PESquISA EM MÚSICA E InTERDISCIPlInARIDADE

musiC researCh and interdisCiPlinarity

Vanda Bellard Freire (UFRJ)

vandafreire@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho focaliza tendências recentes do pensamento científico e alguns desdobramentos na pesquisa em música, em suas diferentes sub-áreas. Aborda, entre outros aspectos, a valorização do enfoque subjetivo à pesquisa, a relativização de conceitos, anteriormente considerados como mais estáticos, e a ampliação do campo de pesquisa na área de música, a partir do olhar do paradigma de pensamento pós-moderno. Aborda, também, as possibilidades de contribuição da interdisciplinaridade às pesquisas da área de música. Palavras-chave: Pesquisa em música; Pensamento pós-moderno; Interdisciplinaridade; Pesquisa e subjetividade.

Abstract: The current paper focuses on the recent tendencies of scientific reasoning and how they unfold in music research and its subdisciplines. It addresses the importance of subjective approaches to research, the relativization of concepts which were previously considered static, and the broadening of the research areas in music based on the post-modern reasoning paradigm, among other aspects. Keywords: Music research; Post-modern reasoning; Interdisciplinarity; Research and subjectivity.

Introdução

Refletir sobre pesquisa, abrangendo música e mídia, sob o enfoque do paradigma de pensamento pós-moderno, tema proposto para esta palestra, implica, a nosso ver, em abordar diversos aspectos que dizem respeito a novas visões de pesquisa e de construção de conhecimento. É sobre essas visões e sua aplicação à pesquisa em música que a presente palestra se debruça.

Não vamos analisar ou questionar alguns conceitos de uso relativamente freqüente, como “moderno”, “modernidade”, “modernismo” e “pós-modernismo”. Lembramos apenas que a concepção de moderno não é recente, já passou por várias nuances conceituais ao longo dos últimos séculos e, de certa forma, está sempre associada à visão de inovação. O conceito de pós-modernismo também não é novo e já foi aplicado a diferentes momentos da história, sendo que nos deteremos apenas na concepção recente, oriunda do final do século XX, e que corresponde a uma visão descrita por Boaventura de Souza Santos (1988) como um novo paradigma de pensamento emergente, correspondente a modificações significativas no âmbito do pensamento científico.

Não se trata, apenas, de recolocar “as mesmas peças em um mesmo tabuleiro”, mas de conceber um “jogo” conceitual diferente, que envolve, sobretudo, novas formas de entendimento. Destacamos, no item a seguir, alguns pontos fundamentais, sob a ótica dessas novas concepções.

1. Construção de conhecimento e pós-modernismo

Resumidamente, relacionamos e comentamos, a seguir, alguns aspectos importantes do pensamento pós-moderno e algumas de suas implicações à construção de conhecimento, ou seja, aplicáveis à pesquisa:

1.1 Relação sujeito-objeto

O paradigma de pensamento pós-moderno prioriza a perspectiva subjetiva, centrada no sujeito, e não o distanciamento objetivo entre um sujeito, que se pretende neutro, e um objeto, externo a ele e distante, sobre o qual busca atingir um conhecimento também neutro e generalizável. A relação sujeito-objeto proposta pelo enfoque pós-moderno não busca esse distanciamento nem essa neutralidade e não valoriza a possibilidade de generalização. O foco das pesquisas é centrado, principalmente em estudos delimitados a casos específicos. As conclusões desses estudos são aplicáveis a reflexões mais amplas e a outros casos similares, mas não pretendem o simples estabelecimento de relações causais e generalizáveis.

1.2 Relativização dos conceitos, inclusive os de conhecimento, de verdade e de música

Na medida em que não prioriza conceitos e conclusões generalizáveis, o pensamento pós-moderno dá destaque à relatividade desses conceitos e conclusões. Eles são sempre relacionados a situações específicas e a olhares de análise também específicos, ou seja, não são abordados com pretensão de “universalização”. Ganha destaque, por exemplo, a perspectiva cultural e, mais que isso, a perspectiva multicultural. Todos os conceitos e valores (inclusive, como já mencionado, o conceito de música) são considerados como relativos a uma determinada perspectiva cultural, seja mais ampla, seja restrita a um segmento de uma sociedade.

