PADRÃO BIOMÉTRICO DOS CAVALOS DE TRAÇÃO DA CIDADE DE PELOTAS NO RIO
GRANDE DO SUL
Cahuê Francisco Rosa Paz1, Julio César Paganela2, Douglas Pacheco Oliveira3, Lorena Soares Feijó4, Carlos Eduardo Wayne Nogueira5
RESUMO
Muitas
famílias utilizam carroça tracionada por equinos como seu meio de trabalho ou
suplementação da renda. Preocupando-se com a saúde desses animais, em Pelotas,
desde 2006, existe o Ambulatório Veterinário, que presta atendimento clínico
gratuito semanalmente aos cavalos de carroceiros. Os objetivos deste trabalho
foram avaliar e registrar os padrões biométricos de equinos de tração em
Pelotas. Foram avaliados 219 equinos, 129 fêmeas e 90 machos. Largura de peito
(LP), perímetro de canela (PC), perímetro torácico (PT), largura de garupa
(LG), altura do animal e peso (P) foram mensurados. Baseado nos valores
encontrados, foram calculados os índices de Compacidade 1 (ICC1= (P/AC)/100),
de compacidade 2 (ICC2=(P/[AC-1]/100) e de conformação (ICF=PT2/AC).
Os animais de ambos os sexos apresentaram as seguintes médias: AC - 1,38 ± 0,07
m; PC – 0,19 ± 0,02 cm; PT – 1,56 ± 0,10 m; LP – 0,26 ± 0,05 cm; LG – 0,22 ±
0,05 cm; peso – 308 ± 60 kg. Em relação aos índices ICC1, ICC2 e ICF, as médias
encontradas também para ambos os sexos foram, respectivamente, 2,30; 8,39;
1,82. Dessa forma, pelos índices obtidos, os cavalos avaliados foram
considerados em sua maioria como inadequados para tração de cargas pesadas e
com maior aptidão para tração de cargas leves ou uso como cavalos de sela.
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BIOMETRIC STANDARD OF TRACTION
HORSES IN PELOTAS, STATE OF RIO GRANDE DO SUL
ABSTRACT
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Em várias cidades brasileiras, muitas famílias
utilizam carroça tracionada por equinos como seu meio de sustento ou
complemento da renda. A sustentabilidade dessas pessoas depende diretamente da
saúde desses animais, pois, sem eles, torna-se mais difícil realizar longos
trajetos à procura de produtos recicláveis para a venda.
O equino é considerado proporcional se a
distribuição de peso entre as partes do corpo, observadas em conjunto, é
adequada à função a que ele se destina, como sela, esporte ou tração (COSTA et
al., 1998). Este trabalho teve como objetivo avaliar os padrões biométricos dos
equinos de tração para entender qual o perfil do cavalo de carroça existente na
cidade de Pelotas.
MATERIAL E MÉTODOS
Este experimento foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Experimentação Animal da Universidade Federal de Pelotas, com o código
número 9245. Avaliaram-se os equinos atendidos no Ambulatório Veterinário, da
Faculdade de Veterinária – UFPel, durante o período de janeiro de 2008 a
janeiro de 2010. Foram escolhidos 219 animais de forma aleatória, 129 fêmeas e
90 machos, sem raça definida, com idade e peso variáveis.
Foram realizadas mensurações biométricas,
avaliando-se os animais sobre superfície plana, sempre pelo lado esquerdo. Com
a utilização de uma fita métrica, as seguintes mensurações foram feitas: Largura
do peito (LA), por meio da distância entre as partes craniais do tubérculo
maior dos úmeros direito e esquerdo; Largura de garupa (LG), por meio da
distância da tuberosidade isquiática direita até a ponta da tuberosidade
isquiática esquerda; Perímetro da canela (PC), por meio da medida da
circunferência na região mediana da canela do membro anterior direito, formada
pelos ossos metacárpicos II, III e IV; Perímetro torácico (PT), através
da porção mais estreita do tórax, caudalmente à cernelha, na porção dorsal das
últimas vértebras torácicas e ventralmente no terço caudal do esterno. Com o
uso de uma fita de pesagem o Peso do animal (P) foi avaliado, por meio
da medida de circunferência aferida com fita métrica posicionada logo após o
final da cernelha, entre os processos espinhosos T8 e T9, passando pelo espaço
intercostal da 8ª e 9ª costelas, até a articulação da última costela com o
processo xifóide. Com o uso de um hipômetro, foi avaliada a Altura da
cernelha (AC), tomada do ponto mais alto da região interescapular, e sua
distância do solo.
Com base nessas mensurações foram avaliados os
Índices de Compacidade (TORRES et al., 1977). O Índice de Compacidade 1 (ICC1)
é baseado na relação do peso estimado dividido pela altura da cernelha,
dividindo-se o resultado por cem (ICC1= (P/AC)/100). O Índice de compacidade 2
(ICC2) corresponde ao peso estimado divido pela altura da cernelha subtraída do
valor 1, dividindo-se o resultado por cem (ICC2=(P/[AC-1]/100), enquanto que
o Índice de Conformação corresponde ao
perímetro torácico elevado ao quadrado e dividindo-se esse resultado pela
altura de cernelha (ICF=PT2/AC). Os três índices foram avaliados
para determinar a aptidão dos cavalos, categorizando-os em cavalos de sela (S),
aptos para tração leve (TL) ou tração pesada (TP), de acordo com o método de
TORRES et al. (1977). A análise dos dados foi realizada com base
na média dos valores de cada índice para avaliar a aptidão dos animais. Foi
realizada a distribuição de frequências para cada aptidão, considerando-se os
três índices isoladamente.
