Claucia
Aparecida Honorato1, Cleujosí da Silva Nunes2,
Elma Neide
Vasconcelos Martins Carrilho3, Gilberto Moraes3
RESUMO
------------------------------
EFFECT OF
PROCESSING OF DIETS WITH DIFFERENT LEVELS OF CARBOHYDRATES AND LIPIDS
ON BODY
COMPOSITION AND FATTY ACID COMPOSITION OF FILET OF Piaractus
mesopotamicus
ABSTRACT
The objective of
this study
was to evaluate the effect of extruded or pelletized diets on the condition factor, body composition
and
fatty acid composition of Piaractus
mesopotamicus. Eight isoproteic diets (
INTRODUÇÃO
O
pacu, Piaractus
mesopotamicus (Holmberg, 1887), é comercialmente interessante
devido à sua
adaptação ao cativeiro, tecnologia de reprodução conhecida, boa
aceitação de
ração e carne saborosa para consumo. Entretanto, o pacu é classificado
como
pescado gordo, pois sua composição corporal contém alto teor de
gordura, com
cerca de
O
excesso de gordura na
carcaça não é uma característica desejável, devendo-se manter níveis
que não
afetem as características organolépticas da carne e o rendimento de
filé, para
não comprometer o valor comercial do peixe (MEURER et al.,
2002). A fração lipídica dos peixes apresenta alto teor
em ácidos graxos insaturados (AGI), que a predispõem à rancidez
oxidativa. Os
ácidos graxos (AG) dos peixes de água doce são provenientes dos
nutrientes
ingeridos na dieta e das modificações fisiológicas (HUANG et al., 1998), pois algumas espécies
são capazes de alongar e dessaturar AG de cadeia curta em AG de cadeia
longa de
interesse nutricional, como os ácidos eicosapentaenóico (EPA) e o
docosahexaenóico (DHA) (BELL et al.,
1986).
Modificações
qualitativas e
quantitativas da ração podem alterar a composição corporal dos peixes
(AIURA
& CARVALHO, 2004; FUJIMOTO et al., 2007; VIEGAS et al., 2008),
assim como o
processamento das dietas, que disponibiliza nutrientes de formas
diferentes ao
melhorar a digestibilidade, levando à maior deposição de gordura na
carcaça do Piaractus mesopotamicus (HONORATO et
al., 2007).
Entre
os processamentos das
dietas mais utilizados na aquicultura estão a extrusão e a peletização,
os
quais propiciam modificações benéficas do amido cru, refletindo em
aumento no
aproveitamento nutricional das rações pelos peixes (HONORATO et al.,
2007).
Frente a esse cenário de processamento de dietas, as modificações e as
interações ocorridas entre os ingredientes durante o processamento da
dieta
podem refletir no aproveitamento alimentar.
Espécies
de peixes como Sparus aurata, Oncorhynchus
mykiss e Salmo solar apresentam
baixa capacidade
para aproveitar os amidos crus das dietas, quando se compara com o
amido cozido
ou gelatinizado, atribuindo a estes melhores coeficientes de
digestibilidade e
disponibilidade da energia das dietas (CHENG & HARDY, 2003; VENOU
et al.,
2003; YOUNG et al., 2006), podendo, dessa forma, alterar o metabolismo
lipídico
e até mesmo o perfil de AG dos peixes.
Este
estudo teve como
objetivo avaliar o efeito da extrusão e da peletização de dietas
contendo dois
níveis de carboidrato (40 e 50%) e dois níveis de lipídeo (4 e 8%)
sobre o
fator de condição, composição corporal e o perfil de ácidos graxos do
filé de Piaractus mesopotamicus.
MATERIAL E MÉTODOS
O
processamento de extrusão
foi realizado em equipamento Extrutec de rosca simples, com capacidade
nominal
de
Foram
utilizados 240 alevinos
de pacu com peso de 1,17 ±
Os
peixes foram alimentados
por 90 dias até a saciedade, duas vezes ao dia. Ao final desse período,
os
peixes passaram por jejum de 48 horas para o esvaziamento gástrico e,
logo
após, foram anestesiados (por meio de imersão em gelo). Os peixes foram
pesados
e medidos para-se avaliar o valor do intercepto da relação peso e
comprimento
(K) denominado Fator de condição(k) = peso /comprimentob,
sendo b obtido através da equação alométrica
da relação peso / comprimento (y = axb).
Posteriormente,
foram
coletados três exemplares de cada repetição para a composição corporal
e três
exemplares para as análises de perfil cromatográfico do filé.
