A Perda do Patrimônio Cultural em Decorrência do Maior Desastre Ambiental em Curso no Mundo

o caso da subsidência dos bairros em Maceió(AL)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5216/revjat.v4.73021

Palavras-chave:

Subsidência, Maceió, referências culturais, mineração

Resumo

Uma parte grande da área central do município de Maceió, capital de Alagoas, que corresponde a cinco bairros, foi afetada por um fenômeno que em geologia é chamado de “subsidência”, que consiste no afundamento abrupto da superfície da terra, com pouco ou nenhum movimento horizontal, decorrente da exploração de  sal-gema, matéria prima para a fabricação de plásticos, PVC e soda cáustica. Devido ao risco iminente, a população de quatro bairros foi removida, deixando mais de 15 mil residências nos bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro (este último, uma Zona Especial de Preservação Rígida), além dos comércios e serviços que os bairros abrigavam. Três dos bairros agora fantasmas são situados próximos à Laguna Mundaú e abrigam  edificações que remontam os primórdios da urbanização de Maceió. Nos dois bairros que ficam na parte alta, Pinheiro e agora também parte do Farol, estão concentrados os poucos exemplares de arquitetura modernista ainda existentes em Maceió. Mas as perdas das referências culturais vão além do patrimônio construído que pode desaparecer pela subsidência ou, como já vem acontecendo, por abandono. Elas incluem o chamado “patrimônio imaterial”, com o enfraquecimento das tradições locais, dos folguedos populares como os grupos de quadrilha e coco de roda, cuja existência está relacionada exclusivamente da relação com a territorialidade e proximidade geográfica dos brincantes, já que os grupos eram formados por parentes e vizinhos, os quais foram realocados distantes uns dos outros, inviabilizando a continuação das tradições. Essa “diáspora” pode causar a condenação das tradições que sempre foram muito presentes na cultura alagoana, e também são frutos de resistências de grupos que descendem de africanos escravizados. Sobre a possibilidade de perda e ações necessárias para se evitar o desaparecimento do patrimônio material e imaterial dos bairros atingidos trataremos neste ensaio. 

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Biografia do Autor

Adriana Capretz Borges da Silva Manhas, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Alagoas, Brasil, adriana.capretz@fau.ufal.br

Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário Moura Lacerda (1998), mestrado em Engenharia Urbana (2002) e doutorado em Ciências Sociais (2007) pela Universidade Federal de São Carlos. Professora Associada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas, atuou como Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo de 2008 a 2019 no Mestrado em Dinâmicas do Espaço Habitado e Doutorado Cidades. Desenvolve pesquisas e atividades de docência nas áreas de História da Arte, do Design, da Arquitetura e do Urbanismo. Líder do RELU - Representações do Lugar (UFAL), grupo de pesquisa sobre patrimônio, memória e história da cidade e da arquitetura, certificado pela UFAL desde 2004. É criadora do site Arquitetura Alagoana (www.arquiteturaalagoana.al.org.br), projeto que divulga o patrimônio alagoano e disponibiliza gratuitamente material para ações de educação patrimonial e do Estúdio Tatipirun (Instagran @relu.ufal e @tatipirun.relu), voltado para a pesquisa e criação de produtos de educação patrimonial para crianças e também para capacitações na área de patrimônio cultural alagoano. Desde 2020, é membro do ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios), organização não governamental global associada à UNESCO, no Comitê Documentação (https://www.icomos.org.br/documentacao)

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Publicado

2022-06-06

Como Citar

CAPRETZ BORGES DA SILVA MANHAS, A. A Perda do Patrimônio Cultural em Decorrência do Maior Desastre Ambiental em Curso no Mundo: o caso da subsidência dos bairros em Maceió(AL). Revista Jatobá, Goiânia, v. 4, 2022. DOI: 10.5216/revjat.v4.73021. Disponível em: https://revistas.ufg.br/revjat/article/view/73021. Acesso em: 22 dez. 2024.

Edição

Seção

Artigos livres