PRODUÇÃO in
vitro DE EMBRIÕES
DE BOVINOS DA RAÇA NELORE ORIUNDOS DE OVÓCITOS DE OVÁRIOS COM E SEM
CORPO LÚTEO
Cristiano
Pereira Barbosa1, Gilson Hélio Toniollo2, Ednaldo
Carvalho Guimarães3
RESUMO
Comparou-se
a produção de embriões a partir de ovócitos oriundos de ovários com e
sem corpo
lúteo de vacas da raça Nelore, em relação à qualidade e quantidade de
ovócitos
obtidos, embriões produzidos, taxa de prenhez e proporção dos sexos.
Foram
realizadas aspirações foliculares dos dois ovários de 219 vacas em 250
seções,
igualmente distribuídas em cinco grupos, sendo G1=fêmeas gestantes;
G2=não
gestantes, com CL e submetidas a tratamento hormonal com
progestágeno+BE+PGF2µ;
G3=não gestantes, sem CL e com o mesmo tratamento de G2; G4=não
gestantes, com
presença de CL e sem tratamento; G5=não gestantes, sem presença de CL e
sem
tratamento. Os resultados foram avaliados pela análise de variância
(ANOVA) e
aplicado o Teste de Tukey para comparação entre médias, a 5% de
significância,
pelo programa SISVAR. Já para comparação de proporção de sexos dentro e
entre
os grupos, foi utilizado o teste de comparação múltipla de proporções.
O G4
produziu maior média de ovócitos totais aspirados que G2 e G3.
Comparando-se os
três grupos que apresentavam CL (G1, G2, G4), o G4 foi superior a G1 e
G2 em
ovócitos totais, no ovário com e sem CL. Em ovócitos viáveis, G2 foi
superior a
G1 no ovário com CL. Os ovócitos obtidos de ovários com CL é que
resultaram em
melhores índices de produção de embriões. As vacas gestantes produziram
melhor
nos ovários sem CL, com mais ovócitos viáveis (p<0,05) e iguais em
embriões
(p>0,05), em relação ao ovário com CL. As taxas de prenhez e
proporção dos
sexos foram semelhantes entre os grupos (p>0,05). A concentração de
progesterona (P4) foi diferente entre os grupos, mas não
influenciou
as variáveis analisadas. A utilização do tratamento hormonal não
melhorou os
resultados de nenhuma variável. Portanto, o melhor critério de escolha
de
doadoras Nelore para programas de Produção in
vitro (PIV) de embriões é o conhecimento individual de cada animal
ao longo
das seções de aspiração folicular.
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PALAVRAS-CHAVE: aspiração
folicular; progesterona
sérica; reprodução animal.
In vitro PRODUCTION OF NELORE BOVINE EMBRYOS
ORIGINATED FROM OOCYTES FROM OVARIES WITH AND WITHOUT CORPUS LUTEUM
ABSTRACT
This study aimed to compare
the quality and quantity of oocytes aspirated from ovaries containing
or not
corpus luteum (CL), the development of embryos, pregnancy rate and sex
ratio
among embryos after IVP in Nellore cows. Follicular aspirations were
performed
in both ovaries of 219 cows in 250 sections, and equally divided into
five
groups: G1 = pregnant, G2 = not pregnant, with CL and submitted to
hormonal
therapy with progestin+BE+PGF2µ; G3 = not pregnant, without CL
and with the same treatment of G2; G4 =
not pregnant, with the presence of CL and no treatment; G5 = not
pregnant,
without the presence of CL and no treatment. The statistical analysis
was
performed with analysis of variance (ANOVA) and Tukey Test was applied
to
compare means at 5% significance level, by SISVAR program. For the
comparison
of sex ratio within and between groups, the multiple comparison test of
proportions was used. The G4 produced higher mean of total aspirated
oocytes
than G2 and G3. Comparing the three groups with CL, G4 showed higher
number of
oocytes than G1 and G2 in both ovaries. The G2 presented more viable
oocytes
than G1 in the CL-containing ovary. The ovaries without CL showed
better
production in pregnant cows despite of viable oocytes (p<0.05), and
similar
embryo production (p>0.05) when compared with ovaries presenting CL.
