RESUMO
Avaliaram-se neste estudo as características quantitativas da carcaça
de 68 novilhos Braford desmamados em duas idades: desmame precoce (DP),
com média de 91 dias de idade; e desmame convencional (DC), média de
160 dias de idade. Terminados em pastagem cultivada de verão (
Pennisetum americanum)
e abatidos aos dezesseis meses de idade, os novilhos foram
classificados ao abate em três grupos de peso: leves (≤ 350 kg), médios
(351 a 370 kg) e pesados (≥ 371 kg). Não houve diferença significativa
entre as idades de desmame no peso de abate (DP = 360,0 kg; DC = 359,2
kg), rendimento de carcaça quente (DP = 53,76%; DC = 53,84%),
rendimento de carcaça fria (DP = 52,45%; DC = 52,54%), peso de carcaça
quente (DP = 193,0 kg; DC = 193,2 kg) e peso de carcaça fria (DP =
188,6 kg; DC = 188,5 kg). Os resultados foram também similares em
conformação de carcaça, percentagem dos quartos traseiro e dianteiro e
outras variáveis de desenvolvimento da carcaça. Os pesos médios de
abate foram 338,7; 358,6 e 381,6 kg, respectivamente, para novilhos
leves, médios e pesados. Os novilhos pesados produziram carcaças com
rendimento (52,55%) e espessura de gordura subcutânea (4,54 mm)
similares aos dos médios (52,65% e 4,39 mm, respectivamente) e leves
(52,93% e 3,99 mm, respectivamente). O aumento dos pesos de abate não
alterou os percentuais dos cortes traseiro e dianteiro, mas a espessura
de coxão teve aumento significativo quando o peso médio passou de 338,7
para 381,6 kg. Conclui-se que animais desmamados aos 91 dias de idade
apresentam carcaças com peso e acabamento similares aos desmamados aos
160 dias.
PALAVRAS-CHAVES: Desmame precoce, gordura de cobertura, conformação, peso de carcaça, rendimento de carcaça
ABSTRACT
CARCASS CHARACTERISTICS OF STEERS WEANED AT 91 AND 160 DAYS PASTURE
FINISHED AND SLAUGHTERED AT SIXTEEN MONTHS WITH DIFFERENT WEIGHTS
Carcass quantitative characteristics of 68 Braford steers previously
submitted to two weaning ages: 91 days, early weaning (EW); 160 days,
conventional weaning (CW), classified at slaughter in three live weight
groups: light (≤ 350 kg), medium (351 a 370 kg) and heavy (≥ 371 kg),
were evaluated. Steers were finished on summer pasture (
Pennisetum americanum)
and slaughtered at 16 months of age. No significant differences were
observed between weaning ages for final weight (EW = 360.0 kg; CW =
359.2 kg), hot dressing percentage (EW = 53.76%; CW = 53.84%) and cold
dressing percentage (EW = 52.45%; CW = 52.54%), hot carcass weight (EW
= 193.0 kg; CW = 193.2 kg) and cold carcass weight (EW = 188.6 kg; CW =
188.5 kg). Steers were also similars in carcass conformation,
hindquarter and forequarter percentages and others measures of carcass
development. The average slaughter weight of steers classified as
light, medium and heavy was 338.7, 358.6 e 381.6 kg, respectively.
Heavier steers produced carcasses with dressing percentage of 52.55%
and subcutaneous fat thickness of 4.54 mm, similar to medium (52.65 and
4.39 mm, respectively) and light steers (52.93% and 3.99 mm,
respectively). Weight increase did not affect the hindquarter and
forequarter percentages, but cushion thickness was significantly
increased when the weight increased from 338.7 to 381.6 kg. It can be
concluded that early weaning doesn’t alters the weight and finishing of
steers carcasses.
KEYWORDS: Carcass weight, conformation, carcass dressing, early weaning, subcutaneous fat
INTRODUÇÃO
Taxas de natalidade superiores a 80% associadas ao abate dos novilhos e
ao primeiro serviço de novilhas até os dois anos de idade são
essenciais para obtenção da necessária produtividade em rebanhos de
corte (PÖTTER
et al., 1998; BERETTA
et al., 2002).
