O USO DE DESENHOS NO ESTUDO DA PERCEPÇÃO MUSICAL: UM ESTUDO PRELIMINAR COM CRIANÇAS

THE USE OF DRAWINGS ON MUSIC PERCEPTION STUDIES: A PRELIMINARY STUDY WITH CHILDREN

Caroline Brendel Pacheco (UFPR/ Sociedade Educacional Positivo)

carolbrendel@gmail.com

Resumo: este artigo apresenta um estudo preliminar sobre o uso de desenhos no estudo da percepção musical infantil. A primeira parte do trabalho revisa alguns estudos sobre a percepção musical e o desenvolvimento do desenho infantil; a segunda parte apresenta dados de três experiências realizadas em Curitiba, Paraná, com crianças com idades entre 06 e 12 anos. Estas experiências tiveram como objetivo descrever as representações elaboradas após a apreciação de músicas de diferentes estilos em diversos contextos. Para isto, a pesquisadora utilizou a música egípcia, a música contemporânea e a musica clássica ao vivo; por fim, são comparados os resultados das três experiências desenvolvidas e propostos outros caminhos para a continuidade de outras pesquisas nesta área. Palavras-chave: Crianças; Percepção musical; Desenho.

Abstract: This article focuses on a preliminary study regarding the uses of drawings on the study of music perception. Firstly, some studies concerning musical perception and the development of children drawing are reviewed. Secondly, data from three experiments held with children between the ages of 6 and 12 in Curitiba, Paraná, are presented. These experiments aimed at describing children’s representations based on their appreciation of different kinds of music, in different contexts (i.e., Egyptian music, contemporary music and live classical music). The results of these three experiments are compared and suggestions for future research in this area are proposed. Key-words: Children; Music perception; Drawing.

Introdução

O estudo da percepção musical é muito mais complexo do que se costuma pensar. Isso porque a audição é um sentido difícil de ser estudado; ela não é palpável e nem sempre produz resultados que possam ser facilmente medidos. No entanto, o interesse por estes estudos é crescente, pois a relação entre o modo como se percebe, classifica ou memoriza aquilo que se ouve, bem como a fidelidade da memória sensorial humana são pontos fundamentais para que seja possível compreender como percebemos a música (LEVITIN, 2006). A questão é ainda mais complicada quando os ouvintes são crianças, entretanto alguns estudos já vêm sendo desenvolvidos e sugerem resultados interessantes. Um exemplo disso é o resultado de uma pesquisa desenvolvida com bebês de apenas oito meses de idade que sugere que estes conseguem reconhecer músicas consideradas complexas – como Ravel (ver ILARI, 2002). Outro ponto importante parece ser o contexto em que ocorre a percepção musical. Um estudo experimental também realizado com crianças sugere que a música que ouvimos é representada mentalmente após ser feita uma ligação significativa entre o ouvinte e os elementos de seu contexto (GODINHO, 2001).

O uso de desenhos para representar músicas ou sons é um recurso metodológico utilizado há muito tempo pelos educadores musicais. A percepção musical, o aprendizado da notação musical tradicional e a exploração da imaginação são algumas das metas dos educadores musicais de todo o mundo quando distribuem lápis e papel as crianças e pedem a elas que representem aquilo que ouvem. Desenhar parece ser uma atividade própria da infância; crianças de diferentes culturas, etnias, tipo e grau de escolaridade, e estágio de desenvolvimento desenham espontaneamente (ILARI, 2004). Características curiosas e comuns aos desenhos infantis foram analisadas por diversos estudiosos que sugeriram fases para o desenho infantil. Berryman e seus colegas (2002) sugerem que o desenvolvimento do desenho pode ser resumido em quatro estágios: (1) garatuja, período em que as crianças se satisfazem fazendo apenas marcas no papel, a princípio desorganizada e descontroladamente, passando gradualmente a uma maior organização; (2) desenhos pré-esquemáticos que têm como principais características a inversão e a representação daquilo que a criança conhece em vez daquilo que vê. Neste estágio as crianças, com idades que variam entre 04 e 07 anos, representam desenhos invertidos onde árvores crescem ‘deitadas’ ao redor de uma lagoa ou quando são instigadas a desenhar somente aquilo que podem enxergar, representam a asa de uma xícara mesmo não podendo vê-la; (3) desenhos esquemáticos são desenhos já organizados espacialmente, neste estágio as crianças criam suas próprias regras ou estratégias para lidar com problemas de perspectiva, por exemplo. Normalmente, as linhas de base ou linhas de horizonte organizam espacialmente o desenho, mas as representações ainda não são visualmente realistas; (4) realismo visual -aqui as crianças conseguem desenhar objetos tridimensionais de maneira realista, olhando-os de qualquer ângulo (veja BERRYMAN et al., 2002; COX, 2000; ILARI, 2004).

