AVALIAÇÃO ULTRASONOGRÁFICA DA QUALIDADE DE CARCAÇA DE OVINOS SANTA INÊS
Concepta
McManus1, Tiago do Prado Paim2, Helder Louvandini3,
Bruno Stéfano Lima Dallago4, Laila Talarico Dias5,
Rodrigo Almeida Teixeira5
RESUMO
A ultrassonografia pode ser uma importante ferramenta para a
avaliação da composição da carcaça por ser uma técnica não invasiva que permite
quantificar diferentes tecidos em animais vivos. O objetivo deste trabalho foi
estimar as correlações entre medidas tomadas in vivo, por meio do
ultrassom e do adipômetro, e na carcaça de ovinos da raça Santa Inês.
Utilizaram-se 81 machos, entre 8 e 18 meses de idade, com peso médio de 31 kg.
As medidas in vivo obtidas por ultrassonografia foram medida diagonal
longitudinal, área de olho de lombo longitudinal, medida diagonal transversal e
área de olho de lombo transversal. Determinou-se o peso de carcaça quente,
rendimento da carcaça, gordura de cobertura da carcaça, comprimento de carcaça,
área de olho de lombo da carcaça e peso dos cortes comerciais: pernil, lombo,
paleta, costela e pescoço. As análises de variância, componentes principais,
regressão polinomial e correlação foram realizadas utilizando-se programa
estatístico SAS®. Não houve diferença entre animais castrados e
inteiros para qualidade e componentes de carcaça, indicando, portanto, que a
castração não proporciona uma carcaça de melhor qualidade. Os animais com os
pesos de pernil, paleta e costela maiores apresentam menores peso de pele,
altura de cernelha e peso dos órgãos abdominais, caracterizando
um biotipo de animal que seria mais desejável a ser selecionado. Peso vivo,
comprimento corporal e área de olho de lombo por ultrassom (in vivo) podem ser usados para predizer a
área do olho de lombo da carcaça, peso do pernil, comprimento da carcaça, peso
da carcaça quente e da meia carcaça. No entanto, o peso do lombo, pescoço,
costela, rendimento de carcaça e peso dos órgãos abdominais não podem ser
preditos por estas medidas in vivo. As medidas realizadas com adipômetro
não apresentaram correlações significativas com medidas da carcaça, o que
indica que não são eficientes para esta predição e, portanto, não devem ser
utilizadas.
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PALAVRAS-CHAVE: adipômetro; área de olho de lombo;
castrado; correlação; regressão; rendimento de carcaça.
ULTRASSONOGRAPHY
EVALUATION OF SHEEP CARCASS QUALITY OF SANTA INÊS BREED
ABSTRACT
Ultrassonography is an
important option to evaluate carcass composition and quality, as it is a
non-invasive technique which quantifies different tissues in live animals. The
objective of this study was to estimate the correlation between measurements
taken in vivo, using ultrasound and skinfold thickness, in sheep
carcasses from Santa Inês breed. Eighty-one males, aging 8 to 18 months, and
weighting on average 31 kg live weight were used. The measures taken in vivo
by ultrassonography were longitudinal diagonal length, longitudinal rib eye
area, transversal diagonal length, transversal rib eye area. Hot carcass
weight, carcass yield, carcass fat thickness, carcass length, carcass rib eye
area and commercial retail cut weight (leg, loin, shoulder, ribs and neck) were
determined. The analyses of variance, main components, polynomial regression
and correlation were carried out using SAS® statistical program.
There was no difference between castrated and intact animals for carcass
quality and components, indicating that castration does not provide better
carcass quality. Animals with higher leg, shoulder and rib weights had lower
skin weight, wither height and weight of abdominal organs, indicating a more
desirable body type for selection. Body weight, body length and rib eye area by
ultrasound (in vivo) can predict the rib eye area, leg weight, carcass length,
hot and half carcass weight. However, loin, neck and rib weights, carcass yield
and weight of abdominal organs cannot be predicted by these in vivo
measurements. The measurements taken with skinfold showed no significant
correlations with carcass measures, which indicates that they are not efficient
for prediction of carcass components and therefore should not be used.
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KEYWORDS: carcass yield; castrated; correlation; regression; rib eye area; skinfold.
INTRODUÇÃO
No Brasil a maior parte da
carne ovina ofertada é proveniente de animais com baixa qualidade de carcaça o
que, provavelmente, está relacionado à genética e aos manejos nutricional e
sanitário. No entanto, para que o produto seja competitivo e atenda à demanda
do mercado consumidor, é essencial que os produtores disponibilizem carne ovina
de qualidade.
