AVALIAÇÃO
MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DE PERNIS SUÍNOS TRATADOS COM ÁCIDOS
ORGÂNICOS E/OU VAPOR NO CONTROLE DA CONTAMINAÇÃO SUPERFICIAL POR Salmonella
Typhimurium
Andréa
Rosa Machado1, Fábio Carvalho Gouveia2, Lídia
Cristina Almeida Picinin2, Jalusa Deon Kich3,
Marisa Ribeiro de Itapema Cardoso4, Sandra Maria Ferraz2
1Professora
Mestre,
Instituto Federal do Rio Grande do Sul, Sertão, RS, Brasil.
andrearosamachado@hotmail.com
2Professoras
Doutoras
da Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC. Brasil
3Pesquisadora
Doutora
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Centro Nacional de
Pesquisa de Suínos e Aves, Concórdia, SC, Brasil.
4Professora Doutora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
RESUMO
Suínos
portadores
assintomáticos são o principal fator de risco para a contaminação de
carcaças durante o processamento industrial. Diferentes formas de
prevenção e controle têm sido testadas no pós abate, dentre elas o uso
de vapor e/ou ácidos orgânicos, que podem ser alternativas de baixo
custo e alta eficiência. No presente estudo, testou-se o uso de solução
de ácidos orgânicos e aplicação de vapor sob pressão, usados
isoladamente ou em associação. Como poucas pesquisas trazem informações
sobre o fato desses tratamentos promoverem ou não mudanças nas
características físico-químicas da carne suína, o presente experimento
se propôs também a avaliar as possíveis alterações físico-químicas de
pernis submetidos a esses tratamentos. Porções de pernil foram
contaminadas artificialmente com Salmonella
Typhimurium DT 177 e, posteriormente, divididas em quatro
tratamentos: imersão em solução fisiológica por 5 segundos (controle,
T1); imersão em solução fisiológica acrescida de ácidos orgânicos 1000
ppm por 5 segundos (T2); aspersão de vapor sob pressão de 4 bar à
temperatura de 140ºC (T3); e T3 seguido por T2 (T4). Após o tratamento,
uma área de 100cm2 foi amostrada por meio de swab
para quantificação da Salmonella
residual pela técnica do número mais provável (NMP). Foram avaliados
também o aspecto, coloração, consistência e odor, antes e após cada
tratamento dos pernis, bem como análises físico-químicas visando à
determinação do percentual de lipídeos, proteínas, pH, umidade e
voláteis, também antes e após cada tratamento. Observou-se que o uso de
vapor associado à imersão em solução de ácidos orgânicos a 1000 ppm
apresentou melhor eficiência na redução das contaminações superficiais
(100% de frequência de redução), porém a melhor eficácia foi observada através da redução
de 0,8 log base 10 do NMP
na pele e 0,77 log base 10 do NMP na musculatura através do uso
de solução fisiológica (T1) e solução de ácidos orgânicos (T2),
respectivamente. Os resultados obtidos revelaram que os tratamentos
utilizados não interferiram nos atributos físico-químicos, como aspecto,
cor, odor e consistência. O tratamento de vapor associado aos ácidos
orgânicos diminuiu o pH e aumentou o teor de umidade e voláteis da
carne, porém não descaracterizou a qualidade físico-química da carne
suína, que permaneceu dentro de seus padrões ideais, apta ao consumo
humano.
