Marcos Flávio de Aguiar Freitas - UFMG
marcosflavio@ufmg.br
Fausto Borém - UFMG fborem@ufmg.br
Resumo: Estudo sobre a trajetória do choro em Belo Horizonte, desde sua vinda do Rio de Janeiro no início do século XX, passando pela formação dos regionais de choro e programas ao vivo de chorões nas antigas rádios da cidade na década de 1930, pelo renascimento do choro na década 1970, até chegar à produção musical do representativo grupo de oito compositores-instrumentistas. A apresentação dos aspectos históricos e dos traços biográficos dos compositores fundamentou-se em entrevistas semi-estruturadas com compositores, instrumentistas e radialistas. O levantamento das partituras autógrafas durante a pesquisa serviu de base para a análise dos exemplos musicais e a organização das listas de obras comentadas. Palavras-chave: música popular brasileira, música instrumental brasileira, choro em Belo Horizonte, composição musical.
Abstract: Historical study on the development of choro in the Brazilian city of Belo Horizonte, since its migration from Rio de Janeiro in the beginning of the twentieth century to the development of the regional ensembles and their live performances in the city’s early radio stations of the 1930s to the rebirth of choro the 1970s to the musical production of eight selected composers-instrumentalists. The composers’s biographical data and historical facts are based on interviews with composers, instrumentalists and radio announcers. The analysis of musical excerpts and annotated lists of works departed from the collections of original scores found during the research. Keywords: Brazilian popular music, Brazilian instrumental music, choro in Belo Horizonte, musical composition.
Este artigo registra os principais compositores-intérpretes, grupos, obras, fatos e personalidades que fizeram a história do choro na cidade de Belo Horizonte. Como fontes primárias, foram utilizados manuscritos e edições autógrafas de leadsheets1 e entrevistas semi-estruturadas com os principais personagens da história do gênero na capital de Minas Gerais, representados por compositores, intérpretes e radialistas. Apesar de existirem centenas de compositores em Belo Horizonte que escreveram um ou mais choros, o recorte apresentado neste artigo seguiu três critérios de inclusão: (1) somente choros compostos na cidade de Belo Horizonte; (2) somente compositores que dedicaram sua obra majoritariamente ao gênero e
O choro, um dos mais importantes e difundidos gêneros instrumentais brasileiros, migrou do Rio de Janeiro para Belo Horizonte no início do século XX, pouco tempo depois do início da fundação da nova capital de Minas Gerais no final do século XIX. Popularizou-se na capital do estado, especialmente por meio de partituras e gravações, e difundiu-se pelo interior de Minas Gerais, se abrigando principalmente nos grupos de se-resta e bandas de retreta, que já eram bastante comuns nessa época (LISBOA, 2005, p. 3). Por outro lado, mais tarde, um número significativo de músicos destes grupos, já familiarizados com o gênero choro, começou a fazer o movimento contrário, vindo de pequenas cidades do interior para a área metropolitana de Belo Horizonte em busca de melhores condições de trabalho.
Ouro Preto tornou-se a capital do Estado de Minas Gerais em 18 de agosto de 1721, mas, com o passar dos anos, já não oferecia condições para ser o centro administrativo, político e financeiro do estado. Houve várias tentativas de mudança da capital nos anos de 1789, 1821, 1833, 1851 e 1867. A cidade que hoje é Belo Horizonte nasceu a partir de um grande curral de gado, cujo primeiro povoado foi fundado em 1701. Em 12 de dezembro de 1897, Belo Horizonte se tornou a capital do estado, mesmo ano em que Alfredo da Rocha Viana Filho, o genial Pixinguinha, nascia no Rio de Janeiro, autor de cerca de 1.000 composições (ALBIN, 2003, p.55) e ainda considerado o epítome do gênero.
Enquanto ainda estavam em curso as últimas lutas políticas para a mudança da capital do Estado de Minas Gerais de Ouro Preto para Belo Horizonte, já havia na corte do Rio de Janeiro um acentuado e amadurecido movimento musical. Ali, o choro se delineava como um gênero musical definido (CAZES, 1999, p.21). Joaquim Antônio da Silva Callado (1848-1880), Chiquinha Gonzaga (1847-1921), Ernesto Nazaré (1863-1934) e Anacleto de Medeiros (1866-1907) já eram compositores renomados.
Mais do que erguer prédios, ruas e jardins no imenso canteiro de obras do final do século XlX que era Belo Horizonte, havia dos administradores públicos uma preocupação em transformar a vida provinciana do antigo arraial, trazendo para o povo mais cultura e um estilo de vida mais cosmopolita. Assim, foram criados um teatro provisório (1895), o Clube Recreativo Belo Horizonte (1894), o Club Sportivo 17 de Dezembro (1895) e a Biblioteca Municipal (1895). Essas iniciativas buscavam dotar a cidade de elementos que pudessem sustentar uma vida culturalmente mais diversificada. Foi com este espírito que o arquiteto português Alfredo Camarate organizou a primeira banda de música da cidade, a Sociedade Musical Carlos Gomes, em 11 de julho de 1896 (SECRETARIA DE CULTURA, PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, p. 22). Desempenhando um papel relevante na construção do lazer e da cultura da cidade, essa banda esteve presente nos principais eventos oficiais de sua história inicial, como a inauguração do Parque Municipal de Belo Horizonte em 26 de setembro de 1897, a inaugu-ração da iluminação elétrica em 11 de dezembro de 1897 e a cerimônia de inauguração final da capital em 12 de dezembro de 1897.
Em 1896, mesmo ano de formação da Banda Carlos Gomes de Belo Horizonte, nascia, pela iniciativa de Anacleto de Medeiros, a famosa Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Composta em grande parte por chorões, com Anacleto na regência, a banda passou a se destacar das demais “pela melhor afinação, leveza e arranjos bem acabados” (CAZES, 1999, p.30). A integração que Anacleto realizou entre as bandas militares e a cultura das rodas de choro do Rio de Janeiro enriqueceu e valorizou muito as duas manifestações musicais. Escrevendo arranjos e composições para banda, grupo com maior mobilidade e potencial instrumental, ele possibilitou que a linguagem chorística se propagasse como antes não havia acontecido. Esta importância das bandas (militares e civis) para o choro continuou no século XX adentro, mesmo que muitas vezes ignoradas ou destituídas de sua importância social, seja pela falta de apoio, seja pela má qualidade de alguns grupos. Cazes (1999) comenta que,
Para se ter uma idéia, Joaquim Antônio da Silva Callado (1848) e Paulo Moura (1932), ambos filhos de mestres de banda, tiveram o mesmo tipo de iniciação musical com quase um século de diferença. Outros grandes músicos e compositores como Capiba, Severino Araújo, Netinho, Claudionor Cruz e Moacyr Santos também aprenderam música em casa e começaram cedo tocando na banda dos pais. (p.33).
Os primeiros registros fonográficos do repertório do choro foram realizados em 1902 pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, quando também foram incluídas valsas, polcas, tangos, sendo algumas composições do próprio Anacleto de Medeiros. Já as primeiras gravações de solistas de choro começam a aparecer em 1907, com os grupos Novo Cordão e Cavaquinho de Ouro, ambos do Rio de Janeiro. Repetindo uma negligência habitual do período (BRASIL DE MATOS GUEDES, 2003, p.20), os componentes do Novo Cordão não são identificados nas gravações, mas os discos históricos desse grupo já mostram o violão começando a desenvolver as chamadas baixarias,3 (CAZES, 1999, p. 42) e solos com os comedidos improvisos de instrumentos solistas, os quais, ainda hoje, são duas mar-cantes características das práticas de performance do choro.
A música praticada por Ernesto Nazaré e Chiquinha Gonzaga, entre outros, tinha nas partituras seu principal meio de divulgação, especialmente fora do Rio de Janeiro. O interesse popular pelo novo gênero era notável. Por exemplo, a polca (choro) Atraente de Chiquinha Gonzaga, composta em fevereiro de 1877, já estava na sua 15ª edição em novembro do mesmo ano (CAZES, 1999, p. 35). Entretanto, com o advento das gravações, músicos dos mais diversos locais do Brasil puderam ouvir e absorver o sotaque tão peculiar das práticas de performance do choro, expressão que é impossível de ser codificada e comunicada apenas na partitura. Posteriormente, o advento da rádiotransmissão daria um passo ainda mais largo para que o choro lançasse sementes definitivas em um território mais amplo e firmasse suas raízes na cultura musical mineira.
O período em que o choro carioca foi difundido em Belo horizonte principalmente por meio das edições de partituras vindas do Rio de Janeiro se estende até o início da década de 1930, quando começou a ser possível ouvir choros nas rádios. Entretanto, um marco importante arejou os ouvidos da capital mineira nesse meio tempo: a apresentação de Pixinguinha com o grupo Oito Batutas em 21 de janeiro de 1920 no Cine América. Patrocinados por Arnaldo Guinle, um dos homens mais ricos do Brasil na época, Pixinguinha, Raul Palmieri, José Alves, China, Jacó Palmieri, Luiz de Oliveira, Donga e Nélson Alves viajaram em turnê, no final do ano de 1919, com o duplo objetivo de divulgar a sua música e coletar dados sobre a música popular brasileira por onde andavam (CABRAL, 1997, p.55). Ainda em 1919, João Pernambuco foi incorporado ao grupo que iria visitar os estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais e, depois, em 1921, a Bahia e Pernambuco (ALBIN, 2003, p. 59).