Oocytes
obtained from ovaries with CL resulted in better rates of embryo
production.
Pregnancy rates and sex ratio were similar among groups (p>0.05).
The P4
concentration was different between groups, but it did not influence
any
variable. The use of hormonal treatment did not improve the results of
any
variable. Therefore,
choosing Nellore donors for IVP programs
depends on knowing each animal individually along the sections of OPU.
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KEYWORDS: animal reproduction;
follicular aspiration;
serum progesterone
INTRODUÇÃO
O
corpo lúteo (CL) é uma
glândula endócrina que se forma no ovário, após uma ovulação, e
contribui para
a regulação do ciclo estral e manutenção da gestação. A principal
função do CL
é secretar progesterona (P4) durante o ciclo estral bem como
durante
a gestação (SCHAMS & BERISHA, 2004).
No
trabalho de REIS et al.
(2006), as vacas com CL apresentaram melhor desempenho que as vacas sem
a
presença de CL em relação às seguintes variáveis: maior número de
ovócitos
coletados dos dois ovários, mais ovócitos de melhor qualidade, mais
zigotos que
clivaram, além de produzirem, em geral, maior número de embriões aos 7
dias
após a fecundação in vitro (FIV).
MACHATKOVÁ et al. (1996) concluíram que ocorre maior produção in vitro de embriões quando se utilizam
ovócitos aspirados durante o predomínio de CL no ciclo estral e,
segundo
MANJUNATHA et al. (2007), ocorrem maiores taxas de clivagem e de
embriões
transferíveis quando os ovócitos são provenientes de ovários onde o CL
está
ativo. Entretanto, MACHATKOVÁ et al. (2000) e MACHATKOVÁ et al. (2004)
sugeriram que os melhores resultados em todas as etapas da PIV eram
provenientes da aspiração de ovócitos durante a fase de crescimento
folicular,
com ausência de CL.
PFEIFER et al. (2009) verificaram que vacas tratadas
com implantes
de progesterona apresentaram aumento na disponibilidade de folículos na
punção
folicular, aumento na quantidade de ovócitos totais, na quantidade de
ovócitos
de melhor qualidade, na taxa de clivagem total e na produção de
blastocistos,
em relação às que não continham o implante. Entretanto,
RAMOS et al. (2010) não encontraram vantagens em sincronizar
a onda folicular de vacas doadoras para a OPU com implantes de P4
e
associação de benzoato de estradiol (BE), pois observaram que não há
melhorias
quanto ao número e à qualidade dos ovócitos recuperados ou ao número de
embriões produzidos in vitro.
Segundo
TAKUMA et al. (2007),
a presença de um CL local no ovário não afetou a dinâmica folicular
após a
aspiração folicular e nem o desenvolvimento de competente complexo
cumulus-ovócito (COC) coletado. SUGULLE et al. (2008) concluíram que a
presença
de CL não influencia significativamente as taxas de clivagem e o
desenvolvimento dos blastocistos produzidos in
vitro.
MEINTJES
et al. (1995)
constataram que vacas gestantes podiam ser submetidas à técnica de
aspiração
folicular por via vaginal, durante o primeiro trimestre de gestação e
SAUVÉ
(1998), até o sexto mês de prenhez, sem que fosse notado qualquer
prejuízo à
gestação ou às vacas.
AVERY et al. (1991) e GUTIERREZ-ADÁN et al. (2001) descreveram que
as condições de cultivo dos embriões, associada à escolha de
blastocistos de
desenvolvimento mais avançado para a inovulação favoreciam os embriões
de sexo
masculino, por terem desenvolvimento mais rápido, em detrimento aos do
sexo
feminino.
Frente
às contradições da
literatura bem como dos trabalhos realizados a campo em programas de
PIV sobre
a importância do CL local e da progesterona sistêmica em doadoras de
ovócitos,
este trabalho objetivou verificar a influência da presença do corpo
lúteo local
bem como dos níveis séricos de progesterona circulante sobre a
quantidade e
qualidade de ovócitos aspirados por ovum
pick-up (OPU), a quantidade e qualidade dos embriões, as taxas de
concepção
à inovulação e a variação do sexo destes embriões, produzidos por
fecundação in vitro (FIV) em fêmeas bovinas da raça
Nelore doadoras de ovócitos, gestantes ou não gestantes, e com inserção
ou não
de implantes de progesterona.
