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in Signótica
Apresentação
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O volume 29, número 1, da Revista Signótica, compõe-se de três seções:Dossiê, Miscelânea e Entrevista.
Integra o Dossiê uma seleção de trabalhos apresentados no âmbito do I CongressoInternazionale Culture e Letterature in Dialogo: Identità in Movimento/I Congresso Internacional Culturas e Literaturas em Diálogo: Identidades emMovimento, realizado pelo CILBRA, Centro de Estudos ComparadosÍtalo-Luso-Brasileiro, que tem sede no Departamento de Letras, Línguas, Literaturas eCivilizações antigas e modernas da Università degli Studi de Perugia (UNIPG). O referidocongresso foi organizado em parceria com as seguintes universidades brasileiras:Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade de Brasília (UnB) e UniversidadeFederal do Mato Grosso do Sul (UFMS); e ocorreu entre os dias 12 e 14 de maio de 2016nas cidades italianas de Perugia e Assisi. Contou com a presença de 230 pesquisadores eescritores de vários países, como Brasil, Itália, Portugal, França,Alemanha, Áustria,Hungria, Romênia, Colômbia, Estados Unidos e China, que discutiram, sob recortes eperspectivas diversas, o diálogo entre culturas, línguas e literaturas.
O CILBRA foi fundado com o objetivo de constituir uma ampla plataforma para reunirpesquisadores que investigam, em uma perspectiva comparada e interdisciplinar, osmovimentos migratórios que envolvem nomeadamente os países de língua portuguesa e comotais fenômenos incidem sobre culturas, literaturas e línguas que se encontram em contatoe, por vezes, em confronto, dando origem a complexas hibridações, contaminações,derivações linguísticoliterárias, plurilinguismo, fusão de novas formas estéticas,capazes de elaborar situações de confim entre culturas diferentes.
As migrações são comuns na história da humanidade, mas de fato talvez nunca antes talfenômeno tenha tomado as proporções das últimas décadas, em que indivíduos, famílias epopulações inteiras se deslocam, em fuga de conflitos e guerras, perseguições étnicas ereligiosas, carestias e fome, procurando melhores condições de vida em outros países econtinentes. Essa situação gera, em quem é atingido por tais fluxos migratórios,sentimentos contrastantes, como medo, receio de perda de identidade e de direitos eprivilégios adquiridos, bem como desconfiança em relação ao estrangeiro.
Tais temáticas se articularam em conferências, mesas redondas, comunicações e exposiçõesdo I Congresso CILBRA, que abordaram de que modo línguas, literaturas e culturas serelacionam em momentos de crise, em que identidades se fundem ou se fragmentam e sedissolvem. Como reagem escritores e leitores diante de tal realidade, que propostasinterpretativas nos trazem em suas obras, que gêneros predominam e que linguagens surgemou se estilhaçam do atrito com outras formas hegemônicas de comunicação? Como a criseprovocada pelas identidades em movimento se projeta no cânone linguístico e literáriodos sujeitos envolvidos?
No Dossiê, portanto, a Signótica celebra a parceria e o profícuo contatoentre as Universidades promotoras do Congresso e registra trabalhos significativos sobretudo na área dos estudos literários apresentados durante a sua realização*. Com esse conjunto de dez textos, o leitor deSignótica terá acesso a um bom retrato da dimensão e daprofundidade das discussões promovidas durante o evento.
Duas mesas-redondas plenárias puderam ser recompostas nesta edição, através da publicaçãodos textos das conferências. Na primeira delas, "A poesia possível em tempos de crise",estão reunidas reflexões de Heleno Godoy (UFG), Alexandre Pilati (UnB), Vera Lúcia deOliveira (UNIPG) e José Eduardo Degrazia. Todos os textos apresentam análisesrelacionadas com a natureza e a função da poesia e consideram, de modo especial, omomento contemporâneo, em que as mais diversas crises se abatem sobre o mundo e sobre asdiversas formas de produção e intercâmbio cultural. De algum modo, todas as conferênciaspartilham um incômodo crítico em relação às possibilidades de a poesia produzir oufornecer algum tipo de força reativa aos problemas do mundo contemporâneo. O leitor veráque, embora atentem a um mesmo referente, os textos exibem uma multiplicidade de formase de pontos de vista, que oportunizam o enfoque de questões comuns sob olharesdistintos: ora da crítica e da teoria literária, ora da produção poética, ora do leitorde poesia.
