O objetivo do presente trabalho
foi avaliar a influência de diferentes relações volumoso:concentrado na dieta
de ovinos sobre o consumo, glicemia e digestibilidade aparente em fêmeas
gestantes. Para isso, foi realizado um ensaio de digestibilidade in vivo, no qual se determinou o consumo
e os coeficientes de digestibilidade aparente, e coleta de sangue. Foram
utilizadas 16 ovelhas adultas, gestantes da raça Santa Inês, com peso vivo de
54,10 ±
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This research was carried out
to investigate the effect of different levels of forage and concentrate in the
diet offered to pregnant ewes on the intake, glucose level and apparent
digestibility. A study of in vivo
digestibility was done to determine the intake and the apparent digestibility
and blood samples were collected to determine the glucose concentration.
Sixteen adult, pregnant, non- lactating, Santa Inês ewes, weighting 54.10 ± 5.89
kg, were used. The experimental design used was a completely randomized
arrangement, with four treatments (10%; 20%; 30% and 40% of roughage). The
intake of DM, digestible energy, metabolizable energy and digestible protein was
not influenced by treatments. The apparent digestibility of DM, CE and neutral
detergent fiber (NDF) was not influenced by treatments. The apparent
digestibility of CP and the intake of NDF were influenced by treatments. The
glucose level was influenced by treatments and the times of collection.
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INTRODUÇÃO
Os constituintes do plasma sanguíneo têm relação
direta com a composição química e a digestibilidade dos componentes da dieta.
Dessa forma, as diferentes fontes de volumoso e as diferentes relações volumoso:concentrado
podem apresentar efeitos sobre a composição do plasma (ARRUDA et al., 2008).
Nesse sentido, metabólitos plasmáticos como a glicose vêm sendo estudados como
indicadores do estado energético, porém os resultados são contraditórios,
conforme cita o NRC (2006).
A glicose no ruminante é oriunda, em grande parte
(cerca de 60%), do ácido propiônico, após conversão no fígado (CALDEIRA, 2005).
Assim, dietas que elevam a proporção desse ácido na fermentação ruminal podem
elevar a produção de glicose no fígado (NRC, 2006). RIGOLON et al. (2008),
trabalhando com vacas, verificaram aumento significativo na glicemia basal com
a elevação da ingestão diária de matéria seca.
Sabe-se que o feto in útero demanda glicose como maior fonte de energia. No período
posterior ao parto, os níveis caem novamente, especialmente na primeira semana
e em animais de alta produção (GONZÁLEZ & SILVA, 2002). Dessa forma, a gestação
provoca alterações na demanda de glicose pela fêmea.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência
das diferentes relações volumoso:concentrado no consumo, glicemia e
digestibilidade aparente em ovelhas gestantes no terço final com um feto.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas 16 ovelhas da raça Santa Inês,
prenhas no terço final de gestação, com peso médio e desvio padrão de 54,10 ±
5,89kg. Os animais foram sincronizados com uso de hormônios para estarem no
mesmo período de gestação no momento das coletas. Aos 60 dias de gestação foi
realizado exame de ultrassonografia para detecção do número de fetos. Foram
utilizadas somente ovelhas com um feto. As mesmas estavam na segunda ordem de
parição. Os tratamentos consistiam de quatro níveis de fibra em detergente
neutro de origem forrageira (FDNf), sendo:
Tratamento 10:90: (10% de volumoso + concentrado e
premix mineral.
Tratamento 20:80: (20% de volumoso) + concentrado e
premix mineral.
Tratamento 30:70: (30% de volumoso) + concentrado e
premix mineral.
Tratamento 40:60: (40% de volumoso) + concentrado e
premix mineral.
O período experimental foi composto por uma fase de
adaptação e uma de coletas, a primeira teve duração de 15 dias e a segunda de
cinco dias.
Foram retiradas amostras do feno e dos diferentes
concentrados, diariamente, a fim de se obter a composição bromatológica das
dietas experimentais. O alimento recusado (sobra) era coletado individualmente,
antes de se oferecer a refeição matutina, sendo pesado e amostrado diariamente.