Pacheco, C. B. (p. 121-131)

Entretanto ainda é pequeno o número de estudos que estabelece uma relação entre a percepção musical e o desenho infantil. O presente estudo se propôs a investigar os desenhos de crianças realizados a partir da apreciação de músicas de diferentes estilos e contextos.

1. Objetivo e método

Realizar um estudo preliminar sobre o uso de desenhos no estudo da percepção musical de crianças, procurando estabelecer conexões entre as pesquisas cognitivas que versam sobre a percepção musical e o desenho infantil.

Foram realizadas três experiências com crianças, de idades variando entre 06 e 12 anos, em cinco comunidades diferentes de Curitiba, Paraná. Para isso, foram escolhidos 3 estilos musicais diferentes para apreciação por parte das crianças. Uma primeira experiência foi realizada com música egípcia, tendo em vista que a peça escolhida faz parte de um estilo musical que foge aos padrões ocidentais e que tem estado muito em voga, considerado por muitos como fazendo parte da chamada world music ou música do mundo. Vale lembrar que este tipo de música tem sido privilegiado por educadores musicais que defendem o multiculturalismo, como em países com altos contingentes migratórios (ILARI, 2004). Uma segunda experiência destacou o uso da música contemporânea. Apesar da predominância do uso da música clássica ocidental nas salas de aula, a música contemporânea normalmente é descartada das atividades com as crianças. Por esta razão, a música contemporânea foi escolhida para a presente experiência. Por fim, uma terceira experiência foi realizada tendo como base a apreciação de música clássica ao vivo, onde se buscou verificar a diferença entre a percepção da música gravada e a música ao vivo.

2. Resultados

Devido às diferenças de contexto, os resultados serão apresentados individualmente, isto é, para cada experiência em separado.

Experiência n. 1: música egípcia

Esta experiência foi desenvolvida com 122 crianças (77 meninos, 45 meninas), de idades variando entre 06 e 12 anos, que participavam de uma oficina de música em uma colônia de férias ofertada para quatro comunidades de baixa-renda de Curitiba, Paraná. As crianças ouviram a peça tradicional egípcia “Taksim Arghoul”, interpretada pelo grupo curitibano Terra Sonora (2002). A peça apreciada era bastante movida e tinha um caráter vibrante. As crianças ouviram a versão instrumental executada por diversos instrumentos de sopro (krum horn, flautas doce e transversal), viola caipira, harmônio e percussão. Nenhuma informação sobre o nome ou local de origem da peça foi disponibilizada aos pequenos.

Cento e vinte e dois desenhos foram produzidos e, posteriormente, analisados com o objetivo de descrever os elementos encontrados nos desenhos das crianças a partir da escuta da peça. A partir da observação dos elementos dos desenhos surgiram algumas categorias sugeridas na Tabela 1 abaixo:

Tabela 1: Categorias encontradas para os desenhos da música egípcia

Pacheco, C. B. (p. 121-131)

Descrição das categorias Percentual (%)
Céu (principalmente sol e nuvens) 21,4
Pessoas (brincando, dançando, paradas) 10,3
Atividades musicais (pessoas cantando, tocando, ouvindo rádio) 9,5
Paisagem (casinha, árvore, flores) 9,1
Instrumentos musicais 8,7
Natureza (principalmente árvores, rios, cachoeiras, lagos) 7,9
Cenas estereotipadas (camelos, pirâmides, pessoas com turbante) 7,2
Paisagem indígena (índios, ocas) 5,5
Símbolos musicais (clave de sol, notas) 4,8
Meios de transporte (barcos, carros, caminhões) 4
Cobras e encantador de serpentes 3,6
Símbolos religiosos (cruz, igrejas) 2
Corações 1,6
Monstros e dragões 1,2
Rabiscos 1,2
Animais 0,8
Piratas 0,8
Bola 0,4

Algumas questões interessantes emergiram da análise dos desenhos; a principal delas esteve relacionada com a representação de estereótipos do “mundo árabe”. Muitos foram os desenhos de camelos, pirâmides, areia, pessoas com turbantes e encantadores de serpentes, como ilustram as Figuras 1 e 2 do Quadro 1. Outra questão importante foi a confusão criada entre as identidades egípcia e indígena, já que provavelmente por não conhecerem música egípcia ou suas características, muitas crianças acabaram por vinculá-la aos índios. Se levarmos em consideração que os desenhos que mostraram índios e ocas também são construções de estereótipos sobre os povos indígenas, o número geral de cenas estereotipadas foi ainda maior.