Dentre os critérios que
definem a qualidade da carcaça, destacam-se a conformação, que expressa o
desenvolvimento da massa muscular, e o grau de acabamento, que se refere à
distribuição e a quantidade de gordura de cobertura (OSÓRIO et al., 2002). As
carcaças devem apresentar boa distribuição da gordura de cobertura para evitar
o encurtamento pelo frio e a consequente perda de maciez, além de que a gordura
intramuscular, em níveis moderados, proporciona sabor e maciez.
Para a avaliação da
composição e qualidade de carcaça, pesquisas têm sido realizadas para o
desenvolvimento de técnicas não invasivas, como a ultrassonografia, considerada
viável para essa função, pois permite quantificar os tecidos muscular e adiposo
em animais vivos. Além do ultrassom, o adipômetro é um aparelho usado para
medir dobras de pele com alto nível de precisão que permite estimar as
variações do tecido adiposo na composição corporal.
A composição das carcaças
pode ser estimada por meio da mensuração da área de olho de lombo (AOL) e da
espessura da gordura subcutânea (EGS) tomadas na altura da inserção da 12ª e
13ª costelas, que apresentam correlação alta e positiva com a distribuição de
músculos e com o teor de gordura na carcaça, respectivamente. Essas estimativas
obtidas por ultrassonografia têm apresentado alta repetibilidade e também altas
correlações com as medidas correspondentes tomadas na carcaça após o abate dos
animais (WILLIAMS, 2002). A avaliação da AOL e da EGS juntamente com outras
características medidas no animal vivo, tais como o peso e altura da cernelha,
podem auxiliar na estimação da composição corporal dos animais e,
consequentemente, estimar o rendimento de carcaça ao abate (ROUSE et al.,
2000).
A qualidade da carcaça pode
ser influenciada pela raça, idade, peso de abate, sexo, entre outros fatores.
De modo geral, as carcaças de animais jovens apresentam carne de melhor
qualidade (MÜLLER, 1993), além disso, sabe-se que o consumidor tem preferência por
carcaças de tamanho moderado entre 12 e 14 kg, o que determina o abate dos
animais entre 28 e 30 kg de peso vivo (SIQUEIRA, 1996).
O presente trabalho foi
realizado com o objetivo de verificar a relação entre medidas tomadas in
vivo, por meio do uso do ultrassom e do adipômetro, com as medidas de
carcaça e cortes comerciais de ovinos da raça Santa Inês, verificando-se a
possibilidade de utilização dessas mensurações em programas de melhoramento
genético.
MATERIAIS E MÉTODOS
A avaliação ultrassonográfica
in vivo foi realizada com o aparelho Aloka® SSD-500 equipado
com um transdutor linear de 5 MHz. Cada animal foi contido, procedendo-se à
tricotomia da área de medição situada, aproximadamente, a 12 cm em relação à
linha mediana dorsal, no 12º espaço intercostal. Com o transdutor posicionado
paralelamente à linha mediana dorsal (sentido longitudinal) foi avaliada a
Medida Diagonal Longitudinal (MDLUS) e a Área de Olho de Lombo
Longitudinal (AOLLUS). Com o transdutor posicionado
transversalmente, avaliou-se a Medida Diagonal Transversal (MDTUS) e
a Área de Olho de Lombo Transversal (AOLTUS), similar às medidas
realizadas por SILVA et al. (2006). A MDLUS e a MDTUS
fornecem estimativa da espessura da musculatura e a AOLLUS e a AOLTUS
determinam o volume muscular, em duas dimensões diferentes. Além dessas
medidas, com o transdutor posicionado transversalmente, obteve-se a medida de
espessura da gordura subcutânea (GUS).
Com a utilização de um
adipômetro, com escala em décimos de milímetros, mediu-se a espessura de pele
umbilical do animal in vivo (EPUV). Antes da esfola da carcaça, a
espessura de pele umbilical (EPUA), de pele do lombo direito (EPLD) e esquerdo
(EPLE), no meio da cauda (EPMC) e na paleta direita (EPPD) e esquerda (EPPE)
foram mensuradas.
Ao final do experimento, os
animais foram submetidos a jejum hídrico de 24 horas e, posteriormente, foram
abatidos e pesados para a obtenção do peso vivo ao abate (PV). Em seguida,
realizou-se a esfola, na qual foram retiradas a cabeça, as patas traseiras e as
dianteiras. Posteriormente, a pele foi pesada (PP), obteve-se a carcaça inteira
do animal, a fim de determinar o peso de carcaça quente (PCQ) e procedeu-se à
divisão da carcaça, em que a hemi-carcaça esquerda foi pesada e identificada
(PMC). O rendimento verdadeiro da carcaça quente (RC) foi determinado de acordo
com a metodologia proposta por OSÓRIO et al. (1998), em que: RC=(PCQ/PV)x100.