Três dias após a estréia no Cine América em Belo Horizonte, os Oito Batutas tocaram novamente no Teatro Municipal, além de fazer sessões vespertinas no Cinema Comércio. Segundo Sérgio CABRAL (1997, p.56), o Jornal de Minas destacou a participação de João Pernambuco e Pixinguinha, que “evocou magistralmente a alma de Patápio Silva na vigorosa execução de seu maravilhoso instrumento”.4 O contato dos mineiros com o grupo mais significativo do choro de todos os tempos foi um marco na formação dos primeiros grupos regionais de Belo Horizonte.
Em Belo Horizonte, um forte estímulo à sobrevivência dos grupos regionais antes das rádios foram os saraus. As reuniões familiares, festas, serenatas e bandas de música agregavam estes músicos em um ambiente acolhedor. Nos bairros da cidade, a atuação de muitos grupos se restrin-giam aos encontros domésticos. Segundo Hélio PEREIRA (2004) e o radialista Acir ANTÃO (2004), os encontros para se tocar choro aconteciam em casas de particulares em bairros afastados do centro da cidade, como a residência de José Amâncio (no bairro Vila Nova Esperança), de Zé Barbeiro (no bairro Salgado Filho), de Bizeca e Antônio do Breque (no bairro Aparecida) e de Aristides (no bairro Nova Esperança). Muitos músicos abriam as portas de suas casas para saraus aos domingos. José Amâncio (violonista) recebia freqüentemente Jovelino (violão), Moreira (clarinete), Onofre (cavaco), Tamis (bandolim), Vicente Malaquias (flauta), dentre outros. A casa de João Castelhano (violão tenor) também virou ponto de encontro para Nonô (cavaco), Hélio Pereira (violão), Aláides (pandeiro) e Antônio Aguilar (bandolim). Aristides do trombone também realizava reuniões freqüentes em sua casa. Seu irmão Duca, conhecido pelo temperamento explosivo e pelo talento de multi-instrumentista, tocava bandolim, cavaquinho, violão e banjo. Segundo Antão (2004),
...o engraçado era que por muito pouco ele entrava em uma confusão e quebrava na cabeça de seu desafeto o instrumento que estivesse tocando no momento. Daí era um drama para que alguém da roda de choro emprestasse a ele um instrumento para que ele pudesse tocar. Estes encontros eram regados a café e cachaça, já que na época cerveja era artigo de luxo.
Com a popularização do rádio na década de 1930, a música popular brasileira teve um grande impulso. Em Belo Horizonte, a Rádio Mineira foi a primeira a ser criada, em fevereiro de 1927. Mas foi o ano de 1936 que viu aparecer duas rádios fundamentais na história do choro nessa cidade: a Rádio Guarani e a Rádio Inconfidência. A Rádio Guarani, mais popular, tinha programas musicais misturados com humor:
“Uma das atrações favoritas do público era A Hora do recruta, comandada por Rômulo Paes. A novidade estava na presença de um carrasco no palco para castigar os calouros que não cantassem ou não se apresentassem bem... muitas revelações surgiram: não somente astros e estrelas da música, mas orquestra, conjuntos [grifo nosso] e grupos teatrais.” (Marcelo Dolabela citado por Prata, 2003)
Já a Rádio Inconfidência tinha uma programação mais elitizada e, embora tivesse nos programas Ópera da semana, Discoteca da boa música e Concertos os seus carros-chefes musicais, apresentava enormes e variados casts descrito por Wanir Siqueira (citada por Prata, 2003) como,
...abastecidos de nomes suficientes para cobrir mais de 18 horas diárias de programação... em seus tempos áureos, reuniu cerca de 500 integrantes; com três conjuntos – o melódico e dois regionais [grifo nosso]; além de 4 orquestra fixas – a clássica, a de danças, a típica e a de cordas; tendo de 1940 a 1960, 2.360 arranjos exclusivos escritos para seus intérpretes.
A Rádio Inconfidência (que começou a operar em 1936) e a Rádio Guarani contrataram músicos para formar os primeiros regionais de Belo Horizonte. Segundo Duarte (2001, p.39),
...além das Orquestras, a Rádio Inconfidência tinha também os seguintes conjuntos: Ritmos PRI – 3, Quarteto Dominó (vocal) e um conjunto denominado Regional [...].
Com as três rádios principais de Belo Horizonte mantendo programações musicais intensas desde a década de 1930, a Rádio Itatiaia, criada em Nova Lima em 1951 e operando em Belo Horizonte desde 1952, preferiu não competir na área musical, concentrando-se no jornalismo e esporte.
Compositores, cantores e vários grupos musicais subitamente se tornaram conhecidos usando o rádio como principal meio de divulgação. Dentro deste ambiente efervescente, os regionais de choro tinham um lugar de destaque, pois sua flexibilidade e disponibilidade de entrar no ar ao vivo e a qualquer momento faziam deles uma espécie de curinga da programação. Ao contrário dos músicos de orquestra, que dependiam de arranjos com partes minuciosamente anotadas e ensaios, os músicos de choro “tinham a agilidade e o poder de improvisação para tapar buracos e resolver qualquer parada no que se referisse ao acompanhamento de cantores” (CAZES, 1999, p. 85). O compositor-intérprete e líder de regional Waldir SILVA (2004), que trabalhou na Rádio Inconfidência no áureo período do choro, confirma que além de acompanhar os cantores, “o regional era o tapa-buraco, quando acontecia algum problema ou falha na programação”.
Pelos regionais que se apresentavam nas rádios Guarani, Inconfidência e Mineira passaram músicos como: Juvenal Dias (flauta), Bento de Oliveira (violão), Ofir Mendes (clarineta), Hilário Alves (violão), Mário Vaz de Melo (pandeiro), João Batista Júnior – Zinho (cavaco afinado como bandolim), Nico (flauta), Miro (cavaco), Aristides (violão), Tuta (violão; preferido do cantor Orlando Silva), Jair Silva (pandeiro), Orlando Pinto (bandolim), Inhô (cavaquinho), Nonô Caolho (cavaco), Chiquinho (7cordas), Canhoto (violão), Rocha (clarinete), Veludo (acordeon), Aláides (pandeiro), Lagoeiro (flauta), e provavelmente outros, esquecidos pela memória dos entrevistados.
Segundo SILVA (2004), o trabalho na Rádio Inconfidência chegou a ficar tão pesado que a direção contratou um regional chamado de “Regional B”, para dividir o serviço com o primeiro. Este regional foi montado por Genaro Cruz (Acordeon) e contava com ele próprio, Waldir Silva (cavaco), Milton Mota (violão), João Fagundes (violão), Alcemar (trompete), Bororó (percussão) e Osvaldo Jordão (pandeiro).
Na década de 1960, os grupos regionais começaram a perder sua importância nas rádios e, consequentemente, entre o público, já que a programação desses meios de comunicação em massa tornava-se cada vez mais mecânica, forçando a dispensa dos artistas que compunham as orquestras e regionais. Repetindo o início de sua história, os grupos de choro voltaram-se mais para as rodas de choro, nos ambientes familiares, bares e restaurantes. Sua música passa a ser mais admirada em encontros domésticos ou de cunho não comercial como aniversários e serestas, ou em estabelecimentos preocupados em oferecer música alternativa aos estilos da bossa-nova, jovem guarda, canções de protesto, tropicalismo e música estrangeira que predominava nas rádios. Ironicamente, a censura da ditadura brasileira às letras de canções que se acirrou ao longo da década de 1960 e, consequentemente, levou ao fim dos festivais da canção, contribuiu para a reabertura de um espaço para os gêneros instrumentais, o que favoreceu a redescoberta do choro na década de 1970. Segundo Bahiana (1979/1980,
p. 79-81),
O predomínio do texto atingiu seu pique máximo com os festivais, nos derradeiros anos 60 e primeiros 70 – e quando a censura empenhou esforços para emudecer a música brasileira, os primeiros murmúrios da música instrumental – sem texto, portanto, teoricamente, incensurável e livre – se fizeram ouvir... mas o jejum forçado imposto às platéias não criou de imediato um interesse por música instrumental... só começou a registrar dados positivos de crescimento a partir de 1974.
Músicos como Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo e do mineiro Abel Ferreira passaram a ser conhecidos fora dos círculos de especialistas e diletantes. Nesta nova e promissora fase da história do choro, observou-se, em todo o Brasil, o nascimento de grupos espelhados nestes ídolos e seus grupos. O grupo Naquele Tempo,5 um dos primeiros regionais de expressão em Belo Horizonte, teve a seguinte formação: Flávio Fontinelli (bandolim), Eduardo Delgado (flauta), Branco (cavaco), Sesquatro (violão), Jaime (7cordas), Bigô (pandeiro). Outros grupos importantes de Belo Horizonte surgidos neste período foram Abandonado Choro, Saca-trapo, Sarau Brasileiro, Clube do Choro, Flor de Abacate6 e Waldir Silva e Grupo.
Se Belini de Andrade é o compositor-intérprete que mais choros produziu em Belo Horizonte, Waldir Silva foi o primeiro a se firmar nacionalmente como instrumentista e compositor de choro sem ter que migrar de Belo Horizonte para o Rio de janeiro ou São Paulo, o que ocorreu por meio de gravações e inclusão de choros com trilhas de telenovela.
