AVALIAÇÕES
MORFOLÓGICAS DE LESÕES NAS EXTREMIDADES DISTAIS DOS MEMBROS DE BOVINOS
CLAUDICANTES
Luiz
Henrique
Silva1, Ingrid Rios Lima1, Ângela Moni Fonseca2,
Naida
Cristina Borges3, Maria Clorinda Soares Fioravanti4
1Pós-graduandos em Ciência Animal
pela Escola de
Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO –
luyzhenryque@hotmail.com
2Residente em Anestesiologia
Veterinária no Hospital
Veterinário da UFG, Goiânia, GO.
3Professoras Doutoras da Escola de Veterinária e Zootecnia da UFG, Goiânia, GO.
RESUMO
MORPHOLOGICAL
EVALUATIONS OF LESIONS IN
DISTAL LIMBS OF CROSSBREDS CATTLE WITH LAMENESS
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
Com o propósito de facilitar o estudo da claudicação nos
bovinos, FERREIRA et al. (2004), desenvolveram um sistema de avaliação
para
essa alteração da locomoção. Os critérios foram adaptados de WELLS et
al. (1993),
em que: escore 0 = postura normal com linha de dorso retilínea em
estação e
locomoção, passos firmes com distribuição correta do peso e apoios;
escore 1 =
postura normal em posição quadrupedal e ligeiramente arqueada em
locomoção,
apoios normais; escore 2 = postura arqueada em estação e locomoção,
ligeira
alteração dos passos; escore 3 = arqueamento do corpo em estação e
locomoção,
assimetria evidente do apoio poupando membros, com menor tempo de apoio
do(s)
membro(s) lesado(s); escore 4 = incapacidade de apoio ou de sustentação
do peso
do(s) membro(s) lesado(s) e relutância ou recusa em locomover-se. De acordo com
FERREIRA et al. (2004), a claudicação é evidenciada a partir do
escore
dois de locomoção, sendo que animais com escore um de locomoção, podem
apresentar desordens locomotoras.
Dentre as causas de claudicação, as enfermidades digitais
estão entre as mais importantes (SOUZA, 2001). Segundo SILVA et al.
(2001),
NICOLETTI (2004) e MOURA et al. (2010), dependendo da gravidade das
lesões
podais, a claudicação apresenta graus variados de intensidade.
Clinicamente, as
enfermidades digitais podem apresentar reações proliferativas,
infecciosas ou
ulcerativas localizadas nos cascos, espaço interdigital e borda
coronária,
sendo que a dermatite interdigital está presente em vários criatórios.
Existe uma variedade de lesões
digitais associadas à claudicação que estão relacionadas com a presença
de
agentes infecciosos (CLARKSON et al.,
1996). O estudo realizado por CRUZ et al. (2001), em rebanhos leiteiros
do Rio
Grande do Sul, comprovou a seguinte prevalência de lesões digitais
associadas a
claudicação: dermatite digital (29,9% ); úlcera de sola (18.3%);
dermatite
interdigital (17,8%); hiperplasia digital (10,4%) e flegmão
interdigital
(2,4%).
A
alta incidência de afecções podais que, ao se complicarem, disseminam a
infecção para estruturas internas dos dedos (EBEID & STEINER, 1996)
requerem, portanto, exame detalhado mediante emprego de técnicas
auxiliares de
diagnóstico como a histopatologia. O exame histopatológico aliado ao
clínico
poderá ser uma ferramenta importante no estabelecimento da etiologia da
doença,
bem como no prognóstico da mesma ao determinar a extensão dos tecidos
envolvidos.
Nos
trabalhos realizados por LEIST & RUDOLPH (1998) em vacas leiteiras
a forma
hiperplásica da dermatite digital se caracterizou morfologicamente por
perda do
epitélio e hiperqueratose, além de áreas de degeneração e presença de
fibrina.
No estrato espinhoso, foi evidenciada acantose e, no basal aumento, de
figuras
mitóticas com infiltração perivascular na derme.
