Este estudo foi desenvolvido com o intuito de avaliar densidades de estocagem alevinagem de tilápia nilótica (Oreochromis niloticus)
realizado em tanques-rede, durante 43 dias. Utilizaram-se quinze
tanques-rede de 0,18 m³, instalados em viveiro com 80% de troca diária
da água. As densidades testadas foram: 700, 1.000 e 1.300 alevinos/m³
com peso médio inicial de 4,77 ± 0,29 g. Avaliaram-se as seguintes
variáveis de desempenho produtivo: sobrevivência; peso final;
comprimento final; biomassa final; conversão alimentar aparente; ganho
de peso; ganho de peso diário; taxa de eficiência proteica; taxa de
crescimento específico e fator de condição. Utilizou-se análise de
variância para avaliação dos resultados e quando significativo
aplicou-se teste Tukey a 5%. O tratamento com maior densidade de
estocagem diferiu significativamente (p<0,05) do tratamento com
menor densidade em relação ao peso final, biomassa final, ganho de
peso, ganho de peso diário e taxa de crescimento específico. As demais
variáveis não apresentaram diferenças significativas entre os
tratamentos (p>0,05). Concluiu-se que, nestas condições
experimentais, as melhores densidades de estocagem na segunda
alevinagem em tanques-rede são de 700 a 1.000 alevinos/m³.
PALAVRAS-CHAVES: Desempenho produtivo, gaiolas, Oreochromis niloticus, sistema intensivo.
INTRODUÇÃO
A tilápia-do-nilo (
Oreochromis niloticus)
destaca-se por apresentar rápido crescimento, alta prolificidade e
grande capacidade de filtrar partículas do plâncton. Tolera condições
ambientais adversas, como baixo oxigênio dissolvido (1,0 mg/L), sendo
que, em viveiros de recria, alevinos pesando entre 10 e 25 g podem
suportar concentrações de oxigênio dissolvido entre 0,4 e 0,7 mg/L por
três a cinco horas e quatro manhãs seguidas (KUBITZA, 2000); suportam
ainda altos níveis de amônia não ionizada (2,4 a 3,4 mg/L) e pH entre
cinco e onze (WATANABE
et al., 2003).
Uma importante fase da criação de peixes é a segunda alevinagem, que
tem como objetivo aumentar o peso dos alevinos de 2,0 g para 20 ou 30
g, garantindo, assim, maior sobrevivência, por estarem mais fortes e
resistentes (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994; CASACA & TOMAZELLI
JR., 2001).
Segundo MAEDA
et al. (2006),
trabalhos científicos desenvolvidos especificamente sobre tecnologia de
segunda alevinagem são importantes, porque se trata de uma fase a ser
incorporada no pacote tecnológico fornecido ao setor produtivo. Para
GALVÃO (2008), ao adotar a técnica da segunda alevinagem, animais com
6,0 cm, o produtor pode reduzir consideravelmente o custo de produção.
De acordo com ONO & KUBITZA (1999) e CYRINO
et al.
(2002), tanques-rede caracterizam-se por ser estrutura de baixo custo e
de fácil implantação em comparação com outras modalidades de produção,
pois possibilitam o aproveitamento de represas, lagos e outros corpos
hídricos já existentes. Apresentam algumas vantagens, como menor
investimento inicial, e possibilitam controle na alimentação e manejo
dos peixes, quando comparado a outros sistemas.
Em contrapartida, oferecem algumas desvantagens, como risco de
rompimento da tela ou rede e consequente perda dos animais,
impossibilidade de instalação em águas de baixa qualidade e dependência
de ração completa e enriquecida (WATANABE
et al., 2003). Além da possibilidade de manifestação de doenças, em virtude de maior estresse (BARCELLOS
et al., 2004).
Segundo ONO & KUBITZA (1999), os peixes confinados apresentam
acesso restrito ao alimento natural disponível no ambiente. Assim, a
ração utilizada no cultivo em tanques-rede deve ser nutricionalmente
completa, suprindo todas as necessidades dos peixes em nutrientes.
FURUYA
et al. (2000)
consideraram que ração com 30% de proteína digestível (equivalente a
32% de PB) atende às exigências de alevinos de tilápia-do-nilo.
Ainda são poucos os trabalhos científicos relacionados à tecnologia de
segunda alevinagem, especialmente em tanques-rede. Com isso, este
trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar densidades de
estocagem para a obtenção do alevino de tilápia-do-nilo, em gaiolas.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada no Setor de Piscicultura do Departamento de
Produção Animal da Escola de Veterinária da Universidade Federal de
Goiás, no período de 17 de novembro a 29 de dezembro de 2003,
totalizando 43 dias.