Foram
realizadas 250 seções
de aspiração, ou seja, 500 ovários, sendo utilizadas 219 vacas, sendo
que em
198 foi feita apenas uma seção e em 21 vacas foram feitas 52 seções,
variando
de duas a quatro seções por vaca, com intevalo mínimo de 30 dias entre
elas. Os
animais foram distribuídos em cinco grupos sendo: G1= fêmeas gestantes;
G2=
fêmeas não gestantes, submetidas à controle hormonal à base de
progestágenos
subcutâneos auriculares e com presença de CL; G3= fêmeas não gestantes,
submetidas ao mesmo protocolo de G2 mas sem a presença de CL nos
ovários; G4=
fêmeas não gestantes, sem tratamento hormonal e com presença de CL nos
ovários;
G5= fêmeas não gestantes, sem tratamento hormonal e sem presença de CL
nos
ovários.
Foram
realizadas 50 seções de
aspiração por grupo. As idades variaram de dois a treze anos, e
padronizaram-se
as mesmas variações de idade em cada grupo. As vacas gestantes
apresentaram
média de 4,17 meses de gestação.
Os
ovócitos foram aspirados
pelo método de ovum pick-up (OPU),
pelo fórnix vaginal. O procedimento de aspiração folicular foi
realizado
utilizando-se equipamento de ultrassom Aloka SSD500, com transdutor
micro-convexo de 5MHZ, acoplado a guia de aspiração trans-vaginal, e as
aspirações foram realizadas com agulha hipodérmica descartável 20G
(Jelco Plus)
e sistema de aspiração Handle Cook. A pressão de vácuo/vazão foi
ajustada
previamente em 18mL /minuto.
As
etapas da PIV foram
realizadas no Laboratório Biovitro, em Uberaba, Minas Gerais. Para
evitar ao
máximo as variações na execução da pesquisa, a mesma equipe trabalhou
em todas
as etapas.
Os
grupos G2 e G3 foram
submetidos ao seguinte protocolo hormonal: Dia 0 = colocação de
implante de
progestágeno subcutâneo auricular (Crestar® Intervet) contendo 3mg de
Norgestomet; aplicação de 2mg (2mL) de Benzoato de Estradiol
intra-muscular
(IM) (Estrogin®, Farmavet) e aplicação de 0,5mg de cloprostenol sódico
(2mL de
PGF2µ
sintética, Ciosin® MSD) (IM); Dia 5 = retirada do implante de
progestágeno e
realização da OPU. Mesmo sem apresentar CL, os animais do G3 foram
submetidos à
aplicação de PGF2µ.
Nos
grupos G1, G2 e G4
realizou-se a separação dos ovócitos colhidos de cada ovário, para se
quantificar a produção por gônada com ou sem CL, sendo os ovócitos
maturados e
fecundados em placas diferentes para cada ovário.
Quinze
doadoras de cada grupo
(30%) foram escolhidas aleatoriamente para se realizar coleta de
sangue, via
punção venosa, no momento da aspiração folicular, para a dosagem sérica
de
progesterona. As amostras foram centrifugadas, o soro obtido foi
congelado a
-20,0°C e identificado quanto ao animal, grupo a que pertencia e data
da
coleta. O material congelado foi posteriormente analisado pelo método
de
quimioluminescência, com resultados registrados em nanogramas por
mililitro
(ng/mL).
O
material aspirado foi
imediatamente avaliado na própria fazenda, segundo DE LOOS et al.
(1991), para
contagem e seleção dos ovócitos viáveis (graus I, II e III), sendo
descartados
os de grau IV e desnudo.
Os
ovócitos eram maturados in vitro (MIV), em meios
convencionais,
segundo BAVISTER et al. (1992), durante 24h à temperatura de 38,5ºC e
atmosfera
de 5% de CO2 em ar.
A
fecundação in vitro (FIV) foi realizada após 24h de
MIV. O sêmen convencional congelado em palhetas de 0,25mL ou 0,5mL foi
preparado de acordo com PARRISH et al. (1986), sendo avaliado quanto à
concentração e motilidade espermática. A concentração final foi
ajustada para
25×106 espermatozóides móveis/mL com meio TALP-FIV sob óleo
mineral.