Os aspectos morfológicos ainda são motivos de especulação. A
histopatologia das lesões do tipo proliferativa (papilomatosa) é
caracterizada
por um significativo espessamento da porção externa da epiderme com
acantose,
paraqueratose e hipertrofia das células epiteliais. Observa-se
degeneração dos
queratinócitos, dentro dos quais se pode notar presença de corpúsculos
de
inclusão intracitoplasmático eosinofílico (DOHERTY et al., 1998). BRITO
et al.
(2008) relataram que o aspecto histopatológico mais intrigante na
biópsia do
espaço interdigital de bovinos portadores de dermatite interdigital foi
à
nítida preponderância dos eosinófilos sobre os demais tipos de
polimorfonucleares.
Neste contexto, objetivou-se com este estudo determinar os
aspectos morfológicos dos dígitos de bovinos claudicantes,
classificando e
quantificando a ocorrência de alterações macroscópicas e
histopatológicas. Além
disso, procurou-se estabelecer correlação entre as variáveis
macroscopia-microscopia, claudicação-macroscopia e
claudicação-microscopia.
A avaliação clínica dos animais foi realizada nos momentos
da chegada ao confinamento e aos 112 dias, ocasião de saída para o
frigorífico.
Nesses momentos, caracterizou-se a claudicação como desordens
locomotoras. Na
definição do escore de locomoção, os bovinos foram observados adotando
os
critérios estabelecidos por FERREIRA et al. (2004). Assim, foram
monitorados
tanto em posição quadrupedal como durante a locomoção, mas sempre
percorrendo
uma linha reta em superfície plana. Em seguida, os animais foram
divididos em
três grupos: o primeiro grupo (GI), claudicação 2; o segundo grupo
(GII)
apresentava grau 3 de claudicação e terceiro grupo (GIII) composto por
animais
que apresentavam grau 4 de claudicação.
O abate dos animais foi realizado em frigorífico sob
Inspeção Federal, sendo acompanhado pelos pesquisadores para a colheita
de
todas as extremidades distais dos membros locomotores, resultando em 72
membros
a serem avaliados. Para a colheita, os membros foram desarticulados
entre as
junções carpometacárpica e tarso-metatársica, separados e identificados
de
acordo com o número da carcaça de cada animal. Na sequência, as
extremidades
foram encaminhadas à Escola de Veterinária (EV) da UFG para
classificação das
lesões podais existentes. Os membros foram lavados com água e sabão e,
quando
necessário, realizou-se escovação digital para auxiliar na remoção de
sujidades.
Após a preparação das peças, procedeu-se à classificação das
lesões externas de acordo com as recomendações de SILVA et al. (2001) e
NICOLETTI (2004). Adotou-se a denominação de lesão associada quando se
constatou a presença de sinais clínicos compatíveis com mais de uma
enfermidade
digital na mesma extremidade. A severidade das lesões foi qualificada
em três
escores de acordo com as estruturas anatômicas envolvidas, como os
cascos,
espaço interdigital, borda coronária e cório laminar. Assim, as lesões
foram
classificadas em leves, moderadas e severas quando apresentavam
comprometimento, respectivamente, de uma, duas e três ou mais
estruturas anatômicas.
Para a análise histopatológica foram colhidas amostras do
tecido interdigital de cada animal para o exame a ser realizado no
Setor de
Patologia da EV-UFG. Foram obtidas duas amostras de tecido mole, por
dígito, do
espaço interdigita,l sendo uma amostra coletada na porção interdigital
dorsal,
próxima à parede do casco, e a outra da porção interdigital palmar ou
plantar,
próxima ao talão. Essas amostras apresentaram dimensões de
aproximadamente três
centímetros de largura por dois centímetros de profundidade. Dessa
forma foram
coletadas oito amostras por animal, totalizando 144.