Outra mesa-redonda do Congresso a que o leitor terá acesso é "Cânone e anti-cânone", quereúne trabalhos de Ida Alves (UFF), Solange Fiuza (UFG) e Eunice T. Piazza Gai/NizeCampos Pellanda (UNISC). Tendo o cânone como horizonte de debate, os trabalhos assinadospelas autoras discutem questões relacionadas a autores e obras mais específicos, como éo caso de João Cabral de Melo Neto e de Mia Couto, além de problematizar o lugar e opapel da literatura portuguesa nos diversos níveis de ensino no Brasil.
Compõem ainda o conjunto do Dossiê três outros textos, de Benjamin Abdala Júnior (USP),Valéria Tocco (U. Pisa) e Nuno Júdice (U. Nova de Lisboa), que, de alguma forma,funcionam como elementos iluminadores dessas discussões nucleares. São textos quetratam, por um lado, de elementos fundamentais para a estruturação da tradição literáriaportuguesa, de Camões a Pessoa, passando por Almada Negreiros, e, por outro, da maneiracomo é urgente para a situação atual dos estudos literários reconectar criticamenteaspectos do plano da cultura a aspectos do plano da sociedade.
Com isso, o leitor perceberá que há, apesar das diferenças de enfoques e temas, ao menosduas preocupações comuns, que expõem a dimensão das discussões promovidas no âmbito doCongresso Culturas e Literaturas em Diálogo. São elas: a natureza ea função da crítica literária hoje e as formas segundo as quais é possível dar respostasnovas a problemas que inquietam tradicionalmente os estudos literários. A impressãogeral do Dossiê, portanto, é a de um conjunto de questões reais e atuais, enfrentado comdelicadeza e precisão analíticas, graças às particularidades e à força individual decada ensaio.
Também compõe esta edição da Signótica a seção Miscelânea, que apresentaleituras atentas de autores e obras de língua portuguesa. Nos artigos presentes nestaseção, assinados por Francisco Topa (U. Porto), André Mitidieri (UESC), JéssicaDomingues Angeli/Guacira Marcondes Machado (UNESP) e André Monteiro/Edmon Neto (UFJF),são analisados poetas clássicos reunidos no Parnazo Brasileiro, doCônego Januário da Cunha Barbosa, o moderno João Cabral de Melo Neto e autorescontemporâneos (Marcelino Freire, Alberto Pucheu), num esforço comum de considerar asobras a partir de suas evidências, ou seja, de aspectos que lhe são centrais e estavam aexigir uma problematização crítica. São textos cuja sensibilidade crítica se combina como rigor teórico, fazendo, assim, uma bela e coerente composição com a proposta doDossiê.
Uma entrevista com Luiz Ruffato, autor de importantes livros da literatura brasileiracontemporânea que participou, no evento memorado pelo Dossiê, da mesa-redonda "Narrar omundo em português", encerra este número de Signótica. Concedida aSepontina Bongo (UNIPG), a entrevista, vinculada ao Dossiê, confirma porque Ruffato é umdos mais importantes prosadores brasileiros atuais, especialmente pela consciênciaestética e lucidez política que ele apresenta na avaliação de seu trabalho e da própriasituação da literatura brasileira na atualidade.
Deste modo, acreditamos que o leitor de Signótica terá acesso a umconjunto de textos que não é apenas o retrato de algumas das mais candentes questõescontemporâneas do campo dos estudos literários acadêmicos, mas também, o que é maisimportante, configura-se como uma verdadeira fonte de questões provocativas em relação àliteratura, ao sistema literário, às funções da crítica e da autoria. É isto que acuidadosa organização do material nos atesta, ao nos convidar à leitura crítica eprazerosa dos ensaios, que ora se disponibilizam ao público.
Os Organizadores
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