Outro marco na história do choro em Belo Horizonte foi a criação do Clube do Choro, a partir de reuniões de amigos chorões na casa de Wagner (irmão de Belini Andrade) na década de 1980. A organização desta entidade civil tinha o próprio Wagner (7Cordas), como Presidente, Acir Antão como Vice-Presidente, Belini Andrade como Diretor Artístico e Shirlei (esposa de José Carlos do cavaquinho), como Secretária. Posteriormente, Wagner 7Cordas criou o bar Beco do Choro em 1984, que foi a primeira casa a tocar exclusivamente este gênero musical na cidade. Contando com a divulgação do radialista Acir Antão, o bar se firmou no cenário musical de Belo Horizonte, abrindo de sexta a domingo, até seu fechamento em 1989. Os músicos que passaram pelo grupo do Beco do Choro foram muitos, dentre eles: Wagner (7 cordas), Belini Andrade (sax), Mozart (violão), Baesi (cavaco), Zito (pandeiro), Cícero (Acordeon), Camargo (pandeiro), Luiz Zacarias (bandolim), Toninho (cavaco), Antônio (bandolim), além também da participação esporádica de diversos artistas nas suas famosas “canjas”.7 O Clube do Choro e o bar Beco do Choro encerraram suas atividade ao mesmo tempo, aparentemente pela perda de objetivos comuns de seus idealizadores. As atas e registro que documentam a história de ambos ainda estão em posse de seu primeiro presidente, Wagner 7Cordas.
Atualmente, o cenário do choro em Belo Horizonte é rico e diverso, bem representado em várias casas noturnas que dão espaço aos grupos de choro pelo menos um dia por semana. Pedacinhos do Céu,8 sob o comando do cavaquinista e compositor-intérprete Ausier, é hoje o principal reduto do choro em Belo Horizonte, permitindo apenas choros na sua programação desde sua criação em 1996. Atrai, como pode-se observar pelas fotos que decoram suas paredes, os principais músicos e grupos de choro do país, além de personalidades que ali vão atraídas pela sua mística. O Bar do Bolão,9 no bairro Padre Eustáquio, mantém viva a tradição de reunir uma roda de choro todas as quintas-feiras desde 1992. Seu grupo base é formado hoje por Ildeu Vilanova (bandolim), Zito (pandeiro), Silvio Carlos (7cordas), Mozart (violão), José Carlos (cavaquinho), Jonas Cruz (bandolim) e, como de praxe, é sempre acrescido por outros músicos que aparecem para dar canjas.
Foi no Bar do Bolão que ocorreu a mobilização que resultou na mais nova entidade dedicada à divulgação e promoção do gênero na cidade. Criado em 31 de maio 2006, o Clube do Choro de Belo Horizonte tem como primeiro Presidente o bandolinista Jonas Cruz e mantém encontros mensais regulares, um acervo de partituras, um site para divulgação (www.clubedochorodebh.com.br), o regional Grupo Belo Choro de formação variável que o representa em eventos diversos, além do jornal bimestral Choro na Pauta.
Como em todo o país, em parte devido à sua história de altos e baixos, muitos grupos de choro nasceram e foram desfeitos na história de Belo Horizonte. Entre os que conseguiram se manter por um tempo maior e hoje são referência musical na cidade, se destacam: Sarau Brasileiro, Waldir Silva e grupo, Pedacinhos do Céu, Paulinho 7cordas e grupo, Wagner 7cordas e Grupo, Siricotico, Elisa do Acordeon e Grupo, Flor de Abacate, Corta Jaca e Choro de Minas.
Alguns grupos regionais de Belo Horizonte se destacaram na gravação de discos comerciais. O grupo Sarau Brasileiro lançou o CD Sarau Brasileiro interpreta Geraldo Alvarenga (2001), o qual, como o nome sugere, inclui obras de seu idealizador e líder cavaquinista Geraldo Alvarenga. O grupo Flor de Abacate tem três CDs gravados: Flor de Abacate (1999), Batuque (2002) e Belini Andrade e Flor de Abacate (2004), este último totalmente dedicado às obras do compositor Belini Andrade. O grupo Corta Jaca gravou os CDs Corta Jaca (2005) e Mina de Choro (2008) e o DVD Na Levada do Choro: Um almanaque musical (2008). Este DVD se constitui em um dos mais importantes documentos sobre o choro em Minas Gerais, pois reúne informações em forma de documentário, realizado durante a turnê do grupo pelas cidades de Betim, Belo Horizonte, Diamantina, Ouro Preto, São João Del Rei, Uberaba e Uberlândia. Mais recentemente, destacam-se os trabalhos individuais de Warley Henrique (cavaquinista) com
o CD Delicado (2008) e Marcos Frederico (bandolinista) com o CD Sinuca Tropical (2007).
Os oito compositores-intérpretes selecionados neste estudo como representativos do choro em Belo Horizonte, representam três gerações desde o surgimento o gênero na cidade até hoje:
Primeira fase (a partir de 1930): Waldir Silva, Belini Alves de Andrade e Hélio Pereira, que viveram o início da consolidação do choro em Belo Horizonte, sua era de ouro até a década de 1950 e depois.
Segunda fase (a partir da década de 1970): Geraldo R. L. de Alvarenga, Sílvio Carlos Costa e Ausier V. Santos, que viveram o renascimento nacional do choro durante o regime militar e depois.
Terceira fase (a partir de 2000): Gustavo Humberto Monteiro e Warley Henrique Dalmásio, cuja geração mais recente apresenta um choro eclético com influências do pagode, jazz, rock e música erudita.
A seguir, esses chorões são apresentados em ordem alfabética, com seus dados biográficos e listas de obras, também arranjadas alfabeticamente, incluindo título e tipo, ano de composição, dedicatória ou aspecto relevante sobre a composição.
Ausier Vinícius nasceu no dia 2 de dezembro de 1961 em Peçanha, Minas Gerais. Seu avô, clarinetista da banda de música local, foi seu modelo musical. Desde muito novo, gostava de vê-lo tocar em casa, e ganhou deste um cavaquinho quando tinha 7 anos de idade. Aos 9 anos, sua mãe lhe presenteou com um violão. Aos 15 anos, demonstrando grande musicalidade, já liderava uma banda de bailes da região. Frustrado de ver jovens colegas saírem continuamente de sua banda para procurar melhores condições profissionais em Belo Horizonte, Ausier selecionou uma turma de músicos mais experientes de sua cidade, apaixonados pelo choro e seresta. Foi então que se dedicou mais à prática do cavaquinho. Aos 18 anos, ganhou seu primeiro disco de Waldir Azevedo, personagem em quem se espelhou e que viria a se tornar seu maior ídolo.
Ausier veio para Belo Horizonte em 1989, para trabalhar como bancário. Desistiu desta profissão em 1996 e abriu o bar Pedacinhos do Céu, inicialmente aberto no bairro Dona Clara. Sete meses depois, o bar que hoje é a casa de choro mais conhecida da cidade, mudou-se para o bairro Alto Caiçara. Antes de montar seu grupo de choro, que tem o mesmo nome do bar, Ausier tocou em Belo Horizonte com Silvio Carlos (atualmente violonista do grupo Flor de Abacate), Geraldo Alvarenga (atualmente do grupo Sarau Brasileiro), dentre outros. O grupo Pedacinhos do Céu tem contado com nomes como Sampaio (trombone), Mário (clarinete), Geraldinho Felício (7cordas), Frederico (pandeiro), Tião (bandolim), Marquinhos (cavaquinho), Gilmar (pandeiro), Tião (bandolim), dentre muitos outros que já tocaram em seu grupo. Como compositor, Ausier teve como maiores influências Waldir Azevedo e Pixinguinha (SANTOS, 2005).
Dentro de sua pequena, mas significativa produção (Tabela 1), sua primeira obra, o Chorinho da Jéssica, foi dedicado à sua filha. Nele, Ausier mostra algumas influências de seus modelos, como a virtuosidade do jorro de semicolcheias contínuas em escalas e arpejos, padrão que é quebrado pelo contraste rítmico das quiálteras que aparecem na introdução (cuja estranheza é realçada pelo arpejo do acorde de dominante aumentada: Sol - Si - Mib) e pelas síncopas esporádicas. A anacruse em notas repetidas no início do tema também é característica do repertório do choro (Exemplo 1).
Exemplo 1: Chorinho da Jéssica de Ausier Vinícius dos Santos.
Tabela 1: Lista de choros de Ausier Vinícius dos Santos compostos em Belo Horizonte.
01 | Chorinho da Jéssica | choro | 1991 |
Dedicado à sua filha | |||
02 | Minha doce paixão | valsa-choro | 2004 |
Homenagem à sua sogra, Dona Paixão | |||
03 | Momento de paz | valsa-choro | 2004 |
04 | Tema pra Celinha | choro | 2003 |
Dedicado à sua esposa | |||
05 | Um choro para D. Olinda | choro | 2000 |
Dedicado à Dona Olinda Azevedo, viúva de Waldir Azevedo |
Belini nasceu em 19 de outubro de 1920 em Abaeté, Minas Gerais. Seu pai, que foi mestre da banda de música da cidade, levava Belini aos ensaios desde muito cedo. Aos 10 anos, deu-lhe um saxofone, o primeiro de vários instrumentos, os quais aprendeu rapidamente. Além da banda de música, seu pai também dirigia um grupo de choro, influenciando seu gosto pelo gênero desde a infância. Com 15 anos, mudou-se para Belo Horizonte, conhecendo o bandolinista Orlando Pinto na Rádio Mineira, influência que acabou por sedimentar sua paixão pelo choro.
Aos 17 anos, já era exímio saxofonista e conhecia bem o repertório de choro, principalmente o de Luiz Americano, cujos discos seu pai adquiria com freqüência. Nesta época, mudou-se para Belo Horizonte para servir ao Exército, onde rapidamente foi promovido a cabo. Lá, Belini parava em frente à sala da banda militar todos os dias para admirar os ensaios. Um dia, o mestre da banda o convidou a fazer um teste e, impressionado com a musicalidade do jovem, lhe convidou para ingressar na banda. Embora tivesse de ser rebaixado a soldado para assumir a nova posição, a música falou mais alto em seu coração e Belini optou por perder a divisa de cabo. Mas em pouco tempo já era músico de 2ª classe da banda de música do Exército.