O
material coletado foi fixado em solução tamponada de formol a 10%, por
24
horas. Após a fixação, os fragmentos foram recortados, transferidos
para
pequenos recipientes plásticos individuais e descalcificados em solução
de
ácido fórmico e ácido clorídrico por três horas. Na sequência, foram
lavados
com água corrente durante 24 horas e posteriormente deixados no álcool
70% por
mais 24 horas. As amostras foram desidratadas em álcool etílico em
série
crescente, desde álcool 70% até álcool absoluto. Em seguida, foram
realizadas
as clarificações com xilol e inclusão em parafina histológica (Histotec
pastilhas - Merck KgaA- Alemanha), com ponto de fusão a
Os dados obtidos quanto ao aspecto macroscópico, histológico
e grau de claudicação dos membros foram tabulados e apresentados sob a
forma de
distribuição de frequência. O teste do Qui-quadrado para independência
foi
aplicado na avaliação da ocorrência de associações entre claudicação
versus
lesão macroscópica, claudicação versus lesão microscópica e lesão
macroscópica
versus lesão microscópica. As análises foram realizadas com auxílio do
programa
SPSS, versão 15.0®, considerando a significância de 5%.
Dos 72 membros estudados 25 (34,7%) não apresentaram lesões macroscópicas, microscópicas ou lesões associadas (macro e microscópicas concomitantes). Apenas nove (12,5%) extremidades apresentaram lesão macroscópica isoladamente e em 20 (27,8%) foram observadas alterações microscópicas sem lesões macroscópicas. Lesões concomitantes (macro e microscópicas) ocorreram em 18 (25,0%) das extremidades avaliadas (Tabela 2).
De 27 (37,4%) membros portadores de lesões macroscópicas, os tipos de lesões e as frequências de ocorrência das mesmas estão descritas na Tabela 3.
Dos membros que apresentaram lesões
macroscópicas, 10 (13,8%) tinham pododermatite séptica (Tabela 3), seis
(8,3%)
erosão de talão (Tabela 3) e dois (2,7%) dermatite digital (Tabela 3). A
dermatite interdigital não apareceu isolada em nenhum membro, estava
sempre
associada com pododermatite séptica ou com erosão de talão e a
dermatite digital
apresentou associação em seis membros (Tabela 3). A erosão de talão acometeu
16,6% dos membros torácicos esquerdo, sendo a única lesão macroscópica
deste
membro (Tabela 3).
Na Tabela 4 estão dispostos os resultados do exame histopatológico. Foram colhidas amostras de tecido interdigital nas porções dorsal e palmar/plantar, não sendo observadas lesões microscópicas, respectivamente, em 40 (55,6%) e 44 (61,2%) das amostras nessas porções. A frequência de lesões associadas foi superior às isoladas de derme e epiderme tanto para as amostras colhidas na porção dorsal (36,1%) quanto na palmar/plantar (22,2%).
Na avaliação microscópica da derme, constatou-se ausência de lesões em 68,7% das amostras e em 31,3% verificou-se infiltrado inflamatório mononuclear. O infiltrado inflamatório mononuclear multifocal (Figura 1A) predominou (43,1%) em relação ao infiltrado dos tipos difuso (15,2%) e focal (4,2%). Nessa avaliação, três infiltrados inflamatórios do tipo focal eram leves e onze eram difusos e severos (Figura 1B).
As lesões microscópicas de epiderme observadas foram
espongiose, hiperqueratose, hiperplasia e acantose. Apenas dois (2,7%)
membros
apresentaram espongiose da camada basal e a hiperplasia ocorreu em 21
(43%)
extremidades. Observou-se acantose e hiperqueratose em 57 (39,6%)
amostras de
tecido interdigital. Essas lesões ocorreram de forma concomitante em
quase
todos os membros com lesões na epiderme.
As possíveis associações entre claudicação e lesões macroscópicas e microscópicas são apresentadas na Tabela 5. Alterações macroscópicas estiveram presentes em 77,8% dos membros, cujos bovinos apresentavam claudicação evidente (p<0,0001). Alterações microscópicas também foram identificadas em 88,9% dos membros de bovinos claudicantes (p=0,0011).