Quadro 1: Representações da apreciação da música egípcia (Figuras 1, 2 e 3).

Apesar do grande número de cenas estereotipadas do Egito, também foi grande o número de representações ligadas aos desenhos tipicamente infantis, isto é, de casinhas, árvores, jardins, sol e nuvens, como exemplifica a Figura 3 do Quadro 1. Surgiram também características daquilo que se designa “efeitos do espaço do ar”, presente nos desenhos esquemáticos. Este efeito se baseia na divisão do desenho em céu, chão e ar e está bastante presente nos desenhos de crianças até os 10 anos (BERRYMAN et al., 2002).

A atividade humana apareceu diversas vezes nos desenhos da apreciação da música egípcia, com representações de pessoas exercendo diversas atividades como dançar e brincar, porém também foram muitas as representações de atividades humanas ligadas à música (pessoas cantando, tocando e ouvindo rádio).

Experiência n. 2: música contemporânea

Uma segunda experiência foi desenvolvida com 50 crianças de 06 e 07 anos de uma escola particular de Curitiba, Paraná. Este grupo ouviu um excerto de aproximadamente dois minutos da peça “All that you know not to be utterly real” de Maurício Dottori (1960), com execução da Orquestra de Câmara da UFPR. A peça, que data do início do século XXI, foi escrita em duas etapas: primeiramente o compositor elaborou um tape em que os elementos sonoros podiam ser facilmente identificados, e que tinha como característica a narração de um fato ou de uma história. Em seguida, o compositor escreveu as partes para os instrumentos da orquestra de câmara, que tocou juntamente com a gravação descrita anteriormente. Assim, durante a apreciação as crianças puderam ouvir passos, trechos de fala, intervenções da orquestra, balbucio de bebê e chuva, entre outros.

Antes da apreciação as crianças foram informadas apenas de que ouviriam uma “música diferente”. Elas fizeram seus desenhos sem qualquer comentário adicional por parte da pesquisadora. Os desenhos foram categorizados da seguinte maneira:

Tabela 2: Categorias encontradas para os desenhos da música contemporânea

Pacheco, C. B. (p. 121-131)

Descrição das categorias Percentual (%)
Pessoas 13,4
Instrumentos musicais 12,4
Chuva 11,3
Execução musical (pessoas tocando e cantando) 10,4
Animais e monstros (pássaros, dinossauros, animais pré-históricos) 10,4
Céu (principalmente sol e nuvens) 10,4
Natureza (principalmente rios e cachoeiras) 8,2
Símbolos musicais (clave de sol, pauta, notas) 5,1
Seres da fantasia (heróis, bruxas e anjos) 4,1
Paisagem indígena (índios, ocas) 4,1
Castelos 3,1
Cenas do espaço (planetas, astronautas, foguetes) 3,1
Computador 1
Barco 1
Futebol 1
Paisagem (casinha, árvore, flores) 1

Os desenhos das crianças exploraram toda a gama de materiais sonoros apresentados pela peça apreciada, incluindo desde representações de instrumentos musicais, instrumentistas e chuva até outros elementos, frutos da imaginação. O número de animais e monstros representado foi bem maior em relação à música egípcia (experiência n. 1). No entanto, as imagens da natureza, como rios, cachoeiras e lagos, apareceram nas duas experiências de maneira equilibrada. A exploração do lúdico e da imaginação das crianças ficou evidente: espaço, foguetes, bruxas, heróis, futebol e castelos apareceram com bastante freqüência (vide Quadro 2).

Quadro 2: Representações da apreciação de música contemporânea

Desenhos infantis característicos com casinhas, árvores e flores apareceram em apenas 1% dos desenhos; entretanto as representações do céu, principalmente por meio de sol e nuvens, estiveram presentes em grande parte dos desenhos. A presença de pessoas também foi marcante, com expressiva representação de músicos, tocando ou cantando.