Esteve no serviço militar por 10 anos em Belo Horizonte e foi transferido para o Rio de Janeiro, onde ficou por 6 anos. Voltou a Belo Horizonte, onde se aposentou como maestro da Banda de Música do 12° Batalhão de Infantaria. Nesta cidade, tocou em diversas orquestras e grupos, um dos quais ele mesmo criou no bairro Padre Eustáquio, o grupo Sacatrapo, o qual tinha, como integrantes costumazes, Bernardo (violão), Orlando (bandolim) e Pinheiro (violão de sete cordas). Mais tarde, a partir da idéia de seu irmão Wagner, que tocava cavaquinho e depois violão de sete cordas, abriram o bar Beco do Choro, funcionando às sextas-feiras, sábados e domingos, de 1984 a 1989. Primeira casa a tocar exclusivamente este gênero em Belo Horizonte, o Beco do Choro deu nome ao grupo de Belini e também a um choro de sua autoria. O grupo era formado por ele no sax soprano e tenor, Wagner (7cordas), Mozart (violão), Baesi (Cavaquinho), Cícero (acordeom), Zito (pandeiro), com a participação de outros que também freqüentavam o bar assiduamente.
Entre os compositores que mais influenciaram Belini estão Radamés Gnattali e Luiz Americano. Começou a compor em 1940, dedicando-se principalmente a choros e valsas. Escreveu cerca de 200 obras, 74 das quais em Belo Horizonte (Tabela 2), sendo que a maior parte de sua produção ainda se encontra na forma manuscrita. Possui dois álbuns de partituras editados, sendo que o primeiro traz facsímiles de manuscritos de choros e valsas copiados à mão pela eminente pianista e pedagoga Berenice Menegale, Professora da Escola de Música da UFMG e Diretora da Fundação Artística de Belo Horizonte. Atualmente, aos 89 anos, mora em Abaeté e, juntamente com o grupo Flor de Abacate, gravou seu primeiro CD com 15 composições próprias (ANDRADE, 2004).
Em Beco do Choro, observa-se o típico estilo de Belini, com grandes frases em arcos de semicolcheias contínuas, a partir das quais se pode inferir a harmonia empregada (Exemplo 2).
Exemplo 2: Beco do Choro de Belini Alves de Andrade. Tabela 2: Lista de choros de Belini Alves de Andrade compostos em Belo Horizonte.
Abdula no choro | choro | 1960 | |
Homenagem ao sobrinho, filho de seu irmão Wagner | |||
A bronca da nêga | choro | 1962 | |
Bronca recebida pelo irmão Wagner | |||
Acertaste, amigo | choro | 1945 | |
Referência às previsões de um vidente que leu sua mão | |||
Alice | choro | 1950 | |
Homenagem à sua esposa | |||
Andanças na praia | choro | 1950 | |
Por ocasião de sua primeira viagem para Olinda à casa da filha Geisa. | |||
Aperto de mão | choro | 1950 | |
Referência ao um cumprimento não efusivo de uma visita em sua casa | |||
A platibanda verde | choro | 1980 | |
Perdidos em Olinda, os chorões tomaram como referência uma casa com platibanda verde | |||
Beco do choro | choro | 1988 | |
Bar tradicional de choro em Belo Horizonte | |||
Boas maneiras | choro | 1943 | |
Briga de foice | choro | 1943 | |
Briga entre roceiros durante pescaria no rio Paracatu | |||
Café amargo | choro | 1941 | |
Café após uma bebedeira, provido pela dona de uma pensão em Resende | |||
Cafuné | choro | 1951 | |
Para sua filha Maria das Graças | |||
Cavaco de pinho | choro | 1941 | |
Chereta | choro | 1941 | |
Para um homem que metia o bedelho em tudo | |||
Chorinho em mi | choro | 1941 | |
Churrasquinho | choro | 1941 | |
Petisco oferecido por uma senhora em pescaria no rio Paracatu | |||
Ciceronando | choro | 1988 |
Homenagem ao acordeonista Cícero, com o qual tocava no bar Beco do Choro | |||
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18 | Dadinho no choro | choro | 1985 |
Homenagem ao sobrinho Geraldo, filho do irmão Wagner | |||
19 | Enfatuado | choro | 1985 |
20 | Entre amigos | choro | 1985 |
21 | Faroleiro | choro | 1985 |
22 | FaSiLaSol | choro | 1985 |
23 | Fim de papo | choro | 1943 |
24 | Fusas nas teclas | choro | 1945 |
Para pianista da cidade de Três Pontas | |||
25 | Gingando | choro | 1960 |
Sobre criança que começou a dançar quando o compositor tocou o saxofone | |||
26 | Homenagem a Paulo Moura | choro | 1958 |
Importante saxofonista e clarinetista do choro carioca | |||
27 | Horário integral | choro | 1954 |
Sobre ordem recebida no exército | |||
28 | Inspirado | choro | 1988 |
Referência ao jornalista Durval Guimarães | |||
29 | Juliana | valsa-choro | 1988 |
Admiradora e freqüentadora do Beco do Choro | |||
30 | Libriano | choro | 1950 |
Signo do compositor Belini | |||
31 | Língua de cigano | choro | 1945 |
Sobre cigano que conseguia colocar a língua na testa | |||
32 | Mandi chorão | choro | 1982 |
Sobre amigo teve que a mão perfurada pelo ferrão do peixe em pescaria no Rio S. Francisco | |||
33 | Maria Tereza | valsa-choro | 1988 |
Para uma fã do Beco do Choro, enciumada por Juliana | |||
34 | Maroto | choro | 1985 |
35 | Matuto na praia | choro | 1960 |
36 | Meu amigo Corumbá | choro | 1960 |
Corumbá de Goiás Chaves, companheiro do Exército | |||
37 | Meu amigo Ivan | choro | 1960 |
Amigo da cidade de Abaeté | |||
38 | Milho verde | choro | 1945 |
39 | Minhas mágoas | choro | 1942 |
40 | No arraial | choro | 1942 |
41 | Oi Tava no Choro | choro | 1943 |
42 | Pau amarelo | choro | 1941 |
Praia no distrito de Paulista, cidade de Olinda | |||
43 | Pimpão | choro | 1941 |
44 | Prá lá, prá cá | choro | 1942 |
45 | Primeiro rebento | choro | 1948 |
Homenagem ao nascimento da primeira filha | |||
46 | Quinta coluna | choro | 1948 |
Após terem prendido um espião na época da revolução | |||
47 | Receita de choro | choro | 1948 |
Referência à música Receita de Samba Jacob do Bandolim | |||
48 | Remanso | choro | 1947 |
Remanso onde gostava de pescar no Rio S. Francisco | |||
49 | Respingando | choro | 1947 |
50 | Rosana | valsa-choro | 1979 |
Homenagem à sua filha. | |||
51 | Sacatrapo | choro | 1950 |
Referência a pescador que caiu de costas por puxar com tanta força o sacatrapo (vareta que limpa o cano da arma) | |||
52 | Sai de baixo | choro | 1950 |
Referência a uma tremenda briga em Abaeté | |||
53 | Santinho | choro | 1950 |
54 | Sarapó | choro | 1970 |
Isca para pegar o peixe Dourado | |||
55 | Saudades de Olinda | choro | 1980 |
56 | Sentimento de um soprano | choro | 1980 |
Um dos instrumentos do compositor | |||
57 | Sintético | choro | 1980 |
58 | Solange | choro | 1954 |
Filha do compositor | |||
59 | Solitário | choro | 1954 |
60 | Sonhador | choro | 1954 |
61 | Tenoreando | choro | 1941 |
Sobre aluno de Belini em Abaeté, que pulou e dançou ao ouvi-lo tocar o sax tenor | |||
62 | Teus olhos | choro | 1950 |
63 | Tirana | choro | 1950 |
64 | Tricordiano | choro | 1952 |
Para Pila, rapaz de Três Corações | |||
65 | Triste pensamento | choro | 1952 |
66 | Tudo errado | choro | 1942 |
67 | Um chorinho caprichado | choro | 1960 |
68 | Um chorinho em Abaeté | choro | 1988 |
69 | Um chorinho em pescaria | choro | 1988 |
70 | Um chorinho no cafundó | choro | 1988 |
71 | Um chorinho no porto | choro | 1988 |
Sítio de seu pai no distrito de Abaeté | |||
72 | Vai-Vem | choro | 1988 |
73 | Venha cá!!! Pituca... | choro | 1980 |
Sotaque nordestino da filha ao chamar sua cadela em Olinda | |||
74 | Zé Maria no choro | choro | 1988 |
Amigo clarinetista da cidade de Pedro Leopoldo |
Geraldo (ou Geraldinho) Alvarenga nasceu em 13 de setembro de 1957, em Itabira, Minas Gerais. Teve contato com a música desde muito cedo, pois fez parte de uma família musical. Sua mãe costumava montar grupos corais com os filhos, ensinando-os a cantar as diversas vozes da partitura.
Geraldinho despertou seu interesse para o violão aos 12 anos, tocando sucessos do rádio com os amigos, cujo repertório incluía músicas de Roberto Carlos e dos Beatles. No choro, entretanto, iniciou-se no pandeiro, por meio do professor Pedro de Caux. Ainda em Itabira, tocou em um grupo formado por Silvio Carlos (violão), Cláudio (bandolim) e ele na percussão.
