
apresenta características únicas de manejo de ordenha, nutricional e sanitário,
que refletem diretamente na composição e na qualidade do leite (CUNHA et al.,
2008). Entre os diversos fatores que interferem na qualidade do leite produzido
destacam-se o tamanho do rebanho, a época do ano, o ambiente, o número de dias
em lactação, a idade e a sanidade dos animais, o binômio tempo/temperatura de
armazenamento do leite e a higiene na ordenha (GUERREIRO et al., 2005; LUKAS et
al., 2008).
Com relação aos fatores que
influenciam na qualidade do leite, a época do ano foi avaliada em diversas
pesquisas nacionais e internacionais. Estudos conduzidos na Alemanha, por
exemplo, verificaram efeito da sazonalidade sobre a média geométrica da CCS de tanques
(OLDE RIEKERINK, BARKEMA & STRYHN, 2007). Paula
et al. (2004) verificaram maiores médias de CCS nos meses de verão, nos estados
de São Paulo, Santa Catarina e Paraná. Maiores contagens de microrganismos
psicrotrofos e de Pseudomonas spp.
foram observadas no período chuvoso do ano em amostras de leite provenientes do
sudoeste goiano (SILVA et al., 2010).
Além de variações sazonais, o
tamanho do rebanho também pode influenciar a CCS de tanques (BELSITO et al.,
2004). Em um rebanho grande, a CCS do tanque será pouco afetada em função da
CCS elevada de um animal, quando comparado a um rebanho pequeno. Isso torna o
desafio de pequenos rebanhos maior para manter o padrão de qualidade exigido
pela indústria. Esse fato exige dos produtores maior atenção ao monitoramento
da CCS individual de seus animais (LUKAS et al., 2008). Além disso, rebanhos
grandes apresentam menor variação na CCS do que rebanhos pequenos (LUKAS et
al., 2005), provavelmente em função do nível tecnológico presente na fazenda
(ZANELA et al., 2006).
O conhecimento dos fatores
que afetam a qualidade do leite produzido na fazenda permite ao produtor de
leite agir ou não sobre os mesmos, manipulando aqueles fatores passíveis de
serem alterados. Para realizar tal interferência, o produtor ou a indústria
precisa monitorar a qualidade do leite produzido periodicamente e os dados
precisam ser processados de maneira a trazerem informações precisas da
qualidade média do produto e de sua variação. Uma ferramenta para tal
procedimento é o controle estatístico de processos (CEP).
O controle estatístico de
processos é um conjunto de ferramentas de monitoramento, controle e melhoria da
qualidade de processos através de análises estatísticas (De VRIES & RENEAU,
2010). Um processo pode ser compreendido como um sistema (máquina) que
transforma “entradas” (insumos) em produtos com características de qualidade.
Os rebanhos, portanto, podem ser considerados como processos de produção com
várias entradas (alimentação, genética, infraestrutura e manejo) que serão processadas
pela “máquina” (animal), resultando em leite como produto final (NIZA-RIBEIRO
et al., 2004). Sob essa perspectiva, é possível aplicar métodos de controle da
qualidade total nas fazendas.
Os processos dentro da
perspectiva do CEP são influenciados por dois tipos de variação, conhecidos
como comum (natural ou aleatória) e especial (não natural ou não aleatória). A
variação comum é representada por variações pequenas, inevitáveis e resultantes
de fatores naturais ao processo e dificilmente rastreáveis. A variação
especial, por outro lado, é caracterizada por alterações identificáveis,
responsáveis por uma mudança real no processo, como nos materiais, nas pessoas,
nas máquinas, no meio ambiente ou no método utilizado. Essas alterações podem
ser planejadas ou não, sendo frequentemente representadas por aumento de
custos.