No entanto, nos grupos G1, G2 e G4, cada dose foi dividida entre as
placas com
ovócitos oriundos de cada ovário, com CL e sem CL, separadamente.
Após
a fecundação, os zigotos
foram submetidos ao cultivo em placas de 35 mm com 90 mL de meio
SOF, cobertos
com óleo mineral, atmosfera de 5% de CO2 em ar, sob umidade
saturada
e mantidos no interior da incubadora de cultivo à temperatura de 38,5°C,
durante sete dias (HOLM et al., 1999).
Os
embriões de sete dias
(blastocistos de grau I) foram envasados, individualmente, em palhetas
de
0,25mL em meio contendo PBS + 0,4% de BSA (Holding Embriocare®).
As receptoras utilizadas eram de raças
mestiças de zebuínos×taurinos, de fazendas inseridas nos programas do
laboratório de PIV, sendo todas tratadas com o mesmo protocolo, que
consistia
em: Dia 0 = colocação de implante de progestágeno subcutâneo auricular
(Crestar® Intervet) contendo 3mg de Norgestomet; aplicação de 2mg (2mL)
de
Benzoato de Estradiol (IM) (Estrogin®, Farmavet); Dia 5 = aplicação de
300UI de
eCG (Gonadotrofina Coriônica equina) (IM) (Folligon®, MSD); Dia 8 =
retirada do
implante de progestágeno e aplicação de 0,5mg de cloprostenol sódico
(2mL de
PGF2µ
sintética, Sincrocio® Ourofino) (IM); Dia 9 = aplicação de 1mg (1mL) de
Benzoato de Estradiol (IM); Dia 17 = inovulação do embrião.
A
inovulação foi feita pelo
método não-cirúrgico, no ápice do corno uterino ipsilateral ao ovário
com a
presença de CL. As aspirações foliculares nas vacas doadoras foram
feitas
sempre no dia 9 deste protocolo de receptoras e a fecundação in vitro dos ovócitos, no dia 10.
Trinta
dias após a fecundação
in vitro, ou seja, 23 dias após a
inovulação, foi feito o exame ultrassonográfico para diagnóstico de
gestação
nas receptoras. Trinta dias depois, as receptoras prenhes foram
novamente
avaliadas por ultrassonografia, para diagnóstico do sexo fetal.
Para
as análises
estatísticas, foi feita a análise de variância (ANOVA) e aplicado o
teste de
Tukey para comparação entre médias, a 5% de significância (SISVAR).
Para
comparação de proporção de sexos dentro e entre os grupos, foi
utilizado o
teste de comparação múltipla de proporções, utilizando-se o software R
(2008,
disponível em http://www.r-project.org/) (BIASE & FERREIRA, 2009).
Quando
se analisou
estatisticamente a produção de ovócitos aspirados, observou-se que o
grupo G4
apresentou maior média (p<0,05) do que os grupos G2 e G3, ficando os
grupos
G1 e G5 iguais a todos (Tabela 1).
Ao
se comparar a porcentagem
de ovócitos viáveis para serem maturados e fecundados, a taxa de
embriões
considerados viáveis para a inovulação, ou seja, embriões de grau I e a
taxa de
prenhez aos 30 dias de gestação, os grupos não apresentaram diferença
significativa (p>0,05).
Os
grupos G1, G2 e G4, que
apresentavam CL em um dos ovários, foram analisados para se verificar a
influência da presença local do CL sobre a produção dos ovários
separadamente.
O
grupo G4 produziu maior
número (p<0,05) de ovócitos recuperados nos ovários com e sem CL,
bem como
na somatória dos dois ovários, quando comparado com os grupos G1 e G2
(Tabela
2). Porém, quando se comparou dentro de cada grupo, os ovários com CL e
sem CL
forneceram quantidades iguais de ovócitos aspirados (p>0,05). A
presença de
CL em um dos ovários não propiciou diferença (p>0,05) na quantidade
de
ovócitos aspirados para cada grupo individualmente (16,94 vs
18,00).