Analisando a associação entre ocorrência de lesão macroscópica e a presença de lesão microscópica (Tabela 6), verificou-se que as lesões macroscópicas estiveram presentes em 74% dos membros que apresentavam lesão microscópica (p=0,0272).
DISCUSSÃO
A avaliação do escore de locomoção realizada possibilitou a
identificação de diferentes graus de claudicação. Todos os bovinos avaliados
atingiram o escore de locomoção mínimo estabelecido por FERREIRA et al. (2004)
para serem considerados claudicantes. Todavia, essas alterações de marcha nem
sempre ocorreram associadas a lesões digitais aparentes, sugerindo que o
desconforto apresentado pelos animais pode ter origem também em estruturas
internas dos dígitos, justificando a escolha do exame histopatológico para
auxiliar no diagnóstico de possíveis alterações ocultas.
Os bovinos do presente estudo, quando chegaram ao
confinamento, já eram portadores de desordens na locomoção que culminava em
claudicação de diferentes graus. O período em que esses animais ficaram
confinados, período seco do ano, não colaborou com o agravamento das lesões
podais na maioria dos bovinos. Entretanto, observou-se que se tratava de lesões
antigas, que se originaram provavelmente no período chuvoso, e tal informação
vai de encontro aos resultados observados por LEÃO et al. (2009), que,
estudando os aspectos epidemiológicos da dermatite digital em duas propriedades
de exploração leiteira no Estado de Goiás, observou que os maiores índices da
doença ocorreram no período seco do ano, porém DEMIRKAN et al. (2000) afirmaram
que há evidências de correlação direta entre a quantidade de chuva e a
incidência de claudicação em gado de leite.
A apresentação variada dos escores de locomoção entre as
enfermidades digitais diagnosticadas pode estar relacionada à severidade das
lesões, manifestando escores mais graves quando houve comprometimento
secundário com a invasão de tecidos mais profundos. MARTINS et al. (2002) relataram
escores de locomoção 4 e 5 em bovinos com lesões de pododermatite séptica e
hiperplasia interdigital, apresentando comprometimento digital secundário e
deformação podal. MOLINA et al. (1999) ressaltaram que, em bovinos com lesões
podais discretas, pode ser difícil observar claudicação evidente e MOURA et al.
(2010) afirmaram que a cronificação das doenças digitais proporciona adaptações
na forma de caminhar, minimizando a claudicação.
Neste estudo a ocorrência de lesões podais foi observada em
animais com faixa etária de três a quatro anos. O mesmo foi encontrado por
BERGSTEN (1997) e LEÃO et al. (2009), que relataram que as enfermidades
digitais dos bovinos podem ser observadas em todas as faixas etárias.
As lesões macroscópicas foram observadas nesse estudo tanto
na região entre os talões como no espaço interdigital dorsal e palmar/plantar
(Tabela 3), ocorrendo predominantemente no membro pélvico direito. Os
resultados foram semelhantes aos descritos por SILVA et al. (2001), que
observaram maior ocorrência de lesões nos membros pélvicos do que nos torácicos
e maior ocorrência na faixa etária entre três e quatro anos.
Dentre as lesões podais, a dermatite digital ocorreu em 8,3%
dos membros de forma associada. Segundo MARTINS et al. (2002), as lesões de
dermatite digital são típicas de ambientes de confinamento, pois as condições
sanitárias deficientes de certos criatórios constituem fator predisponente
potente para o surgimento de outras enfermidades digitais, uma vez que
proporcionam condições favoráveis à presença e proliferação de agentes
infecciosos (CUNHA, 2001). No estudo em questão, considerando-se os fatores
envolvidos com as condições às quais os animais eram expostos e também as do
confinamento, acredita-se que as outras lesões macroscópicas observadas possam
ter advindo da dermatite digital.
Em 27 (37,4%) membros portadores de lesões macroscópicas, 10
(13,9%) foram de pododermatite séptica (Tabela 3). Corroborando com BLOWER et
al. (1994), essa lesão difere da dermatite interdigital devido à sua
localização, apresentando-se com uma tumefação úmida na pele do espaço
interdigital, acompanhada de claudicação. Independente da severidade dessa
lesão podal, sempre havia comprometimento de estrutura internas.