No
início do ensaio de
crescimento, foram abatidos dez alevinos (não pertencentes aos
tratamentos) e,
ao final do período experimental, três exemplares de cada repetição,
que foram
usados para obtenção das amostras da determinação de composição
corporal. O
material foi previamente moído e seco em estufa de circulação de ar a 65oC
até peso constante. Na caracterização bromatológica da carcaça, foram
avaliados
os teores de matéria seca, proteína bruta, lipídeos (A.O.A.C., 2000) e
de
energia bruta.
Para
a analise de perfil
cromatográfico, os filés dos peixes foram retirados. As amostras de
filés de
pacu foram moídos e liofilizados (Savant Modulate - Freezer Dryer) para
determinação de lipídeos totais (LT) (BLIGH & DYER, 1959). A
transesterificação dos lipídeos dos filés foi obtida por processo de
metilação
(5509 da ISO, 1978).
Os
AG das dietas e dos filés
foram determinados por meio de cromatografia de gás (Shimadzu, modelo
GC –
14B), com detector de ionização de chama e coluna capilar de
polietilenoglicol
com dimensões de 30m ´
0,25mm, 0,25µm (Omegawax 250). O volume de injeção da
amostra foi 0,5 µL. O aquecimento da coluna seguiu a programação:
Os
resultados foram analisados
segundo um delineamento inteiramente casualizado (DIC), com oito
tratamentos em
esquema fatorial 2x2x2, constituído de dois níveis de carboidrato (40 e
50 %
CHO), dois níveis de lipídeo (4 e 8 % EE) e dois processamentos das
dietas
(peletização e extrusão), com três repetições. Os dados foram
analisados de
acordo com teste paramétrico ANOVA, seguido de pós-teste de Tukey,
admitindo-se
P<0,05 como nível de significância. O programa estatístico utilizado
para as
comparações das médias foi o Statistical Analysis System (SAS Intitule
Inc.,
version 6.12, 1999).
RESULTADOS
Os
valores médios de
composição corporal dos pacus após alimentação com diferentes dietas
não
apresentaram diferença (Tabela 2). Observou-se
desenvolvimento de composição
corporal dos peixes, uma vez que, numericamente, os teores de lipídeos
e
energia bruta corporais aumentaram quando comparados os dados do início
e os do
final do período de alimentação
As
variações impostas às
dietas e suas relações afetaram (P<0,01) o perfil de AG do filé de
pacu. A
interação entre níveis de lipídeos e níveis de carboidratos influenciou
(P<0,01) a quantidade de lipídeos totais (LT), somatória de AG n3 (ån3), AG monoinsaturados (AGM) e AG polinsaturados
(AGP). A
interação entre nível de carboidratos e processamento (P<0,01) foi
expressa
em AG ån3, AG ån6, AG saturados (AGS), AGM e AG
insaturados (AGI). Houve
interação (P<0,01) dos níveis de lipídeos e processamento em todas
as
variáveis do perfil de AG do filé (Tabela 3).
A
interação entre os níveis
de lipídeos e níveis de carboidratos revelou que o aumento de
carboidratos e o
aumento de lipídeos nas dietas levaram ao acréscimo de LT no filé. O
aumento de
lipídeo na dieta elevou a quantidade de AG
ån3 e AGP e diminuição nos AGS e AGM. O aumento de carboidrato
elevou as
médias de AGS e AGM, já nas dietas com alto lipídeo resultou em
elevação de AG ån3 e diminuição
de AGP (Tabela 4).
A
interação entre nível de
carboidratos e processamentos demonstrou que o aumento de carboidrato
elevou os
AG ån3, AG ån6 e AGI. As dietas extrusadas com alto nível
de carboidratos apresentaram maiores valores de AG ån3 e AGI. Os
maiores valores de AG ån6 foram observados para dietas
extrusadas
(Tabela 5).
A
interação entre níveis de
lipídeos e processamentos revelou que o aumento de lipídeo proporciona
elevação
de LT, AGS, AGM e AGP. As dietas extrusadas em comparação com as dietas
peletizadas apresentaram médias superiores de AGP e AGI e médias
inferiores de
AGM. Contudo, as dietas extrusadas com baixo lipídeo revelaram aumento
de LT e
AG ån6
e diminuição de AG ån3
e AGS e a dieta com alto nível de lipídeo aumentou de AG ån3 e
AGS e diminuíram AG ån6,
em comparação as dietas peletizadas (Tabela 5).
As
dietas peletizadas com 40%
de carboidrato resultaram na maior relação entre n3/n6
no filé de pacu, em comparação às dietas extrusadas. No entanto,
a dieta extrusada só mostrou aumento dessa relação nas dietas com alto
conteúdo
de lipídeo (8%) e carboidrato (50%). A relação n3/n6 aumentou conforme
o
aumento de carboidrato nas dietas extrusadas e diminuiu nas dietas
peletizadas
(Figura 2A e 2B).