Incrementos significativos e necessários em taxas de prenhez de
rebanhos de cria são obtidos mediante a redução da carga animal, com
consequente aumento de oferta de pasto (QUADROS & LOBATO, 1996;
SIMEONE & LOBATO, 1996; PÖTTER & LOBATO, 2004) ou uso da
prática de desmame precoce (MOOJEN
et al., 1994; SIMEONE & LOBATO, 1996; LOBATO
et al., 2000; ALMEIDA & LOBATO, 2002), reduzindo as exigências nutricionais das vacas.
A dupla exigência – aumentar as taxas de prenhez e reduzir a idade de
abate dos novilhos – tem induzido trabalhos que não mostram efeitos
prejudiciais do desmame precoce sobre o desenvolvimento, abate e
carcaças de novilhos de 24 a 26 meses de idade (MORAES & LOBATO,
1993; ALBOSPINO & LOBATO, 1994; RESTLE
et al., 1999b, d).
Nos mercados externos, são crescentes as exigências por carcaças
pesadas e bem acabadas. Mas, para consumo interno, animais ainda mais
jovens, com carcaças mais leves e bem acabadas, próprias para “marcas”
de carne bem definidas e restaurantes com público de maior poder
aquisitivo, tem tido mercado garantido (SANTOS
et al.,
2008). Segundo LAWRIE (1970), o interesse por carne de animais jovens
está diretamente ligado às características sensoriais, principalmente a
maciez.
Fator importante para incrementar a qualidade de carne é a redução da
idade de abate dos novilhos para entre 14 e 16 meses de idade (RESTLE
et al., 1997a; SANTOS
et al.,
2008). Essa faixa de idade de abate também resulta em melhor eficiência
alimentar, já que essa característica decresce à medida que avança a
idade dos animais (RESTLE
et al., 2002). O confinamento (RESTLE
et al.,
2002) ou a suplementação sobre pastagens cultivadas (PÖTTER &
LOBATO, 2003), ambos em períodos pós-desmame precoce, mostram a
possibilidade de abate de novilhos entre 14 e 16 meses de idade.
RESTLE
et al. (1999b) não identificaram diferenças quantitativas em carcaças de novilhos abatidos aos 24 meses de idade, assim como RESTLE
et al.
(1999a) diferenças entre bezerros Braford desmamados aos 72 ou aos 210
dias de idade, abatidos com quatorze meses de idade. No entanto, PÖTTER
& LOBATO (2003), ao trabalharem com abate na faixa de 13 a 14 meses
de idade, observaram menores pesos de abate e de carcaça fria de
bezerros desmamados aos cem dias comparados com os desmamados aos 180
dias de idade.
Devido às diferenças encontradas entre as condições dos trabalhos
realizados, seja de ambiente nutricional, de grupos genéticos ou de
idades de desmame, este estudo voltou-se para as características de
carcaças de novilhos submetidos ao desmame precoce ou não, com recria e
terminação em pastagens cultivadas e idade entre 14 e 16 meses.
MATERIAL E MÉTODOS
O período experimental foi dividido em duas etapas: a fase de campo foi
realizada na Granja Itú, município de Itaqui, região fisiográfica
denominada Fronteira Oeste do estado do Rio Grande do Sul. A fase de
análise de carcaças foi realizada no Frigorífico Mercosul S/A.
Utilizaram-se 68 novilhos Braford, filhos de vacas primíparas aos três
anos de idade, distribuídos de acordo com o manejo prévio a que foram
submetidos com suas mães: DP = desmame precoce – trinta bezerros
desmamados com média de idade de 91 dias; e DC = desmame convencional –
38 bezerros desmamados com média de idade de 160 dias.
O desmame precoce foi realizado em 26 de dezembro e o desmame
convencional em 5 de março. Os bezerros do DP, como os do DC, nos
períodos imediatos aos desmames, foram mantidos por dez dias em curral,
com pastejos horários de três horas/dia a partir do quarto dia. Após o
período de curral, os bezerros em lote único foram mantidos em pastagem
cultivada de milheto (
Pennisetum americanum).