Após a evisceração, foram
retirados os órgãos torácicos (OT): pulmão, coração, traqueia e diafragma; e os
órgãos abdominais (OA): fígado e rins, que foram pesados separadamente. Para
avaliação das características de carcaça, utilizou-se o método adaptado do
sistema proposto por OSÓRIO et al. (1998), no qual a gordura de cobertura da
carcaça (GCC) foi avaliada subjetivamente pela quantidade e distribuição da
gordura externa na carcaça, por meio de índices crescentes, variando de um
(magra) a cinco (muito gorda). A mensuração do comprimento de carcaça (CC)
definida como a distância entre a base da cauda e a base do pescoço, foi obtida
usando-se fita métrica. E, com o corte
transversal do músculo longissimus entre a 12ª e 13ª costelas,
determinou-se a Área de Olho de Lombo da Carcaça (AOLC), utilizando-se o
gabarito padrão transparente quadriculado (1cm2). A hemi-carcaça
esquerda foi dividida em cinco cortes comerciais: Pernil (PER), Lombo (LOM),
Paleta (PAL), Costela (COST) e Pescoço (PESC), sendo, posteriormente, pesados
individualmente.
Verificou-se a normalidade
dos dados e, quando necessário, os registros foram transformados por meio de
logarítmo ou arcoseno (porcentagens). Foi realizada análise de variância
considerando, como efeitos fixos, o efeito da castração (animal inteiro ou
castrado) e área de olho de lombo (efeito linear e quadrático). Para análise de
variância das características medidas por ultrassom e adipômetro, o peso vivo
ao abate foi incluído como covariável. Análises de componentes principais,
correlação e regressão polinomial foram realizadas buscando avaliar a relação
entre as variáveis tomadas in vivo e
na carcaça. As análises estatísticas foram realizadas utilizando os
procedimentos GLM, PRINCOMP, CORR e REG do pacote estatístico SAS®.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As média obtidas para RC
(44,33%) no presente trabalho (Tabela 1) foram semelhantes às descritas por
BUENO et al. (2000), CUNHA et al. (2000), GARCIA et al. (2000) e OLIVEIRA et
al. (2002), que estudaram animais machos da raça Santa Inês com peso ao abate
semelhante. Com relação à gordura de cobertura na carcaça (GCC), o resultado
obtido foi superior aos reportados por BUENO et al. (2000), CUNHA et al. (2000)
e SILVA et al. (2000), que relataram valores de 1,3; 1,4 e 1,5,
respectivamente. Esse valor maior pode estar relacionado com o critério de
avaliação do técnico, já que é uma avaliação subjetiva, e todos os animais
pertenciam ao mesmo grupo genético e foram abatidos com peso vivo semelhante.
Por outro lado, resultados semelhantes (2,3 e 2,4) foram relatados por GARCIA
et al. (2000) e OLIVEIRA et al. (2002), demonstrando novamente que esse valor
deve ser comparado somente dentro do grupo de contemporâneos, pois a variação entre os técnicos avaliadores
é relativamente grande.
Para as características de
carcaça analisadas, apenas o comprimento da carcaça e o peso da pele foram
influenciados significativamente pelo efeito de castração (Tabela 1), o que
está de acordo com o encontrado por RIBEIRO et al. (2001) e por ROCHA et al. (2010), analisando a carcaça de
borregos Ile de France e Hampshire Down abatidos aos 12 meses. Esses autores
concluíram que não houve diferenças importantes entre a qualidade de carcaça de
animais inteiros e castrados, o que está de acordo com o encontrado no presente
estudo. Dessa forma, esses trabalhos e o presente estudo concordam que o uso da
castração pode ser dispensado no sistema de produção de ovinos por não
proporcionar melhorias na qualidade de carcaça.
O
efeito do PV foi estatisticamente importante para todas as características
avaliadas, exceto para lombo e altura da cernelha. Portanto, animais com maior
peso vivo tiveram maior peso de cortes comerciais, maior comprimento e maior
área de olho de lombo, conforme esperado. A área de olho de lombo por ultrassom
(AOLTUS) não influenciou estatisticamente as características
avaliadas, com exceção da característica gordura de cobertura avaliada na carcaça
(GCC), para qual apenas o efeito linear foi significativo. Isso indica que essa
medida não teve relação com o peso dos cortes comerciais, peso da carcaça e
peso dos órgãos abdominais e torácicos, contradizendo trabalhos anteriores que
demonstraram uma relação positiva entre rendimento de carcaça, peso dos cortes
comerciais, peso da carcaça e área de olho de lombo (HAMLIN et al., 1995; MAY
et al., 2000; GREINER et al., 2003).