A Tabela 1 apresenta os resultados com suas
respectivas médias para cada medida aferida.
A partir das medidas de altura de cernelha, peso e
perímetro torácico, foram calculados três índices zootécnicos, propostos por
TORRES et al. (1977),
com intuito de avaliar a aptidão física dos equinos em relação a sua atividade.
A Tabela 2 apresenta as médias obtidas nos três índices avaliados (ICC1, ICC2 e
ICF) para machos, fêmeas e para o total de animais.
Na Tabela 3
estão demonstradas as distribuições de frequências para determinar a aptidão
dos animais, considerando-se os três índices de forma isolada.
DISCUSSÃO
Na literatura consultada, há estudos semelhantes
com equinos de raças de sela, como o de MCMANUS et al. (2005), que avaliaram
animais da raça Campeiro, tendo encontrado as seguintes médias, desconsiderando
o sexo dos animais: 1,44m de cernelha; 1,73m de perímetro torácico e
0,18cm de perímetro de canela. Na raça
pantaneira, a altura média para altura de cernelha foi de 1,42m nos machos e
1,37m nas fêmeas (MISERANI, 2002). Na raça mangalarga marchador, CABRAL et al.
(2004) encontraram os seguintes valores: altura de cernelha de 1,515m nos
machos e 1,516m nas fêmeas; perímetro torácico de 1,808m nos machos e de 1,757m
nas fêmeas; perímetro da canela de 0,197cm nos machos e de 0,190cm nas fêmeas. Todos os valores encontrados
pelos referidos autores enquadram-se nos padrões recomendados pelas respectivas
associações de criadores de cavalos. No presente estudo, os animais avaliados
podem ser considerados sem raça definida; entretanto, em virtude da região da
cidade de Pelotas ser pólo criatório de animais da raça Crioula, é possível
atribuir parte da origem genética dos animais aos equinos desta raça. Em
equinos da raça Crioula, as médias encontradas para altura de cernelha foram de
1,43m para machos e 1,42m para fêmeas, as médias em relação ao perímetro
torácico e perímetro de canela foram de 1,79m e 0,20cm, respectivamente (KURTZ
et al., 2007).
De acordo com PERALI et. al. (2001), a proteína e a
energia são os nutrientes básicos que controlam o crescimento, ou seja, a ingestão
de níveis adequados de proteína e energia proporciona ao animal taxas de
crescimento de acordo com o seu potencial genético. Os requerimentos de
proteína dietética pelos equinos estão relacionados com a necessidade de cada
categoria e com as quantidades, qualidade e digestibilidade da proteína. Para
LEWIS (2000), os problemas nutricionais podem iniciar desde antes do nascimento
até a maturidade. A égua mal alimentada vai retirar de seus depósitos os
nutrientes necessários ao desenvolvimento fetal. Ele vai ocorrer normalmente, a
não ser que as carências sejam crônicas e graves, o que estará evidente em seu
estado físico.
De acordo com RIBEIRO (1988), o cavalo é grande
quando ultrapassa 1,60m; médio, entre 1,50 e 1,60m; pequeno, entre 1,30 e
1,50m; e considerados pôneis e piquiras com menos de 1,30 m, sendo que tais
medidas são referentes à altura de cernelha. Com base no que verificado neste
estudo, os cavalos de carroça da cidade de Pelotas são de pequeno e médio
porte, com valores mensurados inferiores em relação aos encontrados nos equinos
da raça Crioula. Na maioria das vezes, o padrão alimentar dos animais de
carroceiros está aquém do necessário. Segundo LEWIS (2000), as deficiências
proteicas podem gerar um atraso no crescimento, além de um péssimo estado geral
do animal.
Em relação aos cálculos (TORRES et al., 1977) dos Índices de Compacidade (ICC
1 e 2) e Conformação (ICF), para o índice 1, os equinos de tração pesada devem
apresentar valores superiores a 3,15; valores próximos a 2,75 indicam animais
aptos para tração ligeira e próximos a 2,6 aptos para sela. Para o índice 2, os
valores são: maior que 9,5, entre 8 e 9,5, e entre 6 e 7,75, para equinos de
tração pesada, ligeira e sela, respectivamente. Em relação ao índice de
conformação, animais com valores abaixo ou igual a 2,1125, são animais não
aptos à tração e acima desse valor são animais aptos à tração. MENEGATTI et al.
(2010) utilizaram os mesmos índices para classificar biometricamente os equinos
de tração no município de Lages em Santa Catarina e concluíram que a maioria
dos cavalos são classificados como eumétricos, mediolíneo para longilíneo,
intermediários de tração ligeira ou de sela e considerados longe do chão. Da
mesma forma, em Pelotas, de acordo com os resultados encontrados para o ICC 2,
menos de 13% (28) dos cavalos aferidos têm aptidão para tração pesada, 61%
(133) têm aptidão para tração leve e 26% (58) não têm aptidão para tração. Em
relação ao ICF, os resultados obtidos demonstram que os animais não têm
parâmetros biométricos ideais para realizar atividades de tração às quais são
submetidos.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados encontrados, os cavalos de
carroça da cidade de Pelotas possuem medidas biométricas inadequadas para
tração de cargas pesadas e aptidão para tração de cargas leves e uso como
cavalo de sela.
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