Separar as causas de variação
comuns das especiais é o objetivo do CEP. O principal método empregado pelo CEP
para distinguir as causas de variação é o gráfico de controle, o qual monitora
uma variável de qualidade, como a CCS, por meio de seu valor médio e de sua
variação. O gráfico é aplicado na identificação de mudanças no processo ao
longo do tempo (De VRIES & RENEAU, 2010). Se essas mudanças são maiores que
a variação normal do processo, ou se os dados se distribuírem de forma não
aleatória, os gráficos sinalizam e indicam que o processo está fora de
controle, o que representa aumento de custos.
Os gráficos de controle
possuem grande potencial para auxiliar na tomada de decisão em fazendas
leiteiras (RENEAU & LUKAS, 2006). Eles permitem o monitoramento de
informações produtivas, reprodutivas, nutricionais e da saúde dos rebanhos (De
VRIES & RENEAU, 2010). Informações como a CCS e a CBT podem ser avaliadas
pelo CEP (RENEAU & LUKAS, 2006), já que os dados podem ser coletados
frequentemente, as análises de leite não são de alto custo e o leite reflete
diretamente alterações no sistema de ordenha, na alimentação e na reprodução (GUO
et al., 2004; SILVA et al., 2010; JENKIS & McGUIRE, 2006).
Estudos utilizando o CEP para
monitorar a qualidade do leite são inexistentes no Brasil. Portanto, neste
trabalho objetivou-se avaliar o controle estatístico de processos como
ferramenta de identificação de variações não naturais na qualidade do leite
passíveis de serem manipuladas. Os objetivos específicos foram: i) isolar as
causas naturais de variação como a época do ano e o volume de leite produzido e
ii) avaliar o desempenho dos gráficos de controle como ferramenta de
monitoramento da qualidade do leite.
MATERIAL E MÉTODOS
Como as informações de
contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT) não são
normalmente distribuídas, procedeu-se à transformação dos dados. Os dados de
CCS (103céls./ mL) foram transformados utilizando-se a escala
logarítmica para Escore de Células Somáticas (ECS), em que ECS = log2 (CCS/100)
+ 3, de acordo com metodologia adotada por Andrade
et al. (2007). Já para os dados de CBT (103 ufc/ mL), a
transformação utilizada foi a tCBT = log10 (CBT+0,5), conforme
descrito por Brito, Brito & Verneque
(2000). Essas transformações foram realizadas para se utilizar os gráficos de
controle, pois as informações de interesse devem ser normalmente distribuídas,
uma vez que a não normalidade afeta os limites dos gráficos (MONTGOMERY, 2004).
Para todas as fazendas foi efetuada a análise descritiva dos dados
transformados.
Foram avaliados os efeitos
naturais, como a época do ano e o volume de leite produzido, sobre a
variabilidade de ECS e tCBT. O ano foi dividido em quatro épocas – verão
(janeiro a março), outono (abril a junho), inverno (julho a setembro) e
primavera (outubro a dezembro) – para considerar o efeito de época do ano na
análise. A produção de leite entregue foi classificada em quatro categorias
(categoria 1: produção até 500 L/ dia; categoria 2: produção de 501 L/ dia a
1999 L/ dia; categoria 3: produção de 2000 L/ dia a 4999 L/ dia; e categoria 4:
produção acima de 5000 L/ dia).
A variabilidade
das informações foi avaliada pelo estimador do desvio padrão, sigma (), calculado por meio da amplitude móvel média (MR ) da iésima
fazenda, na jésima época do ano, segundo a expressão: = MRij/ d2, em que o fator d2
é tabelado em função do número de amostras. Para o presente estudo, utilizou-se
a amplitude móvel (MR) de duas observações consecutivas, sendo d2=1,128.
A amplitude móvel foi obtida por: MRi = |xi-xi-1|,
em que xi é o valor de cada
observação (MONTGOMERY, 2004; LUKAS et al., 2008a).
Utilizou-se o software
estatístico SAS 9.2 (SAS, 2008) para a realização da análise descritiva e de
variância dos efeitos de volume de leite produzido, época do ano e as
interações entre época e volume sobre o σ de ECS e tCBT. O delineamento
utilizado foi o de blocos casualizados, em que as fazendas foram consideradas
blocos. Utilizou-se um nível de 5% de probabilidade. Quando constatada
diferença significativa, aplicou-se o teste de Tukey (5%) para detecção de
diferenças entre as médias.