--------------------
MICROBIOLOGICAL
AND PHYSICO-CHEMICAL EVALUATION OF PORK LEG TREATED WITH ORGANIC ACIDS
AND/OR STEAM UNDER PRESSURE IN THE CONTROL OF SURFACE CONTAMINATION BY Salmonella Typhimurium
ABSTRACT
Asymptomatic
carrier pigs are the main risk factor for carcass contamination during
the slaughter. Several post-slaughter prevention programs have been
tested, such as organic acids and steam under pressure. These
alternatives show low cost and high efficiency. This study tested the
use of organic acid solutions and steam, in isolated tests and its
associations. This experiment also evaluated the physical-chemistry
features of the pork. Forty pork legs were contaminated with Salmonella
Typhimurium DT 177 and subsequently divided into 4 treatments:
immersion in physiological solution for 5 seconds (control, T1);
immersion in physiological solution with 1000 ppm of organic acids for 5
seconds (T2); sprinkling of steam under pressure (4 bar) at 140ºC (T3);
and T2 after T3 (T4). An area of 100cm2 was sampled through
superficial swabs for Salmonella
counts by Most Probable Number method (MPN). Aspect, color, consistency,
smell, and levels of fat, protein, pH, and moisture were also evaluated
before and after each treatment. The use of steam associated to the
immersion in organic acid solution showed better efficiency for
reduction of superficial contamination (decreasing 100% of counts) but
the better effectiveness was observed through the decreasing of 0.8 log
of MPN at skin and 0.77 log of MPN at muscle by using the physiological
solution (T1) and the organic acid solution (T2), respectively. The
steam treatment associated with the organic acid solutions (T4)
decreased the pH and increased moisture of pork legs, although it did
not mischaracterize the quality (within required parameters for human
consumption). All the other treatments did not change physical-chemistry
fefatures.
--------------------
INTRODUÇÃO
A carne suína é rica em
nutrientes essenciais, sendo a proteína de origem animal mais consumida no
mundo, contribuindo para a obtenção de uma alimentação balanceada. Possui
sabor e maciez característicos, além de ser fonte de vitaminas e minerais
(ODA, 2004).
No crescente mercado de
produção suína, as agroindústrias procuram garantir aumento de produção
aliado à lucratividade e à segurança alimentar do consumidor. Muitas
ferramentas de gestão estão disponíveis para o controle de patógenos nos
sistemas produtivos, como BPF (Boas Práticas de Fabricação) e APPCC
(Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle). Apesar disso,
patógenos que causam toxinfecções alimentares, como Salmonella
enterica, ainda podem ser isolados em produtos cárneos no Brasil
(FERRAZ et al., 2004; SPRICIGO et al., 2008). A legislação brasileira
determina a ausência de Salmonella sp. (ANVISA, 2001), porém os
sistemas de produção de carnes suínas e derivados ainda enfrentam
problemas de contaminação, tanto das carcaças em frigoríficos como dos
suínos produzidos a campo. Essas informações vêm ao encontro das
conclusões de FERRAZ et al. (2004) sobre a importância de suínos
portadores de Salmonella
abatidos e a contaminação de seu produto final. Várias pesquisas têm
avaliado métodos de controle microbiológico em carnes (CONTE & MARIN,
2003), porém com métodos diferenciados e resultados divergentes. Várias
propostas vêm sendo estudadas para tratamento de carcaças suínas no
pós-abate, como a utilização de ácidos orgânicos; o uso de água quente sob
a forma de vapor e a associação do tratamento térmico com o químico.
Devido aos efeitos deletérios
que a contaminação microbiana pode provocar na carne e considerando que os
tratamentos que podem ser usados para descontaminar as carcaças não devem
promover alterações em suas características físico-químicas, o presente
trabalho teve como objetivos: buscar uma alternativa para o controle
superficial de Salmonella Typhimurium
em pernis suínos artificialmente contaminados, avaliando o uso de ácidos
orgânicos e vapor sob pressão, em tratamentos isolados e em associação e
avaliar possíveis mudanças em suas características físico-químicas.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi dividido em
duas etapas, sendo a primeira a avaliação microbiológica de pernis
previamente contaminados por Salmonella
Typhimurium fagotipo DT 177 e submetidos a quatro tratamentos, no
Laboratório de Bacteriologia do Centro de Diagnóstico Microbiológico
Animal (CEDIMA). A segunda etapa foi para a realização das análises
físico-químicas dos pernis submetidos a três tratamentos, no Laboratório
de Bromatologia, ambos do Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV/UDESC),
no período de junho a novembro de 2008.
Foram utilizados 40 pernis
provenientes de abatedouro-frigorífico de suínos sob Inspeção Federal do
Estado de Santa Catarina. Esses pernis foram resfriados e divididos em
quatro partes, sendo que cada parte tinha peso médio de aproximadamente
3,5 kg. O lote de suínos usado foi composto somente por fêmeas, com idade
entre 160 e 180 dias.
