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Primeira Impressão

Primeira Impressão

Revista Música Hodie, Goiânia - V.16, 209p., n.1, 2016

Frevo do acaso (2014)]


Pedro Augusto Huff (Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil)

pedrufe@gmail.com


O frevo de Recife chamou minha atenção do ponto de vista pedagógico por inúme- ros aspectos, como articulação, ritmo e gingado. Estabeleci os primeiros diálogos entre meu instrumento, o violoncelo, e este rico gênero musical muito naturalmente. O aprendizado de frevos tradicionais, performances e conversas com colegas e alunos do Departamento de Música da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) me estimularam a compor o “Frevo do Acaso”, aqui em versão para duo de violino e violoncelo. Com isso, percebi que o processo de aprendizado desta linguagem pode ser adequado para qualquer instrumentis- ta de cordas friccionadas. Para a execução do frevo é necessária uma desenvultura técnica considerável. Todavia, interpreto esses obstáculos como uma boa oportunidade para apren- der a desenvolver soluções pouco convencionais, porém necessárias para uma execução sa- tisfatória de qualquer repertório.

Entre estas decisões pouco convencionais está a escolha de dedilhado. Alguns pa- drões de dedilhados muito comuns não seriam cabíveis no andamento rápido típico do frevo. Outro desafio está na escolha de arcadas que possibilite o aluno executar as notas de maneira confortável e com os acentos e articulações adequadas. Apesar das dificulda- des rítmicas, as melodias dos frevos são de fácil memorização, o que otimiza o processo de aprendizagem.

As ligaduras de arcada que coloquei na partitura são completamente discutíveis. Cheguei a esta fórmula inspirado pela Orquestra Experimental de Frevo da UFPE, especial- mente pelas linhas tradicionais de trompete e de saxofone. É claro que os trompetes e saxo- fones não fariam estas articulações, porém, devido à velocidade em que o frevo é normal- mente tocado, estas arcadas se estabeleceram, na prática, após vários ensaios e apresenta- ções. Tenho certeza que os instrumentistas que se depararem com esta partitura poderão, a partir da arcada sugerida, criar a sua própria maneira de tocar este frevo, se orientando tanto pelo critério da articulação, como pelo idiomatismo do instrumento. Existe uma gra- vação em vídeo e áudio disponível gratuitamente na internet, onde a partitura é interpreta- da pela violinista Paula Bujes e por mim.

O efeito de percussão no inicio do frevo (semicolcheias com um “x” marcado na ca- beça das notas) deve ser tocado com os quatro dedos da mão esquerda sobre a corda, porém, sem pressioná-la, de maneira que nenhuma nota específica venha a soar. O resultado deve remeter à chamada tradicional do frevo, geralmente realizado pela caixa. É preciso também dosar a pressão e posição corretas dos dedos para que não se toque nenhum harmônico. A idéia é tocar o efeito percussivo o mais forte e grave possível, com os acentos especi- ficados. As mesmas semicolcheias com “x” se encontram também ao longo da peça, al- ternadas com notas reais, no intuito de criar um acompanhamento em que estejam pre- sentes não apenas a harmonia básica, mas também as fórmulas rítmicas características do estilo. Percebi a possibilidade de um desdobramento desta técnica em um exercício: desenvolve-se uma coordenação arrojada entre a mão esquerda e o arco, preparando-os para entrar em sincronia e executar o gingado do frevo!



Revista Música Hodie, Goiânia - V.16, 209p., n.1, 2016

O “Frevo do Acaso” foi concebido em forma de arco (AA’BCBA) em vez da forma tradicional de se compor frevo, que, com raras exceções, tem a estrutura AABBAA. A par- te “C” foi inserida na perspectiva de retratar as primeiras impressões que tive a respeito do crescimento acelerado e caótico de Recife, subvertendo a riqueza cultural dessa cidade.

A peça foi estreada em sua versão para violoncelo elétrico, guitarra e bateria pe- lo trio instrumental Freveribe (Pedro Augusto Huff, violoncelo; Eduardo Visconti, guitar- ra; Adriano Pinheiro, bateria) no dia 3 de outubro de 2014 no Centro de Artes e Comunica- ção da Universidade Federal de Pernambuco, em um concerto ao ar livre organizado pelo Departamento de Música desta instituição. A versão para violino e violoncelo foi estreada por Paula Bujes (violino) e Pedro Augusto Huff (violoncelo) no XV SEMPEM (Seminário de Pesquisa em Música da Universidade Federal de Goiânia) no dia 29 de novembro de 2015 no Teatro da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiânia como parte de um grupo de peças para violino e violoncelo inspiradas em elementos da música regional da américa latina.



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Pedro Augusto Huff - Brasileiro, natural de Porto Alegre, é atualmente professor de violoncelo no Departamento de Música da Universidade Federal de Pernambuco. Concluiu seu bacharelado em violoncelo na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, seu mestrado na University of Tennessee- Knoxville, em 2007, e seu doutorado na Louisiana State University, em 2013, sob a orientação de Dennis Parker. Desde que veio morar em Recife, em 2013, pesquisa intensamente maneiras de recriar a música pernambucana nas cordas friccionadas, através de sua banda com vio- loncelo amplificado, guitarra e bateria: Freveribe, e também do duo que mantém com a violinista Paula Bujes, com a qual desenvolve essa pesquisa empírica e artisticamente. Como compositor, possui diversas obras já estreadas para violoncelo solo, violino solo e música de câmara, algumas destas já gravadas em CDs de outros artistas - co- mo por exemplo o projeto “Roupa de baixo”, aprovado pelo FUNCULTURA. Gravou o CD “Pedro Huff: Música para Violoncelo” em 2011, no qual interpreta suas próprias composições para violoncelo solo.

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