Foram desenvolvidos gráficos
de controle para todas as fazendas no estudo. Entretanto, para exemplificar o
uso potencial dos gráficos de controle para o monitoramento da qualidade do
leite, foram utilizados dados de quatro fazendas, designadas A, B, C e D, para
que fossem exemplificados os vários tipos de cenários possíveis. Estas
informações foram provenientes do mesmo banco de dados das 384 fazendas.
Consideraram-se, para o desenvolvimento de cada gráfico, as variáveis do estudo
(ECS e tCBT) e um mínimo de 15 amostras por fazenda. Os gráficos de controle
para medidas individuais foram escolhidos, uma vez que utilizam a amplitude
móvel de duas observações consecutivas para estimar a variabilidade do processo
(LUKAS et al., 2005). Foi utilizado o software Minitab 16 para o
desenvolvimento dos gráficos.
O gráfico de controle
representa o comportamento da variável de interesse ao longo do tempo. No
gráfico são traçadas três linhas horizontais, definidas como a linha média (X),
os limites superior e inferior de controle (LSC e LIC, respectivamente), ambos
distantes a três desvios padrão (3σ) da linha média. Os limites de controle
(LC) e a linha média são calculados a partir do histórico das informações.
Portanto, qualquer ponto que ultrapasse os LC, indicará que o processo está
fora de controle.
Foram aplicadas três regras
sensibilizantes para detecção de anormalidades nos gráficos de controle. As
regras foram: 1) um ou mais pontos localizados fora dos limites de controle
(3σ); 2) uma sequência de nove pontos consecutivos localizados em um mesmo lado
da linha central; 3) seis pontos em uma sequência sempre crescente ou
decrescente. O atendimento de pelo menos uma das três regras representou um
estado de fora de controle nos gráficos avaliados (LUKAS et al., 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve efeito significativo do volume de leite
produzido sobre a variação de ECS e tCBT ao longo do período analisado.
Entretanto, o efeito de época do ano sobre o sigma de ECS (p < 0,024) e de
tCBT (p < 0,0001) foi significativo conforme teste Tukey a 5% (Figura 1). As
maiores variações encontradas para escore de células somáticas no verão estão
relacionadas com os valores mais elevados de CCS observados neste período do
ano (ROMA JÚNIOR et al., 2009).
Os meses de verão relacionam-se com o aumento de
casos de novas infecções na glândula mamária, o que pode indicar a presença de
maiores quantidades de agentes infecciosos na superfície dos tetos (GUILLOUX,
CARDOSO & CORBELLINI, 2008). Nesse período do ano, caracterizado pelo
aumento do estresse térmico, há redução da resposta imune dos animais, tornando
as vacas mais susceptíveis às infecções na glândula mamária. Adicionalmente, o
efeito da redução do consumo de alimentos favorece a diminuição da imunidade do
animal, resultando em elevação da CCS (SILVA et al., 2010).
No presente estudo, a produção de leite não teve
efeito significativo sobre a variação de ECS e tCBT. Provavelmente, as fazendas
avaliadas, independente do tamanho, não possuíam um programa de controle de
mastite e, portanto, o efeito do volume sobre a variação de ECS foi
inconsistente. Nos trabalhos de Schukken
et al. (2003), Lukas et al.
(2005) e Lukas et al. (2008a) foi
verificado que rebanhos maiores produzem leite com mais qualidade e menor
variação quanto à contagem de células somáticas, sendo, assim, mais eficientes em adotar métodos de controle
da mastite.
Uma vez verificado que a época do ano foi a causa
de variação natural que afetou os resultados de ECS e tCBT no presente estudo,
procedeu-se ao desenvolvimento dos gráficos de controle de valores individuais
e de amplitude móvel (MR) em função de cada época do ano, para as quatro
fazendas avaliadas. Portanto, isolaram-se os efeitos de sazonalidade no estudo
dos gráficos.
