PREfERênCIAS MuSICAIS EM ESTuDAnTES DE EnSInO MéDIO nO BRASIl: O CASO DE vITóRIA, ESPíRITO SAnTO

João Fortunato Soares de Quadros Júnior - UFMA e Univ. Granada - Espanha joaofjr@gmail.com

Oswaldo Lorenzo Quiles - Univ. Granada - Espanha oswaldo@ugr.es

Resumo: O presente estudo teve como objetivo investigar quais são as preferências musicais que apresentam estudantes de ensino médio em Vitória, Espírito Santo. Para isso, foi realizada uma pesquisa com 359 alunos (53,2% mulheres e 46,8% homens), com idade entre 14 e 26 anos. Como instrumento de coleta de dados foi empregado uma versão adaptada do Questionário sobre preferência de estilos musicais (LORENZO; HERRERA; CREMADES, 2008). Os resultados mostram que existe uma clara preferência destes estudantes pelos estilos presentes na música popular, bem como uma recusa de estilos da música erudita. Além disso, o aspecto contexto mostrou-se de grande importância, tendo pouca audição aqueles estilos musicais que não faziam parte do cotidiano dos alunos. Palavras-chave: Educação informal; Educação formal; Preferência musical; Estudantes; Ensino médio.

Abstract: This study aimed to investigate the musical preferences presented by high school students in Vitória, Espírito Santo. Participants were 359 students (53.2% women and 46.8% men), between 14 and 26 years old. The instrument used to collect data was an adapted version of the Questionnaire about musical styles preference (LORENZO; HERRERA; CREMADES, 2008). The results show that students have a clear preference for styles present in popular music, as well as a refusal for classical music styles. Besides, the context aspect seemed to have great importance since musical styles that were not part of the students’ daily life were less listened. Keywords: Informal education; Formal education; Musical preference; Students; High school.

Introdução

Tradicionalmente, a educação musical formal no Brasil tem como base os conteúdos, procedimentos e repertórios influenciados pelas práticas musicais européias e/ou norte-americanas. Entretanto, as práticas musicais informais apresentam uma grande variedade de aspectos provenientes de culturas distintas, mesclando os caracteres idiossincráticos de cada região, compondo assim a identidade singular da música brasileira. Com isso, vários estilos musicais como o samba, o chorinho e a bossa-nova se configuram com grande representatividade na cultura brasileira, sendo utilizados como veículos de propaganda do país no cenário global.

Atualmente, a formação musical está muito influenciada por fatores que compõem a realidade dos indivíduos, ganhando destaque os meios de comunicação e o entorno sociocultural no qual eles estão imersos. (CREMADES, 2008; HARGREAVES; NORTH, 2000; MATEIRO; BORGHETTI, 2007; RUSSELL, 2000). Dessa maneira, a educação informal se torna a principal vertente responsável pela construção do conhecimento musical na sociedade. Tal realidade pode ser observada em um maior grau na adolescência, período no qual se destacam aspectos como rebeldia, protesto, necessidade de busca de uma identidade social e influência dos amigos no estabelecimento das preferências (moda, música, entretenimento, etc.).

1. Conceito de Estilo Musical

O binômio ‘estilo musical’ aparece relacionado com outros termos como forma, gênero ou tipos diferentes de música, o que ocasiona certa imprecisão em sua definição e dificuldade em sua compreensão. (BLUM, 1992; CREMADES, 2008; CREMADES; LORENZO; HERRERA, 2010; RIBEIRO, 2007).

A ‘forma musical’ está relacionada tanto com a estrutura interna da obra musical, como com o esquema externo e preciso no qual esta se configura por parte do compositor. (GARCÍA, 1996). Por outro lado, o ‘gênero musical’ é definido por Fabbri (1981) como um grupo de acontecimentos musicais (reais ou possíveis) cuja direção é governada por um conjunto de regras socialmente aceitas. Finalmente, ‘estilo musical’ é uma combinação de palavras que define um conjunto de elementos musicais através dos quais se realiza a obra, descrevendo os procedimentos e qualidades característicos mediante os quais os compositores dispõem e apresentam os componentes básicos da música: melodia, ritmo, harmonia, timbre e altura. (BENNETT, 1998).

Fabbri (1981) afirma que os gêneros musicais seguem regras estruturais a partir das quais se pode tentar analisá-los e classificá-los: regras de comportamento, de semiótica, sociais e ideológicas, e econômicas e jurídicas. Dessa forma, é possível afirmar que gênero trata de aspectos tanto musicais como extra-musicais enquanto que estilo centra seu interesse em aspectos da natureza mais musical.

Complementando a definição de estilo musical de Bennett (1998), Meyer (1956), considera o estilo como “sistemas mais ou menos complexos de relações sonoras utilizadas em comum por um grupo de indivíduos, no qual somente alguns sons podem ser utilizados e combinados dentro de um limite tácito definido”. (RIBEIRO, 2007). Além disso, Coplan (1985) agrega a esta definição aspectos que extrapolam o universo sonoro, apontando que o termo estilo supõe em si mesmo um índice de significados estabelecidos coletivamente através dos tempos pelos artistas e pelo público. Assim, os estilos provêm de uma base que compreende um vocabulário de formas, atividades e cenários que constituem e expressam processos culturais e sociais.

2. Definição de Preferência Musical

A preferência pode ser definida como a predileção ou eleição deliberada por algo. (MEYER, 1963). Tratando-se de música, as preferências podem ser construídas tanto de maneira autônoma – a partir da eleição consciente do indivíduo do que quer escutar em seu cotidiano – como de modo induzido – a partir da escuta involuntária por imposição do meio ou por influência de outros. Quando a preferência por algo se torna freqüente, ela transpassa ao nível de gosto, ou seja, uma preferência estável e de longo prazo. (ABELES, 1980; PRICE, 1986; RUSSELL, 2000).