No mês de abril, pastejaram Brachiaria brizantha cv. Marandu. No
período pós-desmame até 10 de maio, os animais receberam suplementação
com 18% de proteína bruta e 75% de NDT, composta de farelo de soja,
casca de soja, farelo de trigo, farelo de arroz integral, sal comum,
calcário calcítico e mistura mineral na quantidade de 1% do peso vivo.
De 10 de maio até 15 de novembro, os bezerros pastejaram aveia (
Avena strigosa) e azevém (
Lolium multiflorum
Lam), tendo recebido também, de junho a outubro, 0,5% do peso vivo/dia
de casquinha de soja. No segundo verão (1o de dezembro a 10 de março)
os novilhos foram mantidos e terminados em pastagem cultivada de
milheto (
Pennisetum americanum).
Ao longo do período experimental, os animais receberam as mesmas
condições de manejo e sanidade. Realizou-se a castração aos oito meses
de idade. O abate ocorreu em duas etapas, de acordo com o grau de
acabamento dos novilhos, determinado visualmente através da avaliação
do escore de condição corporal (ECC), conforme método descrito por
LOWMAN
et al. (1973), com
atribuição de valores de 1 a 5, em que 1= magro e 5= gordo. O peso de
fazenda foi obtido nas primeiras horas da manhã, antes do embarque. No
frigorífico, submeteram-se os novilhos a um jejum de sólidos de treze
horas. Ao saírem para o abate foram classificados conforme o seu peso
de fazenda em leves (≤ 350 kg), médios (351 a 370 kg) e pesados (≥ 371
kg).
Após o abate, as carcaças foram identificadas, pesadas e resfriadas por
24 horas a uma temperatura de -2ºC. Decorrido esse tempo, houve nova
pesagem e foram determinados os rendimentos de carcaça quente, fria e a
quebra no resfriamento. Determinaram-se os rendimentos de carcaça
quente e fria através da divisão dos seus pesos pelo peso de abate dos
animais, multiplicando-se por cem para se ter o valor em percentual. A
quebra no resfriamento, também expressa em percentual, foi determinada
por meio da perda de peso da carcaça durante o resfriamento,
comparando-se os pesos de carcaça quente e fria.
Após o período de resfriamento, realizaram-se as seguintes medidas:
comprimento de carcaça, tomada desde o bordo anterior do osso do púbis
até o bordo cranialmedial da primeira costela; comprimento de perna, do
osso do púbis e da articulação tibiotarsiana; espessura de coxão, entre
a face lateral e a face medial da porção superior, medida com um
compasso; comprimento de braço, medido da articulação radiocarpiana até
a extremidade do olécrano; e o perímetro de braço. As meias-carcaças
esquerda e direita foram divididas em dianteiro – que compreende
pescoço, paleta, braço e cinco costelas –; e quarto traseiro,
compreendido entre as regiões posterior da carcaça e do costilhar,
separado do dianteiro entre a quinta e a sexta costelas (MULLER, 1987).
Avaliaram-se as carcaças quanto à conformação, seguindo uma escala de 1
a 18 pontos descrita por MULLER (1987). A conformação é uma avaliação
subjetiva da expressão muscular da carcaça, que leva em conta
principalmente a cobertura muscular do corte serrote, onde estão
localizados os músculos de maior valor comercial. A medida da espessura
de gordura subcutânea foi realizada sobre a 12ª costela, com ajuste do
valor quando não representava a real cobertura de gordura da carcaça.
Pesaram-se e determinaram-se os percentuais de corte do dianteiro e do
quarto traseiro (englobando os cortes serrote e costilhar) nas carcaças
frias.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com número
desigual de repetições por tratamento, devido ao fato de os bezerros
serem filhos de vacas de rebanhos submetidos a diferentes idades de
desmame previamente ao nascimento dos animais. Por isso não seria
possível determinar-se um número igual de repetições. Os resultados
foram submetidos à análise de variância e ao teste F, utilizando-se o
seguinte modelo matemático:
Y
ijkl = µ + ID
i + PA
j + ID*PA
ij + Σ
ij
no qual: Y
ijkl = variáveis dependentes; µ = média de todas as observações; ID
i = efeito da idade de desmame de ordem i, sendo 1 (desmame precoce) e 2 (desmame convencional); PA
j = efeito do peso ao abate de ordem j, sendo 1 (leves), 2 (médios) e 3 (pesados); ID*PA
ij = efeito da interação entre idade de desmame de ordem i e peso de abate de ordem j; Σ
ij = erro residual.
