COMPORTAMENTO
REPRODUTIVO DE Dendrocephalus
brasiliensis, Pesta 1921 (CRUSTACEA: ANOSTRACA)
José
Patrocínio
Lopes1, Hélio de Castro Bezerra Gurgel2,
Cibele
Soares
Pontes2
REPRODUCTIVE
BEHAVIOR OF Dendrocephalus brasiliensis,
Pesta 1921 (CRUSTACEAN:
ANOSTRACA)
ABSTRACT
The
reproductive behavior of
fresh water Anostracan has not been massively studied by the
carcinology
specialized literature, regarding especially the Dendrocephalus
brasiliensis Pesta, 1921, about which there are
abundant studies only on the geographical distribution of that
Anostracan. The
objective of this research was to investigate the reproductive behavior
of this
Anostracan in different periods (dry and rainy). For this, mature
individuals
of both sexes were used. They were collected in four ponds of the Fish
Farming
Station of Paulo Afonso (FFSPA), by monthly capture in each pond,
within the
period from December 2004 to November 2005. The reproduction type was
observed
by placing some females in aquariums with males and placing the other
ones
individually, starting from the nauplii phase, where they stayed for 15
days
(reproductive age). The individuals' sexual proportion was calculated
by the
relative frequencies of males and of females, every month, for the
whole
collection period. At 10 days cysts production is possible and the
number of
produced cysts is related to the size of the female. The ratio
male:female in
the studied period was of 1 male to 1.07 female. The proportion
male:female was
51.75% female to 48.25% male along the year. The observation of the
reproductive behavior showed the reproduction is sexed.
No Brasil, especificamente no
Nordeste, a introdução de espécies exóticas de crustáceos (camarões, Artemia sp.) e de peixes (tilápias,
carpas) costumava ser efetuada sem um estudo prévio das consequências
que isso
poderia proporcionar ao meio ambiente. Atualmente, com o surgimento de
muitas
doenças, principalmente em crustáceos (camarões), os órgãos ambientais
têm sido
mais severos com relação à importação de espécies exóticas. Diante do
exposto,
o presente trabalho aborda aspectos ambientais, morfológicos e de
comportamento
reprodutivo de branchoneta, Dendrocephalus
brasiliensis, Pesta 1921, espécie continental, comum em
vários
estados brasileiros
e que poderá ser a coadjuvante da espécie exótica Artemia
sp.
Na aquicultura praticada na
atualidade, um dos maiores problemas enfrentados, principalmente na
larvicultura de camarões e peixes, é a demanda por alimento vivo (na
forma de
cistos, náuplios, larvas, alevinos ou juvenis de artêmia ou peixes) ou
inerte
(biomassa congelada). Artemia sp. é
um alimento de sustentação na larvicultura de camarões e peixes;
contudo, o
alto custo para cistos do Great Salt Lake (GSL), Utah, Estados Unidos,
classe
A, em torno de U$ 100.00/kg, aliado à escassez no mercado, restringe o
crescimento do cultivo dessas espécies. A espécie exótica Artemia
sp. apresenta comportamento reprodutivo determinado pelas
condições impostas pela natureza. Sob condições favoráveis, essa
espécie
realiza extensa produção de cistos. No entanto, quando em condições de
estresse, as fêmeas liberam náuplios pelo processo de ovoviviparidade.
Trata-se
do anostráceo mais estudado e utilizado na aquicultura como alimento
vivo
(cistos e náuplios) ou congelado (biomassa) para peixes e camarões
(CÂMARA,
2000).
Sendo restrito a ambientes
lênticos e/ou temporários, D. brasiliensis,
pode estabelecer-se na
aquicultura (uma vez que os viveiros de cultivo são constantemente
esvaziados e
reabastecidos de acordo com a produção de alevinos, além disso, sua
capacidade
de produzir cistos torna difícil a sua eliminação (MAI et al., 2008).
Na espécie D.
brasiliensis, somente é observada reprodução por meio da
liberação
de
cistos, seja em condições ideais no ambiente de cultivo com temperatura
na
faixa de 26ºC, oxigênio dissolvido na água em torno de 5 mg/L e
abundância de
algas na sua alimentação, sendo possível, nessas condições ambientais,
obter-se
uma produção de 2.075 g de cistos/ha/ano, seja em ambiente estressante
como
baixas temperaturas, deficiência de alimento e redução de espaço (LOPES
et al.,
2007). Os inúmeros trabalhos sobre esse anostráceo pouco descrevem
sobre sua
biologia e precisamente sobre seu comportamento reprodutivo, o que se
faz
necessário visando-se ao domínio de sua reprodução e posteriormente à
sua
inclusão na aquicultura como alimento para peixes e crustáceos.