Para a primeira etapa, os
pernis previamente contaminados foram submetidos a quatro tratamentos
diferentes:
- T1: imersão em solução fisiológica por 5 segundos;
- T2: imersão em solução fisiológica ácida a 1.000
ppm (solução de ácidos orgânicos sendo o principal constituinte o ácido
cítrico) por 5 segundos;
- T3: aspersão de vapor sob pressão (4 BAR) a 140ºC,
por 15 segundos;
- T4: associação do T3 seguido do tratamento T2.
Para a segunda etapa os pernis
foram submetidos a três tratamentos diferentes:
- T 1.1: imersão dos pernis em solução composta por
ácidos orgânicos (ácido ascórbico, ácido cítrico e ácido lático) a 1%,
diluídos em um litro de água destilada;
- T 2.1: aplicação de vapor por aspersão, gerado por
equipamento próprio da marca Vaporex®, com temperatura entre
120 a 140°C, pressão de operação de 4 BAR, por tempo aproximado de 15
segundos;
- T 3.1: associação do T 2.1 seguido do T 1.1.
Para a realização da primeira
etapa (avaliação microbiológica), foram utilizados 40 pernis suínos com
pele e artificialmente contaminados por imersão em solução fisiológica
estéril contendo 103 UFC/mL de Salmonella Typhimurium
– fagotipo DT177. Os pernis foram agrupados em quatro blocos para os
devidos tratamentos e, para cada tratamento, foram realizadas 10
repetições. Após 15 minutos da realização da contaminação em solução com Salmonella Typhimurium, foram
colhidas amostras da superfície de 100cm2 de pele e de
musculatura de cada pernil, com uso de suabes estéreis. Os pernis foram
submetidos aos tratamentos específicos e novas amostras foram colhidas
após 15 minutos da aplicação de cada tratamento, com o objetivo de avaliar
a variação da quantidade de bactérias por superfície de área.
Para a quantificação de Salmonellas,
os suabes foram inoculados em 100 mL de água peptonada tamponada estéril
(APTE). Cada solução foi homogeneizada e a fase líquida repassada para
tubos de APTE, segundo a técnica do Número Mais Provável (NMP) por 100 mL
para série de três tubos, com inóculos de 10; 1 e 0,1mL (BRASIL, 2003). As
amostras diluídas foram incubadas por 20 horas a 37ºC e o isolamento da Salmonella
sp. Foi realizado por meio do caldo Rappaport-Vassiliadis (42ºC por
24 horas) e ágar XLD (37ºC por 24 horas) (KICH et al., 2004). Os
resultados foram expressos em NMP/100cm² de superfície amostrada.
Para a realização da segunda
etapa (análises físico-químicas), foram testados três tratamentos, nos
quais se utilizaram 10 pernis por tratamento, com coleta em duplicata de
amostras antes e após cada tratamento para comparação dos resultados
obtidos.
Para execução das análises de
aspecto, coloração, consistência, odor e físico-químicas, foram coletados
aproximadamente 500 gramas de carne, antes de cada tratamento (servindo
como grupo controle) e imediatamente após cada tratamento (T 1.1, T 2.1, T
3.1). Essas porções de carne foram retiradas de várias regiões do pernil
que não atingissem grandes vasos e nem tecidos adiposos, conforme BRASIL
(1999). Após a coleta, essas porções de carne foram homogeneizadas em
multiprocessador de alimentos.
Essas análises foram feitas
sensorialmente, comparando a carne antes e após cada tratamento, para ver
se algum dos tratamentos iria provocar alterações nessas características.
Complementando essas análises, foi realizada a prova da cocção e, após a
avaliação do odor, procedeu-se à fervura do material por mais 5 minutos
para observação do aspecto da carne (BRASIL, 1999). As análises
físico-químicas da carne, visando determinação do percentual de lipídios,
proteína, pH e umidade foram realizadas conforme metodologia oficial
descrita por BRASIL (1999).