Em 1976, Geraldinho mudou-se para Belo Horizonte, onde se dedicou ao estudo do cavaquinho. Participou do Flor de Abacate até 1988, e depois, desligou-se deste grupo de choro para criar o grupo Sarau Brasileiro, ao lado de Cadinho Ruas (sete cordas), Cícero (acordem) e Ronaldo (pandeiro). Em 1994, houve uma reestruturação neste grupo que, hoje, conta com Geraldo Alvarenga (cavaquinho), Hélio Pereira (Bandolim e Trombone), Geraldo Magela (7cordas) e Isaías de Souza (o Zazá, no pandeiro).
O grupo Sarau Brasileiro é um dos grupos de choro mais representativos de Minas Gerais, tendo acompanhado músicos como Paulinho Pedra Azul, Roberto Silva, Emilinha Borba e Nelson Sargento, dentre outros. Como compositor, Geraldinho Alvarenga se dedica principalmente ao choro, sendo que doze de suas obras no gênero (Tabela 3) foram gravadas no primeiro CD do grupo Sarau Brasileiro. Tem em Jacob do Bandolim, Abel Ferreira e Pixinguinha suas principais influências na composição (ALVARENGA, 2004).
No choro Teia de Aranha, em que faz referência ao guitarrista Amauri Ângelo, conhecido pelo apelido de Aranha devido às fôrmas complexas de acordes que utiliza, Geraldinho Alvarenga recorre a contornos melódicos baseados em progressões harmônicas mais ricas e coloridas, com muitas extensões harmônicas10 (Exemplo 3).
Exemplo 3: Teia de Aranha de Geraldinho Alvarenga. Tabela 3: Lista de choros de Geraldo Alvarenga compostos em Belo Horizonte.
01 | Amorosa | Valsa-Choro | 1988 |
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02 | Belo caso de amor | choro | 2000 |
Homenagem aos100 anos de Belo Horizonte | |||
03 | Café Belas Artes | maxixe-choro | 2002 |
Bar onde o grupo Sarau Brasileiro se apresentava às segundas-feiras | |||
04 | Colibri | choro | 2002 |
05 | Chorinho pro Baby | choro | 2000 |
Violonista Geraldo Magela, do grupo do compositor | |||
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06 | Chora clarinete | choro | 2003 |
07 | Chorinho do Miguel | choro | |
Filho do compositor | |||
08 | Dois amores (parceria com Paulinho P. Azul) | valsa-choro | 1997 |
Pais do compositor | |||
09 | Esse é pra Maneca | choro | |
Filho do compositor | |||
10 | Juá de capote | choro | 2000 |
11 | Luciana | valsa-choro | 1988 |
Afilhada do compositor | |||
12 | Meu cavaquinho no frevo | choro | 2000 |
13 | Nina | valsa-choro | 1990 |
Avó do compositor | |||
14 | No bar do Bolão | choro | 1997 |
Referência ao bar de choro no bairro Padre Eustáquio, Belo Horizonte | |||
15 | O carnaval que vem | samba-choro | 1995 |
Referência a convite do amigo Yuri Guidelha | |||
16 | Sete cordas que choram | choro | 1988 |
Referência ao violonista Silvio Carlos | |||
17 | Sideral | choro | |
18 | Sonhando | choro | 2004 |
Referência ao amigo Felipe | |||
19 | Teia de aranha | choro | 2002 |
Referência ao guitarrista Amauri Ângelo (Aranha) | |||
20 | Tropical | choro | 2000 |
21 | Um chorinho pro Pereira | choro | 1990 |
22 | Vagalume | choro | 2000 |
23 | Zanzando | choro | 1999 |
Referência ao pandeirista de seu grupo, Isaías de Sousa (Zazá) |
Gustavo nasceu no dia 23 de agosto de 1980 na cidade de Monte Sião, Minas Gerais. Desde cedo, foi influenciado pelo gosto musical dos pais, que tinham uma razoável biblioteca de discos. Com a chegada do professor de violão Luiz Carlos Pennachi na cidade, resolveu estudar este instrumento, com um repertório que incluía principalmente MPB e os Beatles.
Descobrindo o gosto pelo desenvolvimento da técnica do instrumento, dedicou-se às aulas de violão clássico com Denis Bernard, um peruano recém-chegado à cidade. Foi também com este professor que estabeleceu seu primeiro contato com o choro. Em 1998, começou a estudar cavaquinho na cidade paulista vizinha de Serra Negra, na região de Campinas, onde entrou para um grupo de choro, aprendendo as práticas do gênero. Veio para Belo Horizonte em 2000, para cursar Direito. Nesta capital, travou contato com os chorões no Bar do Bolão. Em uma de suas saídas pela noite belorizontina, conheceu o cavaquinista Warley Henrique, no bar Clube da Esquina. Ali mesmo, após tocarem juntos, montaram uma parceria que dura até hoje. Como compositor, Gustavo se diz influenciado por Jacob do Bandolim. Seu choro Cara a Cara foi classificado no Festival Curitiba no Choro, chegando a ficar entre os doze finalistas. Atualmente, sua produção como compositor inclui 20 choros (Tabela 4). Toca violão de sete cordas nos grupos Boca de Siri e no G. Guedes e trio, ao lado do parceiro Warley Henrique (cavaquinho) e de Gabriel Guedes (bandolim), este filho de Beto Guedes (compositor e instrumentista do Clube da Esquina) e neto de Godofredo Guedes (um dos principais compositores e instrumentistas de seresta e choro em Montes Claros) (MONTEIRO, 2004).
Em Um chorinho pro seu Ivan, no qual faz referência a um violonista de sua cidade-natal, Gustavo deixa evidente seu gosto pelo cromatismo e por mudanças harmônicas por meio de acordes com notas comuns. A anacruse e a síncopa típicas do choro também estão presentes (Exemplo 4).
Exemplo 4: Um chorinho pro seu Ivan de Gustavo Humberto Monteiro Tabela 4: Lista de choros de Gustavo Monteiro compostos em Belo Horizonte.
Brincadeira | choro | 2001 | |
Canção ao nosso amor | choro | 2003 | |
Homenagem à namorada Daniela. | |||
Cara a Cara | choro | 2002 | |
Desastrado (parceria com Warley) | choro | 2002 | |
Iniciando | choro | 2001 | |
Referência à sua primeira composição | |||
Intrigado | choro | 2001 | |
Minha menina | choro | 2002 | |
Para a filha Giovanna | |||
Molecagem | choro | 2002 | |
Ninguém segura | choro | 2003 | |
Pois é | choro | 2002 | |
Pra inglês ver (parceria com Warley) | choro | 2002 | |
Após vitória do Brasil sobre a Inglaterra na Copa do Mundo de 2002 | |||
O sol se põe... | choro | 2004 | |
Saudade quando chora | choro | 2002 | |
Sonhei com você | choro | 2003 | |
Um chorinho pro seu Ivan | choro | 2001 | |
Referência a um violonista da cidade de Monte Sião | |||
Um choro em Minas | choro | 2003 | |
Vontade de chorar | choro | 2002 | |
Pra você (parceria com Warley) | choro | 2002 | |
Mais um chorinho (parceria com Warley) | choro | 2002 | |
Lembrando você | choro | 2002 | |
Hélio Pereira nasceu em Belo Horizonte em 17 de outubro de 1932, em uma família de muita tradição musical. Aos 10 anos de idade, já tocava com a avó e irmãos, todos violonistas. Ingressou como trombonista na Polícia Militar de Minas Gerais, levado pelo irmão. Sua mãe costumava acordá-lo às sete horas da manhã do domingo, a seu pedido, para ouvir o programa de rádio Café com Choro, tamanha sua admiração pelo gênero. Sua primeira turma de choro contava com Nonô (cavaquinho), Aláides (pandeiro), Antônio Aguilar (bandolim) e ele no violão. Freqüentemente, reunia-se com os amigos na casa de João Castelhano (violão tenor) para escutar gravações de Jacob do Bandolim e outros grandes nomes do choro da época, e também para ensaiarem seu repertório.
Aos 25 anos, começou a tocar o 2º violão no regional de Waldir Silva, ao lado de Chiquinho no 1º violão, quando teve a oportunidade de se apresentar fora de Belo Horizonte, acompanhando nomes como Nelson Gonçalves, Sílvio Caldas, Orlando Silva, Jorge Veiga e Emilinha Borba. Realizou várias gravações, especialmente com o grupo do próprio Waldir Silva.
Por muito tempo, Hélio Pereira foi também o 2º trombone da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), onde se aposentou. Após assistir a um show em que Ronaldo do Bandolim, do grupo Época de Ouro (Rio de Janeiro), interpretava Jacob do Bandolim, empolgou-se e comprou um bandolim, investindo boa parte de seu tempo no estudo deste instrumento. Logo, ingressou no grupo Sarau Brasileiro, tornando-se uma referência como multi-instrumentista do choro belorizontino, destacando-se como trombonista, violonista, cavaquinista e bandolinista. Compôs poucos choros, mas relevantes para a história do choro da cidade. Teve como referência composicional o bandolinista Jacob do Bandolim, seu maior ídolo (PEREIRA, 2004). Hélio Pereira compôs poucos choros (Tabela 5). Em Olá companheiro, alguns aspectos tradicionais do choro são evidentes, como a anacruse com síncope que inicia o tema, os saltos melódicos com intervalos de 6ª e 7ª, cromatismo, e os arpejos descendes com a tríade e a sexta do acorde (Exemplo 5).
Exemplo 5: Olá companheiro de Hélio Pereira. Tabela 5: Lista de choros de Hélio Pereira compostos em Belo Horizonte.