Utilizaram-se 2.700 alevinos de tilápia-do-nilo, revertidos para macho,
com peso médio inicial de 4,77 ± 0,29 g e comprimento médio inicial de
5,19 ± 0,54 cm. A biometria foi realizada apenas no início e no final
do experimento, por amostragem, evitando, assim, estresse dos peixes.
As pesagens foram realizadas em pool. No início, pesaram-se onze lotes
antes da distribuição dos alevinos nas unidades experimentais, sendo
que cada lote possuía dez alevinos escolhidos ao acaso. Ao final da
pesquisa, foram pesados dez lotes, cada um com cinco animais,
perfazendo uma amostra de cinquenta peixes de cada tanque-rede.
O arraçoamento foi com ração comercial extrusada, fornecida pela Rações VB,
ad libitum,
três vezes ao dia (8:00, 12:00 e 16:00 horas). Procedeu-se à análise
bromatológica da ração fornecida, no Laboratório de Nutrição Animal da
Universidade Federal de Goiás, encontrando-se as seguintes composições:
36% PB; 3,5%EE; 12,8% MM; 2,0%Ca; 1,0%P e 2,0 mm de diâmetro.
As unidades experimentais foram constituídas por quinze tanques-rede,
de malha multifilamento de cinco milímetros e 180 L de volume útil
(0,60 × 0,60 × 0,50 m = 0,18 m3), instalados em viveiro coberto com
tela antipássaro, com 360 m² e 1,5 m de profundidade e submetido à
vazão de abastecimento de cinco litros por segundo (proporcional à
troca de 80% de água por dia). Manteve-se espaçamento entre eles de
aproximadamente um metro. Cada tanque-rede era dotado de comedouro
circular, com tela de um milímetro, para evitar perda de ração. Os
peixes foram distribuídos aleatoriamente nos seguintes tratamentos:
700 alevinos/m³ (126/tanque-rede); 1.000 alevinos/m³ (180/tanque-rede);
1.300 alevinos/m³ (234/tanque-rede).
Os seguintes parâmetros físicos-químicos de qualidade de água foram
aferidos semanalmente com kit de análise química de água comercial da
marca Alfakit: oxigênio dissolvido; pH; amônia tóxica; nitrito,
alcalinidade, transparência e diariamente a temperatura, com termômetro
de bulbo de mercúrio.
Estudaram-se as seguintes características de desempenho: peso final;
ganho de peso; ganho de peso diário (ganho de peso/duração em dias da
pesquisa); biomassa inicial e final; conversão alimentar aparente
(consumo de ração/ganho em biomassa); sobrevivência; crescimento; taxa
de eficiência proteica [ganho em biomassa/(consumo de ração x % de
proteína)]; taxa de crescimento específico [(log peso final –
log peso inicial/duração em dias da pesquisa) e fator de condição [peso final/(comprimento final)³] x 100.
Ao final do experimento constatou-se que um tanque-rede apresentava
furos na malha, o que possibilitou a fuga de vários alevinos. Esse
tanque-rede foi considerado parcela perdida, ficando o experimento com
quatorze unidades experimentais.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado,
com três tratamentos e cinco repetições. Submeteram-se os resultados à
análise de variância, sendo complementados pelo teste de comparação de
médias Tukey a 5% (BANZATTO & KRONKA, 1995).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As médias da temperatura da água, pela manhã à a tarde, foram
respectivamente de 26,9±2,39ºC e 29,9±3,34ºC, aproximando-se do
conforto térmico para tilápia-do-nilo. O teor de oxigênio dissolvido
manteve-se em níveis adequados para a produção de tilápias (KUBITZA,
2000), mas decresceu ao longo do experimento, chegando a 3,3 mg/L no
último dia.
Os níveis de pH (6,5 a 7,0), amônia tóxica (0,0 a 0,003 mg/L), nitrito
(0,0 mg/L – valor não detectado pelo kit) e alcalinidade (26 a 46 mg/L)
ficaram dentro dos valores recomendados por KUBITZA (1999) e WATANABE
et al. (2003) e semelhantes aos obtidos por AYROZA
et al. (2000). A transparência da água foi de 65 cm, provavelmente em virtude da alta vazão de água adotada para o viveiro.
Os resultados obtidos para os parâmetros de desempenho produtivo estão expressos na
Tabela 1.
O comprimento final não foi afetado pelos tratamentos, mas houve apenas
tendência de redução com o aumento da densidade de estocagem,
possivelmente por causa da competição por espaço e piora da qualidade
da água no interior de cada tanque-rede. MAEDA (2004) e MAEDA
et al. (2006) observaram resultados semelhantes.
Encontrou-se diferença estatística entre os tratamentos para peso
final. O tratamento intermediário foi estatisticamente semelhante ao
que apresentava maior e menor densidade, porém estes mostraram-se
estatisticamente diferentes entre si. Houve redução no peso final com o
aumento da densidade de estocagem, possivelmente pelos mesmos motivos
comentados anteriormente, concordando com MAEDA (2004) e MAEDA
et al. (2006).