Para a análise estatística das
análises microbiológicas foram calculadas as frequências de amostras que
reduziram o NMP de Salmonella sp.
após
o tratamento quando comparadas ao NMP inicial. Essas frequências foram
comparadas através do teste exato de Fisher. Já para as análises
físico-químicas, os resultados foram avaliados através das comparações de
médias pelo teste t para dados pareados, comparando-se o antes e o depois
da aplicação de cada tratamento (SAS, 1999).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a primeira
etapa (Avaliação Microbiológica), ao se analisarem os resultados
obtidos no NMP na pele, observou-se que nos quatro casos houve efeito
significativo (p<0,05) do tratamento, sendo que o tratamento com ácido
(T2) foi o que teve menor eficácia na frequência de redução da
contaminação e o uso simultâneo de vapor mais ácido (T4) foi o mais eficaz
(Tabela
1). A Figura
1 apresenta as médias dos NMPs e seus respectivos
erros-padrão antes e após cada tratamento, em que as maiores reduções do
NMP observadas foram com o uso de solução fisiológica (T1) (0,8 log base
10) e da solução ácida (T2) (0,77 log base 10) na pele e na musculatura,
respectivamente. É importante observar que os tratamentos com solução
fisiológica (T1) e vapor (T3) apresentaram resultados intermediários e não
diferiram significativamente (p>0,05) dos outros dois tratamentos.
A redução do NMP no tratamento
com solução fisiológica (T1) pode ser atribuído ao fato de a água exercer
efeito físico na retirada das células bacterianas de Salmonella
Typhimurium presentes na superfície de carcaças suínas. Isso reitera
o efeito da ação mecânica do líquido na retirada de células bacterianas
superficialmente depositadas nos tecidos. Essa observação também foi
realizada por CUTTER (1999), em estudo sobre contaminações experimentais
superficiais por Salmonella Typhimurium em carcaças bovinas. Dessa forma, a ação
mecânica dos líquidos durante a lavação de carcaças antes do resfriamento
e armazenagem pode ser uma medida auxiliar no controle de Salmonella sp. depositada na superfície das carcaças.
Na musculatura, os tratamentos
com solução fisiológica (T1) e vapor (T3) apenas reduziram a contagem em
aproximadamente 40% das amostras, ao passo que os outros dois tratamentos
(T2 e T4) foram mais efetivos, reduzindo a contagem em 100% das repetições
(Tabela
1).
Ao analisar os resultados do
tratamento com solução fisiológica (T1), a frequência de redução da
contagem foi maior na pele do que na musculatura. Isso pode ser atribuído
ao fato de a superfície da pele ser mais uniforme e com menor quantidade
de irregularidades para depósito de contaminantes. Esse argumento pode
justificar também a menor influência do tratamento (T3) na musculatura do
que na pele. Cabe também salientar que a irregularidade da superfície pode
induzir maior retenção de líquidos e, consequentemente, menor
homogeneização da distribuição de calor veiculado pelo vapor.
Apesar de ser possível inferir
que o tratamento com solução ácida (T2) pode induzir a remoção mecânica
das salmonelas da mesma forma que a solução fisiológica (T1), o resultado
na musculatura apresentou frequência de redução da média de log de (NMP)
de Salmonella Typhimurium
maior do que na pele. Portanto, pode-se sugerir que a solução ácida
utilizada em (T2) possui ação mais eficaz na musculatura do que na pele.
As ações isoladas dos
tratamentos com vapor sob pressão (T3) e com solução ácida (T2) não foram
satisfatórias neste estudo, sendo o baixo número de repetições um dos
motivos para não se elucidarem os efeitos isolados de cada um desses
tratamentos. Este estudo não permitiu definir os ácidos orgânicos como
agentes químicos eficazes em tratamentos isolados no controle de Salmonella
Typhimurium em contaminações superficiais de carcaças suínas. Dessa
forma, um novo estudo com novo delineamento é sugerido para informações
mais conclusivas.