De maneira habitual, os gostos musicais das pessoas são identificáveis pela música que estas elegem escutar, pelas gravações que compram e pelos shows aos quais costumam assistir. Sociologicamente, é possível medir a preferência e o gosto musical a partir de dispositivos orientados à qualificação da audiência de emissoras de televisão e rádio ou por meio da quantidade de acessos em páginas de Internet. No Brasil são muitos os organismos que realizam este tipo de estudo, sendo o IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) o principal centro de pesquisa de audiência. Este tipo de estudo dá lugar à elaboração de listas sobre as músicas mais escutadas, isto é, os hit-parades da semana, do mês ou do ano, que retroalimentam continuamente o depósito social do que se nutre o consumo musical da maioria.

Já na primeira metade do século XX surgem estudos como o de Wiebe (1940), que concluem que quanto mais uma música é difundida no meio, maior é a probabilidade desta de fazer parte das preferências musicais dos indivíduos. Esta é a razão pela qual o sistema mercadotécnico está tão interessado em gerar ciclos temporais e fechados de escuta, para influir na eleição social da música escutada, de forma que ao difundir determinadas músicas de maneira massiva e com alta freqüência diária, o ouvinte começa a solicitar estas músicas por vontade “própria” ao meio, e não outras. Este ciclo se configura segundo o interesse dos meios de comunicação e vai mudando à medida que aparecem novas músicas de consumo massivo.1

Wiebe (1940) também aponta algo que atualmente ocorre com frequência: uma música considerada como de baixa qualidade pode ter êxito mediante sua difusão de maneira massiva. Por outra parte, se dá igualmente o contrário, como expõe North e Hargreaves (2000), quando a difusão midiática de uma música diminui, esta passa a ser menos preferida pelos potenciais ouvintes. Nesta mesma direção, Jakobovits (1966) e Russell (2000) afirmam que o aumento da familiaridade com a música causa uma influência direta nas preferências e no gosto musical.

Com base no exposto anteriormente, decidiu-se como objetivo deste trabalho investigar quais são as preferências musicais de estudantes de escolas estaduais de ensino médio em Vitória, Espírito Santo. Dessa forma, será apresentado na sequência o método utilizado nessa pesquisa (participantes, instrumentos e procedimento), bem como os resultados alcançados.

3. Método

Participaram dessa pesquisa 359 alunos (53,2% mulheres e 46,8% homens) com idade entre 14 e 26 anos, procedentes de quatro escolas estaduais de Vitória, Espírito Santo, distribuídos nas três séries que compõem

o ensino médio (31,8% alunos do 1º ano, 36,4% alunos do 2º ano e 31,8% alunos do 3º ano). Para a seleção das escolas foram utilizados dados socioeconômicos extraídos da página do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (IBGE, 2000). Assim, na sequência será apresentada uma descrição pormenorizada dos alunos participantes da pesquisa, de acordo com os itens sexo, escola, série e idade (Tabela 1).

Tabela 1: Descrição dos participantes da pesquisa segundo os itens sexo, escola, série e idade.

Sexo Escola Série Idade dos estudantes em anos TOTAL
14 15 16 17 18 19 20 21 25 26
Masculino Renato Pacheco 1º Ano 2 9 6 0 0 0 0 0 0 0 17
2º Ano 0 1 3 3 0 0 0 0 0 0 7
3º Ano 0 0 1 1 4 0 0 0 0 0 6
Maria Ortiz 1º Ano 0 14 1 2 0 0 0 0 0 0 17
2º Ano 0 0 10 6 1 0 0 0 0 0 17
3º Ano 0 0 0 16 3 0 0 0 0 0 19
Arnulpho Mattos 1º Ano 2 13 11 2 0 1 0 0 0 0 29
2º Ano 0 1 6 4 3 0 0 0 0 0 14
3º Ano 0 0 1 3 2 3 1 0 0 0 10
Almirante Barroso 1º Ano 0 1 1 2 3 0 1 0 0 0 8
2º Ano 0 0 4 5 1 0 0 0 0 0 10
3º Ano 0 0 1 4 5 3 0 0 1 0 14
Feminino Renato Pacheco 1º Ano 1 6 3 0 0 0 0 0 0 0 10
2º Ano 0 3 16 5 0 0 0 0 0 0 24
3º Ano 0 0 0 10 6 0 0 0 0 0 16
Maria Ortiz 1º Ano 3 12 1 2 2 0 0 1 0 1 22
2º Ano 0 0 17 11 0 0 0 0 0 0 28
3º Ano 0 0 0 19 0 0 0 0 0 0 19
Arnulpho Mattos 1º Ano 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1
2º Ano 0 0 8 5 0 0 0 0 0 0 13
3º Ano 0 0 0 10 3 1 0 0 0 0 14
Almirante Barroso 1º Ano 0 1 9 0 0 0 0 0 0 0 10
2º Ano 0 2 10 5 1 0 0 0 0 0 18
3º Ano 0 0 0 9 5 1 1 0 0 0 16
TOTAL 8 64 109 124 39 9 3 1 1 1 359

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o Questionário sobre preferência de estilos musicais, de Lorenzo, Herrera e Cremades (2008). Este questionário foi adaptado ao contexto brasileiro e capixaba, inserindo estilos musicais próprios da realidade local.

Para a adaptação, se optou pela utilização da técnica de avaliação por juízes experts (BARBERO; VILA; SUÁREZ, 2003; FLICK, 2004), garantindo assim a validade do conteúdo, elegendo professores doutores de universidades brasileiras para realizarem tal julgamento. É importante salientar que este questionário passou pela avaliação de confiabilidade estatística, através da prova de alfa de Cronbach, se obtendo um valor de 0.931,

o que indica um alto índice de consistência interna nas respostas dos jovens frente ao questionário. Este questionário se articula em torno da avaliação pelos estudantes da sua frequência de escuta musical em relação aos 51 estilos propostos.