Em face da velocidade com que
atualmente esse pequeno animal vem sendo difundido em vários estados
brasileiros, este trabalho é uma relevante contribuição aos estudos
requeridos
para a introdução dessa espécie na aquicultura. O objetivo deste
trabalho foi,
então, estudar o comportamento reprodutivo de D. brasiliensis nos
períodos seco e chuvoso.
O cultivo de branchonetas foi
realizado em quatro viveiros da Estação de Piscicultura de Paulo Afonso
(EPPA)
de propriedade da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF),
com área
de 2000 m2 cada e profundidade média de 0,80 m,
cujas
dimensões
assemelham-se às lagoas temporárias, biótopos utilizados por esses
anostráceos.
Os aspectos morfológicos e reprodutivos foram observados em laboratório
após um
período de 30 dias pós-eclosão, quando o animal já tinha atingido a
fase
adulta. As observações sobre o comportamento reprodutivo de D.
brasiliensis foram realizadas nos períodos chuvoso e seco.
Para identificação do sexo
dos indivíduos foram utilizados exemplares maduros, já que a chave de
identificação específica baseia-se, sobretudo, nas características
sexuais externas:
estrutura das antenas nos machos, alguns lóbulos das primeiras patas e
saco
ovígero nas fêmeas (COHEN, 1995).
O material biológico
utilizado nesta pesquisa foi coletado de quatro viveiros da EPPA, por
meio de
uma captura mensal em cada viveiro, durante o período de dezembro de
2004 a
novembro de 2005, com uso de uma rede de arrasto de 0,50 x 2,00 m,
confeccionada de material de náilon com malha de 1,0 mm. O esforço de
captura
foi de 2H/10 min./dia. Foram colhidas aproximadamente 2000
branchonetas, equivalente
a 0,5% dos animais dos quatro viveiros.
Para acompanhar o crescimento
em peso e o comprimento dos indivíduos da espécie em estudo, após as
coletas,
os exemplares foram etiquetados, acondicionados em caixas isotérmicas e
transferidos para laboratório da EPPA. Em seguida, foi realizado o
procedimento
de identificação macroscópica do sexo por meio da observação do
ovissaco
presente nas fêmeas ou pelo apêndice frontal dos machos. Foram
considerados os
seguintes parâmetros por exemplar: comprimento total (Lt) expresso em
centímetros e obtido por meio de paquímetro digital e peso total (Wt),
em
gramas, com emprego de balança digital com precisão de 0,001 g.
Para a análise da relação
peso total e o comprimento total dos machos e das fêmeas, realizou-se a
distribuição
dos pontos empíricos individuais dessas variáveis, considerando-se o
comprimento total como a variável independente e o peso total como a
variável
dependente, de modo a estabelecer a expressão matemática que melhor se
ajustasse aos dados da relação entre as variáveis envolvidas. A
estrutura da
população em comprimento foi baseada na distribuição das frequências
relativas
das classes de comprimento total, por sexo separado por período total,
sendo os
dados agrupados em classes de 1,0 cm.
Para o conhecimento do
comportamento reprodutivo de D.
brasiliensis, fez-se necessário
conhecer o tipo de reprodução, o tamanho e a idade em que as fêmeas
estavam
aptas à liberação de cistos para produção de náuplios (maturidade
sexual), a
relação macho/fêmea, a proporção sexual, o período de desova, a
fecundidade, a
longevidade e a periodicidade de reprodução.Para
conhecimento da idade e tamanho de fêmeas aptas à reprodução,
exemplares de fêmeas de idades entre 10 e 40 dias de vida foram
induzidos à
reprodução em laboratório. Os cistos obtidos foram distribuídos em
quatro
provetas de 100 mL cada e o índice de eclosão de náuplios foi
analisado. Para
observação do tipo de reprodução, foi utilizado o cultivo de náuplios
de
branchonetas em nove aquários, medindo cada um 0,10 x 0,20 x 0,15 m,
desde a
fase larval até a idade de reprodução, que é possível a partir dos dez
primeiros dias de vida, visando a observar a ocorrência ou ausência de
cópulas,
conforme ocorre em Artemia sp.,
objetivando-se à confirmação ou não de reprodução por partenogênese.