Também calcularam-se os coeficientes de correlação entre as variáveis
dependentes dentro dos tratamentos e verificou-se a probabilidade da
correlação ser significativa a 5% pelo teste t. As análises foram
realizadas com o auxílio do procedimento Proc GLM do programa
estatístico SAS, versão 6.08 (SAS, 1997), adotando-se 5% como nível de
significância máxima.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados serão apresentados e discutidos separadamente para os
efeitos idade de desmame e peso de abate, por não ter sido determinada
interação significativa (P>0,05) entre eles. Não se observaram
diferenças nos pesos de abate e pesos de carcaça quente e fria entre os
novilhos dos dois grupos de desmame (P>0,05;
Tabela 1).
As características quantitativas das carcaças de bovinos são afetadas,
principalmente, pelo peso de abate dos animais. Este representa o
desenvolvimento corporal muscular, gorduras e esqueleto, que compõem a
carcaça. Dessa forma, a similaridade verificada nas características de
carcaça é explicada pelo desenvolvimento dos animais (DI MARCO, 1998;
VAZ
et al., 2008).
LOBATO
et al. (2007) também
observaram similaridades no peso de abate (408,5 e 411,2 kg) e no peso
de carcaça quente (219,1 e 219,6 kg) entre novilhos desmamados aos
setenta ou 180 dias de idade e os abatidos aos dois anos de idade. Da
mesma forma, RESTLE
et al. (1999d) e ALMEIDA
et al.
(2003) não verificaram diferenças no peso de abate, no peso de carcaça
e no rendimento de carcaça quente de novilhos abatidos aos 24 meses de
idade, desmamados em diferentes idades.
Na análise entre bezerros Braford desmamados aos 72 ou aos 210 dias de idade, RESTLE
et al.
(1999c) também relataram similaridades nos pesos de abate e de carcaça
dos novilhos. Os autores afirmam que o menor peso vivo quando do
desmame precoce pode ser minimizado com a melhoria da alimentação
pós-desmama, de acordo com GRIMES & TURNER(1999).
Ao analisarem bezerros desmamados aos cem e aos 180 dias, todos
abatidos com 420 dias de idade, PÖTTER & LOBATO (2003) verificaram
menores pesos de abate e de carcaça fria nos novilhos do desmame
precoce, em decorrência de restrições alimentares a que foram
submetidos após o desmame, devido a fatores climáticos. Entretanto, os
novilhos do desmame aos cem dias mostraram maior rendimento de carcaça
em relação aos bezerros desmamados aos 180 dias. Esses resultados,
somados aos do presente estudo, demonstram ser possível obter
desenvolvimento adequado e, consequentemente, maiores pesos de abate e
de carcaça em animais desmamados precocemente, desde que eles não
sofram restrições severas de ordem ambiental.
ROSA (2006) observou menores pesos de abate para novilhos Aberdeen
Angus submetidos a restrições alimentares severas na recria, embora
eles tenham tido melhores desempenhos durante a fase de realimentação
em confinamento, o que determinou menores pesos de carcaças para
animais restringidos na recria. Esse fato tem fundamental importância
na quantia paga pelo frigorífico ao produtor, pois para a formação do
preço o frigorífico avalia o valor do produto adquirido e os custos
operacionais (COSTA
et al. (2002).
Ao analisarem em novilhas desmamadas aos cem ou aos 180 dias de idade
as características de carcaça através de aparelho de ultrassom, aos 550
dias de idade, PÖTTER
et al. (2004) não observaram diferenças na área de músculo
Longissimus dorsi
e na espessura de gordura. Concluíram que a interrupção da amamentação
aos cem dias de idade não prejudica o desenvolvimento muscular e a
quantidade de carne na carcaça.