Os achados histopatológicos foram de grande importância para
o estudo, estando a metodologia empregada satisfatória para se alcançar os
objetivos propostos. O método de coloração não foi suficiente para definir a
presença de todos os possíveis agentes infecciosos, pois, segundo BLOWEY et al.
(1994) e AMSTEL et al. (1995), existem ocorrências de espiroquetas em lesões
podais, assim como fungos e bactérias, que, para identificá-las, é necessária a
utilização de colorações especiais.
Na derme observou-se presença de infiltrado inflamatório
predominantemente mononuclear (Figura 1A), associado à discreta presença de
eosinófilos. Esses achados estão de acordo com os descritos por MORAES (2001)
que, ao examinar a fase inicial da inflamação do espaço interdigital em fêmeas
bovinas girolandas, observou a presença de glóbulos de queratina, acantose,
espongiose e infiltrado inflamatório mononuclear, com tendência a formar
granulomas na derme.
Em 57 (39,6%) amostras de pele examinadas no presente
estudo, evidenciou-se um quadro de hiperqueratose associada com a acantose.
Esses achados são diferentes dos observados por BRITO et al. (2008) em dez
biópsias de inflamação interdigital de pododermatite na fase inicial, nas quais
a acantose foi observada em apenas 30% dos casos, enquanto a hiperqueratose
estava presente em somente 20% dos materiais examinados.
Segundo CARLTON & MAcGAVIN (1998), a espongiose
observada é resultado de um edema extracelular, onde se observa que à medida
que ocorre a expansão dos espaços intercelulares pelo acúmulo de líquido, a
epiderme assume uma aparência “esponjosa” e as uniões desmossômicas ficam
evidenciadas. Tais características foram observadas em membros que apresentavam
espongiose na camada granulosa.
Algumas características histopalógicas importantes das
lesões nos membros dos bovinos deste estudo foram o acentuado espessamento das
camadas da epiderme (hiperplasia), especialmente da camada espinhosa
(acantose), a espongiose multifocal moderada, caracterizada pela presença de espaços intercelulares com
alongamento das pontes intercelulares, a degeneração hidrópica, a
hiperqueratose e a presença de infiltrado inflamatório na derme. De acordo com
CARTON & MAcGAVIN (1998), a degeneração balonosa é resultado de uma
tumefação celular e posterior ruptura das células, havendo formação de microvesículas.
Observou-se que, à medida que o escore de claudicação
aumentava, as lesões microscópicas (hiperplasia, acantose, hiperqueratose e
espongiose) também aumentavam sua frequência de ocorrência e severidade. Sendo
que as lesões da epiderme foram mais frequentemente observadas nos membros
pélvicos no GI, GII e GIII, corroborando os resultados de SILVA et al. (2001).
Houve um predomínio do infiltrado inflamatório mononuclear,
distribuído difusamente na derme (Figura 1A/A’), representando 62,5% dos casos.
Em 43,1% das amostras observou-se infiltrado multifocal. O infiltrado
inflamatório mononuclear estava distribuído de forma intensa e difusa na derme
e apresentaram-se moderadamente distribuídas principalmente na região
perivascular.
Analisando
a associação entre ocorrência de claudicação e presença de lesão macroscópica
(Tabela 5), verificou-se que em 77,8% dos membros dos bovinos que apresentavam
claudicação evidente (p<0,0001) havia lesão macroscópica. Dessa forma,
infere-se que a claudicação esteve relacionada com a presença de enfermidade
podal, ainda que tenham ocorrido variações no grau de severidade das lesões.
MURRAY et al. (1996), em uma pesquisa empregando bovinos com enfermidades
digitais, observaram que 96% dos episódios de claudicação estavam relacionados
à ocorrência de lesões podais.