01 | Lá na Pedreira (PPL) | choro | 2001 | |
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Referência à região da Pedreira Prado Lopes | ||||
02 | Olá companheiro | choro | 2002 | |
03 | Pensando nela | valsa-choro | 1989 | |
04 | Sarau | choro | 1990 | |
Referência ao grupo de choro Sarau Brasileiro |
Natural de Itabira, Minas Gerais, Silvio nasceu em 12 de fevereiro de 1957 e iniciou-se no violão com Pedro de Caux, em sua cidade natal. Em 1976, já em Belo Horizonte, estudou violão clássico com os professores Nelson Piló, Agostinho Bob e José Lucena, dedicando-se ao estudo do violão de sete cordas, a partir de 1978. Foi um dos fundadores do grupo de choro Flor de Abacate em 1978, do qual ainda é também violonista, produtor, diretor musical e arranjador. Com este grupo, gravou três CDs (Flor de Abacate, Batuque e Belini e Flor de Abacate). No primeiro CD, Flor de Abacate, além de Sílvio, participavam do grupo Jorginho (cavaquinho), Ildeu (bandolim), Rubinho (bandolim), Camargo (pandeiro) e José Maria (clarinete).
Hoje, o grupo Flor de Abacate conta com Silvio Carlos (7cordas), Marcos Flávio (trombone), Camargo (pandeiro), Rubim (bandolim) e Dudu Braga (cavaquinho). Silvio Carlos participou de muitos programas e eventos culturais em Minas Gerais e outros estados, apresentando-se em diversos teatros, programas de TV e Rádio. Acompanhou músicos como Hermínio Belo de Carvalho, Paulinho da Viola, Pernambuco do Pandeiro, Fernando Ângelo, Luiz Nassif, Ronaldo do Bandolim, entre outros. Tem como maior influência instrumental os violonistas Baden Powell e Dino 7cordas e suas composições também refletem influências de Pixinguinha e Jacob do Bandolim (COSTA, 2004).
Dentro das quase duas dezenas de choros que compôs (Tabela 6), Saudade de Itabira homenageia a cidade-natal do compositor. Alguns traços são característicos: a anacruse cromática em quiálteras que precede o tema de ampla tessitura e com contornos melódicos em curvas ascendentes e descendentes, a ênfase em ornamentos cromáticos (apojaturas e bordaduras) abaixo da nota fundamental dos acordes e grande utilização de seqüências da chamada síncopa brasileira (Exemplo 6).
Exemplo 6: Saudade de Itabira de Silvio Carlos Silva Costa. Tabela 6: Lista de choros de Silvio Carlos Silva Costa compostos em Belo Horizonte.
01 | Bolão, o jacaré | choro | 2002 | |
Ao amigo Raimundo “Bolão”, violonista de 7 cordas | ||||
02 | Cancela | choro | 1980 | |
03 | Choro nº 1 | choro | 1985/1992 | |
04 | Choro nº 2 | choro | 1985/1992 | |
05 | Choro nº 3 | choro | 1985/1992 | |
06 | Choro nº 4 | choro | 1985/1992 | |
07 | Choro nº 5 | choro | 1985/1992 | |
08 | Choro nº 6 | choro | 1985/1992 | |
09 | Choro nº 7 | choro | 1985/1992 |
10 | Choro nº 8 | choro | 1985/1992 |
11 | Choro pra Cláudio | choro | 1980 |
Bandolinista amigo do compositor | |||
12 | Lembrando dos velhos tempos | valsa-choro | 1998 |
13 | Nove de outubro | choro | 1984 |
14 | Os quatro malandros | choro | 1984 |
15 | Pediu e ganhou | choro | 1983 |
Dedicado ao compositor e cavaquinista Geraldo Alvarenga | |||
16 | Pedrinho de Caux | choro | 2001 |
Amigo e professor do compositor | |||
17 | Saudade de Itabira | choro | 1981 |
Terra natal do compositor | |||
18 | Tantos anos sem Ele (Rafael) | choro | 1982 |
Referência ao irmão falecido |
Nascido em Bom Despacho, Minas Gerais, no dia 28 de maio de 1931, Waldir Silva morou em várias cidades mineiras como Pará de Minas, Divinópolis e Pitangui, uma vez que seu pai, ferroviário, trabalhava nas férias cobrindo o serviço de colegas para aumentar a renda familiar, dentro da vida difícil que levavam. Nessas andanças, o pai observou o interesse musical de Waldir que, nos parques de diversão, ao contrário da maioria das crianças, preferia não brincar e ficar atento às músicas que tocavam.
Em uma de suas viagens, seu pai lhe trouxe um cavaquinho usado, muito antigo, que custou, à época, 9 mil réis. Waldir tinha 12 anos e morava em Pitangui. Foi então que começou a procurar músicos para lhe ensinar os gêneros populares. Nas suas próprias palavras, ele ficava”...como um carrapato atrás da turma da seresta da cidade... o interesse era tanto que eu chegava a ser chato!” (SILVA, 2004). Na cidade, após as missas, os jovens ficavam conversando e praticando o footing, gíria da época para os flertes ao redor do jardim da praça. Era ali também que a turma da seresta combinava suas saídas musicais em Pitangui. Para se verem livres da insistência do quase-criança Waldir, os músicos adultos arranjavam diversas desculpas. Segundo Silva (2004),
...eles mentiam dizendo que não haveria seresta naquela noite...eram as mais variadas desculpas, o violão quebrou, a mãe de um está doente, o outro com dor de cabeça. Era só eu ir embora, que daí a pouco eles se juntavam e saiam tocando.
Driblado nas suas tentativas, Waldir, mesmo já deitado, ouvia o som da seresta passando, mas se levantava rapidamente e os alcançava. Não conseguiram vencer a sua obstinação em aprender a tocar choro e participar das rodas e serestas ainda na infância.
Seu primeiro professor em Pitangui, José Patesco, editou um método para violão chamado Violão a jato. Waldir tinha então entre 14 e 15 anos e, no início das aulas semanais de cavaquinho, teve muita dificuldade de se adaptar à afinação Ré, Sol, Si, Ré, pois conhecia apenas a afinação Ré, Sol, Si, Mi.
Aos 16 anos, fez um concurso na Rede Ferroviária Mineira, instituição na qual ingressou como telegrafista. Aos 17 anos, conseguiu uma transferência para Belo Horizonte, onde pretendia se desenvolver suas habilidades musicais. Passou a morar com um tio e começou a ter aulas com Catarino Santana. Quatro anos depois, empregou-se nos Correios e Telégrafos. Nesta época já admirava o cavaquinista Índio, o flautista Altamiro Carrilho e o clarinetista e saxofonista Luiz Americano. Nas aulas com Catarino, Waldir Silva costuma acompanhar os solos do professor no violão tenor, aprendendo com ele obras do repertório básico, como Carinhoso, de Pixinguinha. Depois, estudou com Osvaldo Gonçalves do Carmo, com quem aprendeu a solfejar. A partir daí, passou a estudar sozinho, mas sempre atento às dicas dos colegas, ouvindo discos e o rádio.
Em 1950, no programa da Rádio Inconfidência chamado Informa-dor Sonoro, o locutor pedia a quem tivesse poemas sertanejos que os enviassem para serem declamados. Foi então que Waldir enveredou-se por este lado, recebendo o apelido de ”poeta mineiro”. Waldir lamenta-se, hoje, de não ter guardado nenhum de seus poemas.
Catarino Santana pediu a Elias Salomé, dono de uma escola de rádio, uma chance para Waldir na Rádio Inconfidência. Lá tocavam Elias no acordeom e Luiz Reis no violão, que ao verem Waldir tocar o cavaquinho, lhe disseram que com um instrumento de qualidade tão ruim (o mesmo, velho, que seu pai lhe dera na infância), não poderia tocar na Rádio. Waldir então procurou seu pai, que tomou um empréstimo no antigo Banco de Minas e comprou-lhe um cavaquinho Gianinni preto, novo. Assim, ingressou na Rádio Inconfidência, tendo sua carteira de trabalho assinada em fevereiro de 1951. Juntamente com Alberto e Didi, chegou a participar de um trio vocal nos moldes do Trio Iraquitan. Finalmente, Genaro Cruz (acordeom), um compadre de Juscelino Kubistchek, notório admirador de serestas e choro, o convidou para participar de seu regional. O volume de trabalho na rádio era tão grande, que houve necessidade de se criar um segundo regional. Assim, participou do chamado “Regional B” da Rádio Inconfidência juntamente com Milton Mota (violão), Alcemar (Trompete), João Fagundes (violão), Bororó (percussão) e Osvaldo Jordão (pandeiro). Naquele tempo, havia diversos programas de auditório nos quais Waldir trabalhava, geralmente com a apresentação de cantores e cantoras. Entre esses, Waldir acompanhou Emilinha Borba, Marlene, Nelson Gonçalves, Ciro Monteiro, Blecaute, Luiz Gonzaga, Francisco Carlos, Ari Barroso, Vicente Celestino, Sílvio Caldas, Carmélia Alves (a Rainha do Baião) e Jorge Veiga. Entre os programas, destacava-se o programa Só para mulheres, dirigido por Ramos de Carvalho e animado por Aldair Pinto.
Em 1955, um xará de Waldir Silva o qual muito o influenciaria, ganha destaque no cenário musical brasileiro: o grande Waldir Azevedo, também tocador de cavaquinho. Waldir Azevedo revolucionou a história do choro realizando solos no cavaquinho, instrumento que até então era utilizado somente no acompanhamento. Suas composições Brasileirinho e Delicado faziam tanto sucesso que se formavam filas nas portas das lojas para a compra de seus discos. No meio desta febre musical, Waldir começou a também estudar solos no cavaquinho. Batia o ponto no relógio da Rádio e subia para o terraço para ficar estudando sozinho, chegando a ficar até a madrugada. Confiante, Waldir começou a pensar em gravar um disco. Foi ao Rio e São Paulo, mas não conseguiu falar com ninguém, apesar das longas esperas nas portas das gravadoras e das cartas de recomendação. Chegou a tocar para Altamiro Carrilho, de passagem por Belo Horizonte, na esperança de que este pudesse auxiliá-lo. Altamiro lhe explicou que, no Brasil, naquele momento, as gravadoras só se interessavam pelo cavaquinho de Waldir Azevedo, a menos que ele aparecesse com algo “diferente”.
