DOI: 10.5216/cab.v14i3.13476
INTOXICAÇÃO
NATURAL DE BOVINOS LEITEIROS POR Cestrum laevigatum
(SOLANACEAE) NO AGRESTE DE PERNAMBUCO – BRASIL
Luiz
Teles Coutinho1, Nivaldo de Azevêdo Costa1, Carla
Lopes de Mendonça1, José Augusto B. Afonso1,
Franklin Riet-Correa2, Antônio Flávio M. Dantas2
e Nivan Antônio Alves da Silva1
1Clínica de
Bovinos, Campus Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Garanhuns,
PE., Brasil - coutinholtc@gmail.com ou luiz.teles@oi.com,br
RESUMO
Este
trabalho teve por objetivo relatar um surto de intoxicação natural por Cestrum laevigatum em um rebanho leiteiro no Agreste do
Estado de Pernambuco. Foram resgatadas informações epidemiológicas e
clínicas. De um lote de 60 vacas, oito adoeceram e, dessas, quatro
vieram a óbito e duas foram necropsiadas onde fragmentos de sistema
nervoso central, fígado, vesícula biliar, baço e rim foram coletados
para análise histopatológica. Foram colhidas amostras de sangue para
realização de provas hematológicas e de bioquímica clínica. Os animais
apresentavam apatia, tremores musculares, diminuição do apetite,
desidratação em graus variados, comprometimento da dinâmica
reticuloruminal, além de fezes em quantidade reduzida, ressecadas com
presença de muco e estrias de sangue. Os exames laboratoriais revelaram
aumento da atividade sérica da aspartatoaminotransferase e da
gamaglutamiltransferase, além de hipoalbuminemia. Na necropsia
evidenciou-se fígado aumentado de volume e superfície de corte com
aspecto de noz-moscada além de áreas de hemorragias no coração,
traqueia, abomaso, baço, intestino e bexiga; na microscopia observou-se
necrose hepática centrolobular associada à hemorragia acentuada. Tais
achados caracterizaram o quadro de intoxicação por Cestrum
laevigatum e deram subsídios para adoção das medidas de controle e
prevenção.
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NATURAL POISONING OF DAIRY
CATTLE BY Cestrum laevigatum (SOLANACEAE) IN THE STATE
OF PERNAMBUCO - BRAZIL
ABSTRACT
The aim of the present study was
to report an outbreak of natural poisoning by Cestrum
laevigatum in dairy cattle in the “Agreste” region of Pernambuco
state, Brazil. Epidemiological and clinical data were collected. Among
a lot of 60 cows, eight became ill and four died. Two cows underwent
necropsy, during which fragments of the central nervous system, liver,
gall bladder, spleen and kidney were collected for histopathlogical
analysis. Blood samples were collected for hematological and
biochemical tests. The animals exhibited apathy, muscle tremors,
reduced appetite, different degrees of dehydration and compromised
reticulorumen dynamics as well as a small quantity of dry feces with
the presence of mucus and blood. The laboratory exams revealed an
increase in serum activity of aspartate aminotransferase and gamma
glutamyltransferase as well as hypoalbuminemia. The necropsy revealed
an enlarged liver and cutting surface with a nutmeg aspect as well as
areas of hemorrhaging in the heart, trachea, abomasum, spleen,
intestine and bladder. The microscopic analysis revealed centrilobular
hepatic necrosis associated to accentuated hemorrhaging. These findings
characterized poisoning by Cestrum laevigatum and led
to the adoption of control and prevention measures.
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INTRODUÇÃO
Cestrum laevigatum, arbusto pertencente à família das
Solanaceae, é uma das plantas tóxicas de maior importância no Brasil
(TOKARNIA et al. 2012) e, dentro do grupo das plantas que causam lesões
hepáticas, é considerada uma das mais tóxicas para os animais de
interesse zootécnico no Nordeste (HARAGUCHI, 2003; BARBOSA et al.,
2007). É popularmente conhecida como “coerana”, “dama da noite”,
“corana”, entre outros; encontra-se distribuída por muitas áreas das
regiões Sudeste, Centro-Oeste (sul de Goiás e Mato Grosso do Sul) e
Nordeste (litorais da Bahia, de Sergipe, Alagoas e Pernambuco)
(RIET-CORREA & MEDEIROS, 2001; SILVA et al., 2003; TOKARNIA et al.,
2012).