Em
relação aos ovócitos
viáveis para a fecundação, os três grupos foram similares na produção
total; no
entanto, o G2 produziu maior porcentagem do ovário com a presença de CL
do que G1,
sendo G4 igual aos outros dois grupos. Ao se analisar dentro de cada
grupo
individualmente, apenas no G1 é que houve diferença entre os dois
ovários,
sendo que o ovário sem CL produziu mais ovócitos viáveis que o ovário
com CL
(Tabela
2).
Analisando-se
a porcentagem
de embriões grau I (de melhor qualidade) produzidos a partir dos
ovócitos
colocados para a fecundação, observou-se 3 que nesses três grupos a
presença de
CL em um dos ovários propiciou maior produção de embriões (40,93% vs 31,63%, p<0,05) (Tabela 3).
Analisando-se
os três grupos
em conjunto, observou-se que os ovários com CL produziram porcentagens
de
embriões similares entre os grupos (p>0,05), o que não ocorreu nos
ovários
sem CL, onde o G1 (37,42%) produziu maior porcentagem (p<0,05) de
embriões
do que G4 (25,80%), enquanto G2 (31,67%) produziu quantidades iguais
aos outros
dois grupos (p>0,05) (Tabela 3).
Avaliando-se
os grupos
individualmente, nos grupos G2 e G4 os ovários com CL (41,33% e 39,01%)
produziram mais embriões (p<0,05) do que os ovários sem CL (31,67% e
25,80%), mas no G1 não houve diferença entre os ovários com e sem CL
(p>0,05) (Tabela 3).
A
taxa de prenhez não variou
em nenhum grupo (p>0,05) e nem foi influenciada pela presença ou não
do CL
(Tabela 4).
Em
relação ao sexo dos fetos,
considerando-se a produção dos ovários com e sem CL, os grupos G1, G2 e
G4
(Tabela 5) não apresentaram diferenças na proporção de fetos do sexo
feminino e
masculino, tanto entre os grupos como dentro de cada grupo (p>0,05).
Quanto
à proporção do sexo
fetal avaliada neste trabalho, observou-se que a produção de fêmeas e
de machos
foi semelhante (p>0,05) tanto entre os cinco grupos como dentro dos
grupos,
com uma média de 52,35% de fêmeas e 47,65% de machos.
Os
grupos G3 e G5 que não
possuíam CL em nenhum dos ovários no dia da aspiração ou no dia da
colocação do
implante apresentaram algumas diferenças. Os animais do grupo G3 foram
estimulados com protocolo hormonal à base de progestágeno, mas mesmo
assim não
obtiveram maior concentração de P4 sérica (Tabela 7) e ainda
produziram menos ovócitos totais, representando menor recrutamento
folicular
(Tabela 6).
Para
a análise da
concentração sérica de P4, foram obtidos os dados de 30% dos
animais
de cada grupo, num total de 15 vacas, escolhidas aleatoriamente antes
das
coletas, a fim de identificar se houve influência dos níveis séricos de
progesterona sobre as variáveis analisadas neste trabalho (Tabela 7).
O
grupo G1, de vacas
gestantes, apresentou a maior concentração sérica de progesterona com
média de
18,47ng/mL. A média da idade gestacional dessas 15 vacas selecionadas
para
análise de P4 foi de 3,4 meses. O grupo G4, que se
caracterizou pela
presença de CL em vacas vazias e cíclicas, sem serem submetidas ao
protocolo de
sincronização de estro, apresentou a segunda maior concentração sérica
com
8,40ng/mL. Já os grupos G2, G3 e G5 apresentaram igualmente as menores
concentrações de P4, provavelmente devido à luteólise
promovida no
G2 e à ausência de CL no G3 e no G5. Mesmo se considerando as
diferentes concentrações
de progesterona entre os grupos, verificou-se que nestes animais
avaliados ela
não exerceu diferença em nenhuma das variáveis (Tabela 7).
DISCUSSÃO
Os
dados, então, discordam
dos achados por REIS et al. (2002), que encontraram em novilhas
Simental maior
número de ovócitos coletados (7,2±0,47 vs 5,7±0,44,
p<0,05), quando o CL está ativo no ovário, e também de REIS et al.