Experiência n. 3: música clássica ao vivo

A tentativa de verificar o que revelaria o desenho das crianças quando a música é apreciada ao vivo gerou uma terceira experiência. Cento e quarenta e duas crianças de uma escola particular de Curitiba assistiram a um concerto da Orquestra Sinfônica do Paraná realizado em homenagem ao dia das crianças. O programa contou com a suíte “O Quebra-Nozes” de Peter Tchaikovsky (1840- 1893), e com algumas trilhas sonoras de temas de filmes. Houve ainda a participação de um corpo de bailarinos na suíte de Tchaikovsky e de alguns alunos de um curso de graduação em teatro, que interpretaram os papéis dos protagonistas dos filmes. O concerto foi muito diferenciado, tendo em vista que as crianças se encontravam num espaço diferente (o teatro); com muitas outras crianças; e as questões visuais foram muito marcantes pois havia muito a ser visto: a orquestra, o fosso, o maestro, as luzes, os bailarinos, os atores.

No retorno ao colégio, cada criança colocou no papel suas impressões sobre a experiência de apreciação musical realizada ao vivo. O que se pôde verificar nos desenhos das crianças foi que os elementos visuais se sobressaíram em relação à música. Ao contrário da experiência realizada com a música contemporânea, poucos foram os desenhos onde foi possível notar claramente a presença da criatividade e da imaginação. A maioria dos desenhos consistiu em uma descrição daquilo que as crianças viram durante o concerto, isto é, instrumentistas tocando, o maestro regendo, bailarinos dançando, atores fantasiados de Batman e Indiana Jones, bem como associações da música de Tchaikovsky com cenas do filme Fantasia (1940) de Walt Disney. A representação de brigas e lutas pode ser associada à representação teatral realizada no momento da execução da música-tema do filme “Indiana Jones”, pois esta mostrava o próprio protagonista lutando com seus adversários para resgatar sua amada. Alguns exemplos podem ser encontrados no Quadro 3.

Quadro 3: Representações da apreciação do concerto ao vivo.

Foi interessante notar que apareceram elementos inusitados em alguns desenhos como imagens de DJs, pick-ups de música eletrônica, rádios e caixas de som. Considerando que o concerto foi completamente acústico, é possível supor que estas crianças associaram a música ao vivo à música que lhes é mais familiar, isto é, à música gravada. Ilari (2004) sugere que

Pacheco, C. B. (p. 121-131)

a busca da familiaridade pode ser uma alternativa para a compreensão de um estilo musical desconhecido, mas também é possível que a presença de DJs e pick-ups nos desenhos das crianças seja um reflexo da interferência da mídia que veicula constantemente imagens do ambiente da música eletrônica.

A Tabela 3 denota as categorias encontradas para os desenhos das crianças, após a apreciação de música ao vivo.

Tabela 3: Categorias encontradas para os desenhos da música clássica ao vivo

Descrição das categorias Percentual (%)
Instrumentos musicais (instrumentos isolados e a orquestra) 18,1
Bailarinos 12,2
Cenas de lutas (soldados, heróis, brigas) 9,3
Animais 7,6
Cenas de filmes (Indiana Jones, Star Wars, Fantasia) 6,7
Céu (sol, nuvens, chuva) 5,9
Atividades de execução musical (instrumentistas, cantores, maestro) 5,9
Símbolos musicais 5,5
Aspectos do teatro (iluminação, palco, platéia) 4,6
Pessoas 4,6
Paisagem (casinha, árvores) 3,4
Monstros 3,4
Natureza (flores, cachoeira) 2,5
Cenas de música eletrônica (caixas de sons, DJs, pick-ups) 2,1
Futebol 1,7
Decorações (corações e estrelinhas) 1,7
Casais de namorados 1,2
Rabiscos 1,2
Carros 1,2
Outros (chafariz, chapéu, estrada) 1,2

Apesar da experiência de representação da música ao vivo ter revelado uma riqueza menor nos desenhos infantis, é interessante notar o poder da experiência visual sobre a experiência auditiva. A experiência visual foi amplamente representada, no entanto, não faltaram desenhos de pessoas, paisagens, natureza, animais, futebol ou carros. Isso pode sugerir que algumas crianças não foram atraídas pelos aspectos visuais e optaram por realizar desenhos referentes ao seu cotidiano ou ainda, desenhos típicos do universo infantil.