Sua
ingestão pelos bovinos está relacionada a condições de escassez de
forragens (fome), pois não tem boa palatabilidade, principalmente no
período de seca, quando essa planta se destaca na vegetação por
apresentar-se verde e com abundante massa folhear. Outra condição para
o consumo da planta é a superlotação da pastagem, que provoca
competição pelo alimento, facilitando a ingestão, inclusive daqueles
pouco palatáveis (AFONSO & SANTOS, 1995).
As
folhas são a principal parte ingerida da planta, contendo os princípios
tóxicos gitogenina e digitogenina (sapogeninas esteróides) e cestrumida
(substância amarga); entretanto, os bovinos também podem ingerir os
frutos e o caule (TOKARNIA et al., 2012). A dose tóxica da planta
fresca varia de 10 a 50 g/Kg de peso vivo, em casos de intoxicação
natural.
Os
sinais clínicos são evidenciados de 15 a 24 horas após a ingestão da
planta e caracterizam-se por apatia, anorexia, parada ou atonia do
rúmen, dorso arqueado, constipação e fezes ressecadas, untadas por muco
e, às vezes, com estrias de sangue. Podem-se observar, em alguns
animais, tremores musculares e sintomas nervosos como cambaleios,
excitação e agressividade, evoluindo para o decúbito e a morte que
ocorre entre seis e 48 horas após as primeiras manifestações clínicas
(TOKARNIA et al., 2012). À necropsia, observa-se fígado com aspecto de
noz-moscada (DÖBEREINER et al., 1969; TOKARNIA et al., 2012) e na
avaliação histopatológica acentuada, distrofia do órgão, revelada pela
necrose centrolobular (TOKARNIA et al., 2012).
São
escassos os relatos na literatura referentes à intoxicação natural de
bovinos leiteiros por essa planta, particularmente sob a forma de
surto, na região do Agreste de Pernambuco, onde se encontra a bacia
leiteira do estado, bem como na região Nordeste como um todo,
restringindo-se apenas a pontuais comunicações pessoais e, sobretudo,
de algum caso isolado. Em função da importância econômica que a
atividade leiteira representa para essa região e dos prejuízos
econômicos acarretados por esse tipo de intoxicação, este trabalho teve
por objetivo relatar um surto de intoxicação natural, por Cestrum
laevigatum, ocorrido em rebanho leiteiro no Agreste do Estado de
Pernambuco.
MATERIAL E MÉTODOS
As
informações epidemiológicas e clínicas do rebanho acometido foram
resgatadas quando da ida à propriedade rural localizada no município de
Garanhuns, que fica na região do Agreste do Estado de Pernambuco, área
de transição entre a região da Zona da Mata e o Sertão. O lote de
animais em que ocorreu o problema era mantido em sistema de criação
semi-intensivo, composto por 60 vacas com idade variando de três a seis
anos, mestiças (Holandesa x Gir), que se encontravam em fase de
lactação. Desse total, oito animais (bovinos 1 a 8) adoeceram, dos
quais quatro vieram a óbito (bovinos 1 a 4). Em dois animais (bovinos 3
e 4) foi realizada a necropsia, na Clínica de Bovinos, Campus
Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); sendo o
bovino 3 transportado da fazenda logo após o óbito, enquanto o bovino 4
foi avaliado clinicamente na propriedade e posteriormente encaminhado à
clínica, devido à gravidade do quadro, vindo a morrer dois dias depois.
Amostras
de sangue em EDTA a 10% e sem anticoagulante foram colhidas de cinco
animais (bovinos 4 a 8) para a realização das provas hematológicas e
bioquímica clínica, respectivamente, e interpretadas de acordo com
LUMSDEN et al. (1980) e KANEKO et al. (2008). Foram avaliadas as
concentrações séricas de proteínas totais, albumina e globulinas e as
atividades séricas da aspartatoaminotransferase (AST) e da
gamaglutamiltransferase (GGT), empregando-se reagentes comerciais
(Labtest Diagnostica).