Procedimento: o questionário foi aplicado aos participantes durante o mês de dezembro de 2008 com o conhecimento e aprovação dos órgãos diretivos dos centros educativos participantes, solicitando-os a escolha das turmas que fariam parte do processo e dos horários para aplicação dos questionários. Estes foram apresentados aos alunos, distribuídos e lidos, com o objetivo de amenizar possíveis dúvidas referentes à compreensão das questões. A sessão de aplicação durou aproximadamente 30 minutos.

4. Resultados

Dentre os diferentes tipos de análises que permitiam os dados coletados com o questionário, se optou por realizar estatísticos descritivos (freqüências e porcentagens), cálculo de médias e análises de variância, se utilizando para este último o programa SPSS, versão 13.0.

4.1 Médias obtidas sobre escuta de estilos musicais segundo as variáveis de estudo

Para este trabalho foram consideradas duas variáveis de análise: sexo e idade dos estudantes. De acordo com a Tabela 2, é possível observar que dentre os 51 estilos musicais contemplados no questionário, o Hip-hop (3,86), o Pagode (3,35) e o Rap (3,34) foram os que obtiveram as maiores médias de escuta entre os estudantes do sexo masculino, em oposição à Música Gregoriana (1,07), Rumba (1,14) e Música Barroca (1,15), que apresentaram os menores índices. No entanto, os estudantes do sexo feminino indicaram a Música Gospel (3,78), o Pagode (3,71) e o Hip-hop (3,69) como estilos mais escutados e a Música Gregoriana (1,16), a Música anterior à Idade Média (1,19) e a Música Renascentista (1,20) como os menos escutados.

Tabela 2: Médias obtidas sobre escuta de estilos musicais segundo a variável sexo.

Estilo Musical Masculino Feminino
Música anterior à Idade Média 1,19 1,19
Música Gregoriana 1,07 1,16
Música Medieval 1,18 1,22
Música Renascentista 1,17 1,20
Música Barroca 1,15 1,24
Música Clássica 1,56 1,63
Música Romântica 1,70 1,96
Música do Século XX 1,59 1,87
Música Étnica 1,81 1,91
Música Folclórica 1,78 2,29
Samba 2,74 2,88
Pagode 3,35 3,71
Sertanejo 2,69 3,17
Romântico 2,54 3,32
Brega 1,63 1,70
MPB 2,74 2,97
Bossa Nova 1,94 2,19
Choro 1,63 1,84
Forró 2,61 3,02
Frevo 1,35 1,47
Axé Music 2,75 3,38
Funk (nacional) 3,23 3,26
Manguebeat 1,28 1,36
Bolero 1,29 1,48
Flamenco 1,27 1,35
Estilo Musical Masculino Feminino
Rhythmic and Blues 2,68 3,01
New Age 1,45 1,56
Funk (internacional) 2,46 2,63
Tecno 2,92 2,76
Música de Discoteca 2,15 2,41
Drums & Bass 1,88 1,85
Break the Beats 1,78 1,80
Breakdance 2,33 2,20
Pop 3,18 3,64
Rock and Roll 2,83 2,72
Rock Alternativo 2,57 2,33
Punk/Hardcore 2,14 2,05
Metal 2,22 1,84
Jazz 1,71 2,04
Blues 1,60 1,70
Blues 1,60 1,70
Música Folk 1,52 1,86
Música Country 1,92 2,39
Salsa 1,26 1,45
Soul 1,61 1,71
Rumba 1,14 1,26
Reggae 3,22 3,29
Hip-Hop 3,86 3,69
Ska 1,75 2,02
Rap 3,34 2,65
Trilhas sonoras de filmes 2,93 3,55
Música Gospel 2,81 3,78

Já para a variável idade, por contemplar um quantitativo elevado de itens, se optou por separar os resultados em dois grupos, objetivando uma melhor visualização e compreensão pelo leitor. Assim, o primeiro grupo de estilos musicais diz respeito àqueles que apresentaram as maiores médias de escuta para cada idade (Tabela 3).

Tabela 3: Maiores médias obtidas sobre escuta de estilos musicais segundo a variável sexo.

Idade Estilo Musical Média
14 anos Pop 3,63
Tecno 3,63
Reggae 3,50
15 anos Hip-Hop 3,75
Pagode 3,73
Funk (nacional) 3,38
16 anos Hip-Hop 3,94
Pagode 3,67
Pop 3,66
17 anos Hip-Hop 3,52
Pagode 3,38
Música Gospel 3,38
18 anos Hip-Hop 4,05
Reggae 3,49
Pagode 3,46
19 anos Funk (nacional) 4,22
Hip-Hop 4,22
Reggae 4,11
20 anos Hip-Hop 3,33
Rap 3,00
Tecno 3,00
21 anos Hip-Hop 5,00
Axé Music 5,00
Romântico 5,00
25 anos Hip-Hop 5,00
Tecno 5,00
Pop 5,00
26 anos MPB 5,00
Bossa Nova 5,00
Romântico 5,00

É possível observar que o Hip-hop figura entre os estilos musicais que obtiveram maiores médias em quase todas as idades, com exceção do grupo de 14 e 26 anos. Como segundo estilo de maior preferência entre os alunos aparece o Pagode (15, 16, 17 e 18 anos), seguido pelo Pop (14, 16 e 25anos), Reggae (14, 18 e 19 anos) e Tecno (14, 20 e 25 anos).

Com relação ao segundo grupo (Tabela 4), referente àqueles estilos musicais que apresentaram as menores médias de escuta, foi possível verificar que Música Gregoriana (15, 16, 17, 18, 19 e 20 anos) se mostrou como

o estilo mais citado pela maior parte das idades, seguido pela Música Medieval (19, 20, 21, 25 e 26 anos) e pela Rumba (17, 18, 20, 21 e 25 anos).