Também com
a mesma intenção, náuplios da espécie foram isolados um a um, logo após
a
eclosão, em vidros de boca larga, telados e mergulhados em tanques
fertilizados
(Figura 1),
visando ao seu
desenvolvimento até a identificação do sexo.
As
fêmeas identificadas nesse processo, após 15 dias, foram transportadas
para
laboratório e induzidas à desova na tentativa de liberação de cistos e
posteriormente produção de náuplios sem a participação de machos.
Para
a análise da proporção entre os sexos dos indivíduos capturados, foram
calculadas as frequências relativas de machos e de fêmeas, por mês,
para todo o
período considerado. Aplicou-se o teste de qui-quadrado (c2)
entre os sexos, para a detecção de diferenças estatísticas, e foi
efetuada uma
correlação no período inverno/verão para verificar sua possível
influência.
O período de desova foi
determinado com base na distribuição dos valores médios bimestrais do
índice
gonadossomático (IGS) para fêmeas, de acordo com a expressão de
VAZOLLER
(1996):
IGS
= Wg/Wt - Wg
Em que:
Wg
– peso da gônada em gramas;
Wt – peso total de cada indivíduo.
A fecundidade foi observada
com auxílio de um microscópio binocular a partir do número de cistos
liberados
individualmente por fêmeas em laboratório. Já a longevidade foi
monitorada em
campo e em laboratório a partir de observações diárias dos indivíduos
presentes
nos tanques de cultivo e em aquários, respectivamente, até a ausência
total
desses por morte. A periodicidade de reprodução foi observada a partir
de
coletas mensais de fêmeas para reprodução em laboratório.
Este trabalho estudou o
comportamento reprodutivo de branchoneta, D.
brasiliensis nas diversas fases de
vida: cistos, náuplios e animal adulto, com observações ao microscópio.
A
análise do ciclo de vida forneceu informações sobre a maturação gonadal
e o
tipo de reprodução. Foram descritas as características de ovos
provenientes de
fêmeas maduras, assim como o tipo de postura (desova). Finalmente,
foram
quantificados os parâmetros reprodutivos, com os índices de ovos por
fêmea.
RESULTADOS
DISCUSSÃO
A análise da relação Wt/Lt
revelou que as constantes de crescimento em peso (b) determinadas para D.
brasiliensis estão dentro do limite estabelecido para outros
organismos
aquáticos (LE CREN, 1951).
Segundo RABET & THIÉRY
(1996), Dendrocephalus ocorrem em
viveiros de cultivo de forma densa, convivendo com peixes jovens,
particularmente a Tilápia.
A reprodução de D.
brasiliensis está intimamente relacionada com a qualidade da
água e
com a
abundância de alimentos. Também a temperatura e a luminosidade estão
fortemente
ligadas ao ciclo reprodutivo desse Anostraca. Esses fatores são
determinantes
nas flutuações sazonais que se observam nas populações como
consequência das
alterações de equilíbrio entre os aumentos populacionais. Assim, o
conhecimento
básico dos processos que ocorrem em viveiros de cultivo é de suma
importância
para o desenvolvimento e manejo produtivo de muitos organismos,
inclusive D. brasiliensis,
que nasce e cresce rapidamente nos viveiros logo após seu enchimento
(LOPES et
al., 2008).
Na Estação de Piscicultura
da CHESF em Paulo Afonso (BA), em dois viveiros de 2000 m2
cada,
durante o período chuvoso, o total de biomassa obtido foi de 65 kg
durante o
ciclo de 15 dias e de 41,5 kg durante os 15 dias de cultivo no período
seco.
Pelos resultados obtidos, verificou-se que é possível produzir em torno
de
2.000 kg de biomassa de branchoneta por hectare/ano nessas condições
ambientais
(LOPES et al., 2007).
Segundo PINHEIRO &
FRANSOZO (1993), a constante de crescimento em peso (b) é
espécie-específica,
ocorrendo alterações em função do mês, estação do ano ou
geograficamente, em
função da heterogeneidade ambiental.
A taxa de crescimento em
peso dos machos (b) foi superior à das fêmeas, resultado similar ao
obtido por
PINHEIRO & FABIANO (2005), em Dilocarcinus
pagei.