Observou-se que o ECS da fazenda A, nos meses de
verão, apresentou os maiores limites de controle em relação às demais épocas do
ano (Figura 2a), principalmente devido à maior variação existente na contagem
de células somáticas observadas nos meses de janeiro a março (ROMA JÚNIOR et
al., 2009). Entretanto, a fazenda A manteve-se controlada durante todo o
período avaliado (Figura 2a), verificando-se, portanto, que processos que não
sofrem alterações, devido a fatores especiais de variação, são estáveis e
previsíveis dentro de limites (MONTGOMERY, 2004).
Processos controlados, como na fazenda A, podem ser
melhorados, uma vez que qualquer alteração intencionalmente empregada para
melhorar o processo (por exemplo: treinamento de ordenhadores) seria sinalizada
como uma causa especial de variação. No entanto, essa variação especial, que
seria indicada pelo gráfico de controle, não representaria um problema, mas,
sim, que o processo foi melhorado e a meta atingida (redução na CCS do tanque).
O gráfico de amplitude móvel (MR), utilizado para
monitorar a variabilidade do processo, usualmente é utilizado em conjunto com
os gráficos de controle (MONTGOMERY, 2004). O gráfico de MR da fazenda A não
indicou variação de ECS fora de controle ao longo do ano de 2009 (Figura 2a).
A fazenda B, por outro lado, apresentou maior
variação no ECS do que a fazenda A, já que seus LSC (limites superiores de
controle) foram maiores do que 1,0 (primavera e verão) nos gráficos de MR
(Figura 2b), indicando, portanto, a grande variação existente entre fazendas
com relação à presença de mastite nos rebanhos. Casos de mastite são observados
em animais com ECS superior a quatro (PAULA et al., 2004). Portanto, a maior
variação existente dentro da fazenda B no verão e na primavera levou a mesma ao
estado fora de controle, como indicado pelos gráficos. Processos que apresentam
causas especiais de variação são considerados fora de controle estatístico e,
portanto, representam aumento de custos (MONTGOMERY, 2004).
A ausência de controle observada na fazenda B é
função de causas especiais de variação atuando sobre a propriedade, já que dois
efeitos naturais foram isolados (sazonalidade e volume). Essas fontes de
variação especial, que levaram à queda na qualidade do leite da fazenda B,
podem ser representadas pela mastite, falta de rotina na ordenha, equipamento
de ordenha desregulado e falta de higiene. Portanto, de posse dessas
informações, o produtor poderia atuar sobre as possíveis causas que levaram à
redução na qualidade do leite naquele período.
As informações geradas através das cartas de controle
de CCS indicam a qualidade da rotina e do sistema de ordenha, do manejo da cama
e da secagem das vacas (RENEAU & LUKAS, 2006). Além disso, o monitoramento
da CCS de tanques, pelos gráficos de controle, permite identificar corretamente
alterações na prevalência de mastite subclínica (LUKAS et al., 2005). E outras
palavras, a aplicação dos gráficos de controle dentro da fazenda permite o
monitoramento da CCS do rebanho.
Os gráficos de controle, entretanto, devem ser
avaliados com cautela, uma vez que uma causa natural de variação (sazonalidade
ou produção de leite) pode ser interpretada como uma alteração real no
processo. Ou seja, uma fazenda com reduzida produção, pode ser penalizada em
função do leite de um animal com CCS elevada, sendo esse animal o fator que
contribuiu com a elevação da CCS do tanque (LUKAS et al., 2008). No entanto, há
uma variação natural naquela fazenda em função da baixa produção, isto é, para
essa fazenda, a amplitude de variação seria alta devido à contribuição que uma
vaca doente teria na qualidade do leite do tanque.