MEYER
et al. (2005)
verificaram maior peso de carcaça nos animais desmamados aos noventa
dias, em relação aos bezerros desmamados aos 174 dias de idade, mas
observaram que houve uma tendência dos últimos a compensarem as
diferenças no peso vivo e nos teores de gordura corporal apresentadas
aos seis meses de idade.
A similaridade observada no rendimento de carcaça quente se manteve no
rendimento de carcaça fria devido à similaridade (P>0,05) de quebra
no resfriamento das carcaças de 2,31% e 2,39% para desmames precoce e
convencional, respectivamente (
Tabela 1). Nas análises feitas sobre a desmama aos 72 e aos 210 dias de idade, RESTLE
et al.
(1999c) verificaram valores de quebra no resfriamento mais elevados,
3,37% e 3,24%, respectivamente. Esse resultado pode ser atribuído não
somente às variações na cobertura de gordura, mas também às diferentes
características do resfriamento, tanto entre plantas frigoríficas como
entre câmaras da mesma planta frigorífica (RESTLE
et al.,
1999c). DI MARCO (1998) afirma serem as quebras no resfriamento
determinadas pela cobertura de gordura sobre a carcaça, a qual não
acrescentou diferenças entre os tratamentos comparados neste trabalho (
Tabela 2).
Os valores obtidos de espessura de gordura, conformação e medidas métricas da carcaça, mostrados na
Tabela 2, corroboram os resultados expostos na
Tabela 1, e são indicativos da similaridade do crescimento dos animais.
Diversos trabalhos, ao avaliarem a espessura de gordura de cobertura
nas carcaças de bovinos abatidos aos 24 meses de idade (RESTLE
., 1999d; LOBATO
et al., 2007), e aos quatorze meses (RESTLE
et al.,
1999a, c; PÖTTER & LOBATO, 2003) mostraram não ser essa
característica influenciada pela idade de desmame do animal, e sim,
pela composição da dieta a que os animais são submetidos na fase de
terminação. GRIMES & TURNER, (1999), quando confinaram animais até
atingirem 8,9 mm de espessura de gordura sobre a 12° costela,
verificaram terem sido os bezerros desmamados aos 110 dias, eram onze
dias mais jovens ao abate do que os bezerros desmamados aos 220 dias de
idade.
As características de comprimentos de carcaça, braço e perna, as quais
refletem o desenvolvimento ósseo da carcaça, não diferiram (P>0,05)
entre os tratamentos. O mesmo foi observado nas características de
musculosidade dos membros, na espessura de coxão e no perímetro de
braço (
Tabela 2).
A conformação foi classificada como “boa típica” (MULLER, 1987) tanto
para o desmame precoce como para o desmame convencional (P>0,05),
com valores muito similares (11,10 e 11,09 pontos, respectivamente).
Similaridade entre os valores das medidas métricas da carcaça de
novilhos Braford havia sido relatada anteriormente por RESTLE
et al. (1999a, c).
Foram semelhantes os percentuais determinados para dianteiro e quarto
traseiro – de 37,4% e 62,6% para DP e de 38,0% e 62,3% para DC
(P>0,05) – assim como os de serrote + costilhar em peso ou
rendimento (P>0,05;
Tabela 3).
ALBOSPINO & LOBATO (1994) também não verificaram diferença
significativa em percentagem dos três cortes comerciais da carcaça. No
entanto, em machos Braford abatidos aos quatorze meses de idade, RESTLE
et al. (1999c) observaram
maior porcentagem de costilhar quando o desmame ocorreu aos 72 dias
(12,8%), em relação a machos Braford desmamados aos 210 dias de idade
(12,0%). Esses autores associam tal resultado ao manejo alimentar no
período compreendido entre as duas idades de desmame. Enquanto os
animais desmamados aos 210 dias recebiam uma dieta baseada na produção
de leite das mães, os animais desmamados aos 72 dias eram alimentados
em confinamento, o que pode ter levado a um acúmulo de gordura na
região do costilhar, pois essas características apresentavam
correlações significativas para animais desmamados aos 72 dias.