Tabela 4: Menores médias obtidas sobre escuta de estilos musicais segundo a variável idade.

Idade Estilo Musical Média
14 anos Música anterior à Idade Média 1,00
Música Renascentista 1,00
Flamenco 1,13
15 anos Música Gregoriana 1,00
Música anterior à Idade Média 1,09
Música Barroca 1,09
16 anos Música Gregoriana 1,08
Música Renascentista 1,13
Música Barroca 1,14
17 anos Música Gregoriana 1,19
Rumba 1,19
Música anterior à Idade Média 1,20
18 anos Rumba 1,10
Música Gregoriana 1,10
Salsa 1,13
19 anos Música Medieval 1,11
Música Gregoriana 1,22
Música Barroca 1,33
20 anos Música Medieval 1,00
Música Gregoriana 1,00
Rumba 1,00
21 anos Música Medieval 1,00
Rumba 1,00
Frevo 1,00
25 anos Música Medieval 1,00
Rumba 1,00
New Age 1,00
26 anos Música Medieval 1,00
Música Barroca 1,00
Música Renascentista 1,00

4.2 Análise de variância das frequências de escuta de estilos musicais em função das variáveis de estudo

Pode-se verificar na Tabela 5 que os seguintes estilos musicais resultaram estatisticamente significativos, apresentando p < 0,052: Música do Século XX (p = 0,02), Música Folclórica (p = 0,00), Pagode (p = 0,02), Sertanejo (p = 0,00), Romântico (p = 0,00), Forró (p = 0,00), Axé Music (p = 0,00), Bolero (p = 0,01), Pop (p = 0,00), Jazz (p = 0,01), Música Country (p = 0,00), Salsa (p = 0,01), Ska (p = 0,03), Rap (p = 0,00), Trilhas sonoras de filmes (p = 0,00) e Música Gospel (p = 0,00). Com base nos resultados, é possível afirmar que as mulheres escutam mais estes estilos que os homens, com exceção dos estilos Metal, Música Country e Rap, nos quais as médias foram superiores para o sexo masculino.

Com relação à variável idade, se optou por retirar os valores relacionados aos grupos de 20, 21, 25 e 26 anos, tendo em vista que possuíam número escasso de participantes, tornando inviável o cálculo da variância. Dessa forma, pode-se afirmar que, a partir dos resultados apresentados na tabela 6, os estilos Música anterior à Idade Média (p = 0,00), Música Gregoriana (p = 0,00), Bossa Nova (p = 0,00), Manguebeat (p = 0,00), Bolero (p = 0,00), Flamenco (p = 0,00), Tecno (p = 0,04), Blues (p = 0,02), Salsa (p = 0,00), Soul (p = 0,00) e Rap (p = 0,04) obtiveram grande variedade entre as respostas (Tabela 6).

Tabela 5: Resultados das análises sobre frequência de escuta de estilos musicais segundo a variável sexo.

Estilo Musical Sexo
Masculino Feminino
N Média DesvioPadrão N Média DesvioPadrão F p
Música anterior à Idade Média 168 1,19 0,56 191 1,19 0,66 0,00 0,96
Música Gregoriana 167 1,07 0,30 191 1,16 0,60 2,79 0,10
Música Medieval 167 1,18 0,57 190 1,22 0,63 0,32 0,57
Música Renascentista 168 1,17 0,58 190 1,20 0,64 0,27 0,61
Música Barroca 168 1,15 0,52 190 1,24 0,69 2,06 0,15
Música Clássica 167 1,56 0,92 188 1,63 0,91 0,62 0,43
Música Romântica 168 1,70 1,00 191 1,96 1,09 5,31 0,02*
Música do Século XX 164 1,59 0,93 187 1,87 1,31 5,22 0,02*
Música Étnica 165 1,81 1,12 190 1,91 1,08 0,63 0,43
Música Folclórica 168 1,78 0,91 190 2,29 1,22 19,55 0,00*
Samba 167 2,74 1,35 191 2,88 1,32 0,94 0,33
Pagode 168 3,35 1,49 190 3,71 1,42 5,47 0,02*
Sertanejo 168 2,69 1,31 191 3,17 1,35 11,48 0,00*
Romântico 165 2,54 1,25 189 3,32 1,34 32,02 0,00*
Brega 166 1,63 0,86 190 1,70 0,89 0,52 0,47
MPB 167 2,74 1,32 190 2,97 1,34 2,55 0,11
Bossa Nova 168 1,94 1,09 191 2,19 1,24 4,00 0,05
Choro 168 1,63 0,92 189 1,84 1,12 3,71 0,05
Forró 168 2,61 1,30 191 3,02 1,43 8,16 0,00*
Frevo 168 1,35 0,72 191 1,47 0,89 1,95 0,16
Axé Music 168 2,75 1,42 189 3,38 1,53 16,11 0,00*
Funk (nacional) 168 3,23 1,63 190 3,26 1,50 0,02 0,88
Manguebeat 167 1,28 0,63 190 1,36 0,80 0,98 0,32
Bolero 168 1,29 0,59 190 1,48 0,85 6,12 0,01*
Flamenco 167 1,27 0,60 190 1,35 0,70 1,26 0,26