Conclusões

Cada uma das experiências realizadas apresentou resultados distintos. As representações da música egípcia enfatizaram a construção de estereótipos do Egito. Já nos desenhos que representaram a música contemporânea emergiram aspectos da imaginação e da exploração da criatividade. No terceiro caso, a experiência visual foi marcante nas representações da música clássica apreciada ao vivo. Entretanto, algumas comparações entre as categorias encontradas nas diferentes experiências puderam ser estabelecidas. A primeira delas foi a predominância da figura humana no desenho das crianças nas três experiências, com maior representação na experiência realizada com música clássica ao vivo, seguida da música contemporânea e da música egípcia. As representações de pessoas brincando, dançando, tocando instrumentos musicais e cantando foi significativa e endossa as pesquisas que sugerem que, além de ser uma das primeiras figuras reconhecíveis que as crianças desenham, a figura humana é um dos temas mais presentes nos desenhos das crianças, pelo menos até os dez anos de idade (COX, 2000, p. 37).

Outra questão relevante diz respeito às representações da natureza. Nas três experiências houve uma maior representação de elementos ligados à água, como rios, cachoeiras e lagos; o céu também foi amplamente representado, ora com sol e nuvens, ora, com chuva ou estrelas. No entanto, os percentuais de representações de natureza e céu foram equilibrados entre as experiências com a música egípcia e a música contemporânea, o que não aconteceu com a música clássica ao vivo que teve índices bem menores. Talvez este índice possa ser justificado pela preponderância da experiência visual sobre a experiência musical, tendo em vista o fato de que representações do palco, da iluminação do teatro e da platéia surgiram em um número considerável de desenhos na terceira experiência.

A representação de símbolos musicais, como claves de sol ou notas, apareceu equilibradamente nas três experiências, o que reforçou a sugestão de “que as crianças gostam de usar os símbolos musicais para descrever e representar a música que ouvem, tocam e inventam, ainda que de forma errada ou pouco convencional.” (ILARI, 2004, p. 38). No entanto, este resultado divergiu dos resultados encontrados por Ilari (2004), que encontrou pouquíssimos símbolos musicais nas representações para a mú

Pacheco, C. B. (p. 121-131)

sica eletroacústica. Segundo a autora, isso pode ser explicado pelo fato de muitas crianças não terem considerado a música eletroacústica como música. Apesar do presente estudo ter feito uso de uma peça musical contemporânea, as diferenças entre os resultados são intrigantes e merecem ser estudadas posteriormente.

O uso de desenhos das crianças parece constituir uma estratégia interessante para os estudos sobre a percepção musical. Espera-se que este estudo preliminar sirva de estímulo a outras pesquisas que poderão replicar os resultados encontrados, bem como comparar as representações de um mesmo estilo em contextos diferenciados. Em outras palavras, o elo que poderá ser construído entre a percepção musical e o desenho pode vir a tornar-se mais uma ferramenta para os estudos da cognição humana.

Referências:

BERRYMAN, Julia C. et al. A psicologia do desenvolvimento humano. Lisboa: Instituto Jean Piaget, 2002.

COX, Maureen. Desenho da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

DISNEY, Walt. Fantasia. Videocassete, 120 min. Walt Disney Home Video, 1940.

TERRA SONORA. [Continentes]. CD 109761. Independente, 2002.

GODINHO, José Carlos. Tocar-na-Assistência e Ouvir-na-Assistência: os efeitos do contexto na representação mental da música. Música, Psicologia e Educação, Porto,

n. 3, p. 17-30, 2001.

ILARI, Beatriz. Bebês também entendem música: A percepção e a cognição musical durante o primeiro ano de vida. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 7, p. 83-90, 2002.

ILARI, Beatriz. Aspectos da cognição musical implícitos em notações inventadas e desenhos de crianças e adultos. Revista de Educação Musical, Lisboa, n. 118/ 119, p. 27-43, 2004.

LEVITIN, Daniel. Em busca da mente musical. In: Ilari, Beatriz Senoi (Org.). Em busca da mente musical: ensaios sobre os processos cognitivos em música – da percepção à produção. Curitiba: Editora da UFPR, 2006. p. 23-44.

Caroline Brendel Pacheco – Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Paraná sob a orientação da Profa. Dra. Beatriz Ilari e leciona na Sociedade Educacional Positivo.