(2006),
que relataram a presença do CL em vacas Holstein Friesian como
fundamental para
melhorar as características avaliadas na PIV, em relação aos animais em
fase
folicular e sem o CL. Esses autores encontraram maior número de
ovócitos
coletados dos dois ovários (10,87±1,01 vs
7,05±0,91, p<0,001), maior porcentagem de ovócitos viáveis (62,28% vs 54,46%, p<0,05), mais zigotos que clivaram
(59,03% vs 45,52%, p<0,05) e maior
número de embriões aos 7 dias após a FIV (44,23% vs
31,48%, p<0,05), para os grupos com CL em relação aos sem CL,
respectivamente. MANJUNATHA et al. (2007) também encontraram, ao
trabalharem
com ovários oriundos de abatedouro, maiores taxas de clivagem (57,0% vs 43,6%, p<0,05) e de embriões
transferíveis (19,4% vs 8,8%,
p<0,05) a partir de ovários que continham CL, com ou sem folículo
dominante
(FD), em relação aos ovários sem CL e sem FD, respectivamente.
No
entanto, este trabalho
concorda com outros autores, quando dizem que o CL em um dos ovários
não foi
importante para as características de produção in vitro
de embriões, quando comparados com animais que não o
possuem. MACHATKOVÁ et al. (2000) encontraram mais ovócitos viáveis
(p<0,05)
em doadoras Holstein sem CL (8,0±0,6) do que nas doadoras com CL (3,3±0,5).
MACHATKOVÁ et al. (2004) relataram que os melhores ovócitos foram
obtidos de
ovários em que o CL ainda estava em formação, por volta do dia 3
pós-cio, não
sendo importante a presença de um CL funcional para melhorar a
qualidade
ovocitária. Eles encontraram taxas de produção de embriões de 30,3% e
14,9%
(p<0,01) em ovários sem e com CL, respectivamente. CHIAN et al.
(2002) não
encontraram diferença (p>0,05) em número de ovócitos coletados
totais (22,7
com CL vs 26,05 sem CL) e nem na
produção de embriões (30,4% com CL vs
30,2% sem CL) em taurinos. REIS et al. (2002) não observaram diferenças
na
porcentagem de ovócitos viáveis (55±3% vs 47±3%,
p>0,05) e na produção de embriões (24±3% vs 26±4%,
p>0,05), para os grupos com CL ativo e ausente, respectivamente.
Neste
trabalho, para se
avaliar a influência local do CL, realizou-se, também, comparação entre
os
grupos que possuíam corpo lúteo (G1, G2, G4), confrontando-se os
resultados do
ovário com e sem CL. Observou-se que, nesses grupos, os animais
produziram mais
embriões de ovócitos oriundos de ovários com CL do que de ovários sem
CL
(40,93% vs 31,63%, p<0,05). Esses
resultados discordam de TAKUMA et al. (2007), que não encontraram
diferença
(p>0,05) entre a produção do ovário com CL e sem CL, sendo os
resultados
obtidos, respectivamente, 57,5% e 65,7% para taxa de clivagem e 23,6% e
32,1%
para produção de embriões viáveis. Eles ressaltam que a presença local
de um CL
no ovário não afeta a dinâmica folicular e nem o desenvolvimento de
blastocistos após a OPU. SUGULLE et al. (2008) também não encontraram
diferença
estatística entre os ovários (29,0% com CL vs
30,7% sem CL) na produção de blastocistos. Quanto aos ovócitos totais
coletados
neste trabalho, os ovários com e sem CL foram semelhantes (16,94 vs 18,00, respectivamente), concordando
com SUGULLE et al. (2008), que também não encontraram diferenças
estatísticas
nessa característica a partir de ovários de abatedouro.
A
sincronização de onda
folicular para a realização da OPU também foi avaliada. Neste trabalho
os
grupos G2 e G3 foram submetidos a implantes de P4 com
aplicação de
PGF2µ
no dia zero, sendo que G2 possuía CL e G3 não. Na comparação com os
demais,
esses dois grupos apresentaram menos ovócitos totais aspirados (29,40 e
26,58)
que G4 (44,08), que não era submetido ao implante. Quando se comparou
G2 com os
demais que continham CL (G1 e G4), notou-se que o tratamento hormonal
não
melhorou nenhuma variável analisada. Quando se comparou G3 com G5,
sendo que
nenhum possuía CL e G5 não foi submetido ao tratamento hormonal,
concluiu-se
que G3 (26,58) produziu menos ovócitos totais aspirados que G5 (40,36)
e foram
semelhantes nas demais características.