As fêmeas apresentaram
melhor crescimento em peso no período chuvoso (b=0,3290), certamente em
função
de seu período reprodutivo, quando as gônadas encontram-se maiores e
mais
pesadas. O IGS nesse período apresentou-se mais elevado nos meses de
maio a
julho. No mês de junho, o IGS foi o mais elevado do ano. No entanto,
foi no
período seco como um todo que o IGS apresentou-se mais elevado e com os
meses
de dezembro e janeiro (seco) semelhantes ao mês de junho (chuvoso).
Esses
resultados demonstraram que a espécie apresenta um período reprodutivo
prolongado estendendo-se ao longo do ano.
Segundo HILL & SHEPARD
(1997), o diâmetro dos cistos não é um parâmetro válido para
identificar todas
as espécies de Dendrocephalideos. A espécie que pode ser identificada
somente
pelo diâmetro dos cistos é a Branchinecta
gigas, que tem cistos de grande diâmetro.
Com referência aos cistos de branchoneta,
esses
também apresentam uma grande vantagem em relação aos de Artemia.
O diâmetro dos cistos de Dendrocephalus
brasiliensis foi
de 219 mm (OLIVERA, 2000), assemelhando-se com o diâmetro
encontrado
por RABET
& THIÉRY (1996) para D. brasiliensis, que
foi de 213 a 233 mm
com uma média de 219±6.76 mm,
e para Dendrocephalus ornatus, que
foi de 208 a
260 mm com uma média de 239±9.47 mm,
enquanto o de Artemia gira em torno
de 270 mm.
Esse menor tamanho dos cistos de Dendrocephalus
também
propicia melhor
aproveitamento direto como alimento para larvas de camarões ou peixes,
após
descapsulados.
Quanto ao porte alcançado
pela branchoneta, verifica-se que esses crustáceos podem alcançar, em
15 dias
de cultivo e em condições propícias, comprimento entre 1,5 e 2,0 cm,
constituindo uma vantagem sobre o Anostraca Artemia,
considerado o principal expoente desse grupo. Esse fator confere à
branchoneta
um maior rendimento de biomassa, que poderá ser utilizada para a
alimentação de
peixes carnívoros e/ou outras espécies de peixes como os ornamentais,
como
alimento vivo ou congelado.
BEUX & ZANIBONI FILHO
(2007), pesquisando a sobrevivência e crescimento de Pseudoplatystoma
corruscans (Pintado) alimentados com naúplios de Artemia
sp. em diferentes salinidades,
verificaram que as pós-larvas dessa espécie tiveram uma reduzida
sobrevivência e a
causa provável foi o
fato de os náuplios de Artemia sp.
morrerem rapidamente na água doce e se depositarem no fundo dos tanques
prejudicando a qualidade da água de cultivo. Nesse caso, por se tratar
de
animal de água doce, D. brasiliensis,
apresenta maior potencial
na alimentação de organismos cultivados em água continental.
O encistamento dos embriões,
o tipo de desova ovípara e a postura em massa de cistos pelas fêmeas
também
caracterizam uma evolução dessa espécie, já que os cistos postos em um
meio
ambiente favorável ou não para seu desenvolvimento ficam protegidos e
os
náuplios eclodem quando as variáveis físico-químicas do ambiente
favorecem seu
desenvolvimento.
Tem-se na região Nordeste do
Brasil várias áreas com condições climatológicas e hidrológicas que
favorecem o
desenvolvimento e a produção de cistos e biomassa de branchoneta (OLIVERA, 2000).
Com referência à coloração
dos Dendrocephalus, foi verificada
a
mudança de cor quando da alta ou baixa densidade de estocagem. Quando a
densidade de estocagem é alta, observam-se animais pequenos (±0,5 cm em
15
dias) e coloração quase transparente influenciando também na
identificação dos
sexos. Quando a densidade é baixa, os animais apresentam tamanhos
dentro do
limite para a idade (±2,0 cm em 15 dias) e coloração verde-azulada para
machos
e verde-rosada para as fêmeas. Acredita-se que isso se deve à ausência
de algas
provocada pela herbivoria no primeiro caso e à abundância no segundo
caso. Os
calanóides frequentemente armazenam alimento em câmaras especiais no
intestino
médio. Em consequência, sua cor transparente é substituída por uma
coloração
vermelha (devido à presença de carotenóides), azul ou verde (devido à
carotenoproteínas) (ESTEVES, 1998).