As
alterações microscópicas também foram identificadas em 88,9% dos membros de bovinos claudicantes (p=0,0011), confirmando a
existência de relação entre as variáveis (Tabela 6). Segundo HARGIS (1990), é frequente
a presença de inflamação perivascular, edema e inúmeros mastócitos e
eosinófilos em reações de hipersensibilidade e isso justificaria a presença de
lesões microscópicas independentes.
Mediante
as constatações, confirmou-se a relação entre ocorrência de claudicação, lesão
macroscópica e microscópica. Verificou-se que, com o surgimento das alterações
externas, inicia-se um processo inflamatório que varia de intensidade e
extensão de acordo com a agressão. Ainda, respostas celulares podem acontecer de
forma aguda em decorrência de quadros de hipersensibilidade, ocasionados
geralmente por fatores que não modificam a integridade dos tecidos
interdigitais macroscopicamente observados.
CONCLUSÃO
O confinamento em curto prazo
(112 dias) não interferiu no agravamento de lesões externas e do escore de
claudicação nos bovinos claudicantes avaliados.
As principais alterações
histológicas foram: hiperplasia, acantose, espongiose, hiperquetose e na derme
predomínio de infiltrado inflamatório mononuclear.
A ocorrência de lesões
microscópicas, sem alterações podais externas, podem ser devido a reações de
hipersensibilidade, provocadas por fatores externos ou internos sem
comprometimento da integridade dos tecidos macroscopicamente observados.
A pododermatite séptica foi a
enfermidade que mais frequentemente manifestou alterações macroscópicas, sendo
que essas foram verificadas predominantemente nos membros pélvicos.
AMSTEL,
S.R.V.; VUUREN, S.V.; TUTT, C.L.C. Digital dermatitis: report of an outbreak. Journal South African Veterinary
Association, Petroria, v.66, n.3, p. 177-81, 1995.
BERGSTEN,
C. Infectious diseases of the digits. In: GREENOUGH, P.R.; WEAVER, D.A. Lameness in Cattle. 3 ed. Philadelphia:
W.B. Saunders Company 1997, 100p.
BLOWEY,
R.W.; DONE, S.H.; COOLEY, W. Observations on the pathogenesis of digital
dermatitis in cattle. The
Veterinary Record: London, v. 135, p. 115-117,
1994.
BRITO,
L.A.B.; FIORAVANTI, M.C.S.; SILVA, L.A.F.; ARAÚJO, E.G. Estudo
anatomopatológico de lesões de dermatite digital em bovinos. Ciência Animal Brasileira, v.9, n.4,
2008.
CARLTON, W.W.; McGAVIN, M.D. Patologia Veterinária Especial de Thomson,
2 ed, Porto Alegre: Artmed, 1998, 59p.
CLARKSON,
M. J.; DOWNHAM, D. Y.; FAULL,W.B.;HUGHES, J.W.;MANSON, F. J.; MERRITT, J.B.;
MURRAY, R. D. ; RUSSELL,W.B.; SUTHERST, J. E.; WARD,WR. Incidence and prevalence
of lameness in dairy cattle. Veterinary
Record, Londres, n. 138, p. 563–567, 1996.
CRUZ, R.; GARCIA, D. ALVARADO-MORILLO,
M. JIMÉNEZ, U.; PINO,D. Estudio radiológico de lesiones podales en El bovino a
nível de campo. Archivos
Latinoamericanos de Produccion Animal, v.5, n.1, p.604-606, 2001.
CUNHA, P.H.J.; SILVA, L.A.F.; MESQUITA,
A.J.; BORGES, N.C.; FIORAVANTI, M.C.S.; MORAES, R.J.; SANTANA, A.P. Avaliação da estabilidade do cloridrato de
polihexametileno biguanida em pedilúvio para bovinos. Ciência Animal Brasileira, v.2, n.1, p.41-50, 2001.
DEMIRKAN,
I.; MURRAY, R.D.; CARTER, S.D. Skin diseases of the bovine digit associated
with lameness. Veterinary Bulletin, Fanhan
Royal, v. 70, n. 2, p. 149-171, 2000.