1.3 Valorização da concepção de sistemas abertos, em rede, pluralistas, ao invés de sistemas fechados e estruturas estáticas e generalizáveis

A relativização dos conceitos, mencionada no item anterior, gera a necessidade de interpretar os processos de forma mais flexível, levando, assim, a um entendimento mais amplo e flexível das estruturas, redesenhando-as a partir de outras bases conceituais, que não enfatizam a estaticidade. O paradigma de pensamento pós-moderno não procura caracterizar estruturas com o objetivo de gerar modelos estruturais que possam explicar outros fenômenos, ainda que, as conclusões das pesquisas sob o novo paradigma, que analisem estruturas, possam servir a outras análises. O importante é que a abordagem pós-moderna não valoriza e não tem como objetivo a generalização.

1.4 Valorização da transitoriedade e da transformação como processos permanentes

As bases conceituais e metodológicas do pensamento pós-moderno enfatizam a percepção das mudanças, o que se pode exemplificar com o tratamento que as pesquisas sob esse enfoque dão a conceitos que têm sido tratados de forma mais estática e com delimitação mais definida, como os de “tradição”, “forma”, “estrutura” e “contexto”. Conceitos aparentemente fechados, como esses, ganham dimensões diferentes ao serem visualizados sob uma ótica que enfatiza o dinamismo e a transformação, mesmo com o reconhecimento de que, paralelamente à mudança, persistem resíduos de permanência.

1.5 Redimensionamento dos conceitos de espaço e tempo, relativizando

o enfoque cronológico

Na medida em que as trocas, as reelaborações, as transformações e apropriações passam a ser enfatizadas, assim como os conseqüentes processos de hibridação, os conceitos de espaço e tempo são também redimensionados e focalizados de forma mais flexível. Entende-se, por exemplo, a permanência de vestígios ou resíduos de tempos passados e a antecipação de tempos futuros em tempos presentes. Conseqüentemente, os limites espaciais têm seu desenho relativizado, assim como a concepção de tempo como seqüência linear. A partir dessas novas visões, a linearidade cronológica, entre outros aspectos, deixa de ser importante e a própria concepção de tempo musical ganha novos entendimentos.

1.6 Valorização do subjetivismo, das diversidades e das minorias, em detrimento de relatos universalistas, sem perda da perspectiva total

Cabe reiterar que se trata, na verdade, de uma outra visão epistemológica, com desdobramentos nos métodos e procedimentos de pesquisa, e não de uma mudança superficial, restrita aos procedimentos metodológicos ou a alguns conceitos, isoladamente. Essa visão traz possibilidades de aplicação à pesquisa em música, sem perda de validade científica, como temem alguns e, ao mesmo tempo, traz novas possibilidades às conclusões das pesquisas da área.

A subjetividade encontra espaço, assim, na pesquisa científica, apesar da tendência tradicional de preconizar a objetividade como critério fundamental de cientificidade. Subjetividade, aqui, está sendo entendida tanto como perspectiva subjetiva individual (condicionada culturalmente), como perspectiva coletiva / social (construída pelas diversas subjetividades individuais em interação cultural).

2. Música e pesquisa, sob o enfoque pós-moderno

A partir dessas considerações, podemos contatar que tratar de música e pesquisa, sob a ótica pós-moderna, implica em repensar alguns aspectos específicos fundamentais, já que não se trata de uma simples troca de rótulos. Procuramos, a seguir, delinear alguns desdobramentos do novo paradigma na prática de pesquisa na área de música:

1.1 revisão e relativização do campo de pesquisa, de muitos conceitos e métodos e dos próprios limites das pesquisas, conduzindo-as com contornos mais amplos. Conceitos como “texto”, “contexto”, “influência”, “música”, “forma” e outros já citados ganham novas abordagens, novos entendimentos, sendo também entendidos como relativos e transitórios.

1.2 valorização da heterogeneidade (inclusive das culturas), passando a abarcar conteúdos e práticas musicais antes marginalizados, como a música “popular”, a música de “massa”, entre outros, ampliando o campo das pesquisas.

