commented list of academic studies and publications on ‘claRinet’ subject by bRaZilian ReseaRcheRs
Fernando José Silveira - UNIRIO fernandounirio@hotmail.com
Resumo: O presente texto disponibiliza uma lista comentada de referencias bibliográficas sobre a clarineta no Brasil e é subproduto de uma pesquisa maior intitulada “A História da Clarineta no Rio de Janeiro: 1901 a 2000”. A lista, que não pretende ser compreensiva, engloba o período de 1940 aos dias atuais e analisa o crescente incremento destas publicações, principalmente na última década do Séc. XX. Palavras-chave: Clarineta; Pesquisa em música; Literatura sobre clarineta.
Abstract: This paper aims to highlight the bibliographic production related to the ‘clarinet’ subject wrote by Brazilian authors and offer a commented list of bibliography references about its subject. That list does not aim to be comprehensive. The compass of that research is from 1940’s until 2007, and analyses the enormous growth of those publications, mainly on the last decade of the 20th Century. It is a sub product of the research “The clarinet History in Rio de Janeiro: 1901 – 2000”. Keywords: Clarinet; Music research; Clarinet literature.
A presente listagem comentada é um subproduto de uma pesquisa maior intitulada “A História da Clarineta no Rio de Janeiro: 1901 a 2000”, ᆳto – a clarineta – no Estado do Rio de Janeiro, no período acima delimitado, a partir da identificação dos músicos executantes, do desenvolvimento do seu repertório e dos concertos/recitais públicos documentados.
Como primeiro passo para a pesquisa, achou-se por bem partir para o levantamento do material bibliográfico produzido por brasileiros, clarinetistas ou não, sobre o tema “clarineta”. Portanto, o presente estudo é fundamentalmente bibliográfico, descortinando, pela primeira vez, esta ᆳᆳᆳbre a clarineta, com base em dados concretos sobre a crescente produção bibliográfica.
A metodologia utilizada para a coleta de dados foi, primeiramente, a de consulta pela Internet nos sítios de indexação da produção brasileira, tais como a Academia Brasileira de Música, a Divisão de Música e Arquivo Sonoro da Biblioteca Nacional – RJ, entre outros, e aos sítios dos principais Programas de Pós-Graduação em Música do Brasil. Ressalta-se, porém, que ᆳᆳta desses trabalhos acadêmicos não demonstra, acredita-se, a sua produção na totalidade. Poucas bibliotecas, integrantes dos institutos e escolas de música que possuem produção acadêmica, disponibilizam a consulta on line, o que dificulta bastante a disseminação da informação.
Como segundo passo, em consulta aos periódicos da comunidade ᆳsunto. O resultado é uma lista de estudos acadêmicos e artigos publicados em periódicos sobre o tema “clarineta”. Este foi listado, em ordem cronológica, em quatro categorias distintas: 1) teses, dissertações e trabalhos acadêmicos na área de música, 2) teses, dissertações e trabalhos acadêmicos em outras áreas, 3) artigos publicados em anais, periódicos e capítulo de livros nacionais e 4) artigos publicados em anais, periódicos e capítulo de livros estrangeiros.
Abaixo, apresenta-se essa lista, consultados pela palavra-chave “clarineta”, “clarinete” ou “clarinet”, em ordem cronológica.
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Note-se que os primeiros trabalhos que esta pesquisa indica - realizadas nos anos de 1945 e 1949 - são do professor Jayoleno dos Santos1, que foi, segundo o presente levantamento, o primeiro professor universitário/ clarinetista que se preocupou com a produção de bibliografia sobre clarineta em língua portuguesa no Brasil. Seus dois estudos acima mencionados são, ainda hoje, importante fonte de informação sobre o instrumento e sobre a década de 1940 no Rio de Janeiro.
A esses estudos, seguem-se dois trabalhos do professor Florentino Dias, nos anos de 1962 e 1963. O primeiro deles, de 1962, “Palheta e braçadeira: sua importância na clarineta”, de oito páginas, foi escrita a partir de dados empíricos do autor, textualizando os seus procedimentos cotidianos de trato com o instrumento. Um dos aspectos do texto que indica esse empirismo é a absoluta falta de citações. O segundo trabalho, “A evolução da clarineta e sua importância na Orquestra Sinfônica” de 1963, com vinte e cinco páginas, também é desprovido de citações. Porém, nesse caso, o texto indica uma produção de informação em português de assuntos como a história da clarineta, embocadura, emprego da clarineta nas bandas de música e orquestra, provavelmente produzidas a partir de publicações estrangeiras e traduzidas por paráfrases para o português.