Foi então que Waldir Silva teve a idéia de compor uma música baseada nas mensagens em código Morse, com o qual já trabalhava há muito tempo nos correios. Foi a São Paulo e se apresentou para o maestro Hervé Cordovil (PANIAGO, 1997), pianista mineiro e diretor artístico da gravadora Copacabana. Cordovil se empolgou, anotou a música em papel pautado, contribuindo com algumas sugestões. Fizeram um arranjo e Waldir então gravou seu primeiro disco, um compacto com o choro Telegrama Musical de um lado e
o dobrado Belo Horizonte do outro, concretizando assim seu sonho. Esta gravação fez muito sucesso, tornando-se o hino dos telegrafistas brasileiros, ao mesmo tempo em que abriu várias portas na carreira artística de Waldir Silva. A partir daí, gravou mais de 20 discos, desde os discos de 78 rotações até os modernos CDs, passando pelos discos compactos e LPs (Tabela 7).
Tabela 7: Lista de discos gravados por Waldir Silva entre 1961 e 2010.
Discos de 78 rotações |
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Telegrama Musical e Belo Horizonte (1961, Copacabana) Veludo e Rojão do Cangerê (1962, Copacabana) |
Discos Compactos |
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Cavaquinho de Ouro (1964, Copacabana) Waldir Silva Temas da novela Pecado Capital (1964, Tapecar) |
LPs |
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Um Cavaquinho sobre a Cidade (1963, Copacabana) Cavaquinho de Ouro (1964, Copacabana) Um cavaquinho diferente (1965, Copacabana) Saudade Presente (1966, Bemol) Saudade Presente Vol. II (1969, Bemol) Feitiço da Vila (1971, Bemol) Zíngara (1974, Bemol) Telegrama Musical (1978, Bemol) Cavaquinho Camarada (1977, RCA Victor) Cavaquinho Camarada Vol. II (1978, RCA Victor) Cavaquinho Camarada Vol. III (1981, RCA Victor) O melhor do Choro (1984, Bemol) Cavaquinho para Todos (1986, Empowermen) Valsa dos Namorados e outras Valsas de Ouro (1988, Brasidisc) |
CDs |
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Boleros de Ouro (1992, Movie Play) Boleros de Ouro (1994, Movie play) Grandes Sucessos de Waldir Silva (1995, Europa) Tangos e Boleros (1995, Movie Play) Nos tempos de Ernesto Nazaré e Zequinha de Abreu (2002, Movie Play) Natal brasileiro. Um momento de paz (2005, Movie Play) Clássicos em ritmo de Bolero (2007, Movie Play) O melhor de Waldir Silva (2008, Movie Play) Vinte super sucessos (2008, Poly Disc) Os mais belos Tangos e Boleros (2010, Movie Play) |
Dois de seus choros (Tabela 8) chegaram a ser utilizados na trilha sonora da telenovela Pecado Capital da Rede Globo de Televisão: Quatro Cordas que Choram e Castelo de Amor, cujo tema deste último foi associado à personagem Emilene (SILVA, 2004).
Tabela 8: Lista de choros de Waldir Silva compostos em Belo Horizonte.
01 | Castelo de amor | choro | 1977 |
Tema da personagem Emilene da novela Pecado Capital da Rede Globo de Televisão | |||
02 | Cavaquinho triste | choro | 1973 |
03 | Duas lágrimas | choro | 1963 |
04 | Ficou na saudade | choro | 1966 |
05 | Minas ao Luar | valsa-choro | 1995 |
Referência ao projeto do SESC de levar grupos de seresta e choro pelo interior de Minas Gerais | |||
06 | Paraibeiro (Parceria com Zé Ramalho) | choro | 1981 |
Referência aos estados dos próprios compositores (um paraibano e um mineiro) | |||
07 | Quando chora um cavaquinho | choro | 1963 |
08 | Quatro cordas que choram | valsa-choro | 1977 |
Composta para a novela Pecado Capital da Rede Globo de Televisão | |||
09 | Telegrama Nº 2 | choro | 1963 |
10 | Uma saudade (ao meu Xará) | choro | 1981 |
Homenagem ao xará Waldir Azevedo | |||
11 | Veludo | choro | 1962 |
Homenagem ao acordeonista de mesmo apelido |
Waldir se diz influenciado por diversos compositores, mas especialmente por Waldir Azevedo. Atualmente, continua tocando com seu grupo, Waldir Silva e Grupo e percorre todo estado de Minas Gerais, participando de projetos como Minas ao Luar e Minas em Serenata, animando bailes, dando continuidade a uma carreira que se confunde com a história do choro em Belo Horizonte.
No choro Uma saudade (ao meu Xará), composto em homenagem ao ídolo e famoso xará Waldir Azevedo e editado pela RCA Victor no disco Cavaquinho Camarada Vol. III (1981), Waldir Silva recorre ao nostálgico espírito seresteiro com apojaturas cromáticas e linhas melódicas que incluem grandes saltos melódicos (de 6ª e 7ª) e expressivas notas longas (Exemplo 7).
Exemplo 7 - Uma saudade (ao meu Xará) de Waldir Silva
Warley nasceu em Belo Horizonte, em 15 de abril de 1984. Sua avó, violonista, o influenciou desde pequeno. Motivado pelo sucesso dos grupos de pagode, pediu ao pai um cavaquinho quando tinha 15 anos. Após uma única aula com Zé do Cavaco, vizinho no bairro Concórdia, começou a praticar em casa, sozinho. No seu bairro, freqüentava um bar onde se tocava pagode, para observar os cavaquinistas. Em seguida, montou seu próprio grupo de pagode com amigos. Seu primeiro contato com o choro se deu com um CD de Waldir Silva, comprado pelo pai. A partir daí, começou a ouvir e a tirar solos de ouvido.
Já com alguns choros no seu repertório, deu uma canja no Bar da Dona Célia, na Rua Jacuí, onde tocava Renato Rocha (violão), que o convidou para freqüentar sua casa e estudar mais o choro, a fim de aumentar seu repertório e poderem tocar juntos em festas e bares da cidade. Aos 16 anos, fez seu primeiro choro chamado Caminhando Juntos, numa referência ao seu instrumento, o cavaquinho. Em 2001, conheceu Gustavo Monteiro, parceiro com o qual regularmente toca e tornou-se parceiro na composição de alguns dos nove choros de sua produção (Tabela 9). Em 2002, participou do concurso Prêmio BDMG Instrumental concorrendo com três choros de sua autoria, chamados Pra Inglês Ver, Desastrado e Recomeçando, com os quais foi um dos vencedores. No mesmo ano, venceu o concurso Jovem Instrumentista BDMG, cujo prêmio foi uma bolsa de estudos para aprimorar-se com um professor de seu instrumento, à sua escolha. Então, começou a estudar com Geraldinho Alvarenga, com quem desenvolveu sua base teórica musical. Após este contato com Geraldinho, integrou o grupo Sarau Brasileiro em diversas apresentações. Atualmente, Warley faz apresentações em vários locais e eventos com seu grupo Boca de Siri, tocando também com os grupos G. Guedes e Trio e Sarau Brasileiro (DALMÁSIO, 2004).
Em Desastrado, choro composto em parceria com Gustavo Monteiro, Warley Henrique parece utilizar um fraseado cuja rítmica e seqüência melódica sugere a construção de um clímax típico da linguagem erudita. Nota-se também a utilização de arpejos triádicos e fragmentos cromáticos ascendentes e descendentes (Exemplo 8).
Exemplo 8 - Desastrado de Warley Henrique e Gustavo Monteiro Tabela 9: Lista de choros de Warley Henrique compostos em Belo Horizonte.
Nº | Título | Gênero | Ano |
Dedicatória | |||
01 | Caminhando juntos | choro | 2000 |
Primeira obra do compositor; referência ao seu cavaquinho | |||
02 | Deixa comigo | choro | 2002 |
03 | Desastrado (parceria com Gustavo) | choro | 2002 |
04 | Mais um chorinho (parceria com Gustavo) | choro | 2002 |
05 | Pra inglês ver (parceria com Gustavo) | choro | 2002 |
06 | Pra você (parceria com Gustavo) | choro | 2002 |
07 | Recomeçando | choro | 2002 |
08 | Quanto tempo | choro | 2003 |
09 | Saudades de você | choro | 2003 |
Homenagem a Silvana, mãe do compositor |
A consolidação do choro no Rio de Janeiro coincide com a fundação da cidade de Belo Horizonte, ambos ocorrendo no final do século XIX. No início do século XX, por meio de partituras, o choro carioca começa a chegar à capital mineira, cujo movimento musical surge logo após a fundação da cidade. Em seguida, a criação da Banda do Corpo de Bombeiros no Rio de Janeiro, emblemática para história do choro e pelas primeiras gravações do gênero, se reflete em Belo Horizonte como um modelo para a popularização do choro nas bandas militares e de retreta. O acesso às estas gravações deu a oportunidade dos músicos mineiros terem contato com a sonoridade das reais práticas de performance que caracterizam o sotaque carioca do choro, inexistente nas partituras. Esporadicamente, a visita de grupos de choro do Rio, como os Oito Batutas em 1920, ajudou a consolidar a autonomia do gênero na cidade.