1.3 valorização da subjetividade, abrindo maior espaço para as percepções dos diferentes sujeitos que interagem nos processos (críticos, compositores, ouvintes, intérpretes, editores, produtores musicais, professores e alunos, etc) e expressam diferentes visões de mundo.

Esses aspectos expostos acima destacados evidenciam a necessidade de rediscutir os limites das pesquisas e das subáreas de Música, já que não se trata de uma simples mudança superficial de perspectiva, mas de uma mudança profunda e conceitual. A interdisciplinaridade aparece, assim, como uma necessidade, e não como um artifício.

Como a prática da interdisciplinaridade não pressupõe a descaracterização dos diferentes campos de conhecimento, e sim a interação entre eles (sobretudo a partir de equipes interdisciplinares de pesquisa), essa abordagem torna-se particularmente interessante sob o enfoque pós-moderno, pois possibilita transitar através de limites antes considerados definitivos.

Essa visão interdisciplinar, que busca transpor, sem desqualificar, limites rígidos entre áreas de conhecimento, é muito cara, assim, ao pensamento pós-moderno, ampliando os possíveis ângulos de abordagem nas pesquisas. Nas diferentes subáreas de Música, considerando as características do novo paradigma, tornam-se importantes para a pesquisa novas estratégias metodológicas, pois não se trata de mudar alguns elementos na superfície, mas de construir conhecimento a partir de novas premissas. Essas novas estratégias envolvem, entre outras as seguintes características:

1.4 qualidade dos questionamentos (questões que abordam aspectos que dão espaço à subjetividade), ou seja, não se trata de decidir dar à pesquisa já iniciada um perfil subjetivista, pois essa tendência está implícita nas questões que dão origem à pesquisa, que já partem do pressuposto (entre outros) de que sujeito e objeto não são instâncias estanques e definidas a priori.

1.5 flexibilidade metodológica (os métodos e referenciais teóricos não são necessariamente totalmente pré-definidos), uma vez que as pesquisas, sob o enfoque pós-moderno, transitam permanentemente entre a teoria e a prática, o que abre a possibilidade de novos métodos e novos conceitos serem suscitados no decorrer da investigação. Os referenciais teóricos e metodologias mais pertinentes são aqueles que têm como pressuposto a valorização da subjetividade, da relatividade e da flexibilidade.

1.6 utilização de conceitos e metodologias com abertura de espaços para a heterogeneidade e a diversidade cultural, abrangendo a dimensão midiática (ampliação do objeto e do campo de estudo das pesquisas sobre música). Ou seja, valorização das diversidades e das minorias, em detrimento de relatos universalistas, sem perda da perspectiva total.

3. Implicações do pensamento pós-moderno nas pesquisas das subáreas de Música

Fazendo um esforço didático para observar, nas pesquisas recentes das diversas subáreas de Música, os principais aspectos que decorrem da visão pós-moderna, podemos destacar, aqui, alguns deles. A bibliografia apresentada ao final deste trabalho cita alguns autores que referenciam esses aspectos, sem nenhuma pretensão de fazer uma relação completa ou definitiva:

1.1 Na musicologia/etnomusicologia, as pesquisas, sob o enfoque pós-moderno, têm valorizado, entre outros aspectos:

1.1.1 O conceito de cultura, segundo um enfoque pluralista e segundo a concepção de desterritorialização da cultura.

1.1.2 As trocas e reelaborações entre as manifestações musicais, sob o enfoque de sínteses ou hibridismos e de transformações, considerados como processos inerentes às culturas.

1.1.3 A relativização dos documentos, considerados como relatos subjetivos, conferindo igual importância a textos escritos, relatos orais, performance, participação do público nos eventos, diferentes registros áudio-visuais, inclusive midiáticos.

1.1.4 A relativização dos pontos de vista, abrangendo conceitos como os da estética da recepção e o de pontos de escuta.

1.1.5 A não valorização hierárquica de concepções musicais, abrindo espaço para a “música popular” e para a “música midiática” (os próprios conceitos de música “popular” e “midiática” entram em revisão).