Vol. 10 - Nº 1 - 2010

Rhythmic and Blues 167 2,68 1,57 191 3,01 1,65 3,57 0,06
New Age 168 1,45 0,85 191 1,56 0,96 1,40 0,24
Funk (internacional) 168 2,46 1,42 191 2,63 1,42 1,19 0,28
Tecno 166 2,92 1,50 190 2,76 1,45 1,02 0,31
Música de Discoteca 167 2,15 1,24 191 2,41 1,26 3,81 0,05
Drums & Bass 168 1,88 1,19 191 1,85 1,11 0,05 0,82
Break the Beats 167 1,78 1,11 191 1,80 1,06 0,02 0,89
Breakdance 167 2,33 1,37 191 2,20 1,28 0,80 0,37
Pop 166 3,18 1,35 191 3,64 1,34 10,36 0,00*
Rock and Roll 168 2,83 1,56 191 2,72 1,52 0,51 0,48
Rock Alternativo 168 2,57 1,56 190 2,33 1,47 2,13 0,15
Punk/Hardcore 168 2,14 1,56 191 2,05 1,37 0,39 0,54
Metal 168 2,22 1,56 191 1,84 1,29 6,48 0,01*
Jazz 168 1,71 1,05 191 2,04 1,22 7,35 0,01*
Blues 168 1,60 1,00 191 1,70 1,08 0,93 0,34
Música Folk 168 1,52 0,99 190 1,86 3,24 1,65 0,20
Música Country 167 1,92 1,10 191 2,39 1,24 13,86 0,00*
Salsa 168 1,26 0,58 191 1,45 0,75 6,99 0,01*
Soul 168 1,61 0,97 190 1,71 1,00 0,88 0,35
Rumba 168 1,14 0,45 191 1,26 0,63 3,78 0,05
Reggae 168 3,22 1,40 191 3,29 1,43 0,20 0,65
Hip-Hop 167 3,86 1,28 191 3,69 1,34 1,51 0,22
Ska 166 1,75 1,14 190 2,02 1,19 4,71 0,03*
Rap 167 3,34 1,51 190 2,65 1,41 20,13 0,00*
Trilhas sonoras de filmes 167 2,93 1,40 188 3,55 1,26 18,88 0,00*
Música Gospel 129 2,81 1,59 134 3,78 1,44 26,43 0,00*

* p < 0.05.

Tabela 6: Resultados das análises sobre escuta de estilos musicais segundo a variável idade.