A coleta de fezes era total sendo seu peso anotado e amostrado 20% do total
defecado. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos devidamente
identificados e congeladas no freezer a -20ºC. A urina excretada por cada
animal tinha seu volume (mL) registrado, uma amostragem de 10% do volume total
urinado era efetuada e imediatamente colocada em freezer.
Para amostras de fezes, sobras e alimentos foram
determinadas: matéria seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em
detergente ácido (FDA), proteína bruta (PB), energia bruta (EB) e cinzas (CI).
Nas amostras de urina foram feitas análises de proteína bruta (PB) e energia
bruta (EB). As análises químicas foram efetuadas segundo a metodologia descrita
por SILVA & QUEIROZ (2002).
Os valores de energia metabolizável (EM) foram
obtidos através da diferença entre energia digestível e perdas energéticas,
advindas da formação de metano e da urina. Para isso usou-se a seguinte
fórmula, segundo SNIFFEN et al. (1992):
EPGD = PGD X EBI/100,
PGD = 4,28 + 0,059 CDEB.
Os valores de digestibilidade aparente (DA) dos
nutrientes foram obtidos pela fórmula a seguir, conforme metodologia utilizada
por COELHO DA SILVA & LEÃO (1979):
A colheita de sangue procedeu-se aos 145 dias de
gestação e em quatro horários distintos: 8 horas (momentos antes de se oferecer
a primeira parte da refeição), 11, 14 e 17 horas (antes de fornecer a segunda
alimentação). Foram retirados 0,5mL de sangue com auxílio de uma seringa,
diretamente da veia jugular. Imediatamente após a colheita era colocada uma
gota na fita para se obter o valor da glicemia. Este valor foi obtido 45
segundos após o procedimento descrito, através do monitor de glicemia ACCU CHEK
da Roche. O resultado foi obtido em (mg/dL).
O delineamento experimental utilizado foi
inteiramente casualizado com quatro repetições por tratamento, sendo cada
animal uma unidade experimental.
Observando
as Figuras 1 e 2, verifica-se que somente o consumo de fibra em detergente
neutro e a digestibilidade aparente da proteína bruta foram afetados
significativamente pelas dietas experimentais (P<0,05). O consumo de matéria
seca não foi influenciado pelos tratamentos. O fato de a ovelha estar no terço
final de gestação, fase em que o útero gravídico está comprimindo o trato
gastrintestinal, pode ter afetado significativamente o consumo dos animais,
além do que as dietas possuíam alta densidade energética que pode também afetar
o consumo pelos animais. Vários trabalhos (PEREZ et al., 2001; PEDROSO et al.,
2004a; PEDROSO et al., 2004b; MACEDO JUNIOR et al., 2006a) têm mostrado a
depressão no consumo quando grande quantidade de carboidratos solúveis é
utilizada nas dietas. VAN SOEST (1994) afirma que a saciedade se deve à
densidade calórica da dieta. Pelo NRC (1985), em dietas que possuem mais de 70%
de concentrado, o consumo de forragens é insuficiente para fermentação ruminal
normal. MACEDO JUNIOR et al (2006b), trabalhando com ovelhas não gestantes e
com as mesmas proporções de volumoso e concentrado deste experimento,
observaram maior consumo na medida em que se aumentavam os níveis de volumoso
nas dietas experimentais. Pelo NRC (1985), em ovelhas nas últimas quatro
semanas de gestação com
O consumo de proteína digestível não foi
influenciado pelos tratamentos (P>0,05). Esse resultado pode ser explicado
pelo fato de que as dietas eram isonitrogenadas e não houve diferença
significativa (P>0,05) no consumo de matéria seca. O consumo de energia digestível
e metabolizável não foi afetado pelos tratamentos. Pelo NRC (1985), em ovelhas
nessas condições, o consumo esperado de energia metabolizável é de 3600 kcal.