DOHERTY,
M.; BASSET, H.; MARKEY, B.; HEALY, A. M. Severe foot lameness in cattle
associated with invasive spirochaetes. Irish
Veterinary Journal, Dublin, v.51,
n.4, p.15-18, 1998.
EBEID,
M.; STEINER, A. Guidelines for taking and interpreting radiographs of the
bovine foot. Veterinary
Medicine, Philadelphia, v.91, n.3, p.268-272,
1996.
FERREIRA, P. M; LEITE, R. C; CARVALHO,
A. U; FACURY FILHO, E. J; SOUZA, R. C; FERREIRA, M. G. Custo e resultados do
tratamento de seqüelas de laminite bovina: relato de 112 casos em vacas em
lactação no sistema free-stall. Arquivo
Brasileiro de Medicina Vetrinária e Zootecnia, v.56, n.5, p.589-594, 2004.
HARGIS, A. Sistema tegumentar. In: THOMSON, R.G. Patologia Veterinária
especial. São Paulo: Manole, 1990. 77p.
LEÃO, M.A.; SILVA, L.A.F.; JAYME, V.S.;
SILVA, L.M.; MOURA. M.I.; BARBOSA, V.T. Aspectos Epidemiológicos da Dermatite
Digital Bovina em duas Propriedades Produtoras de Leite do Estado de Goiás,
Brasil. Ciência Animal Brasileira, v.10, n.4, p. 1135-1147, 2009.
LEIST,
G.; RUDOLPH, R. Digital dermatitis: a histopathological evaluation and some new
aspects in the pathogenesis of a multifactorial disease. Adapted from the
Proceeding, XIX World Buiatrics Congress, Edinburgh, Scotland: July 8-12, 1996.
The bovine
practitioner, n. 32; 1998.
MARTINS, C.F.; SARTI, E.; BUSATO, I.;
PIRES, P.P.; FIORI, C.H.; MOREIRA, C.; SOARES, K.; BETINI, B.; VELASQUEZ, M.
Prevalência e classificação das afecções podais em vacas lactantes na bacia
leiteira de Campo Grande (capital) e municípios arredores - MS. Ensaios e ciência, Campo Grande - MS,
v.6, n.2, p. 113-137, 2002.
MOLINA, L. R.; CARVALHO, A. U.; FACURY
FILHO, E. J.; FERREIRA, P. M., FERREIRA, V. C. P. Prevalência e classificação
das afecções podais em vacas lactantes na bacia leiteira de Belo Horizonte. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária
e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 51, n. 2, p. 149-52, 1999.
MOURA,
M.I.; GOULART, D.S; ORLANDO, C.F.P.; ARÃES FRANCO, L.G.; SILVA, O.C.; SILVA,
L.A.F. Dermatite Digital em Bovinos da
Raça Nelore: Avaliação do Ganho de Peso, Medidas Testiculares e Epididimárias,
no Pós-operatório das Lesões. Veterinária e Zootecnia,
v.17, n.2, p. 239-249, 2010.
MURRAY, R. D.; DOWNHAM, D. Y.; CLARKSON, M. J.
Epidemiology of lameness in dairy cattle; descripition and analysis of foot
lesions. Veterinary
Record, London, v. 138, n. 24, p. 586- 591,
1996.
NICOLETTI, J. L. M. Manual de podologia bovina. Barueri: Manole, 2004. 125p.
SILVA, L. A.
F.; SILVA, L. K.; ROMANI, A. F.; RABELO, R. E.; FIORAVANTI, M. C. S.; SOUZA, T.
M.; SILVA, C. A. Características clínicas e epidemiológicas das enfermidades
podais em vacas lactantes do município de Orizona – GO. Ciência Animal Brasileira. Goiânia, v.2, n.2, p. 119-126, 2001.
WELLS, S. J.; TRENT, A. M.; MARSH, W. E. Prevalence and severity of lameness in lactating dairy cows in sample of Minnesota and Wiscosin herds. Journal of American Veterinary Medicine Association, Pretroria, v.202, n.1, 1993.