No entanto, com novilhos castrados Charolês x Nelore, desmamados aos
noventa ou aos 210 dias de idade e terminados em pastagem cultivada aos
24 meses de idade, RESTLE
et al.
(1999d) não verificaram diferenças entre a percentagem dos cortes
comerciais e as medidas de desenvolvimento da carcaça. Os percentuais
para dianteiro, costilhar e serrote foram de 36,7%, 12,5% e 50,8% nos
novilhos desmamados aos noventa dias, e de 36,9%, 12,5% e 50,6%
naqueles desmamados com 210 dias de idade.
A partir dos dados observados neste trabalho e nos trabalhos revisados,
pode-se afirmar que o manejo do desmame precoce, em si, não altera as
características de desenvolvimento das carcaças, desde que o plano
nutricional dos animais seja adequado ao crescimento normal do bezerro
após o desmame. Em trabalhos que mediam a produção de leite de vacas de
corte mantidas em pastagem natural com diferentes ofertas forrageiras,
QUADROS & LOBATO (1997) e FAGUNDES
et al. (2004) constataram produção diária de 5,0 a 6,5 litros/dia, respectivamente, com decréscimo após o quarto mês de lactação.
FLUHARTY
et al. (2000)
conduziram dois experimentos para analisar o efeito de diferentes
dietas em bezerros Angus desmamados precocemente. No primeiro trabalho,
além de idades de desmame, compararam também estratégias de alimentação
(
ad libitum ou programada) e
níveis de proteína (100% ou 120% das exigências). Observaram nos
bezerros desmamados com média de idade de 103 dias maior ganho de peso.
Estes, consequentemente, atingiram o peso de abate mais cedo, quando
comparados com os bezerros desmamados aos 203 dias de idade. Esse
efeito também foi observado nos bezerros alimentados
ad libitum (394 contra 409 dias).
No segundo experimento, FLUHARTY
et al. (2000) usaram
creep feeding
prévio aos desmames, sendo que os bezerros desmamados aos 93 dias foram
mais pesados aos 210 dias do que aqueles mantidos ao pé da vaca. Os
autores concluíram, então, que altos níveis de concentrado pós-desmame
aceleram a deposição de gordura na carcaça e o crescimento dos animais.
Obtém-se, assim, melhor classificação de carcaça e tem-se uma
alternativa quando existe limitação nutricional na pastagem natural.
O peso de abate e o peso de carcaça quente estiveram correlacionados
significativamente com a maioria das variáveis estudadas, exceto a
quebra ao resfriamento, perímetro de braço, conformação e espessura de
gordura. Não houve correlação significativa entre o rendimento de
carcaça e espessura de coxão e perímetro de braço (
Tabela 4).
DI MARCO (1998) relata relação entre peso de carcaça fria com
conformação e espessura de gordura, resultado não observado neste
trabalho. A conformação e a espessura de gordura não estiveram
correlacionadas (P>0,05) com alguma das variáveis estudadas. No
entanto, o percentual de corte dianteiro esteve correlacionado com
quase todas as variáveis, de forma semelhante à registrada para os
pesos de abate e de carcaça (
Tabela 4).
Neste estudo realizaram-se avaliações de pesos juntando os cortes
comerciais costilhar e serrote, pois era essa a maneira utilizada pelo
Frigorífico Mercosul para efetuar a embalagem e a remessa para outra
unidade processadora de carne. A correlação entre percentagem de
costilhar + serrote e a espessura de gordura foi baixa (r = 0,13;
P>0,05), discordando de outros trabalhos, que observaram alta
correlação entre o percentual do corte serrote e a deposição de tecido
adiposo sobre a carcaça. As correlações mais altas estão relacionadas
ao peso de carcaça fria (
Tabela 4).
Ao analisar as correlações dentro dos tratamentos, RESTLE
et al.