Estilo Musical Idade dos estudantes em anos
14 15 16 17 18 19
N M DP N M DP N M DP N M DP N M DP N M DP F P
Música anterior à Idade Média 8 1,00 0,00 64 1,09 0,34 109 1,15 0,45 124 1,20 0,60 39 1,33 0,96 9 1,56 1,33 3,52 0,00*
Música Gregoriana 8 1,25 0,71 64 1,00 0,00 109 1,08 0,31 124 1,19 0,68 39 1,10 0,38 9 1,22 0,44 2,71 0,00*
Música Medieval 8 1,63 0,92 64 1,11 0,36 109 1,17 0,50 123 1,22 0,65 38 1,34 0,97 9 1,11 0,33 0,97 0,46
Música Renascentista 8 1,00 0,00 64 1,11 0,40 109 1,13 0,51 123 1,23 0,65 39 1,28 0,86 9 1,33 0,71 1,17 0,31
Música Barroca 8 1,13 0,35 64 1,09 0,34 109 1,14 0,48 123 1,30 0,79 39 1,21 0,70 9 1,33 0,71 0,81 0,61
Música Clássica 8 2,00 1,41 64 1,47 0,71 108 1,59 0,91 122 1,57 0,86 39 1,64 1,09 9 2,44 1,33 1,38 0,19
Música Romântica 8 1,63 0,92 64 1,72 0,93 109 1,94 1,13 124 1,79 1,05 39 1,87 1,08 9 2,33 1,22 0,83 0,59
Música do Século XX 8 1,75 1,39 63 1,46 0,76 105 1,63 0,97 122 1,84 1,15 38 1,84 1,17 9 2,11 1,17 0,98 0,45
Música Étnica 8 1,88 1,25 63 1,71 0,94 108 1,86 1,05 123 1,93 1,17 38 1,87 1,26 9 2,00 1,32 0,46 0,90
Música Folclórica 8 2,25 1,39 64 2,06 0,92 109 2,05 0,95 123 2,02 1,05 39 1,77 0,78 9 2,11 1,36 0,96 0,47
Samba 8 2,38 1,06 64 3,16 1,22 108 2,81 1,42 124 2,73 1,33 39 2,54 1,25 9 3,22 1,64 1,11 0,35
Pagode 8 3,13 1,46 64 3,73 1,41 109 3,67 1,44 123 3,38 1,49 39 3,46 1,48 9 3,78 1,72 1,00 0,44
Sertanejo 8 2,38 1,51 64 2,84 1,14 109 3,12 1,33 124 2,95 1,41 39 2,69 1,38 9 3,00 1,66 1,04 0,40
Romântico 8 2,25 1,49 64 3,06 1,23 107 3,16 1,42 122 2,72 1,34 39 2,95 1,34 9 3,22 1,30 1,62 0,11
Brega 8 1,63 0,74 64 1,67 0,91 108 1,75 0,91 123 1,56 0,80 39 1,74 0,94 8 1,88 1,13 0,77 0,64
MPB 8 2,38 1,51 64 2,61 1,18 108 2,89 1,25 123 2,91 1,40 39 3,10 1,52 9 3,11 1,45 1,47 0,16
Bossa Nova 8 1,88 1,46 64 1,98 1,08 109 1,95 1,05 124 2,08 1,21 39 2,28 1,23 9 3,11 1,36 2,99 0,00*
Choro 8 1,63 1,06 64 1,66 0,93 107 1,71 0,94 124 1,73 1,07 39 1,87 1,22 9 2,44 1,42 0,83 0,59
Forró 8 2,88 1,46 64 2,81 1,15 109 2,98 1,45 124 2,69 1,43 39 2,67 1,36 9 3,22 1,79 0,58 0,81
Frevo 8 1,38 1,06 64 1,41 0,83 109 1,39 0,74 124 1,46 0,86 39 1,31 0,80 9 1,78 0,97 0,56 0,83
Axé Music 8 3,00 1,69 64 3,20 1,30 109 3,28 1,54 122 2,90 1,56 39 2,82 1,54 9 3,22 1,72 0,81 0,61
Funk (nacional) 8 3,25 1,75 64 3,38 1,49 109 3,34 1,58 124 3,07 1,55 38 3,21 1,65 9 4,22 1,56 0,97 0,47
Manguebeat 8 1,38 0,74 64 1,22 0,58 109 1,33 0,81 123 1,24 0,58 38 1,42 0,83 9 2,11 1,05 4,13 0,00*
Bolero 8 1,63 1,06 64 1,39 0,68 109 1,41 0,78 123 1,32 0,69 39 1,23 0,48 9 2,44 1,24 2,89 0,00*
Flamenco 8 1,13 0,35 64 1,20 0,44 109 1,34 0,64 123 1,32 0,67 39 1,21 0,70 8 2,25 1,28 2,80 0,00*
Rhythmic and Blues 8 2,88 1,55 64 2,48 1,49 109 3,03 1,69 124 2,77 1,60 38 3,13 1,70 9 3,33 1,50 1,19 0,30
New Age 8 1,50 1,07 64 1,44 0,91 109 1,61 0,98 124 1,43 0,81 39 1,51 0,97 9 2,00 1,00 1,06 0,39
Funk (internacional) 8 2,75 1,39 64 2,66 1,45 109 2,60 1,53 124 2,48 1,42 39 2,46 1,23 9 2,67 1,00 0,50 0,87
Tecno 8 3,63 1,41 64 2,73 1,42 108 3,02 1,48 122 2,56 1,44 39 2,82 1,52 9 4,00 1,12 1,99 0,04*
Música de Discoteca 8 2,00 0,93 64 2,13 1,28 108 2,30 1,20 124 2,23 1,24 39 2,54 1,29 9 3,11 1,69 0,91 0,52
Drums & Bass 8 1,88 1,13 64 1,56 0,99 109 2,09 1,21 124 1,75 1,13 39 2,10 1,27 9 2,11 0,93 1,66 0,10
Break the Beats 8 1,88 0,99 64 1,67 0,96 109 1,85 1,12 124 1,63 0,98 38 2,11 1,31 9 2,67 1,41 1,83 0,06
Breakdance 8 1,63 0,52 64 1,95 1,23 108 2,59 1,31 124 2,14 1,36 39 2,38 1,35 9 2,56 1,13 1,79 0,07
Pop 8 3,63 1,41 63 3,29 1,37 109 3,66 1,29 123 3,32 1,43 39 3,18 1,34 9 3,78 1,30 0,97 0,46
Rock and Roll 8 3,13 1,64 64 2,73 1,65 109 2,85 1,49 124 2,64 1,52 39 2,72 1,54 9 3,56 1,24 0,79 0,63
Rock Alternativo 8 3,00 1,85 64 2,70 1,58 109 2,36 1,46 123 2,23 1,43 39 2,69 1,67 9 3,11 1,62 1,08 0,37
Punk/Hardcore 8 2,88 1,64 64 2,14 1,49 109 2,16 1,51 124 1,83 1,27 39 2,33 1,59 9 3,11 1,76 1,48 0,15
Metal 8 3,25 1,91 64 1,92 1,40 109 2,12 1,49 124 1,81 1,33 39 2,08 1,33 9 2,89 1,83 1,73 0,08
Jazz 8 2,13 1,25 64 1,73 1,03 109 1,91 1,19 124 1,87 1,20 39 2,00 1,12 9 2,44 1,01 0,91 0,51
Blues 8 1,75 0,89 64 1,45 0,83 109 1,61 1,07 124 1,60 1,04 39 2,03 1,18 9 2,56 1,01 2,24 0,02*
Música Folk 8 2,13 1,55 64 1,45 0,99 109 1,61 0,97 124 1,49 0,95 38 1,92 1,28 9 2,00 0,87 1,52 0,14
Música Country 8 1,88 0,83 64 2,13 1,20 109 2,38 1,22 123 2,01 1,16 39 2,18 1,32 9 2,67 1,22 1,22 0,28
Salsa 8 1,38 0,74 64 1,38 0,60 109 1,40 0,72 124 1,30 0,64 39 1,13 0,34 9 2,33 1,32 3,82 0,00*
Soul 8 1,38 0,74 63 1,43 0,78 109 1,50 0,78 124 1,81 1,12 39 1,77 1,16 9 2,44 1,01 2,79 0,00*
Rumba 8 1,13 0,35 64 1,13 0,38 109 1,26 0,70 124 1,19 0,47 39 1,10 0,50 9 1,78 0,83 1,83 0,06
Reggae 8 3,50 1,69 64 3,20 1,29 109 3,46 1,41 124 2,96 1,44 39 3,49 1,43 9 4,11 1,36 1,51 0,14
Hip-Hop 8 3,38 1,19 63 3,75 1,18 109 3,94 1,20 124 3,52 1,45 39 4,05 1,39 9 4,22 0,97 1,36 0,21
Ska 8 1,88 0,99 64 1,67 1,05 109 2,06 1,23 122 1,73 1,08 39 2,10 1,35 8 2,75 1,16 1,98 0,04*
Rap 8 3,25 1,58 64 3,03 1,43 108 3,19 1,44 123 2,67 1,48 39 3,03 1,66 9 4,11 1,36 1,86 0,06
Trilhas sonoras de filmes 8 3,00 1,07 64 3,16 1,31 108 3,38 1,29 122 3,24 1,43 38 3,29 1,45 9 3,11 1,54 0,93 0,50
Música Gospel 5 2,20 1,64 38 3,13 1,56 79 3,65 1,58 96 3,38 1,56 34 2,91 1,60 8 2,50 1,41 1,68 0,11

* p < 0.05.