Após esses trabalhos, houve um imenso hiato de 17 anos na produção de pesquisadores brasileiros. Somente em 1990, haveria outro trabalho dedicado à clarineta, escrita pelo professor Maurício Loureiro2 – nessa época ainda na UNESP – e, um ano mais tarde, a primeira Tese de Doutorado em clarineta defendida por um brasileiro: o Professor Maurício Loureiro, no ano de 1991, na Universidade de Iowa/EUA.
O estudo liderado pelo Professor Titular de clarineta da Universidade Federal de Minas Gerais, Dr. Maurício Loureiro, sobre o “Chôro para Clarinete e Orquestra” de Camargo Guarnieri, desenvolvido na Universidade de Iowa nos Estados Unidos no início da década de 1990, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor (DMA), tem como maior escopo analisar não propriamente a obra de Guarnieri, mas sim o “choro”, e seu uso em composições de música erudita, como forma musical: seu desenvolvimento no Brasil, seus compositores e suas características. Loureiro analisa profundamente os aspectos culturais, históricos e performáticos do choro, procedendo, posteriormente, duas análises distintas: o choro usado por Villa-Lobos e o “chôro” usado por Guarnieri – através do “Chôro para clarineta e orquestra”. Loureiro faz uma análise da obra em questão, aprofundando-se em questões culturais, composicionais, orquestrais, harmônicas, texturais etc.
A década de 1990 demonstra uma imensa explosão na produção de trabalhos acadêmicos sobre o instrumento – doze ao todo, com importante incremento, a partir da implantação do Mestrado em Clarineta na Escola de Música da UFRJ e UFBA. Acompanhando essa tendência, a publicação de artigos também se mostrou expressiva, com onze artigos publicados em periódicos nacionais e nove em periódicos estrangeiros. Foi na década de 1990, também, que se formou o primeiro Mestre em Clarineta por uma Universidade Brasileira: José Carlos de Castro3, na UFRJ, em 1995.
O ano de 2002 oferece o primeiro Doutor em Clarineta formado por uma Universidade Brasileira: Roberto César Pires4, na UFBA. Sua Tese de Doutorado, orientada pelo Prof. Dr. Joel Barbosa5, não figura na lista publicada nesse trabalho por não ter como assunto a clarineta, mas sim Educação Musical por meio do choro. Desde então, a UFBA produziu um total de cinco Doutores, colocando-a em posição de destaque no cenário nacional, já que é o único programa de pós-graduação no Brasil a oferecer o curso de doutorado com ênfase na clarineta.
A primeira década do segundo milênio mostra-se bastante promissora, já com a produção de treze dissertações de Mestrado e seis Teses de Doutorado entre 2000 e 2007. Esse crescimento é refletido, também, na quantidade de artigos publicados: trinta e seis em periódicos nacionais e anais de congressos brasileiros e um artigo publicado em anais de congresso promovido no exterior, totalizando trinta e sete artigos ao todo. Nota-se, também, que a produção de pesquisa sobre a clarineta, ainda nos cursos de graduação, cresceu: são cinco pesquisas publicadas desde 1998.
Outro importante aspecto identificado é que assuntos relacionados ao repertório para o instrumento têm ocupado papel de destaque na produção estudada. No que tange à produção acadêmica, por volta de 50% das teses dissertações defendidas e 30% dos artigos publicados tratam assuntos interpretativos vinculados a alguma obra do repertório para o instrumento. Tal fato se justifica pela inclusão dos cursos de mestrado e doutorado em clarineta, hoje, na chamada subárea das “Práticas interpretativas”. Atualmente, só há dois programas de pós-graduação que oferecem o curso de mestrado (UFBA e UFMG) e doutorado (apenas a UFBA) em clarineta e, em ambos os programas, os cursos de pós-graduação em clarineta estão inseridos na área das “Práticas Interpretativas”. Outros assuntos estudados vinculam a clarineta à Educação Musical, Musicologia Histórica, Etnomusicologia, Composição, Acústica Musical, Engenharia e Lingüística.
Nota-se que muito pouco desta produção chega, efetivamente, ao clarinetista. Muitos estudantes, e mesmo profissionais, desconhecem por completo essa importante fonte de informação. Infelizmente, tais textos não atraem os olhares das editoras nacionais de livros. Por outro lado, as Universidades não fazem maiores esforços para difundirem esses estudos. Apenas aqueles clarinetistas envolvidos em cursos de pós-graduação acabam descobrindo essa importante fonte de informação. Será esta a melhor destinação de tão importantes pesquisas? Por que no Brasil a prática musical está tão dissociada da pesquisa? De qual forma se poderia divulgar mais a pesquisa em clarineta no Brasil? Tais questões ficam para reflexão, futuros aprofundamentos e possíveis desdobramentos da pesquisa.