(1999d) verificaram nos animais desmamados aos 210 dias de idade alta
correlação entre peso de abate e peso de carcaça quente (r = 0,94), e
entre peso de carcaça e comprimento de carcaça (r = 0,91). No mesmo
trabalho, quando considerados os animais desmamados aos noventa dias de
idade, foi constatada correlação significativa do peso e do comprimento
de carcaça com o rendimento de carcaça quente, e da conformação com o
peso de carcaça, com o rendimento, com o comprimento de perna, com o
comprimento de braço e com o perímetro de braço.
A classificação de peso médio dos novilhos por ocasião do abate de 338,7; 358,6 e 381,6 kg como leve, médio ou pesado (
Tabela 5),
respectivamente, proporcionou aumentos lineares em pesos de carcaças
quente e fria, sendo que a correlação entre peso de abate e pesos de
carcaças quente e fria foi de 0,9157 e 0,9305 (P<0,001),
respectivamente (
Tabela 4).
Essa tendência foi observada por vários autores ao avaliar animais de
sexos e idades diferentes e sob variadas dietas (RESTLE
et al., 1997b; COSTA
et al., 2002; KUSS
et al., 2005).
Não houve relação significativa entre o peso de abate e os rendimentos
de carcaças quente e fria, sendo os rendimentos médios de 53,97% e
52,71%, respectivamente. Rendimento de carcaça fria similar em novilhos
Red Angus abatidos com um ano de idade com diferentes pesos de abate
são relatados por COSTA
et al. (2002).
A quebra no resfriamento foi semelhante para os três pesos de abate
(P>0,05). Essa variável representa a perda de líquidos que a carcaça
sofre durante o resfriamento (LAWRIE, 1970). A gordura de cobertura
protege a carcaça, reduzindo o processo de desidratação e perda de peso
durante o resfriamento (MULLER, 1987). A espessura de gordura foi
similar para os três pesos de abate (
Tabela 5).
Embora não significativa (P>0,05), a menor quebra no resfriamento
(2,17%) foi nos animais pesados, os quais também obtiveram maior
espessura de gordura de cobertura (4,54 mm).
Dentre as medidas métricas da carcaça, as variáveis comprimento e
perímetro de braço não foram afetadas pelo peso de abate dos animais
(P>0,05), mas as variáveis comprimento de carcaça, comprimento de
perna e espessura de coxão foram maiores na medida em que aumentou o
peso dos animais. Resultados semelhantes são relatados por RESTLE
et al. (1997b), COSTA
et al. (2002) e KUSS
et al.
(2005) e refletem melhor desenvolvimento dos animais. As maiores
medidas de comprimento de carcaça e de comprimento de perna são
demonstrativas de que os animais com pesos maiores ao abate possuíam
esqueleto e musculosidade mais desenvolvidos.
A espessura de coxão, que é uma medida de expressão muscular da carcaça
(MULLER, 1987), apresentou resposta crescente com o aumento do peso de
abate. RESTLE
et al. (1997b) e COSTA
et al.
(2002) observaram comportamento quadrático na espessura de coxão com o
aumento do peso de abate dos novilhos, ao trabalharem com a raça
Charolês – de maior musculatura e terminação mais tardia (RESTLE
et al., 1999b), com pesos de abate de 420, 460 e 500 kg – e com uma raça mais precoce, a Red Angus (COSTA
et al., 2002), com pesos de 340, 370, 400 e 430 kg, respectivamente.
A conformação média das carcaças de 11,09 pontos produzidas pelos
animais abatidos nas três categorias de pesos (P>0,05) é
classificada como boa típica (MULLER, 1987). Ao trabalharem com vacas
de descarte, KUSS
et al.
(2005) observaram comportamento linear da conformação com o aumento do
peso de abate. Para esses autores, o incremento na conformação foi
causado pela deposição de gordura intermuscular e intramuscular, bem
como pelo acúmulo de proteína nos músculos, visto que os animais
estavam em fase de ganho compensatório, quando a síntese proteica é
superior à degradação (DI MARCO, 1998).
RESTLE
et al. (1997b)
constataram aumento no escore de conformação de carcaças de novilhos
Charolês confinados a partir dos trinta meses e abatidos com idades e
pesos crescentes (420, 460 e 510 kg). Porém, em animais com menos
idade, caso do presente estudo, ARBOITTE
et al. (2004) e COSTA
et al.