Observamos, assim, que os limites das pesquisas musicológicas e etnomusicológicas se ampliaram. Podemos, sob essa linha de abordagem, nos defrontar, com alguma freqüência, com pesquisas que abrangem as práticas musicais e não apenas a “música em si”, que focalizam diferentes manifestações e estéticas musicais, sem priorizar a música de concerto e sem tentar caracterizar essa música como “universal”, que problematizam conceitos antes considerados estáveis, como os de “estilo” ou “contexto”, entre outros.

1.2 No âmbito da criação musical, as pesquisas, sob o enfoque pós-moderno, têm valorizado, entre outros aspectos:

1.2.1 A legitimação de diferentes técnicas de criação e diferentes sonoridades e sistemas musicais, segundo visão pluralista de estética e de cultura.

1.2.2 As trocas e reelaborações, considerando hibridismos e transformações, com maior espaço para as tradições orais.

1.2.3 A relativização dos pontos de vista estéticos, conferindo maior espaço à subjetividade e a conceitos como os da estética da recepção e o de pontos de escuta.

1.2.4 As possibilidades diferenciadas de criação, sobretudo a partir de diferentes conceitos de tempo e espaço e do emprego de elementos musicais antes não enfatizados, como timbre e textura.

1.2.5 As abordagens de análise musical, não subordinadas ao enfoque europeu e ao sistema tonal.

Podemos observar que muitos pontos de convergência aparecem entre esses aspectos destacados nas duas subáreas mencionadas (musicologia/etnomusicologia e criação musical), o que parece deixar claras as possibilidades de permeação interdisciplinar entre esses dois campos.

1.3 No âmbito das práticas interpretativas, podemos destacar que as pesquisas, sob o enfoque pós-moderno, têm valorizado, entre outros aspectos:

1.3.1 A legitimação de diferentes técnicas de interpretação musical, com enfoque pluralista e subjetivo, valorizando trocas e reelaborações de características musicais, hibridismos e transformações.

1.3.2 A relativização dos pontos de vista estéticos e sua aplicação na performance, abrangendo conceitos como os da estética da recepção e o de pontos de escuta (maior subjetivismo, menor submissão ao texto / partitura).

1.3.3 A aplicação, na interpretação musical, de diferentes conceitos de tempo e espaço e de elementos musicais antes não enfatizados, como timbre e textura.

1.3.4 O reconhecimento de fonogramas e outros registros áudiovisuais como documentos importantes, constituindo fontes significativas de informação primária, propiciando diferentes experiências e percepções de performance.

A ampliação dos limites das pesquisas voltadas para as práticas interpretativas leva, como nos casos anteriores, à aproximação com outras subáreas de pesquisa sobre música, como, por exemplo, com a etnomusicologia, quando abre espaço para um entendimento dessas práticas como manifestações da cultura em que se inserem. Outro exemplo é a aproximação das pesquisas que focalizam a performance com a musicologia, quando essas investigações procuram entrelaçar a performance com diferentes pontos de escuta e diferentes possibilidades de recepção, relativizando-a. Ou seja, a perspectiva interdisciplinar se faz presente, como decorrência dos novos pressupostos.

1.4 No âmbito da educação musical, as pesquisas, sob o enfoque pós-moderno, têm enfatizado aspectos que também geram aproximação com outros campos de conhecimento, como no emprego de abordagens etnográficas, na ampliação de limites de seu objeto de estudo, trazendo a cultura e o cotidiano para seu foco de interesse. Entre esses aspectos, valorizados pelas pesquisas recentes sobre educação musical, podemos citar:

1.4.1 A legitimação de diferentes técnicas de criação, diferentes sonoridades e sistemas musicais, analisados, pelo enfoque da educação, com uso freqüente de abordagens etnográficas.

1.4.2 O conceito de cultura, segundo um enfoque pluralista, concedendo maior espaço às trocas e reelaborações de características musicais e às experiências do cotidiano dos alunos, relativizando os pontos de vista.

1.4.3 As metodologias de ensino que dão destaque às experiências musicais do aluno e às trocas entre processos informais, não-formais e formais de ensino de música.

1.4.4 As percepções e depoimentos de todos os atores de um processo educacional, inclusive dos alunos ou de pessoas não letradas, como relatos válidos para a pesquisa.