Os efeitos lineares e
quadráticos da área de olho de lombo transversal no ultrassom (AOLTus)
influenciaram significativamente as características espessura da pele umbilical
medida no animal vivo (EPUV), medida diagonal longitudinal no ultrassom (MDLUS)
e medida diagonal transversal no ultrassom (MDTUS). Para área de olho
de lombo longitudinal ultrassom (AOLLUS) apenas o efeito linear foi
significativo (Tabela 2).
Para as medidas obtidas via
ultrassom, o efeito de castração (inteiros ou castrados) foi estatisticamente
significativo para EPUV, MDLUS, AOLLUS e AOLTUS.
Quanto ao peso da pele, observou-se diferença significativa entre animais
inteiros e castrados, sendo que os castrados apresentaram maior peso da pele, o
que é contrário ao encontrado por RIBEIRO et al. (2000), que não verificaram
diferença na proporção de pele entre animais inteiros e castrados da raça Ile
de France.
Na Tabela 3 estão
apresentadas as correlações estimadas entre as características de carcaça
avaliadas in vivo e post morten. As correlações entre o peso vivo
(PV) e a maioria das características de carcaça, medidas via ultrassom e
adipômetro, foram positivas e variaram de moderadas a altas, indicando que
animais mais pesados têm maiores mensurações das demais características
avaliadas. A correlação obtida entre PV e peso da carcaça quente (PCQ) foi de
0,97, resultado que está de acordo com o obtido por BONACINA et al. (2007), que
concluíram que o peso corporal dos cordeiros foi um bom estimador do peso de
carcaça quente, pois apresentou alto coeficiente de correlação (0,84).
As correlações entre as
características avaliadas com adipômetro e o pernil (PER) foram positivas e
variam de moderadas a altas. Correlações positivas variando de moderada a alta
também foram obtidas entre as características avaliadas via ultrassom e PER. As
correlações entre as medidas com adipômetro e ultrassom com o peso do lombo
(LOM) foram positivas e variaram de baixa a moderada, já com gordura de
cobertura na carcaça (GCC), órgãos abdominais (OA) e espessura da pele
umbilical (EPUV) foram baixas e negativas.
As medidas obtidas pelo
ultrassom apresentaram correlações altas com peso da carcaça quente (PCQ) e o
peso da hemi-carcaça (PHC), indicando que animais mais pesados terão maiores
mensurações para as demais características de carcaça. Por outro lado, as
características avaliadas com uso do adipômetro apresentaram correlações
variando de moderada a baixa para PCQ e PHC. MARTINS et al. (2004), em estudo
com cordeiros, observaram que a AOLUS apresentou alta correlação com
características da carcaça, tais como PCQ, PHQ e CC. BONACINA et al. (2007)
estimaram correlações positivas, variando de moderada a alta, entre as medidas
por ultrassom com peso da carcaça quente e peso corporal, conformação e
rendimento de carcaça.
Em geral as medidas
realizadas por ultrassom apresentaram correlações positivas entre 0,40 e 0,60 e
estatisticamente significantes com as medidas de AOLc. Concordando com WILLIAMS
(2002), a AOLc foi positiva e favoravelmente correlacionada com a gordura de
cobertura na carcaça e com os cortes nobres como lombo e pernil. Além disso, as
medidas musculares por ultrassom apresentaram correlações positivas, altas e
estatisticamente significantes com os pesos dos cortes de pernil e paleta.
Dessa forma, as medidas ultrasonográficas podem ser úteis para predição do rendimento
desses cortes comerciais. Estes resultados estão de acordo com WILLIAMS et al.
(1997), que concluíram que as características de carcaça avaliadas por
ultrassom aliadas ao peso vivo (PV) são boas como preditores dos pesos de
carcaça e cortes comerciais de bovinos. SILVA et al. (2003) verificaram que
tanto a espessura de gordura subcutânea no ultrassom (GUS) quanto a
área de olho de lombo medida por ultrassom (AOLTUS) apresentam
crescimento linear em função do peso corporal.