NETTEN et al. (1995) apontam
melhores resultados para o controle microbiológico pela ação sinérgica
química e física, fato observado também por GUERRERRO et al. (1995) por
meio da associação de ácidos orgânicos e baixas temperaturas. Essas
informações e a observação na redução do NMP em 100% das repetições em
(T4), tanto na pele como na musculatura, sugerem que a alta temperatura e
a pressão de aspersão do vapor associado à ação química e mecânica da
solução ácida justificam o melhor desempenho do tratamento (T4) no
controle microbiológico de Salmonella
Typhimurium na superfície de pernis suínos.
Para a segunda etapa (análises
físico-químicas), os resultados mostraram que os tratamentos utilizados
não interferiram nos atributos aspecto, cor, odor e consistência dos
pernis tratados. Isso
confirma o que alguns autores encontraram em outras espécies (BELL et al.,
1986; DUBAL et al., 2004), pois, como a aparência visual é o principal
critério no qual o consumidor se baseia ao comprar produtos cárneos, é
essencial que esta aparência seja mantida próxima dos níveis ótimos,
esperados e desejáveis. É ainda necessário que se mantenha a estabilidade
da cor da carne durante a distribuição, estocagem e comercialização. Nesse
sentido, é importante que os tratamentos aplicados na carne que visam à
redução da carga microbiana superficial não alterem a cor nem provoquem
mudanças nas características organolépticas.
Conforme BRASIL (1999), as
características desejáveis em relação ao aspecto da carne suína são:
uniformidade, ausência de acúmulo sanguíneo, manchas e limo. A superfície
de corte da carne suína de boa qualidade deve apresentar aparência
marmórea, sem flacidez e exsudato. A carne suína deve possuir cor
uniforme, entre rosada e avermelhada, apresentando uma pequena camada de
gordura branca, com consistência firme e compacta e com odor suave,
agradável e característico (sui generis).
Os resultados encontrados
neste experimento confirmam o trabalho realizado por GOLDBACH & ALBAN
(2006), com carcaças suínas tratadas com água quente, no qual afirmaram
que mudanças na cor da carne podem ocorrer, mas são transitórias e
desaparecem após o resfriamento. GILL et al. (1999) testaram água quente
em carcaças bovinas e verificaram que esse tratamento não causou prejuízos
na aparência da carne. JAMES et al. (2000) avaliaram e testaram o uso de
vapor e água quente em carcaças de cordeiro e os mesmos tratamentos não
promoveram alterações na aparência da carne.
Nenhum dos três tratamentos
propostos alterou a prova da cocção, seja no odor ou na consistência da
carne. Essa é uma prova complementar que se fundamenta nas modificações de
consistência, odores e sabor ocorridos nos alimentos em início de
decomposição, realçadas pelo aquecimento da amostra. Os odores amoniacais,
sulfídrico ou de ranço são facilmente identificados (BRASIL, 1999).
Conforme
mostra a Tabela
2, os tratamentos T 1.1 e T 2.1 não alteraram as
propriedades físico-químicas da carne. VASCONCELOS et al. (2002), em
trabalho realizado com carcaças ovinas tratadas com ácido acético, também
não encontraram alterações no pH da carne após o tratamento. Entretanto, o
tratamento T 3.1 diminuiu o pH da carne e aumentou seu teor de umidade,
porém isso não descaracterizou a carne e nem tornou-a imprópria ao consumo
humano, podendo, inclusive, ser alterações transitórias como demonstram
alguns trabalhos.
Observou-se neste trabalho que
o tratamento T 3.1 diminuiu o pH, fato devido, provavelmente, ao aumento
do poder de penetração do ácido pela aplicação conjunta do vapor,
especialmente porque as análises foram realizadas imediatamente após a
aplicação do tratamento. ÖZDEMIR et al. (2006) trataram carcaças bovinas
com água quente seguida de ácido lático e observaram que o pH declinava
logo após o tratamento; no entanto, após a carcaça ficar estocada em
refrigeração a 4ºC por 5 dias, o pH foi medido novamente, retornando ao
normal. Conforme FIORUCCI et al (2002), o ácido lático provoca uma pequena
e temporária redução no pH da carne, porém o pH volta ao normal de 48 a 72
horas após a aplicação.