A biomassa final do tratamento intermediário foi estatisticamente
semelhante aos que apresentavam maior e menor densidade, que, por outro
lado, diferenciaram entre si. MAEDA (2004) não encontrou diferenças de
biomassa entre as densidades, apenas tendência de aumento acompanhando
o aumento da densidade. Já MAEDA
et al.
(2006) verificaram que o tratamento com menor densidade de estocagem
apresentou biomassa final significativamente menor que os outros dois
tratamentos, e também observaram tendência de aumento com o incremento
da densidade.
Os valores de conversão alimentar aparente (CAa) não diferiram
estatisticamente entre si e estão próximos dos recomendados por ONO
& KUBITZA (1999) para tilápia em tanque-rede (1,4 a 1,8), sendo bem
menores do que os encontrados por HUCHETTE & BEVERIDGE (2003)
(3,18), para tilápias alimentadas com ração e estocadas na densidade de
600 g/m³ em tanque-rede.
No entanto, MAEDA (2004) e MAEDA
et al.
(2006) observaram índices menores do que os deste estudo e não
encontraram diferenças significativas entre as três densidades
estudadas. Os altos índices encontrados neste estudo podem ser
atribuídos à maior perda eventual de ração para fora dos tanques-rede.
O fato de a CAa, em alguns casos, ser menor nas altas densidades de
estocagem pode ser reflexo do efeito de grupo, isto é, algumas espécies
apresentam melhor ingestão e aproveitamento de alimentos quando
estocadas em altas densidades, em virtude da redução das agressões e da
competitividade da população confinada (CARACIOLO
et al.,
2000). Segundo WALLACE & Kolbeinshaun (1988), quando o alimento não
é limitante e a densidade de estocagem é alta, o surgimento de
hierarquias na população pode ser reduzido.
Quanto ao ganho de peso e ganho de peso diário, os tratamentos com
menor densidade e com maior densidade foram estatisticamente
diferentes, sendo semelhantes ao tratamento intermediário. Com o
aumento da densidade de estocagem, o ganho de peso e o ganho de peso
diário diminuíram, provavelmente em função do aumento da concorrência
pelo alimento, concordando com SILVA
et al. (1994) e BARCELLOS
et al. (2004), mas discordando dos experimentos de MAEDA (2004) e MAEDA
et al.
(2006), em que não foram observadas diferenças entre as densidades,
possivelmente por não terem atingido as lotações máximas da segunda
alevinagem, respectivamente, nos sistemas intensivo tradicional e
raceway, este último por causa da alta mortalidade.
Não se encontraram diferenças significativas entre os tratamentos para
a taxa de eficiência proteica. Valores superiores foram encontrados
também por MAEDA (2004) e MAEDA
et al. (2006), respectivamente, 2,61 a 2,65 e 1,80 a 2,23, utilizando a mesma ração deste estudo (36%PB), e por FURUYA
et al. (2000), 2,49, em tanques submetidos à troca total de água em 16,6 h.
Em relação à taxa de crescimento específico, o tratamento intermediário
foi estatisticamente semelhante ao de maior e menor densidade e estes
se diferenciaram entre si. Estes valores foram bem superiores ao
encontrado por HUCHETTE & BEVERIDGE (2003) (0,88 %/dia). Em
pesquisas desenvolvidas no mesmo Setor, não se verificaram diferenças
entre os tratamentos, sendo os dados de MAEDA (2004) superiores e MAEDA
et al. (2006) inferiores aos
deste estudo. Nos três experimentos, observou-se queda da taxa de
crescimento específico com o aumento da densidade de estocagem.
Os valores do fator de condição foram estatisticamente semelhantes entre si e próximos aos obtidos por SOLIMAN
et al.
(2000a), utilizando ração com 36% de PB e ligeiramente melhores do que
os obtidos por SOLIMAN (2000b). Nos experimentos de MAEDA (2004) e
MAEDA
et al. (2006), os dados foram estatisticamente semelhantes e próximos aos obtidos neste experimento.
CONCLUSÕES
Nas condições experimentais explicitadas para segunda alevinagem em
tanques-rede, as densidades de estocagem estudadas mostraram-se no
limite de suporte, já que os valores dos parâmetros produtivos
apresentaram tendência de piora com o aumento da densidade, apesar de
permanecerem dentro de limites aceitáveis. Conclui-se, portanto, que as
melhores densidades para a segunda alevinagem podem ser de 700 a 1.000
alevinos/m3.
AGRADECIMENTOS
Às Rações VB, pelo fornecimento das rações experimentais, e ao CNPq, pelo fornecimento das bolsas de estudo.
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Protocolado em: 6 ago. 2007. Aceito em: 11 maio 2010.