DISCUSSÃO
Os
parâmetros de composição
corporal de pacu não diferiram entre os tratamentos. Alguns estudos
relatam que
a alimentação não altera a composição corporal de peixes, tais como Piaractus mesopotamicus (VIEGAS et al.,
2008), Colossoma macropomum
(MACEDO-VIEGAS & CONTRERAS-GUZMAN, 1998) e Rhamdia
quelen (MELO et al., 2002). De forma contrária, a quantidade
de proteína muscular de tilápia do Nilo foi alterada pela quantidade de
tanino
presente na alimentação (AIURA & CARVALHO, 2004).
O
nível de lipídeo e a
composição de AG do filé refletem a qualidade do produto que será
comercializado. Observou-se que o perfil de AG do filé de pacu foi
afetado pela
composição nutricional e pelo processamento da dieta.
RUNGRUANGSAK-TORRISSEN et
al. (2006) descrevem que a qualidade do músculo é um dos fatores
preponderantes
para a avaliação da qualidade nutricional da dieta.
Nas
dietas extrusadas, devido
à maior disponibilidade do amido que frequentemente é estocada na forma
de
gordura, observou-se aumento de lipídeos totais. O aumento de lipídeo
nas
dietas reflete em regulação do apetite e maior acúmulo de lipídeos na
carcaça
(YAMAMOTO et al., 2001). O aumento de carboidratos e de lipídeos na
dieta de Lates calcarifer reflete em aumento no
conteúdo de lipídeos na carcaça, o que, consequentemente, diminui a
qualidade
do produto final (CATACUTAN & COLOSO et al., 1997).
Como
os AG essenciais não são
sintetizados “de novo”, os AG incorporados nos tecidos representam seu
conteúdo
nos alimentos ingeridos (FRACALOSSI & LOVELL, 1995; JOBLING et al.,
1998),
mas alguns organismos podem fazer síntese de AG a partir de outros
nutrientes
como carboidratos e proteína, porém, necessitam da enzima dessaturase
que
insere insaturações entre os carbonos 3-4 e 6-7 da sua porção terminal
(ANDRADE
& CARMO, 2006). MARTINO & TAKAHASHI (2001), em estudo sobre Pseudoplatystoma coruscam, constataram
que essa espécie apresenta
as enzimas capazes de alongar e dessaturar AG, devido à composição de
ácidos
graxos da carcaça associada ao tipo de alimentação ofertada. O aumento
de AG
n-3 foi observado no fígado de Pseudoplatystoma
coruscam alimentados com dietas à base de óleo de soja, sugerindo
elongamento e desaturação (MARTINO et al., 2002).
Nas
dietas extrusadas, tanto
o aumento de lipídeo como de carboidratos foi benéfico por proporcionar
aumento
na quantidade de AGPI (n-3) no filé. As concentrações de AGPI n-3 na
carne de
peixes variam de acordo com a espécie e dependem especialmente da dieta
consumida pelo peixe. A maior concentração de AGI nos filés dos peixes
alimentados com dietas extrusadas pode ser reflexo da melhora da
digestibilidade da fração lipídica especialmente da farinha de peixe
(fonte de
n-3). O processo de extrusão afeta a composição dos ingredientes e
altera os
coeficientes de digestibilidade dos nutrientes para Oncorhynchus
mykiss, melhorando, em particular, o coeficiente de
digestibilidade do lipídeo (CHENG & HARDY, 2003).
Nutricionalmente, quanto maior o valor de AGP melhor é a
qualidade do
alimento. Diversos estudos vêm enfatizando que a relação entre n-3/n-6
fornece
indicações importantes, considerando que n-3 é benéfico à saúde humana,
enquanto n-6 não tem a mesma correlação (MAYSER et al., 1998; MARTINO
et al.,
2002; SUÁREZ-MAHECHA et al., 2002). A razão entre AG n3/n6 é variável
entre as
espécies de Brycon (matrinxã,
piraputanga e piracanjuba) e observa-se também diferença entre peixes
criados
em cativeiro e peixes de ambiente natural (MOREIRA et al., 2003).
DRUZIAN et
al. (2007) observaram para Cyprinus
carpio que a alimentação modifica a razão entre n-3/n-6. MOREIRA et
al.
(2003) observaram que piraputanga (Brycon
microlepis) no ambiente natural
apresentam relação n-3/n-6 maior que peixes criados em cativeiro.
A relação n-3/n-6 para os tratamentos foi inferior à
encontrada para
peixes de água doce, a qual varia entre
CONCLUSÃO
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