Na
necropsia (bovinos 3 e 4), amostras de sistema nervoso central, fígado,
vesícula biliar, baço e rim foram coletadas, fixadas em solução
tamponada de formol a 10%, incluídas em parafina e coradas pela
Hematoxilina e Eosina (HE) para análise histopatológica no setor de
Anatomia Patológica da Universidade Federal de Campina Grande, Campus
Patos, Paraíba.
RESULTADOS
O
surto da intoxicação por Cestrum laevigatum ocorreu em
período de estiagem (seca) na região, durante o mês de dezembro;
entretanto, os animais, a despeito dessa condição climática,
apresentavam bom estado de condição corporal (Figura 1A).
Os
animais não eram da região, tendo sido adquiridos cinco meses antes do
sertão do Estado de Alagoas, onde, sabidamente, não há registro da
presença da planta. O proprietário relatou que os animais já existentes
na propriedade – “animais nativos” – não apresentaram casos da
intoxicação, mesmo tendo acesso a pastagem onde, segundo as
informações, existia boa quantidade da planta (Cestrum
laevigatum).
No
sistema de produção semi-intensivo em que eram mantidos, os animais
recebiam dieta no cocho, duas vezes ao dia, à base de silagem de milho,
capim elefante in natura triturado, ração balanceada
comercial e sal mineral. Após as ordenhas (manhã e tarde) e de
receberem a dieta supracitada, os animais eram colocados em área de
pastagem em que a escassez de forragem, sobretudo verde e de qualidade,
era evidente. Nessa área havia presença de grande quantidade da planta (Cestrum laevigatum) com sinais evidentes de ter sido
ingerida (Figuras 1B e 1C).
Na
ocasião da visita à propriedade, o responsável queixou-se que os
animais (bovinos 1 a 8) apresentavam apetite diminuído, apatia,
tremores musculares, fezes com presença de muco, micção frequente,
decúbito e taxa de morbidade de 13,3% do rebanho. Dos animais doentes,
quatro vieram a óbito (bovinos 1 a 4) com evolução de 12 a 48 horas
após início dos sinais clínicos, correspondendo à taxa de letalidade de
50%.
Passados
três dias, o proprietário relatou que o bovino 8 mostrou-se agressivo a
ponto de ficar dois dias sem ser ordenhado, pois não se conseguia
conduzi-lo ao centro de ordenha. Ainda segundo ele, decorridos quatro a
cinco dias, esse animal mostrou plena recuperação.
Os
sinais clínicos mais evidentes nos bovinos 4, 5, 6, 7 e 8 foram
tremores musculares, hipostótomo, apatia, moderada desidratação (5% a
8%), comprometimento em número e intensidade da atividade
retículo-ruminal, fezes em pouca quantidade, ressecadas e com muco.
Além desses sinais, o bovino 4 apresentou acentuada desidratação com
secura do plano naso-labial e redução da sensibilidade cutânea,
sobretudo dos membros posteriores, e o bovino 5 apresentou também
moderada diminuição do tônus da língua. Os demais parâmetros vitais,
como pulsação, temperatura, frequência respiratória e cardíaca,
encontravam-se dentro dos limites de normalidade para a espécie.
Os
resultados do hemograma e da bioquímica clínica encontram-se nos Quadros 1 e 2,
revelando elevação nos valores das proteínas totais, globulina, AST e
GGT e uma baixa relação albumina/globulina. Os achados macroscópicos,
de maior significância, observados na necropsia dos bovinos 3 e 4 foram
a hepatomegalia e o aspecto de noz-moscada na superfície de corte do
fígado (Figuras 2A e 2B), além de áreas
hemorrágicas no coração, traqueia, abomaso, baço, bexiga e intestino
delgado e grosso (Figuras 3A a 3C).