A Figura 1 apresenta os dois
primeiros autovetores da análise de componentes principais, os quais explicaram
63% do total da variação entre as características. Observando o primeiro autovetor, é possível
notar que um animal que tem um peso vivo elevado também tem altos pesos para os
cortes comerciais, como esperado. Isso
está de acordo com BUENO et al., (2000), que relataram um aumento linear do peso das carcaças quente e
fria, dos cortes e componentes, denotando o acréscimo de tecidos nas carcaças,
devido ao aumento de peso vivo dos animais. FERNANDES et al. (2008) verificaram
que os cordeiros abatidos com o maior peso obtiveram maiores rendimentos de
carcaça quente com base no peso do corpo vazio, o que pode ser explicado pela
maior proporção do peso da carcaça em relação ao peso vivo devido ao menor
conteúdo do aparelho digestivo.
O segundo autovetor mostrou
que animais com pernil, paleta e costela pesados apresentam menores peso de
pele, altura de cernelha e peso dos órgãos abdominais,
caracterizando um biotipo de animal que mais desejável para seleção. Resultados
semelhantes foram reportados por BEZERRA et al. (2010), que observaram maior
rendimento comercial em carcaças de cabritos SRD associado a menores pesos dos
componentes não constituintes da carcaça, destacando-se um menor peso do
conjunto rúmen/retículo. JENKINS & LEYMASTER (1993) verificaram que as
porcentagens de fígado, pulmões e rins, em relação ao peso de corpo vazio
(PCV), são maiores ao nascimento e diminuem com o avanço da idade. Segundo
OSÓRIO et al. (2002), a proporção do peso da pele em relação ao peso vivo
diminui com o aumento da idade, o que está de acordo com o observado neste
estudo.
Na Tabela 4 estão
apresentadas as equações de regressão usando as características e componentes
de carcaça estudadas como variáveis dependentes e as medidas realizadas por
ultrassom, o peso vivo, a altura da cernelha e o comprimento do corpo do animal
como variáveis independentes. Portanto, o objetivo dessas equações de regressão
é avaliar se as medidas obtidas in vivo podem ser usadas para predizer o
peso da carcaça e cortes comerciais obtidos após o abate.
Entre as medidas de
ultrassom, apenas a AOLTUS teve influência estatística significativa
para as variáveis RC e AOLc. A AOLc teve regressão com alto coeficiente de
determinação (R2=0,70), tendo como variáveis independentes o
comprimento corporal do animal e a AOLTUS; portanto, pode-se prever
a AOLc com essas medidas in vivo. DELFA et al. (1995), ao utilizarem
ultrassonografia, observaram que de 75 a 95% da variação do peso dos cortes
comerciais foram explicados pelos modelos de regressão múltipla que
consideraram na equação o peso vivo, a profundidade do músculo e a espessura de
gordura subcutânea lombar e esternal. Esses autores também relataram que de 59
a 86% da variação do peso total da gordura da carcaça foi explicada pela
variação do peso vivo e espessura de gordura subcutânea ao nível da 13a
costela e que tais equações explicaram 73 a 83% da variação da espessura de
gordura subcutânea da carcaça.
As características de peso do
pernil, comprimento da carcaça, peso da carcaça quente e da meia carcaça
tiveram regressão com coeficiente de determinação acima de 0,60; portanto, as
medidas avaliadas in vivo são bons
preditores dessas medidas de carcaça. Desta forma, programas de melhoramento
genético que tenham como objetivo de seleção as características de área de olho
de lombo, peso do pernil, comprimento e peso da carcaça podem utilizar as
medidas in vivo de peso vivo, comprimento corporal do animal e AOLTUS
como critérios de seleção, já que essas medidas in vivo são obtidas mais
facilmente, de maneira mais barata e em maior número de animais, pois não é
necessário realizar o abate dos animais para realizar a mensuração.
HASSEN et al. (1998 e 1999),
ao verificarem a viabilidade da utilização de medidas de ultrassom para estimar
a composição da carcaça em bovinos, relataram que o modelo que considerou PV,
AOLUS e EGS explicou até 81% do PCQ. Em comparação a esse estudo, o
resultado do presente trabalho apresentou um maior coeficiente de determinação
para PCQ (92%) utilizando apenas o PV como variável independente.
Para OA e peso do lombo, as
equações de regressão estimadas não foram significativas. E para peso de
pescoço, costela e RC foram obtidos baixos coeficientes de determinação (R2<0,30).
Portanto, as medidas in vivo realizadas neste estudo não devem ser
utilizadas para predição desses cortes comerciais, do rendimento de carcaça e
do peso dos órgãos abdominais.
CONCLUSÃO
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