O tratamento T 3.1 aumentou o
teor de umidade da carne, provavelmente devido à sua associação, alterando
a capacidade de retenção de água (CRA) da carne. Conforme SILVA &
SOARES (2001), o uso de substâncias como ácidos orgânicos na carne pode
alterar sua propriedade de retenção de água. Assim sendo, o calor do vapor
pode ter aumentado a capacidade de absorção da solução de ácidos orgânicos
(diminuindo o pH), reduzindo, assim, a capacidade de retenção de água pela
carne e aumentando seu teor de umidade. KOZEMPEL et al. (2003) relataram
que o vapor é capaz de abrir os poros da superfície da carne, reforçando a
tese de que ele aumentou a capacidade de absorção dos ácidos orgânicos.
O uso de vapor associado à
imersão da carne em solução de ácidos orgânicos a 1000 ppm é uma ação
eficiente no controle de contaminações superficiais de Salmonella Typhimurium em carne suína.
A imersão da carne suína em
solução fisiológica exerce ação mecânica que resulta em boa eficácia na
redução do NMP de Salmonella
Typhimurium nas contaminações superficiais da pele presente na carne
suína.
Os tratamentos propostos não
alteram as características da carne como aspecto, cor, odor e
consistência. Da mesma forma, quando aplicados isoladamente não alteraram
as propriedades físico-químicas da carne (pH, lipídios, proteínas e
umidade). O tratamento com vapor associado ao uso de ácidos orgânicos
promoveu um leve declínio no pH e aumento no seu teor de umidade;
entretanto, a carne permaneceu adequada ao consumo humano, pois suas
características de cor, odor, sabor e consistência permaneceram
inalteradas.
AGRADECIMENTOS
Ao professor Henrique Ribeiro
Filho, do Laboratório de Bromatologia da Universidade do Estado de Santa
Catarina e ao seu funcionário Maurílio, pelo auxílio na realização deste
trabalho. Às acadêmicas Heloíse Peterle, Camila Pliéski e Caroline Pisseti
pelo auxílio na realização da parte prática do experimento e à Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA - Suínos e Aves pela
parceria no projeto, em especial ao pesquisador Arlei Coldebella pela
análise estatística.
REFERÊNCIAS
ANVISA. Agência nacional de vigilância
sanitária. Ministério da Saúde.
Resolução RDC nº12 de 02 de janeiro de 2001.
BELL, M. F., MARSHALL, R. T., ANDERSON, M. E.
Microbiological and sensory tests of beef treated with acetic and formic
acids. Journal of Food
Protection, v.49, n. 3, p.
207-210, 1986.
BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento. Instrução Normativa nº 20 de 21 de julho de 1999.
Oficializa os métodos analíticos físico-químicos para controle de
produtos cárneos e seus ingredientes – sal e salmoura. Diário
Oficial da União, Brasília, 27 de agosto de 1999.
Disponível em <www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Aniamal/.../labalac.pdf>
Acesso
em 25 jul 2013.
CONTE, A. P. F; MARIN, J. M. Selection of
5-fluorocytosine-resistant mutants from an Aspergillus
niger citric acid-producing strain. Brazilian
Journal
of Microbiology, São Paulo, v. 34, n. 1, p. 1-4, 2003.
CUTTER, C.N.
Combination spray washes of saponin with water or acetic acid to reduce
aerobic and pathogenic bacteria on lean beef surfaces. Journal
of
Food Protection, v. 62, n. 3, p. 280-283, 1999.
DUBAL, Z.B., PATURKAR, A. M., WASKAR, V. S., ZENDE, R. J.,
LATHA, C., RAWOOL, D. B., KADAM, M.M. Effect of food grade organic acids
on inoculated S. aureus, L.monocytogenes, E. coli and S. Typhimurium
in sheep/goat meat stored at refrigeration temperature. Meat Science,
v. 66, n. 4, p. 817–821, 2004.
FERRAZ, S. M. ; SCHWARZ, P ; CANAL, C. W ;
CARDOSO, M. R. I. Prevalência de suínos portadores de Salmonella sp. ao
abate e contaminação de embutidos tipo frescal. Acta
Scientiae Veterinariae, v. 32, n.2, p. 141-147, 2004.