Neste estudo, o consumo médio de energia metabolizável foi de 4463,08 kcal,
apresentando-se acima do recomendado pelo NRC (1985). MACEDO JUNIOR et al,
(2006b), trabalhando com ovelhas não gestantes e com as mesmas proporções de
volumoso e concentrado deste experimento, verificaram incremento no consumo de
energia metabolizável na medida em que se aumentou o nível de volumoso nas
dietas. Os autores afirmam que esse resultado ocorreu em função da melhor
condição de fermentação ruminal provocada pela inclusão de fibra na dieta. No
presente estudo, a igualdade no consumo de matéria seca pode ter contribuído
para que não houvesse diferença estatística no consumo dos demais nutrientes
até aqui discutidos. Na Tabela 2 são mostradas as médias das variáveis
estudadas.
O consumo de fibra em detergente neutro aumentou
significativamente (P<0,05) com o acréscimo de volumoso (Figura 1), verificando-se
efeito linear dos níveis de volumoso sobre o consumo de FDN. MACEDO JUNIOR et
al. (2006 b) observaram efeito linear sobre o consumo de FDN na medida em que
se elevou a quantidade de volumoso na dieta. No presente estudo, o consumo de
FDN foi de 34,37 g/kg0,75, na dieta com 40% de volumoso. MACEDO JUNIOR
et al. (2006b), trabalhando com ovelhas não gestantes e com as mesmas
proporções de volumoso e concentrado desse experimento, verificaram que o
consumo de FDN foi de 33,35 g/kg0,75 também com 40% de volumoso na
dieta. A Figura 1 mostra o CFDN em g/kg0,75 em função dos
tratamentos.
A
digestibilidade da matéria seca não foi influenciada pelos níveis de volumoso
das dietas experimentais. MACEDO JUNIOR et al., (2006 b), trabalhando com
ovelhas não gestantes e com as mesmas proporções de volumoso e concentrado deste
experimento, observaram aumento na digestibilidade da MS com a inclusão de
volumoso nas dietas. Outro motivo que pode ser especulado como fator de
igualdade na DMS foi o fato de a ovelha estar no final da gestação, fase que produz
grandes mudanças nas exigências nutricionais e na capacidade digestiva das ovelhas
(NRC, 1985; NRC, 2006). ALVES et al. (2003), trabalhando com diferentes níveis
de energia metabolizável (2,42; 2,66; e 2,83 Mcal/kg de MS), observaram
crescimento linear na digestibilidade da MS na medida em que se elevou o nível
de energia das dietas. Avaliando o efeito da frequência da suplementação com
concentrado sobre a digestibilidade aparente dos nutrientes, CASTRO et al.
(2002) observaram que o aumento da frequência de suplementação não afetou essas
variáveis.
A digestibilidade
da PB foi influenciada pelos níveis de FDNf, apresentando comportamento linear
(Figura 2), isto é, na medida em que se diminuiu a quantidade de volumoso da
dieta, elevou-se a digestibilidade, provavelmente influenciada pela maior
quantidade grãos na dieta. Carboidratos não estruturais possuem coeficiente de
digestibilidade aparente total acima de 90% e carboidratos estruturais próximos
a 50% (ZANINE & MACEDO JUNIOR, 2006). BERCHIELLE et al. (2006) afirmaram
que a qualidade do volumoso, a forma de apresentação e a quantidade de
carboidratos solúveis podem interferir na DMS.
MACEDO JUNIOR et al. (2006b), trabalhando com
ovelhas não gestantes e com as mesmas proporções de volumoso e concentrado deste
experimento, encontraram resultado inverso, isto é, na medida em que se elevou
a quantidade de volumoso, elevou-se o coeficiente de digestibilidade da PB. No
presente estudo, os tratamentos não influenciaram a DFDN, o mesmo ocorrendo com
MACEDO JUNIOR et al. (2006b) com o aumento nos níveis de FDNf das dietas. A Figura 2 mostra a digestibilidade da proteína bruta em função dos níveis de volumoso.
Nas
Figuras 3 e 4 encontram-se os resultados da glicemia dos animais estudados.
Conforme mostra a Figura 3, as concentrações de glicose foram afetadas de forma
significativa pelos níveis de FDNf. O tratamento 20:80 apresenta o maior valor
de glicemia, indicando que essa dieta possivelmente propiciou maior
aproveitamento dos nutrientes, elevando, consequentemente, a glicemia dos
animais (Figura 3). Essa dieta continha 80% de concentrado e 20% de volumoso. Essa
quantidade de carboidrato solúvel possivelmente elevou a glicemia desses
animais, pois esse tipo de carboidrato aumenta a produção de propionato, que é
precursor de glicose no fígado.