Reiteramos que a exposição de características distribuídas pelas diferentes subáreas tem um caráter mais didático do que uma tentativa de demarcar uma separação entre esses campos. Observamos, inclusive, que muitas características são comuns às diferentes áreas, ressaltando, conforme já apontado, as possibilidades de convergências de interesse e a possibilidade de constituir estudos interdisciplinares. Paralelamente, observamos que o novo paradigma tem suscitado reavaliações das pesquisas da área de música, mesmo em casos em que não há uma adesão clara ou consciente a essas novas visões.

Breves Conclusões

Buscando concluir, ainda que provisoriamente, as questões apontadas ao longo desta palestra, resumimos, a seguir, algumas das repercussões do novo paradigma nas pesquisas da área de música:

A tendência pós-moderna tem suscitado a necessidade de repensar conceitos, metodologias e referenciais teóricos compatíveis com o novo paradigma, de forma a garantir a coerência epistemológica das pesquisas.

As tendências interdisciplinares ganham espaço renovado, sob o paradigma de pensamento pós-moderno, mas também desencadeiam resistências e críticas diversas, não só na área de música.

Para a área de música, entram em discussão os limites das subáreas de pesquisa, a validade desses limites, as vantagens e desvantagens quanto à maior permeabilidade entre elas.

Algumas subáreas, como a educação musical e a etnomusicologia, têm se mostrado mais permeáveis à visão interdisciplinar, outras se atêm mais a uma visão “individualista” de pesquisa e de conhecimento.

Constatamos, assim, que ainda há muitos desafios para a área de música enfrentar, em suas pesquisas, caso pretenda caminhar na direção de uma renovação efetiva e profunda de seus princípios e métodos. Por outro lado, mesmo aqueles que relutam ou refutam essas concepções do novo paradigma necessitam refletir e construir seus argumentos, face à nova argumentação teórica que vem se colocando, não só na área de música, há pelo menos quatro décadas.

Finalmente, podemos destacar, a guisa de conclusão, algumas questões que desafiam a área de Música, a partir da visão pós-moderna, clamando por posicionamentos da área, não só no que concerne às pesquisas, mas também no que se refere à formulação dos cursos superiores de música:

É possível repensar o ensino superior de Música e a pesquisa da área em bases interdisciplinares?

Em que medida nossos cursos de bacharelado e de formação de professores têm atualmente correspondência com as tendências pós-modernas?

Que possíveis avanços ou limitações podem decorrer dessas novas visões?

Essas e outras questões se colocam para os músicos, em suas atividades docentes e de pesquisa, muitas vezes a despeito deles mesmos, em decorrência de demandas diversas. Existe uma provocação epistemológica em pauta, que nos cabe discutir e analisar, e que não pode ser ignorada, uma vez que perpassa grande parte de importantes trabalhos contemporâneos. Creio que nos cabe tirar partido do que nos parecer pertinente, mas, para isso, faz-se necessário arregaçar as mangas e analisar as novas tendências profundamente e sem preconceitos, seja para incorporá-las total ou parcialmente, seja para rejeitá-las, total ou parcialmente. O avanço de conhecimento da área de Música certamente se beneficiará com esse processo.

Notas

Este texto foi discutido de forma oral no IX SEMPEM – SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISA EM MÚSICA. O evento foi promovido e realizado pelo PPG em Música da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG – Universidade Federal de Goiás, em Goiânia de 26 a 29 de maio de 2009.

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Vanda Bellard Freire - Doutora em Educação Brasileira pela UFRJ, com Pós-Doutoramento na Universidade Nova de Lisboa (Portugal), na área de Musicologia Histórica. Presidiu a Associação Brasileira de Educação Musical (1996/2001). Tem diversas publicações e consultorias realizadas nas áreas de Musicologia e Educação Musical. Tem coordenado projetos de pesquisa e extensão, com apoios CNPq, CAPES, MEC, FUJB. Foi Conselheira (1997/2006) do Conselho Nacional de Incentivo à Cultura (Ministério da Cultura / Brasil), representando a área de Música. Integra o corpo docente da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde leciona e orienta trabalhos de pesquisa e extensão em Música, na Graduação e na Pós-Graduação.