TAXA
DE
GESTAÇÃO DE RECEPTORAS DE EMBRIÕES BOVINOS COM DIFERENTES GRAUS DE
DIFICULDADES
NO PROCEDIMENTO DE INOVULAÇÃO
Antonio
de
Lisboa Ribeiro Filho1, Alexandra Soares Rodrigues2,
Marcos Chalhoub Coelho Lima1, Priscila Assis
Ferraz2,
Marcus Vinícius Galvão Loiola1, Rodrigo Freitas
Bittencourt3
Com o objetivo de
avaliar a influência da dificuldade de
transposição da cérvix, do tônus uterino e do local de inovulação sobre
a taxa
de gestação de receptoras de embriões bovinos, realizou-se
superovulação e
sincronização de doadoras e receptoras. A dificuldade de transposição
cervical
influenciou a taxa de gestação, o grupo CERV-F (cérvix de fácil
transposição)
obteve taxa de gestação de 50,60% (420/830), já CERV-D (com algum grau
de
dificuldade de transposição) obteve taxa de 43,02% (114/265). O tônus
uterino
não afetou a taxa de gestação, os grupos TON-R (útero relaxado), TON-M
(medianamente relaxado) e TON-C (contraído) tiveram taxas de 50,08%
(313/625),
45,69% (106/232) e 47,11% (106/225), respectivamente. Foi demonstrado
efeito do
local de inovulação sobre a taxa de gestação, o grupo DEP-F (inovulação
no
terço final) obtiveram taxa de gestação de 51,39% (314/611), superior à
taxa de
gestação do grupo DEP-I (no terço inicial) que foi de 39,46% (58/147),
já os
animais do grupo DEP-M (no terço médio) lograram taxa de gestação de
48,22%
(163/338), não diferindo dos grupos DEP-I e DEP-F. Os resultados
sugerem que em
programas de transferência de embriões o técnico deverá levar em
consideração
especialmente a dificuldade de transposição cervical e o local de
inovulação.
PREGNANCY RATE OF CATTLE
EMBRYO RECIPIENT WITH
DIFFERENT DEGREES OF DIFFICULTY ON EMBRYO TRANSFER PROCEEDING
ABSTRACT
Neste
experimento
verificou-se uma taxa de gestação geral de 48,81% (535/1.096). A
dificuldade de
transposição cervical (Tabela 1)
influenciou a taxa de
gestação
(P=0,032). O
Grupo CERV-F obteve taxa de gestação de 50,60% (420/830), já o Grupo
CERV-D obteve
taxa de 43,02% (114/265). Esces resultados corroboram com os obtidos
por
FERNANDES (1999), que observaram que animais que apresentaram uma maior
dificuldade de transposição da cérvix, devido a alterações na
disposição dos
anéis transversais, tiveram uma maior possibilidade de lesão do mesmo,
e
consequentemente, menores taxas de gestação.
Esse
fato é explicado pelas lesões cervicais, assim como, pelas as
manipulações excessivas, as quais podem aumentar as concentrações de
prostaglandina F2α (PGF2α)
no sangue e no lúmen
uterino
induzindo a luteólise na vaca, levando à perda embrionária precoce e
influenciando negativamente a taxa de gestação das receptoras, como
descrito
por MCNAUGHTAN (2004).
O
tônus uterino não
afetou a taxa de gestação (P=0,465). Como demonstrado na Tabela 2,
os
grupos
TON-R, TON-M e TON-C tiveram taxas de 50,08% (313/625), 45,69%
(106/232) e
47,11% (106/225), respectivamente.
Esse
resultado diverge do que
foi reportado por DIAZ (1988) e FERNANDES (1999), que verificaram que
receptoras que possuíam uma difícil manipulação uterina, ou seja, maior
tônus
muscular, apresentaram resultados inferiores em programas de TE. Ainda
segundo
os mesmos autores, esse fato pode ser justificado pela maior ocorrência
de
lesões endometriais pelo aplicador, ou mesmo devido ao grau de
enovelamento dos
cornos e maior dificuldade ou até impossibilidade de inovulação no
local
adequado, o terço final do corno uterino.
Difere também dos resultados obtidos por LEAL
et al. (2009), que observaram que receptoras com útero em estágio
intermediário
de contratilidade foram as que apresentaram melhores resultados de taxa
de
gestação em programas de TE, se comparadas às receptoras que
apresentaram útero
flácido, ou seja, com tônus uterino relaxado. Esses autores ainda
sugeriram que
as taxas de gestação foram comprometidas porque as excessivas
manipulações do
útero e as lesões endometriais aumentam os níveis de PGF2α
no sangue
e esse aumento pode afetar indiretamente o estabelecimento da prenhez,
pois
compromete a função luteal, provocando luteólise ao se ligar aos
receptores
existentes no corpo lúteo, levando a um decréscimo na concentração de
progesterona. Além disso, essa prostaglandina pode ter o efeito direto
sobre o
embrião, interferindo no desenvolvimento embrionário e afetando sua
viabilidade.