FIORUCCI, A. R., SOARES, M. H. F. B.,
CAVALHEIRO, E. T. G. Ácidos Orgânicos: dos primórdios da química
experimental à sua presença em nosso cotidiano. Química Nova na
Escola, n° 15, maio/2002; Disponível em <http://www. qnesc.sbq.org.br/online/qnesc15/v15a02.pdf>,
acesso
em 24, jul,2013.
GILL, C. O., BRYANT, J., BEDARD, D. The effects of hot water
pasteurizing treatments on the appearances and microbiological
conditions of beef carcass sides. Food Microbiology, v. 16, p.
281- 289, 1999.
GOLDBACH, S. G., ALBAN, L. A cost-benefit analysis of Salmonella-control
strategies
in Danish pork production. Preventive Veterinary Medicine, n
77, p 1-14, 2006.
GUERRERO, I., MENDIOLEA, R., PONCE, E., PRADO, A.
Inoculation of Lactic Acid Bacteria on Meat Surfaces as a Means of
Decontamination in Semitropical Conditions. Meat
Science, v. 40, p.
397-411, 1995.
JAMES, C., THORNTON; J. A., KETTENRIGHAM, L., JAMES, S. J.
Effect of steam condensation, hot water or chlorinated hot water
immersion on bacterial numbers and quality of lamb carcasses. Journal
of
Food Engineering, v. 43, p. 219-225, 2000.
KICH, J. D.; BOROWSKY, L.; SILVA, V.; RAMENZONI, M.; TRIQUES, N.; CARDOSO, M. R. I. . Avaliação da atividade antibacteriana de
desinfetantes comerciais frente a amostras de Salmonella Typhimurium
isoladas de suínos. Acta
Scientiae Veterinarie, v. 32, n.1,
p. 33-39, 2004
KOZEMPEL, M.; GOLDBERG; CRAIG, J. C. Jr. The
vacuum/steam/vacuum process. Food
Technology, v. 57, n.
12, p. 30-33, 2003
NETTEN, P.; MOSSEL, D.A.A.; VELD, H. Lactic acid
decontamination of fresh pork carcasses:a pilot plant study, International
Journal
of Food Microbiology, v.25, p.1-9, 1995
ODA, E. I.
Carnes PSE e DFD em aves e suínos: diferenças e semelhanças. Revista Nacional da Carne,
n.325, p. 108-113, 2004.
ÖZDEMIR, H.;
YILDIRIM, Y., KÜPLÜLÜ, O., KOLUMAN, A., GÖNCÜOGLU, M., INAT, G. Effects
of lactic acid and hot water treatments on SalmonellaTyphimurium
and Listeria monocytogenes on beef. Food
Control, v. 17, p. 299–303, 2006.
SAS INSTITUTE (CARY NC). SAS User Guide: Statistical Analysis System, release 8.2, 1999; Disponível em <ww.ufrrj.br/institutos/it/deng/.../SAS_o_essencial_da_linguagem.pdf>,
acesso em 24 jul 2013.
SILVA, J. A; SOARES, L. F. Sanitização de
Carcaças de Frango com Ácidos Orgânicos Comerciais e Suco de Limão. Revista TeC Carnes, v. 3, n.
1, p. 19-26, 2001.
SPRICIGO, D. A.; MATSUMOTO, S. R.; ESPÍNDOLA, M. L.; FERRAZ, S. M. Prevalência, quantificação e resistência a
antimicrobianos de sorovares de Salmonella isolados de lingüiça frescal
suína. Ciência e Tecnologia de
Alimentos, v. 28, p. 1-7, 2008.
VASCONCELOS, E. C., ZAPATA, J. F. F., FIGUEIREDO, E. A., BRANCO, M. A. A. C., BORGES, A. S. A microbiota da carcaça e da carne ovina tratada com ácido acético, embalada a vácuo e maturada por 48 dias. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.22, n. 3, 2002.
Protocolado
em:
16 ago. 2010. Aceito
em: 19 jun. 2013.