Há de se falar, também, das dificuldades enfrentadas para a obtenção dos dados e do material propriamente dito, já que não há fonte que indique, com precisão, todos os trabalhos, publicados ou para a obtenção de títulos acadêmicos, no Brasil. Por força de Lei, a Biblioteca Nacional (BN) deveria ser a depositária de, pelo menos, os trabalhos acadêmicos finalizados nos programas de pós-graduação. Porém, nem todos os programas obrigam seus alunos a enviarem um exemplar do trabalho para a BN. Por outro lado, a BN parece não ter capacidade de catalogação do material que chega até ela. Tais conflitos ainda contribuem para a precária disseminação da produção acadêmica no Brasil.
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Jayoleno dos Santos (Niterói/RJ, 1913-2007), Professor Catedrático de Clarineta aposentado da Escola de Música da UFRJ, foi membro da Orquestra Sinfônica Brasileira desde sua fundação em 1940. Ao professor Jayoleno é atribuída a composição da primeira sonata para clarineta e piano escrita por um brasileiro.
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Mauricio Alves Loureiro – “É Doutor em Música (University of Iowa, USA), onde estudou também música eletrônica e computação musical. Engenheiro Aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA. Iniciou seus estudos de clarineta com o Professor Dieter Klöcker na Staatliche Hochshule für Musik Freiburg, (Alemanha), com bolsa de estudos do DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico), graduando-se em 1983. Atuou como clarinetista na Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e como solista da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Orchestergesellschaft Weil am Rhein (Alemanha). Foi membro integrante de vários conjuntos de música contemporânea: Grupo Nexus de São Paulo, Grupo Experimental de Câmara de Belo Horizonte, Center For New Music da Universidade de Iowa, Grupo de Música Contemporânea da UFMG, do qual é fundador e coordenador desde 1992. Atualmente é professor titular na Escola de Música da UFMG, onde é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Música e pesquisador em Música e Tecnologia, no âmbito dos Grupos de Pesquisa MÚSICA E TECNOLOGIA e CEFALA (Centro de Estudos da Fala Acústica Linguagem e Música). Atua como intérprete de música eletroacústica e computacional e é membro do Comitê Assessor de Artes no CNPQ.” (LOUREIRO, Maurício Alves. A pesquisa empírica em expressividade musical: métodos e modelos de representação e extração de informação de conteúdo expressivo musical. Revista Eletrônica OPUS n. 12 de dezembro de 2006. Capturado em 01 de abril de 2007. http://www.anppom.com.br/opus)
3 José Carlos de Castro é professor adjunto aposentado da Escola de Música da UFRJ. Mestre em Música pela UFRJ, integrou o naipe de clarinetas da Orquestra Sinfônica Brasileira e Petrobrás Sinfônica. Foi aluno de Jayoleno dos Santos. Continua na carreira docente, ministrando aulas de clarineta e música de conjunto na Escola de Música Villa-Lobos – RJ.
4 Roberto César Pires é Bacharel e Mestre em clarineta pela UFRJ e Doutor em Clarineta pela UFBA. Foi aluno de Jayoleno dos Santos, José Carlos de Castro e Joel Barbosa. Atuou vários anos como clarinetista-solista da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. Atualmente é professor de clarineta da UNICAMP.
5 Joel Luis da Silva Barbosa, Paulista de Piracicaba, é Professor Titular de Clarineta e Educação Musical da Escola de Música da UFBA. Possui o título de Doutor (DMA) pela Universidade de Washington, em Seattle. Especialista em instrumentos antigos e em linguagem contemporânea para a clarineta, o Prof. Joel tem atuado como orientador dos cursos de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em música da UFBA.
Recebido em 12/jan/2008. Aprovado em 26/mar/2008.
Fernando José Silveira - Doutor em Execução Musical/Clarineta pela UFBA e Professor Adjunto de clarineta e música de câmara do Instituto Villa-Lobos da UNIRIO. Aluno de José de Freitas e Joel Barbosa, participou de cursos com Wolfgang Meyer e Alain Damiens. É requisitado como solista, camerista e docente pelas Américas, Europa e Ásia. Nos últimos anos, tem se destacado como pesquisador sobre os temas relacionados à clarineta e às práticas interpretativas.