Na década de 1930, a Rádio Mineira e, especialmente, a Rádio Inconfidência e a Rádio Guarani, deram ao choro um impulso enorme em Belo Horizonte, em função da agilidade e flexibilidade dos regionais de choro dentro da programação com cantores ao vivo, transmitida para milhares de ouvintes. Após as décadas de 1930 a 1950, que podem ser consideradas a era de ouro do choro, observou-se uma decadência dos regionais, e do gênero como um todo, na década de 1960, em função de uma programação cada vez mais mecânica e pelo fato da mídia ter se ocupado com os novos estilos musicais (bossa-nova, jovem guarda, canções de protesto e tropicalismo). O cerco da ditadura brasileira à música com letra e o fim dos festivais da canção prepararam o terreno para a redescoberta dos gêneros instrumentais, como o choro, na década de 1970. Nesse período, o compositor-instrumentista Waldir Silva ganha evidência nacional e ajuda a abrir
o caminho para outros regionais, como Naquele Tempo, Abandonado Choro, Sacatrapo, Sarau Brasileiro, Pedacinhos do Céu, Clube do Choro e Flor de Abacate.
Dentro das centenas de compositores e instrumentistas de choro atuantes hoje em Belo Horizonte, destaca-se um seleto número de oito compositores-intérpretes chorões que sintetizam três gerações inteiramente dedicadas ao gênero. Sua produção composta apenas nesta cidade totalizou, ao final da catalogação das composições em 2005, 164 obras. Tes-temunhas do início da história do gênero em Belo Horizonte estão o mais profícuo deles, Belini Alves de Andrade, o multi-instrumentista Hélio Pereira e o cosmopolita e com maior reconhecimento nacional Waldir Silva. Representando a geração que surgiu durante o renascimento do choro em Belo Horizonte, estão Geraldo R. L. de Alvarenga, Sílvio Carlos Costa e Ausier V. Santos. Finalmente, dentro da mais nova geração de chorões, com uma formação mais diversificada (que inclui influência da música erudita, rock e pagode) e ainda desenhando seu caminho na história do choro em Belo Horizonte, estão Gustavo Humberto Monteiro e Warley Henrique Dalmásio.
1 Leadsheet, o tipo de partitura mais comum na música popular, geralmente inclui apenas a melodia e os acordes simplificados na forma de cifras e, algumas vezes detalhes rítmicos (“convenções”) ou de instrumentação.
2 Os regionais de choro se consolidaram na década de 1920, mas tem origem quase dois séculos antes, com grupos associados à música de caráter regional, compostos principalmente pelas violas de arame (predecessoras dos violões), machete (nome do atual cavaquinho) e pandeiro. CAZES p. 85.
3 Segundo BRASIL DE MATOS GUEDES (2003, p. 13), “As baixarias são contracantos graves realizados no choro. O termo pode designar: a) a linha formada pelos baixos da progressão dos acordes em uma determinada passagem; b) um desenho ou gesto melódico, por parte dos acompanhadores de tessitura grave, que normalmente conduz de um acorde a outro, que preenche os momentos de maior repouso da melodia principal ou ainda que define um estilo de levada”.
4 Patápio Silva (1880-1907) foi um exímio flautista carioca. 5 Nome de um choro famoso composto por Pixinguinha.
6
Nome de um choro famoso composto por Álvaro Sandim. 7 Canja é o nome que popularmente os músicos dão a participação de um músico que não é
do grupo e que toca algumas músicas com o conjunto que está se apresentando. 8 Nome de um choro famoso composto por Waldir Azevedo. 9 Bolão é o apelido do Sr. Raimundo José dos Reis, violonista de sete cordas dono do Bar do
Bolão, hoje administrado pelo filho Aroldo. 10 No meio popular, as extensões harmônicas, do inglês harmonic extensions, são também chamadas pela corruptela “tensões”.
ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB: a históra de nossa música popular, de sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2003.
ALVARENGA, Geraldo Lúcio Rosa de. Entrevista de Geraldo Lúcio Rosa de Alvarenga concedida a Marcos Flávio de Aguiar Freitas. Belo Horizonte, março de 2004. (Fita cassete)
. Teia de Aranha. Belo Horizonte: manuscrito do autor, 2002. (Partitura)
ANDRADE, Belini Alves de. Beco do Choro. Belo Horizonte: manuscrito do autor,1988. (Partitura)
. Chorinhos em Desfile. Álbum. Cópias manuscritas de Berenice Menegale. Belo Horizonte: Imprensa Universitária, 1988. (Partituras)
. Entrevista de Belini Alves de Andrade concedida a Marcos Flávio de Aguiar Freitas. Belo Horizonte, maio de 2004. (Fita cassete)
ANTÃO, Acir. Entrevista de Acir Antão concedida a Marcos Flávio de Aguiar Freitas. Belo Horizonte, abril de 2004. (Fita cassete).
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CABRAL, Sérgio. Pixinguinha: vida e obra. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumiar, 1997. 283 p.
CAZES, Henrique. Choro: Do quintal ao municipal. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 1999. 204 p.
CAMARGO, Oszenclever. Entrevista de Oszenclever Camargo concedida a Marcos Flávio de Aguiar Freitas. Belo Horizonte, março de 2004. (Fita cassete)
COSTA, Sílvio Carlos Silva. Entrevista de Sílvio Carlos Silva Costa concedida a Marcos Flávio de Aguiar Freitas. Belo Horizonte, março de 2004. (Fita cassete)
. Saudade de Itabira. Belo Horizonte: manuscrito do autor, 1981. (Partitura)
DALMÁSIO, Warley Henrique. Entrevista de Warley Henrique Dalmásio concedida a Marcos Flávio de Aguiar Freitas. Belo Horizonte, março de 2004. (Fita cassete)
DALMÁSIO, Warley Henrique; MONTEIRO, Gustavo. Desastrado. Belo Horizonte: manuscrito dos autores, 2002. (Partitura)
DUARTE, Cristiano Lages. Juvenal Dias da Silva: Um Virtuoso da Flauta em Minas Gerais, 2001. 142 f. (Dissertação de Mestrado em Música Brasileira) UEMG/UNIRIO/ CAPES, Rio de Janeiro 2001.
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PANIAGO, Maria do Carmo Tafuri. Hervé Cordovil: um gênio da música popular brasileira. São Paulo: João Scortecci Editora, 1997.
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Referências de áudio e vídeo:
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. Mina de Choro. CD Independente. Belo Horizonte, 2008.
. Na levada do Choro: Um almanaque musical. Dirigido e produzido por Corta Jaca. DVD Independente. Belo Horizonte, 2008.
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. Batuque. CD Independente. Belo Horizonte: Bemol, 2002.
. Belini Andrade e grupo Flor de Abacate. CD Independente. Belo Horizonte: Bemol, 2004. FREDERICO, Marcos. Sinuca Tropical. CD Independente. Belo Horizonte (2007). SARAU BRASILEIRO. Sarau Brasileiro interpreta Geraldo Alvarenga. CD Independente. Belo Horizonte, 2001.
HENRIQUE, Warley. Delicado. CD Independente. Belo Horizonte (2008).
Marcos Flávio de Aguiar Freitas -Mestre em Música pela UFMG, Especialista em Práticas Interpretativas da Música Brasileira pela UEMG e Bacharel em Trombone pela UFMG. É Professor Assistente da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) onde desenvolve intensa atividade didática como professor de Trombone e Coordenador do Coral de Trombones da UFMG. Já se apresentou com músicos como Radegundis Feitosa (BRA), Jacques Mauger (FRA) e Brandt Attema (NED) e maestros como Fábio Mechetti, Ailton Escobar e Roberto Duarte. Na música popular participa de vários grupos, dentre eles os grupos de Choro Flor de Abacate, Belo Choro (Clube do Choro de Belo Horizonte), Clube do Choro de Betim e Choro de Minas e no Samba faz parte dos grupos Zé da Guiomar e Copo Lagoinha. Já acompanhou artistas como Frank Sinatra Jr. (EUA) e Maria Schneider (EUA). Fez participações em vários discos e tem dois CDs solo, CHOROBONE (2005) Choro e TROMBONES GERAES (2007) Erudito.
Fausto Borém - Professor Associado da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde criou o Mestrado em Música e a Revista Per Musi. É pesquisador do CNPq desde 1994 e seus resultados de pesquisa incluem um livro, três capítulos de livro, dezenas de artigos sobre práticas de performance e suas interfaces (composição, análise, musicologia, etnomusicologia e educação musical) em periódicos nacionais e internacionais, dezenas de edições de partituras e apresentação de recitais nos principais eventos nacionais e internacionais do contrabaixo. Recebeu diversos prêmios no Brasil e no exterior como solista, teórico, compositor e professor. Acompanhou músicos eruditos como Yo-Yo Ma, Midori, Menahen Pressler, Yoel Levi, Fábio Mechetti, Luiz Otávio Santos, Arnaldo Cohen, Antônio Menezes e músicos populares como Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Henry Mancini, Bill Mays, Kristin Korb, Grupo UAKTI, Toninho Horta, Juarez Moreira, Tavinho Moura, Roberto Corrêa e Túlio Mourão. Suas gravações incluem o CD Brazilian Music for the Double Bass, o CD e DVD O Aleph de Fabiano Araújo Costa, os CDs da Orquestra Barroca do Festival Internacional de Juiz de Fora de 2005 a 2009 (com Luiz Otávio Santos), a Suite for Flute and Jazz Piano de Claude Bolling (com Maurício Freire, Tânia Mara e Eduardo Campos) e No Sertão (com o violista Roberto Corrêa) e Cidades Invisíveis (com o saxofonista Daniel d´Olivier).