Conclusões

O objetivo deste trabalho foi investigar sobre as preferências musicais de estudantes de escolas estaduais de nível médio em Vitória, Espírito Santo. Assim sendo, os resultados desta pesquisa coincidem com os de trabalhos anteriores, porém realizados em realidades distintas (CREMADES, 2008).

Como esperado, pode-se verificar que os estilos presentes na música popular são os que ocupam os maiores índices de escuta entre os estudantes participantes. Entretanto, é importante salientar que nem todos os estilos “populares” obtiveram a mesma aceitação por parte destes alunos, uma vez que aqueles estilos que não faziam parte do universo musical existente em Vitória no momento da coleta de dados e que contavam com pouca representatividade na cultura informal brasileira apresentaram baixos índices de escuta, tal como Rumba, Flamenco, Salsa, Bolero, Manguebeat e Frevo. Este fato reafirma a temporalidade da preferência musical entre os estudantes brasileiros, que, igualmente ao que ocorre com a maioria dos jovens de outros países, preferem os hits populares do momento (FOX; WINCE, 1975) e seguem involuntária e inconscientemente os ditados da indústria musical de consumo massivo no momento de identificar e efetivar suas preferências de escuta musical. Isto converte o objeto musical em um produto/ artigo de consumo rápido e envolto em uma roupagem midiática que trata de gerar influências musicais e culturais entre os estudantes, pois a música presente no espaço informal no qual se desenvolve o estudante de ensino médio nunca é “inocente”, senão que responde a estratégias de mercado para captar a atenção deste público objetivo. De acordo com North e Hargreaves (2000) e Wiebe (1940), à medida que se aumenta a difusão midiática e comercial de um determinado estilo musical, a influência deste estilo na formação das preferências do ouvinte torna-se também maior. É inegável a força que representam hoje em dia os meios de comunicação na modelagem musical (em particular) e na formação cultural (em geral) dos cidadãos.

Como já esperado, os resultados deste trabalho confirmam também que os estilos musicais de caráter erudito foram amplamente refutados pelos participantes, principalmente aqueles anteriores ao período Clássico do século XVIII (Música anterior à Idade Média, Música Gregoriana, Música Medieval, Música Renascentista, Música Barroca). A provável explicação para este fato é que tal refutação poderia provir do fato de que não existem em Vitória iniciativas públicas e/ou privadas que fomentem a divulgação destes estilos musicais, que se concentram somente na esfera de interesse de estudantes de música de níveis avançados e profissionais de áreas relacionadas à musicologia e à história da música antiga.

Acerca dos estilos que apresentaram maior frequência de escuta entre os estudantes, observou-se grande predominância do Hip-hop. Existe convergência com estes resultados em pesquisas similares (HARGREAVES; NORTH, 1999; PIMENTEL; GOUVEIA; PESSOA, 2007), que sustentam sua explicação sobre como o caráter de contestação deste estilo coincide poderosamente com diferentes acontecimentos da realidade imediata, sendo de grande interesse para os jovens e que despertam neles certos sentimentos de rebeldia e de protesto (muito presentes no período da adolescência), frente à autoridade de determinados valores aceitos por consenso e por tradição em nossa sociedade.

Além do Hip-hop, aparece em segundo lugar o Pagode, sobretudo entre os estudantes de 15 a 18 anos, que representa a maioria de participantes na pesquisa. O Pagode conta com grande presença nos meios de comunicação brasileiros e se caracteriza pela melodia e estrutura simples, com letra contendo grande apelação emocional. Sua elevada preferência entre os grupos de jovens mencionados se deve de novo à realidade social local, na qual este estilo se faz muito presente através da mídia, além de haver vários grupos musicais que favorecem a popularização do Pagode na cidade.

Como afirma Pais (1998), tanto o Pagode como o Hip-hop propõem e promovem uma idéia de identidade social que oferece aos jovens (obviamente não a todos) um sentido de coerência e unidade de grupo na qual a música se une a outros elementos de identidade, como a aparência externa, linguagem, comportamento, tipo de corte do cabelo, vestuário, etc. (TEKMAN; HORTAÇSU, 2002).

Já com relação à variável sexo, ainda que os dados encontrados não resultaram estatisticamente significativos, se observa certa tendência nas mulheres para hábitos de preferência de escuta musical de maior variedade e quantidade de estilos que os homens, o que coincide com o estudo de Crowther e Durkin (1982). Além disso, as alunas têm maior preferência por estilos de claro conteúdo midiático, como o Pop, o Pagode e o Axé Music, e os alunos por estilos classificados como underground, como o Metal, o Rock, a Música Alternativa, etc.

A partir dessas constatações, é importante se repensar nas políticas públicas de fomento à produção e difusão musical, desconcentrando o foco daqueles estilos musicais que fazem parte cotidianamente da mídia massiva, buscando promover aos cidadãos uma maior variedade de música, ajudando na educação do ouvinte e apreciador crítico e auxiliando na formação do cidadão consciente dentro da sociedade em que vive e atua. Dessa forma, com base nos dados levantados e nas análises realizadas, fica claro que os estudantes têm a mídia como sua principal referência musical, cabendo à educação formal também se preocupar com relação à educação musical desses alunos. O primeiro passo para isso já foi dado: a aprovação da Lei 11.769, de 2008, a qual tornou obrigatório o ensino de música na educação básica, abrangendo as redes pública e privada de ensino. (BRASIL, 2008). Assim, cabe aos gestores da educação primar para uma melhor formação do cidadão, sendo a música um dos pontos-chave para isso.

Notas

1 Sobre cultura de massa, ver Adorno e Horkheimer (1985) e Barros (2008).

2 Foram considerados estatísticamente significativos os resultados onde p < 0.05. Para me

lhor visualização pelo leitor, utilizou-se o símbolo * para indicar aqueles estilos que apre

sentaram tal situação.

