NOTA CIENTÍFICA
AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA
DO SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO DE
Panthera tigris
Wesley Antunes
Meireles1, Renato Rezende Bergqvist1, André Veiga Conrado1,
Mauricio de Rosa Trotta1, Carlos Eduardo Ambrósio2
RESUMO
Os
felinos silvestres compreendem um dos grupos sob grande risco de extinção. Este estudo descreveu a morfologia dos órgãos
reprodutivos de um tigre (Panthera tigris) macho, adulto, cujo óbito
ocorreu em procedimento cirúrgico. Fragmentos do escroto, testículos,
epidídimos, ductos deferentes e pênis foram coletados para análise macroscópica
e microscópica. Histologicamente, os órgãos reprodutivos foram semelhantes aos
de outros felinos. Houve simetria testicular antimérica com o índice
gonadossomático de 0,04%, sendo os diâmetros dos túbulos seminíferos e ductos
epididimários semelhantes ao descrito em felinos silvestres. A uretra peniana
com diâmetro de 1,73mm mostrou-se mais calibrosa. O pênis apresentou papilas
cornificadas na glande, sendo as demais características anatômicas semelhantes
a outras espécies felinas.
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MORPHOLOGICAL
EVALUATION OF THE MALE REPRODUCTIVE SYSTEM OF TIGER (Panthera tigris)
ABSTRACT
The wild felines comprise
one of the animal groups under the greates risk of extinction. This case report
aimed to describe the morphology of the reproductive organs of a male, adult
tiger (Panthera tigris) that died during a surgical procedure. Fragments
from scrotum, testis, epididymis, ductus deferens and penis were collected to
macroscopic and microscopic analyses. Histologically, the reproductive organs
were similar to other felines. The testis showed lateral asymmetry, with
gonadosomatic index as 0.04, and the diameters presented by the seminiferous
tubules and epididymal ducts were similar to those described for other species
of wild felines. The penile urethra presented diameter of 1.73 mm and high
caliber. The penis showed cornified papillae on the glans and other anatomical
features described was similar to other felines.
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INTRODUÇÃO
Fragmentos do testículo, epidídimo, funículo espermático, pênis e pele do
escroto foram coletados e fixados em solução de formalina 10% durante 24 horas,
desidratados em soluções de concentrações crescentes de etanol, diafanizados com xilol, incluídos em
parafina. Em seguida foram seccionados em série com 5 mm de espessura
no micrótomo automático (Boeckeler Instruments®, Estados Unidos).
Foram preparadas quatro lâminas histológicas coradas com hematoxicilina/eosina.
Imagens foram capturadas (Microscópio de luz Olympus BX3 acoplado à câmera
AxioCam HCr com software de captura Axion Visio; Olympus®, Japão) e
analisadas (programa UTHSCSA-Image Tool
versão 3.00 para Windows) para realização das mensurações dos diâmetros dos
túbulos seminíferos, ductos epididimários e uretra, além da espessura do
epitélio seminífero.
Os testículos apresentaram
formato ovóide, sendo revestidos por uma túnica albugínea espessa (Figura 1A),
com diferença de peso entre os antímeros (Tabela 1), corroborando a descrição
de SCUDAMORE & MEREDITH (2001) da morfometria testicular de um tigre em
condições patológicas. A análise
macroscópica detectou, na glande, papilas cornificadas (Figura 1B), semelhantes
às dos gatos domésticos, cuja função é regulada por andrógenos para estimular a
ovulação induzida nas fêmeas (DIAGONE, 2009). O pênis do tigre pode ser
separado em base, corpo e glande, sendo que a base é composta por uma túnica
albugínea peniana espessa (Figura 1C), como descrito em outros animais
domésticos (DYCE et al.,
2004). Nos cortes transversais do órgão,
observou-se a presença de osso peniano, na porção distal do corpo cavernoso, e
também presença do corpo esponjoso e uretra peniana (Figura 1D).
O índice gonadossomático
(0,04%) encontrado foi maior do que nos Panthera leo (0,015%), descrito
por BARROS et al. (2006),
e inferior em relação ao dos Felis catus (0,08%), apontados por DIAGONE
(2009), mas semelhante à Panthera onca (0,05 ± 0,01%) dos achados por
COSTA et al. (2008).
Os pesos do epidídimo nos antímeros foram
semelhantes aos encontrados em leões de cativeiro (BARROS et al., 2006).
Na histologia, o escroto é revestido por pele
espessa, com epiderme queratinizada, derme rica em fibras de colágeno e
glândulas sebáceas associadas aos folículos pilosos (Figura 1E). A túnica
albugínea é espessa, principalmente na superfície dorsal dos testículos,
formando o mediastino, de onde partem septos fibrosos que definem os lóbulos
testiculares. O mediastino é a região onde está situada a rede testicular e
parte dos túbulos retos, semelhante ao encontrado em gatos domésticos (FRANÇA
& GODINHO, 2003). O parênquima epitelial é formado pelos túbulos
seminíferos no interior dos lóbulos, que estão arranjados de maneira enovelada.
O epitélio seminífero, situado sobre a lâmina basal, é constituído de células
de Sertoli e células da linhagem espermatogênicas, semelhante aos estudos com
leões (BARROS et al., 2006) e
onça pintada (COSTA et al.,
2008). Os ductos eferentes do epidídimo estão localizados logo após o
mediastino, ligando-se à rede testicular, forrados por células ciliadas com
função de deslocar o espermatozóide no sentido do ducto epididimário (Figura
1F).
Os ductos epididimários são
revestidos por epitélio pseudoestratificado prismático com estereocílios e
presença de espermatozóides no lume conforme descrito em outros felídeos
(DIAGONE, 2009). O ducto deferente possui túnica mucosa revestida por epitélio
pseudoestratificado com microvilosidades, túnica muscular com camadas, circular
interna, longitudinal externa e túnica adventícia rica em fibras elásticas,
vasos e nervos. O lume do ducto deferente do tigre estava repleto de
espermatozóides (Figura 1G). A glande do pênis esteve coberta por epitélio
estratificado pavimentoso, destituído de glândulas, uretra peniana circundada
pelo corpo esponjoso, enquanto o restante é envolto pelo corpo cavernoso
(Figura 1H).
Quanto à morfometria
testicular, os valores de diâmetros tubulares encontrados no tigre indicaram
resultados bem próximos aos de outros animais descritos (leões, 252,72 μm; onça
pintada 234 μm e gato doméstico 220 μm) e pertencentes à família dos felídeos
(FRANÇA & GODINHO, 2003; BARROS et
al., 2006; COSTA et al.,
2008). Esses valores corroboram a análise feita neste exemplar.
A espessura detectada no
epitélio seminífero (média de 77,19 μm) foi inferior à
de leões africanos (93,2 μm)
(BARROS et al., 2006) e gatos domésticos adultos (81 μm) (FRANÇA
& GODINHO, 2003), aproximando-se ao
valor encontrado na onça pintada (77 μm) (COSTA et al., 2008).
REFERÊNCIAS
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Protocolado em: 13 maio 2011. Aceito em: 04 dez. 2012.