Microscopicamente, observou-se necrose hepática centrolobular associada
à hemorragia acentuada. Circundando as áreas de necrose, havia alguns
hepatócitos com citoplasma levemente vacuolizado, além de discreta e
aleatória necrose individual de hepatócitos. Em algumas áreas, a
necrose se estendeu à região mediozonal e, muitas vezes, se confluiam
para as outras áreas centrolobulares, formando pontes. Nas áreas
adjacentes às áreas de necrose e na região periportal havia também
grande quantidade de glóbulos hialinos de tamanhos variados no interior
do citoplasma de hepatócitos (Fig. 4A e 4B).
Diante
dos achados clínico-laboratoriais, epidemiológicos e necroscópicos,
estabeleceu-se o diagnóstico presuntivo de intoxicação por Cestrum
laevigatum, que se confirmou pelo exame histopatológico. De
imediato, medidas preventivas foram estabelecidas como evitar o acesso
dos animais à área onde existia a planta e, a curto prazo, eliminação
da mesma, arrancando-a ou mediante aplicação de herbicidas.
Em
função de se tratar de um processo que acarreta grave insuficiência
hepática, recomendou-se, para os animais (bovinos 5, 6, 7 e 8) que
apresentavam sintomatologia clínica da enfermidade, a utilização de
medicação de suporte (soluções de glicose, cálcio e vitaminas do
complexo B) durante três a cinco dias. Esses animais apresentaram
clinicamente recuperação satisfatória do quadro, após 5 a 7 dias de
instituída a terapia.
DISCUSSÃO
Embora
as condições epidemiológicas em que o surto da intoxicação ocorreu não
englobem todas aquelas descritas por TOKARNIA et al. (2012),
principalmente no que se refere ao estado de fome, uma vez que os
animais acometidos apresentavam-se em boas condições corporais, são
justificadas pela escassez de forragem de qualidade (sobretudo verde)
em função da época do ano (mês de dezembro), que era de estiagem.
Outro
fator que contribuiu para a ingestão da planta e o desenvolvimento da
doença foi o manejo de colocar os animais numa área onde a vegetação de
destaque era a Cestrum laevigatum, associado ao fato
de os animais não terem contato prévio com a planta, pois foram
adquiridos há poucos meses do sertão de Alagoas, região que sabidamente
não é habitat para a planta. Consequentemente, o desconhecimento
facilitou a ingestão, além de paralelamente existir uma menor
resistência individual dos animais desse lote em relação ao restante do
rebanho já existente na propriedade, que não ingeriam a planta
(TOKARNIA et al., 2012). Condição semelhante foi relatada por FURLAN et
al. (2008), que descreveram um surto de intoxicação natural por Cestrum intermedium em que os animais acometidos tinham
sido mantidos, por dois meses, em piquete onde havia a planta.
Os
sinais clínicos do surto evidenciados nos animais (bovinos 4 a 8) foram
condizentes com os descritos por TOKARNIA et al. (2012), que relataram
a ocorrência de sintomatologia nervosa, também observada neste
trabalho, caracterizada por agressividade em um dos animais (bovino 8).
Segundo RIET-CORREA et al. (1998), RIET- CORREA et al. (2002), SANTOS
et al. (2008) e TOKARNIA et al. (2012), tal manifestação clínica pode
estar associada à hiperamonemia, devido à falência do ciclo da ureia,
secundário ao comprometimento hepático, que ocorre nos casos de
intoxicação por Cestrum laevigatum, conforme
verificado pelas alterações marcantes da atividade enzimática (AST e
GGT), assim como no comprometimento da
capacidade de síntese do órgão caracterizada por hipoalbuminemia. Esses
dados também são condizentes com os resultados obtidos por VAN DER LUGT
et al. (1992), que observaram elevação nos valores da atividade da GGT
e AST, quando induziram a intoxicação em ovinos.
Apesar
da hepatotoxidade da planta caracterizada neste surto, não foi
evidenciada alteração hematológica nem na concentração do fibrinogênio
plasmático, estando essas variáveis situadas na faixa de normalidade
para a espécie (KRAMER, 2000). Esse achado também foi mencionado por
AFONSO & SANTOS (1995), que intoxicaram experimentalmente bovinos
com Cestrum sendtenrianum.