Referências

ABELES, H. Responses to music. In: HODGES, D. (Ed.). Handbook of music psychology. Lawrence, KS: National Association for Music Therapy, 1980. p. 105-140.

ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1985.

BARBERO, K.; VILA, E.; SUÁREZ, J. Psicometría. Madrid: Universidad Nacional de Educación a Distancia, 2003.

BARROS, G. Dois olhares divergentes sobre a cultura de massa. Música Hodie, v. 8,

n. 1, p. 75-83, 2008.

BENNETT, R. Investigando los estilos musicales. Madrid: Akal, 1998.

BLUM, E. Analysis of musical style. In: MEYERS, H. (Ed.). Ethnomusicology: An introduction. New York: W. W. Norton. 1992. p. 165-218.

BRASIL. Lei Nº 11.769 de 2008. Altera a Lei nº 9.394 de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade de ensino da música na educação básica. Brasília: Diário Oficial da União, 2008.

COPLAN, D. In township tonight: South Africa’s black city music and theatre. New York: Longman House, 1985.

CREMADES, R. Conocimiento y preferencia sobre los estilos musicales en los estudiantes de educación secundaria obligatoria en la ciudad autónoma de Melilla. Universidad de Granada, España, 2008.

; LORENZO, O.; HERRERA, L. Musical tastes of secondary school students’ with different cultural backgrounds: a study in the spanish north african city of Melilla. Musicae Scientiae, v. 14, n. 1, 2010, p. 121-144.

CROWTHER, R.; DURKIN, K. Sex -and age -related differences in the musical behaviour, interest, and attitudes towards music of 232 secondary school students. Educational Studies, 8, p. 131-139, 1982.

FABBRI, F. A theory of musical genres: two applications. Popular Music Perspectives,

p. 52-81, 1981. Disponível em: <http://www.tagg.org>. Acesso em: 20/05/2009.

FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Trad. Sandra Netz. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004.

FOX, W.; WINCE, M. Musical taste cultures and taste publics. Youth and Society,

v. 7, 1975, p. 198-224.

GARCÍA, J. Forma y estructura en la música del siglo XX: Una aproximación analítica. Madrid: Alpuerto, 1996.

HARGREAVES, D.; NORTH, A. Music and adolescent identity. Music Education Research, Londres, v. 1, n. 1, p. 75-92, 1999.

. The Social Psychology of Music. Oxford: Oxford University Press, 2000.

IBGE. Censo demográfico. 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 05/08/2009.

JAKOBOVITS, L. Studies of fads: 1. The ‘hit parade’. Psychological Reports, v. 18,

p. 443-450, 1966.

LORENZO, O.; HERRERA, L.; CREMADES, R. Investigación sobre preferencias de estilos musicales en estudiantes españoles de educación secundaria obligatoria. In: ORTIZ, M. (coord.). Música. Artes. Diálogo. Civilización. Coimbra (Portugal): Center for Intercultural Music Arts y Grupo de Investigación HUM-742 D.E.Di.C.A, 2008. p. 301-332.

MATEIRO, T.; BORGHETTI, J. Identidade, conhecimentos musicais e escolha profissional: um estudo com estudantes de licenciatura em música. Música Hodie,

v. 7, n. 2, p. 89-108, 2007.

MEYER, L. Emotion and Meaning in Music. Chicago: University of Chicago Press, 1956.

. ¿El Fin Del Renacimiento? Revista Sur, Buenos Aires, 285, p. 22-41, 1963.

NORTH, A.; HARGREAVES, D. Experimental aesthetics and everyday music listening. In: HARGREAVES, D.; NORTH, A. (Eds.): The Social Psychology of Music. Oxford: Oxford University Press, 2000. p. 84-103.

PAIS, J. Culturas juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1998.

PIMENTEL, C.; GOUVEIA, V.; PESSOA, V. Escala de preferência musical: construção e comprovação da sua estrutura fatorial. Psico-USF, v. 12, n. 2, p. 145-155, 2007.

PRICE, H. A proposed glossary for use in affective response literature in music. Journal of Research in Music Education, v. 34, p. 151-159, 1986.

RIBEIRO, H. Dinâmica das identidades: análise estilística e contextual de três bandas de Metal da cena rock underground de Aracaju. Salvador: UFBA, 2007.

RUSSELL, P. Musical tastes and society. In: HARGREAVES, D.; NORTH, A. (Eds.): The Social Psychology of Music. Oxford: Oxford University Press, 2000. p. 141-158.

TEKMAN, H.; HORTAÇSU, nº Music and social identity: stylistic identification as a response to musical style. International Journal of Psychology, v. 37, n. 5, p. 227-285, 2002.

WIEBE, G. The effect of radio plugging on students’ opinions of popular songs. Journal of Applied Psychology, v. 24, p. 721-727, 1940.

João Fortunato Soares de Quadros Júnior - Professor do curso de Licenciatura em Linguagens e Códigos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Doutorando em Educação Musical pela Universidad de Granada (Espanha), publicou em 2009 o livro “Fatores de influência no processo de ensino-aprendizagem musical: o caso da Escola Pracatum”, pela Editora Unimontes, em parceria com os doutores Oswaldo Lorenzo Quiles (Espanha) e Ana Cristina Tourinho (UFBA).

Oswaldo Lorenzo Quiles - Doutor em Ciências da Educação pela Universidad Nacional de Educación a Distancia - UNED (Espanha). Professor do Departamento de Didáctica de la Expresión Musical, Plástica y Corporal da Falcultad de Educación y Humanidades de Melilla (Espanha), coordenando também o Programa de Doutorado Educación Musical: Una Perspectiva Multidisciplinar Doutorado pela Universidad de Granada (Espanha). Publicou diversos artigos em revistas científicas indexadas por Arts & Humanities e Social Science Citation Index.