Por outro lado, segundo SREENAN & DISKIN
(1987), CUTINI et al. (2000) e LOONEY et al., (2006), operadores
experientes e
consequentemente mais habilidosos tecnicamente tiveram maior facilidade
em
manobrar os cornos uterinos mais tortuosos e de difícil manipulação;
dessa
forma, eles conseguiram minimizar as lesões provocadas ao endométrio e
obtiveram taxas de gestação semelhantes quando trabalharam com
receptoras com
diferentes graus de tonicidade uterina. Esses resultados podem
justificar a
semelhança nas taxas de gestação quando se comparou os grupos TON-R,
TON-M e
TON-C.
A
contratilidade uterina pode
também, ser um reflexo dos níveis de progesterona presentes, uma vez
que esse
hormônio age sobre o endométrio reduzindo sua tonicidade e exercendo um
papel
luteotrófico, favorecendo a implantação embrionária (BERTAN et al.,
2005; LIMA
& SOUZA, 2009). Assim, os melhores índices de gestação para os
animais com
útero relaxado que foram observados por DIAZ (1988) e FERNANDES (1999)
podem
ter ocorrido também em decorrência dos maiores níveis de progesterona
presentes. Entretanto, nesta pesquisa, esse mecanismo não foi
observado, sendo
sugestiva a realização de estudos futuros incluindo os níveis séricos
de
progesterona presentes nas receptoras no momento da inovulação.
A
análise estatística
demonstrou ainda efeito do local de inovulação sobre a taxa de gestação
das
receptoras (Tabela 3).
Os animais do Grupo
DEP-F obtiveram taxa de
gestação de
51,39% (314/611), superior (P=0,009) à taxa de gestação do Grupo DEP-I
que foi
de 39,46% (58/147), já os animais do Grupo DEP-M lograram taxa de
gestação de
48,22% (163/338), não diferindo dos Grupos DEP-I (P=0,075) e DEP-F
(P=0,350).
Em
concordância com os resultados obtidos por BEAL et al. (1998), a taxa
de gestação foi significativamente maior no grupo em que os embriões
foram
inovulados mais profundamente no corno uterino (DEP-F: no terço final
do corno
uterino) em relação ao grupo mais superficial (DEP-I: terço inicial do
corno
uterino). Porém, essa taxa divergiu do estudo de SREENAN &
DISKIN
(1987),
que sugeriram que a transferência de embriões para depois do terço
médio com um
cateter rígido pode lesionar o endométrio e levar a uma mortalidade
embrionária. Dentro da mesma linha de raciocínio, PIERONI et al.
(2008),
trabalhando com embriões transferidos à fresco e
congelados/descongelados,
sugeriram que a inovulação pode ser realizada em qualquer porção do
corno
uterino adjacente ao ovário contendo o corpo lúteo.
Não
se observou diferença
significativa nas taxas de gestação quando os embriões foram inovulados
no
terço médio do corno uterino (DEP-M), em relação àqueles inovulados no
terço
inicial (DEP-I) e os inovulados no terço final (DEP-F).
Esses
resultados podem ser
explicados, provavelmente, devido a uma maior proximidade do embrião ao
corpo
lúteo, sofrendo uma maior ação do fator luteotrófico (progesterona)
produzido
por ele, assim como, uma maior ação dos sinais anti-luteolíticos
secretados
pelo concepto, que tem o objetivo de prolongar a vida do corpo lúteo e
favorecer o reconhecimento materno da gestação e a viabilidade
embrionária
(MCNAUGHTAN, 2004; LIMA & SOUZA, 2009).
No
entanto, esses benefícios
só ocorrem quando a inovulação é feita por um técnico experiente, em
que o grau
de manipulação e lesão do endométrio é mínimo, pois a inserção forçada
do
aplicador para partes mais profundas do corno, às vezes, danifica o
endométrio
podendo causar falhas na transferência, conforme relatado por LOONEY et
al.,
(2006). Assim, quando se têm cornos muito enovelados e de difícil
manipulação,
é preferível que a inovulação seja feita no terço médio do corno
uterino do que
em partes mais profundas onde se tem uma grande possibilidade de
lesionar
endométrio.
Na
literatura, a maioria dos
trabalhos consultados utilizaram animais de raças taurinas e os
experimentos
foram conduzidos em regiões de clima temperado (SREENAN &
DISKIN,
1987;
DIAZ, 1988; FERNANDES, 1999), o que difere do presente estudo e pode
justificar
as divergências encontradas entre os mesmos para algumas variáveis.
Entretanto,
as particularidades populacionais e regionais deste experimento
tornam-o mais
fidedigno à realidade da pecuária brasileira, na qual a maioria da
população de
bovinos são zebuínos criados à pasto em condições tropicais.
Os
resultados alcançados
sugerem que o tônus uterino no momento da inovulação parece não
comprometer a
taxa de gestação e que o técnico responsável deverá levar em
consideração de
maneira especial a dificuldade de transposição cervical e o local de
inovulação
no útero em um programa de transferência de embriões, pois essas
características
foram as que impactaram a taxa de gestação das receptoras. Assim, ao se
trabalhar em um programa de transferência de embriões, deve-se fazer a
seleção
das receptoras que apresentem as melhores condições de inovulação,
utilizando-se como parâmetros as características estudadas no presente
trabalho, com intuito de aumentar as taxas de gestação.
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