Os
sinais clínicos descritos neste trabalho assemelham-se aos observados
por FURLAN et al. (2008) e BANDARRA et al. (2009), quando da
intoxicação natural por C. intermedium, e por CATTANI
et al. (2004) na intoxicação experimental por Dodonea
viscosa; entretanto, RISSI et al. (2007) relataram a ocorrência de
diarreia, desnutrição e decúbito na intoxicação por Cestrum
parqui.
O
diagnóstico presuntivo foi estabelecido em função dos achados clínicos,
da confirmação visual da planta em quantidade e com evidencias de
ingestão e, principalmente, das alterações observadas na necropsia
(lesões hemorrágicas em vários órgãos e fígado com superfície de corte
em aspecto de “noz-moscada”) e no exame histopatológico (necrose
centro-lobular associada à hemorragia acentuada), respaldados por
DÖBEREINER et al. (1969) e TOKARNIA et al. (2012), que relataram que
tais alterações são consideradas características de intoxicação por C. laevigatum.
Alterações
histopatológicas semelhantes às observadas neste trabalho foram
verificadas por VAN DER LUGT et al. (1991) e PEIXOTO et al. (2000) na
intoxicação experimental por C. laevigatum de bovinos
e caprinos, respectivamente, por BARBOSA et al. (2010) na intoxicação
natural de bubalinos por C. laevigatum, por TRAVERSO
et al. (2003), TRAVERSO et al. (2002) na intoxicação natural e
experimental de caprinos, respectivamente, por Trema
micrantha e por LORETTI et al. (1999) na intoxicação experimental
de ovinos por Xanthium cavanillesii. Essas alterações
também foram descritas em outras hepatopatias tóxicas de bovinos no
Brasil (SANTOS et al., 2008; LUCENA et al., 2010; TOKARNIA et al.,
2012), como na intoxicação por Pterodon emarginatus
(CRUZ et al., 2012; SANT´ANA et al., 2012), C. intermedium
(BANDARRA et al., 2009; WOUTERS et al., 2013), Xanthium
cavanillesii (COLODEL et al., 2000) e Cestrum
corymbosum (GAVA et al., 1991); de modo que devem ser consideradas
no diagnóstico diferencial, assim como a intoxicação por larvas de Perreyia flavipes (RAYMUNDO et al., 2009; TESSELE et al.,
2012).
Outros
achados relatados por DÖBEREINER et al. (1969) e TOKARNIA et al.
(2012), como edema e hemorragia na mucosa da vesícula biliar,
ressecamento do conteúdo do omaso e do intestino grosso, encontrando-se
sob forma de esferas envoltas por muco sanguinolento, não foram
observados neste estudo.
A
utilização de substâncias energéticas, como glicose e/ou antitóxicos
associados a soluções de cálcio e vitaminas do complexo B, conforme
descrito por TOKARNIA et al. (2012) e MELO (2006), foi recomendada como
terapia de suporte para os animais (bovinos 5, 6, 7 e 8) com sintomas
clínicos, sendo que os mesmos tiveram plena recuperação clínica. Esse
resultado pode ser justificado pelo fato de que, apesar da gravidade da
lesão hepática, a recuperação clínica pode ter sido estimulada pelo
tratamento, assim como a interrupção da ingestão do principio tóxico,
pela restrição do acesso a planta, impediu que os animais continuassem
se intoxicando (AFONSO & SANTOS, 1995).
O
histórico, o quadro clínico-laboratorial, os achados necroscópicos e,
fundamentalmente, a avaliação histopatológica foram subsídios seguros e
de crucial importância para o diagnóstico diferencial e conclusão do
caso, além de permitirem a orientação das medidas de controle e
profilaxia.
Este
trabalho ratifica a importância da intoxicação por Cestrum
laevigatum, em bovinos leiteiros, na região do Agreste do Estado de
Pernambuco, assim como em outras regiões do país, uma vez que é
responsável por consideráveis prejuízos econômicos, tendo em vista o
seu alto índice de mortalidade. Medidas preventivas devem ser adotadas
no sentido de se evitar o surgimento de condições epidemiológicas como
a relatada neste trabalho, minimizando, assim, os impactos dessa
enfermidade.
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Protocolado
em: 07 mar. 2011. Aceito em: 25 abr. 2013