(2002), ao estudarem o aumento do peso de abate de novilhos jovens e
superjovens, respectivamente, não verificaram alterações significativas
na conformação da carcaça com o aumento do peso de abate.
O aumento do peso de abate resultou no aumento do peso absoluto dos
cortes dianteiro e traseiro + costilhar, mas não alterou a proporção
desses cortes em relação ao peso de carcaça fria. RESTLE
et al. (1997b), COSTA
et al. (2002) e ARBOITTE
et al.
(2004), ao estudarem o aumento do peso de abate de novilhos de
diferentes idades, verificaram que com o avanço do peso de abate
ocorreu maior aumento percentual do corte dianteiro do que do corte
serrote.
LOBATO & VAZ (2006) alertaram que os sistemas pecuários precisam
ser analisados em todo o seu contexto, incluindo todas as categorias
animais, e não somente a análise e o desenvolvimento de produtos em
diferentes fases do ciclo produtivo. Ao aumentar o tamanho e o peso
vivo de novilhos através da seleção e acasalamento de reprodutores de
tipos ou frames maiores, obtêm-se novilhas e vacas maiores. Assim,
selecionam-se animais com precocidade sexual mais tardia, bem como
aumentam-se às exigências de manutenção do rebanho de cria (JENKINS
& WILLIANS, 1994; CUNDIFF
et al., 1998), o que pode afetar os índices reprodutivos do rebanho (LOBATO & VAZ, 2006).
As principais desvantagens de haver vacas de tamanho grande em rodeios
de cria, principalmente em condições forrageiras limitantes (QUADROS
& LOBATO, 1996; FAGUNDES
et al., 2004), são relativas à maior idade e peso na puberdade das novilhas (RESTLE
et al.
1999e), ao maior tempo em terminação dos novilhos e às maiores
exigências das vacas. OLSON (1994), ao trabalhar com rebanhos de cria
Brahman, identificou vacas pequenas, médias e grandes e observou que na
média a idade de puberdade para as novilhas foi de 633 dias. Porém,
novilhas maiores tiveram puberdade significativamente mais tardia (627
dias) que as novilhas médias (626 dias) e as menores (633 dias). O
autor verificou taxas de prenhez aos dois anos de idade de 93,7%, 89,7%
e 86,9% para novilhas pequenas, médias e grandes, respectivamente.
Porém, a repetição de prenhez quando primíparas foi influenciada pelo
tamanho corporal, sendo de 74,9%, 51,8% e 34,5%, respectivamente.
De acordo com LOBATO & VAZ (2006), PÖTTER
et al. (1998) e BERETTA
et al.
(2002), que enfatizam a necessidade de analisar os resultados obtidos
com diferentes categorias animais em sistemas de ciclo completo, RESTLE
et al. (1999b), ao estudarem o
peso de abate na produção do novilho superprecoce, comentam a
importância de se considerá-lo no ciclo completo de produção,
relacionado aos índices de reprodução. Segundo esses autores, quando a
taxa de reprodução é baixa, o produtor deve buscar o máximo de peso nos
animais, pois o custo de produção do bezerro será elevado. Ao
contrário, quando a taxa de reprodução é elevada, o custo de produção
do bezerro será mais baixo, e o peso de abate dos animais poderá ser
menor, pois o lucro do sistema virá da quantidade de animais vendidos,
devendo o produtor buscar a eficiência na produção com a utilização de
animais mais jovens.
CONCLUSÃO
O desmame de bezerros aos 91 dias de idade não altera o
desenvolvimento, as características de carcaça e o rendimento dos
cortes comerciais, viabilizando a produção e o abate de animais jovens,
aos dezesseis meses de idade, com peso de carcaça (180 kg) e gordura de
cobertura mínima (3,0 mm). Para novilhos abatidos nessa idade, o
aumento do peso ao abate resulta em aumento no peso de carcaça,
decorrente do maior comprimento do membro posterior e da carcaça, e não
do acabamento ou da conformação dos animais.
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em: 29 jul. 2010. Aceito em: 11 nov.
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