Na avaliação da tCBT como variável dos gráficos de
controle, verificou-se que algumas fazendas apresentaram estabilidade em manter
um padrão microbiológico ao longo do ano, independente da época (Figura 3a). A
fazenda C manteve-se controlada durante todo o período, sofrendo maiores
alterações em seus limites de controle principalmente no verão e na primavera.
Maiores variações na contagem bacteriana total são verificadas nos meses
quentes e úmidos (PANTOJA et al., 2009; ROMA JÚNIOR et al., 2009), como
observado nas fazendas C e D (Figura 3).
Os gráficos de
controle de tCBT, no entanto, também podem sinalizar quando variações não
naturais estão presentes no sistema de refrigeração e armazenamento do leite,
como é observado na fazenda D (Figura 3b). O gráfico de controle de valores
individuais e de MR da fazenda D indicaram a presença de fontes de variação
especial atuando sobre a qualidade do leite nos meses de verão e primavera
(Figura 3b). Para que um processo seja considerado sob controle estatístico, o
mesmo, além de não apresentar um ponto fora dos limites de controle (regra 1),
também deve distribuir-se aleatoriamente, tanto acima quanto abaixo da linha
central (MONTGOMERY, 2004). Portanto, a regra 2 indicada na Figura 3b está
relacionada aos dados que apresentaram um padrão de comportamento
não-aleatório.
O padrão não
aleatório pode não ser necessariamente uma variação especial na contagem
bacteriana, uma vez que essa regra sensibilizante dos gráficos de controle
(regra 2) foi inicialmente desenvolvida para processos industriais (MONTGOMERY,
2004). Portanto, é necessária a adaptação dessas regras aos processos
biológicos.
As fontes de
variação especial atuantes sobre a contagem bacteriana estão relacionadas
principalmente a deficiências na refrigeração e armazenamento do leite, a
problemas de limpeza de equipamentos (método, detergentes, qualidade e
temperatura da água) e a falhas na higiene da ordenha (GUERREIRO et al., 2005; BERRY
et al., 2006). Sendo assim, a presença desses fatores pode ser sinalizada pelos
gráficos de controle, permitindo, consequentemente, que ações preventivas sejam
realizadas antes que ocorra o decréscimo na qualidade do leite produzido.
Fatores
relacionados à conservação da amostra (uso correto do conservante, temperatura
e tempo de armazenamento), por outro lado, podem afetar os resultados de CBT (CASSOLI
et al., 2010) e interferir na interpretação dos gráficos de controle. Martins et al. (2009) relataram que
amostras armazenadas a 25°C apresentaram maiores contagens bacterianas em
relação às amostras armazenadas a 5°C.
Esses fatores representam causas especiais de variação no sistema de
coleta de amostras, representando, então, um desvio na geração de informações,
durante o monitoramento da contagem bacteriana ao nível de fazenda.
Outras ferramentas empregadas pelo controle
estatístico de processos complementam as informações transmitidas pelos
gráficos de controle. Os índices de capacidade, por exemplo, são índices que
podem identificar fazendas aptas a atender um determinado padrão de qualidade
(NIZA-RIBEIRO et al., 2004). Portanto, a aplicação do CEP no monitoramento dos
setores da fazenda (nutrição, cria, reprodução e ordenha) permite ao produtor,
ou à indústria, identificar fatores responsáveis pela queda na qualidade do
leite.
CONCLUSÃO
O conhecimento
das causas naturais de variação em rebanhos leiteiros permite que sejam
identificadas alterações indesejáveis no processo de ordenha, como problemas de
refrigeração do leite e sanidade no rebanho. A aplicação de gráficos de controle
dentro da fazenda é uma ferramenta adicional, que permite às indústrias e aos
técnicos monitorarem a qualidade do leite produzido. Para a aplicação desse
tipo de ferramenta, as pessoas envolvidas devem seguir a filosofia de melhoria
contínua e adotar uma postura pró-ativa, uma vez que os gráficos de controle
sinalizam quando uma instabilidade está para ocorrer e/ ou já ocorreu.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de
Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio financeiro por
meio do processo nº. 2009/02977-6 (Mestrado).
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