Revista Música Hodie, Goiânia - V.15, 233p., n.1, 2015
Mauro Chantal (UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil)
Segundo o escritor Humberto Werneck (1945), em entrevista para a confecção des- te texto, o poema Azulão foi criado por Manuel Bandeira (1886 – 1968) após Jayme Ovalle (1894 – 1955) ter composto sua melodia. Fato é que esta pequena obra se tornou referência da canção de câmara brasileira em nossa terra e também no estrangeiro.
A partir do sucesso de Azulão, musicado por Ovalle, outros compositores arrisca- ram sua pena para o poema, em versões inéditas da obra. Ao todo, esse autor pesquisou qua- tro outros compositores que musicaram o poema: Renzo Massarani (1896 – 1975), Radamés Gnattali (1906 – 1988), Camargo Guarnieri (1907 – 1993) e Acchile Picchi (1951).
A beleza e lucidez do poema de Bandeira inspiraram esse compositor a duas can- ções para canto e piano, motivo dessa publicação. Sinto o poema de Manuel Bandeira como uma obra ambígua, que apresenta tanto um afeto de esperança quanto de desânimo, de acordo com o olhar que lançamos a ele. Essa poesia possui o poder de refletir o que o leitor sente no momento que a lê. Se houver nele um sentimento de esperança, o poema ilustra a esperança. Porém, se houver no leitor o sentimento de tristeza, o poema espelha a tristeza. Esse afeto no leitor mudará, com certeza, ao longo do tempo. Para um compositor, no entan- to, sua primeira impressão será registrada em notas, ritmos e harmonias que serão impres- sas e congeladas no tempo.
As duas partituras de Azulão apresentadas a seguir foram escritas especificamen- te para cantores que conheci e que são citados nas dedicatórias. O ano de cada composição também é citado em cada partitura.
A primeira foi composta em 2006 e dedica aos tenores Wagner Soares e Rolando Guy. Escrita na tonalidade de Fá menor, que para os antigos representava o doloroso, o melancó- lico e o lamentoso, sua linha melódica apresenta diversas vezes o movimento de catabasis, que indica perda de energia e/ou tristeza. A segunda canção foi composta para o mezzo-
-soprano Vânya Soares, minha primeira professora na arte do canto lírico. Esta composi- ção foi feita para integrar uma pesquisa de pós-graduação realizada por ela na Universidade Estadual de Minas Gerais. Sua tonalidade é a de Lá menor, que, na teoria dos afetos, implica em lamento, respeito e serenidade, mas também visto como honroso e melancólico.
Em ambas as composições com o título Azulão, esse autor procurou criar referências ao violão na escrita para o piano, bem como buscar momentos de brasilidade no texto musical.
Revista Música Hodie, Goiânia - V.15, 233p., n.1, 2015 Recebido em: 18/05/2015 - Aprovado em: 12/08/2015
Azulão, poema de Manuel Bandeira
Vai, Azulão, Azulão,
Companheiro, Vai!
Vai ver minha ingrata.
Que sem ela O sertão Não é mais Sertão!
Ai! Vôa, Azulão, Vai contar,
Companheiro, Vai!
Mauro Chantal - é Doutor em Música pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, onde desenvolveu pes- quisa sobre a vida e a obra de Arthur Iberê de Lemos, tendo sido orientado pela Profa. Dra. Adriana Giarola Kayama. Mestre em música pela UFMG, graduou-se em piano, classe do Prof. Dr. Lucas Bretas, e também em canto, classe da Profa. Dra. Mônica Pedrosa. Atua como docente na UFMG nas áreas de canto e técnica vocal, além de integrar o projeto de pesquisa “Resgate da Canção Brasileira”, criado pela professora Luciana Monteiro de Castro. É solista do Coro Madrigale, regido por Arnon Sávio Reis, que pesquisa e divulga a obra do compositor mineiro Hostílio Soares. Desenvolve atividades como baixo solista, tendo atuado em óperas como Rigoletto, Le nozze di Figaro, La traviata, Il ballo dele ingrate, Pelléas et Mélisande, Macbeth e Il Guarany, além de atuar como pianista acompanhador.
Azulão
Mauro Chantal, em 10 de abril de 2011 Poema de Manuel Bandeira
Para os tenores Wagner Soares e Rolando Guy
Vai,
5
vai,
vai,
vai
A - zu -
9
lão.
Vai
ver
mi -
nha in -
gra -
ta,
vai
13
ver
mi -
nha in -
gra -
ta.
16
Vai,
m. s.
20
vai,
A -
zu - lão.
Diz
que
sem
24
e - la,
sem
e - la o
ser -
tão
não
é mais
ser -
28
tão.
Ah...
Voa,
32
voa,
m. s.
voa.
m. s.
36
Vai con - tar com - pa -
nhei -
ro,
com
- pa -
nhei -
ro,
vo - a,
41
vai...
45
Azulão
= 56
Mauro Chantal, em 10 de abril de 2011 Poema de Manuel Bandeira
Para a Vânya Soares
Vai,
A - zu -
lão.
sempre
5
Vai,
vai
con - tar com - pa -
nhei -
ro.
Vai,
vo - a, A- zu -
lão.
10
vai
ver
mi -
nha in -
gra -
ta.
Diz
que
sem
e - la o
ser -
tão...
14
Vai
ver
mi- nha in -
gra -
ta,
diz
que
sem
e - la o
ser -
tão...
18
Diz
que
sem e -
la o
ser -
tão
não é
mais
ser -
tão.
22
Vai,
A - zu -
lão
com - pa -
nhei -
ro.
espress.
26
Vai,
ver
mi - nha in - gra -
ta. -
30
Vai
ver
mi-
nha in
- gra -
ta,
Vai,
A - zu -
lão.
34
Vai
ver
mi- nha in
- gra -
ta.
Vai,
A - zu -
lão,
38
A -
zu - lão.
Vai,
42
A -
zu -
lão.
Hum...
46