O
metabolismo energético em ruminantes é muito complexo. Os carboidratos solúveis
ingeridos são facilmente fermentados pelos microorganismos no rumem. Os
produtos finais da fermentação dos carboidratos são os ácidos graxos voláteis
(AGVs). Um aporte elevado de carboidrato solúvel na dieta leva a incremento na
produção de ácido propiônico, que é o único dos AGVs precursor de glicose no
ruminante. Assim, podemos inferir que a alta proporção de grãos na dieta do
tratamento 20:80 deste experimento levou ao aumento na glicemia dos animais.
Ao
observar a Figura 2, verifica-se que o tratamento 20:80 apresentou melhor
digestibilidade da proteína, assim podemos inferir que esse resultado possa ter
elevado a glicemia basal, uma vez que parte da glicose formada nos ruminantes
vem de aminoácidos glicogênicos. Huntington
(1997) verificou aumento substancial nos níveis de glicose em vacas de corte e
de leite consumindo alta quantidade de carboidrato solúvel e que 30% da glicose
requerida são provenientes da dieta, 50% da gliconeogênese e 20% de outras
fontes. Nunes et al. (2002),
trabalhando com cabras Saanen em lactação em dois regimes de fornecimento de
concentrado e dois sistemas de produção, observaram que o aumento no consumo de
concentrado elevou os níveis de glicose (obtendo média de 54,74 mg/100mL) em
função da maior disponibilidade de carboidrato solúvel. Podemos observar que no
presente estudo os valores de glicemia foram mais altos (média de 59,54 mg/dL),
possivelmente influenciados pelo alto consumo de energia metabolizável, que se
apresentou bem acima do recomendado pelo NRC (1985). KANEKO (1997) afirmam que
os valores de referência para ovinos variam de 50-80mg/dL, mostrando que os
valores deste experimento estão dentro dessa faixa de concentração.
Vários
fatores afetam o nível plasmático de glicose em ruminantes, o que torna difícil
a sua compreensão. Dentre eles, destacam-se qualidade da dieta, proporção de
volumoso e concentrado, natureza química do carboidrato, produção de leite,
temperatura, condição fisiológica (gestante, em lactação, vazias etc), entre
outros fatores (ZANINE & MACEDO JUNIOR, 2006). Nesse sentido, RIBEIRO et
al. (2004), trabalhando com ovelhas Border Leicester cruzadas com ovelhas Texel,
verificaram queda na glicemia das mesmas ao final da gestação quando comparadas
com o início da prenhez.
O fato de
o tratamento 10:90 ter apresentado valor mais baixo na concentração de glicose
(Figura 3) pode ser em função de algum tipo de distúrbio metabólico, como a
acidose subclínica, já que não houve diferença significativa no consumo de
matéria seca e, durante o experimento, foi observado comportamento irregular no
consumo pelos animais desse tratamento, fato esse que vem reforçar essa
suposição.
O tratamento 40:60 também apresentou menor valor na
concentração de glicose, porém esse resultado pode ser explicado pelo menor
aporte energético dessa dieta. A maior quantidade forrageira desse tratamento
possivelmente promoveu aumento na produção de ácido acético em relação ao
propiônico. Uma vez que, segundo Van
Soest (1994), dietas ricas em forragem apresentam maior proporção molar
de ácido acético. na Figura 3 encontra-se o comportamento da glicemia em função
dos níveis de volumoso nas dietas.
Na Figura 4 pode–se observar que ocorre influência
significativa na concentração de glicose em função dos horários de colheita. A
equação de regressão dessa variável assumiu comportamento linear. No primeiro
horário de colheita de sangue a concentração de glicose foi menor que nos demais
horários (Figura 4). Segundo Caldeira
(2005), em ruminantes, o pico na concentração de
glicose ocorre de 3 – 6 horas após a alimentação, pois a glicose para esses
animais depende da síntese no fígado a partir de propionato, aminoácidos
glicogênicos e outros precursores. No presente estudo, observou-se claramente
esse comportamento.
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