Os
resultados encontrados
neste trabalho concordam com CHAUBAL et al. (2007), em que os
protocolos
hormonais, à base de progesterona sintética, não melhoraram a resposta
folicular e ainda produziram menos blastocistos do que vacas sem o
dispositivo
de P4, pois os resultados subiram de 1,33±0,4 para
2,89±0,4
blastocistos/vaca/sessão de OPU (p<0,05), quando não se utilizaram
os
implantes. Essa conclusão também foi
feita por GOODHAND et al. (2000), que não observaram vantagens
em
sincronizar a onda folicular para a OPU com implante de P4
associado
a estradiol 17b,
sendo importante apenas a utilização de FSH para aumentar o número de
ovócitos
coletados, já que o número de folículos aspirados saltou de 17,7±1,60
em animais não tratados para 23,6±1,97 em animais tratados com FSH (p<0,05). RAMOS et al. (2010) também não encontraram
vantagens na utilização do implante de P4 associado à BE nem mesmo com a remoção do FD, não
havendo incremento na quantidade e qualidade de ovócitos e nem no
número de
embriões produzidos.
Os
resultados deste trabalho
discordam dos de PFEIFER et al. (2009),
que encontraram em animais mestiços (zebuínos´taurinos), submetidos a
tratamento com P4 exógena, maior número
de ovócitos totais (6,80 vs 3,40,
p<0,05), mais ovócitos viáveis (64,85% vs
46,60%, p<0,05) e mais blastocistos (1,05 vs 0,4,
p<0,05) produzidos por OPU do que o grupo sem P4
exógena,
respectivamente.
No
entanto, BACELAR et al.
(2010) submeteram novilhas Nelore ao mesmo protocolo hormonal deste
estudo e
obtiveram média de 8,07 ovócitos totais aspirados e ainda 78,76% de
ovócitos
viáveis, enquanto neste trabalho conseguiu-se maior quantidade de
ovócitos
totais (média de 27,99), mas semelhante porcentagem de ovócitos viáveis
(média
de 80,21%).
BACELAR
et al. (2010) afirmam
que a ausência de CL no momento da aspiração folicular apresenta vários
aspectos favoráveis, dentre os quais a maior facilidade de localização
e punção
dos folículos, bem como a redução da perfusão vascular, com menor
captação de
sangue, justificando a utilização do luteolítico.
Quanto
à categoria de vacas
gestantes, TAKUMA et al. (2010) concluíram que estas tiveram maiores
taxas de
clivagem e desenvolvimento de blastocistos que vacas não gestantes
(p<0,05),
mas com semelhantes quantidades e qualidades de ovócitos coletados.
Neste
trabalho, as gestantes não produziram mais blastocistos e ainda
produziram
menos ovócitos totais aspirados que vazias e cíclicas, concordando com
DOMÍNGUEZ (1995), que observou menos folículos aptos à aspiração em
vacas
gestantes do que nas vazias e cíclicas.
Ao
se avaliar a proporção do
sexo dos fetos, notou-se que não houve predomínio de um grupo sobre os
demais
em relação a um dos sexos e nem de um sexo dentro de cada grupo
individualmente. Esses fatos reforçam o entendimento de que a definição
do sexo
independe do estado fisiológico da fêmea ou do ovário em que se
originou o
ovócito. Esses dados discordam da maioria das produções in
vitro com sêmen convencional, como defendem AVERY et al. (1991)
e GUTIERREZ-ADÁN et al. (2001),
que encontraram maiores proporções de machos (70%) na PIV e CAMARGO et
al.
(2010) com 76,9%; no entanto, concorda com MACHADO et al. (2009), em
que a
proporção de machos e fêmeas manteve-se em 1:1, mesmo utilizando-se
diferentes
touros e diferentes tratamentos, na preparação do sêmen para a FIV.
CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
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Protocolado em:10 dez. 2010. Aceito
em: 19 dez. 2012