MAEDA-MARTINEZ et al. (1995)
descreveram que a coloração em filopodas é altamente variável,
diferindo de
lugar para lugar e de um estágio de vida para outro. PENNAK (1989)
aponta que
as cores vão desde o translúcido ou esbranquiçado até o cinza, azul,
verde,
laranja e avermelhado, provavelmente causados por uma grande variedade
de
alimentos ingeridos.
Quanto ao sexo nos Dendrocephalus,
esse é facilmente
identificado aos seis dias de vida, fato que também é confirmado no
Anostraca Thamnocephalus platyurus
que, entre 6 e
11 dias, já tem suas características sexuais definidas.
LOPES et al. (2006),
comparando o crescimento (peso e comprimento) e a sobrevivência,
durante 60
dias de cultivo, de um grupo
de alevinos
da espécie Pterophyllum scalare
(Acará bandeira), alimentados com D.
brasiliensis, e outro grupo de alevinos
da mesma espécie, alimentados com ração floculada para peixes
ornamentais,
encontraram os seguintes resultados: peso médio de 9,95±2,59 g,
comprimento
médio de 9,64±23,03 mm e sobrevivência de 88% para alevinos alimentados
com D.
brasiliensis, e peso médio de 3,30±0,77 g, comprimento
médio de 58,20±6,82 mm e sobrevivência de 53%
para os alevinos alimentados com ração floculada.
LOPES & TENÓRIO (2005)
observaram que, ao acompanhar a dieta alimentar de alevinos de Lophiosilurus alexandri (Niquim), em
tanques, ocorre o consumo imediato de D.
brasiliensis, mesmo mortos. Tais
resultados enaltecem a importância desse crustáceo como alimento vivo
destinado
à alimentação de peixes, sendo de suma importância o domínio de sua
reprodução.
Existem semelhanças entre os
ciclos de vida e o processo de reprodução desse anostráceo com Artemia sp. no que se refere à presença
constante de machos de geração a geração. Em Artemia
ocorre tanto a reprodução sexuada com liberação direta de
náuplios como a assexuada por meio de ovos de resistência. Em Dendrocephalus, não se tem observado
reprodução sexuada com liberação de náuplios como ocorre com
Artemia, levando a crer na reprodução
sexuada somente com liberação de cistos.
Em
determinadas épocas do ano, dependendo das condições ambientais, há um
maior
direcionamento para machos, chegando algumas vezes a 70% destes em
relação às
fêmeas. Os machos, maiores que as fêmeas, apresentam antênulas maiores
e
presença de ganchos no aparelho bucal indicando sua utilização para
cópula.
A
reprodução por partenogênese ocorre em rotíferos e cladóceros, mas, em
determinadas épocas do ano em circunstâncias de pressão ambiental
(quase sempre
densidade populacional muito elevada), aparecem os machos e ocorre a
reprodução
sexuada. Na reprodução por partenogênese nos rotíferos, as fêmeas são
amícticas, diplóides e produzem ovos amícticos que se desenvolvem para
dar
fêmeas amícticas que não necessitam de machos para fecundação. Em D.
brasiliensis não se identificou esse fato, e acredita-se ser
a
presença de
machos associada à pressão ambiental (elevada densidade populacional
que
interfere na alimentação disponível à sobrevivência) uma forma de
controle
populacional.
Segundo SALAZAR et al.
(2003), os anostráceos de água doce possuem alta fecundidade e podem
ser
cultivados com êxito em condições controladas utilizando-se como dieta
microalgas, levedura, aglomerados de bactérias e cianofíceas, sendo
esses
alimentos mais convenientes e econômicos para o crescimento e a
reprodução. Em
trabalho desses autores com a espécie D.
geayi, foi possível se obter, em média,
1247 cistos por fêmea. Tal resultado se assemelha aos obtidos com D. brasiliensis
quando em tamanho de 2,5 cm. O encistamento de embriões, tipo de desova
ovípara
e a postura em massa também caracterizam uma evolução dessa espécie, já
que os
cistos liberados no meio ambiente, quando adverso para seu
desenvolvimento,
ficam protegidos pelo córion e eclodem quando as condições físicas e
químicas
se tornam favoráveis.
CONCLUSÃO
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