@article{Minamisava_Salge_Castral_Souza_Souza_Sousa_2016, place={Goiânia, Goiás, Brasil}, title={Epidemia do vírus Zika: a mais nova emergência internacional}, volume={18}, url={https://revistas.ufg.br/fen/article/view/39890}, DOI={10.5216/ree.v18.39890}, abstractNote={<p>A infecção pelo vírus Zika é uma doença relativamente nova, com publicações limitadas a relatos de casos e investigações de surtos. Inicialmente foi descrita antes de 2007 na África e Ásia, posteriormente na Polinésia Francesa no Pacífico e, por fim, nas Américas, em 2015. O Brasil confirmou o primeiro caso de infecção pelo vírus Zika em março de 2015<sup>(1)</sup> e, desde outubro, tem registrado aumento explosivo do número de recém-nascidos com microcefalia e também aumento de condições neurológicas, incluindo a síndrome de Guillain-Barré. A forte suspeita de a infecção pelo vírus Zika estar relacionada a essas manifestações é que levaram o Comitê de Emergência de Saúde Pública da Organização Mundial de Saúde declarar, no dia 1º de fevereiro deste ano, que a propagação do vírus é um problema emergencial de saúde pública internacional, ou seja, um evento extraordinário, grave, inesperado e que, potencialmente, requer uma ação internacional coordenada<sup>(2-3)</sup>. A ausência de outra explicação para o aumento dramático de casos de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré, ambos concentrados em áreas recém-infectadas pelo vírus Zika, apoiam a recomendação de medidas agressivas para evitar/reduzir a infecção com o vírus Zika, especialmente entre mulheres grávidas e as em idade fértil.</p><p>No mesmo documento, a Organização Mundial de Saúde recomenda vigilância de casos de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré nas áreas de risco e pesquisas etiológicas desses eventos para determinar se a infecção pelo vírus Zika é causal e se há outros fatores de risco associados. As medidas de precauções adicionais são:</p><ol><li>relacionadas à transmissão do vírus: vigilância epidemiológica, controle de vetor, medidas de proteção, informação e aconselhamento às mulheres grávidas e às que desejam engravidar;</li><li>medidas de longo prazo: investimento em pesquisas voltadas para produção de vacina, diagnóstico acurado e tratamento, capacitação para cuidados com síndromes neurológicas e malformações congênitas;</li><li>medidas para viajantes: aconselhamento, desinfestação de aeronaves e de aeroportos e;</li><li>compartilhamento de informações.</li></ol><p>Alguns questionamentos têm sido feitos sobre a magnitude desta epidemia e a associação com microcefalia/desordens neurológicas<sup>(4-5)</sup>. É razoável ponderar que exista histórico sub-registro de microcefalia no Sistema de Informações de Nascidos Vivos do Brasil. Também é esperado que após o alerta nacional, o número de casos suspeitos se eleve. Ou seja, o aumento ou a implementação de vigilância sempre resulta em maior sensibilidade de detecção de casos suspeitos/notificados, com aumento de falso-positivos. Por essas razões, é possível dizer que parte do aumento nos casos de microcefalia notificados pode ser atribuível à intensa vigilância. O que é inimaginável é que a prevalência de microcefalia no nordeste brasileiro seja 10-20 vezes maior que a de outros países<sup>(6)</sup>. No momento, existem hipóteses que o vírus Zika possa ter papel etiológico e/ou fisiopatológico para esses eventos, usualmente raros.</p><p>O que nos parece inquestionável, é a gravidade da situação. Gestores de saúde não podem esperar evidências científicas de alto nível. Calma e prudência para avaliar é aconselhável. Evitar conclusões prematuras, idem. Entretanto, diante da potencial ameaça, temos o dever de, pelo menos, proteger as mulheres grávidas e seus fetos. A situação atual nos coloca muitos desafios a enfrentar, e parece lógico que o Brasil protagonize o início das ações. Reconhecemos em nossa história tanto o sucesso no combate à febre amarela no início do século passado como nossa recente ineficiência no combate ao mosquito <em>Aedes aegypti</em> para o controle da dengue e da chikungunya. É preciso criar, renovar e fortalecer estratégias de controle e de proteção efetivas.</p><p>O que temos de novo para vislumbrar melhor desfecho? Esforço internacional e financiamento de pesquisas para melhor combate ao vírus Zika e mobilização da população e dos profissionais de saúde frente à gravidade das doenças por ele provocadas e suas sequelas. Dificuldades? Muitas, sem dúvida. Além das dificuldades de controle do vetor já conhecidas no enfrentamento da dengue, circulam no Brasil outros mosquitos do gênero <em>Aedes</em> capazes de atuarem como vetores do vírus Zika<sup>(7-8)</sup>, criando novas possibilidades de transmissão e disseminação da infecção. Porém, é clara a emergência de ações para, no mínimo, reduzir o impacto e o receio das malformações congênitas nas futuras gerações.</p><p>O combate sem trégua ao mosquito deve ser o foco principal das nossas ações e isso implica em revermos nossas atitudes enquanto cidadãos. Não há espaço para o mero expectador. A batalha já iniciou e será longa! É chegada a hora de agir! É chegada a hora de toda a nação se mobilizar! É hora de mobilizar todo o país!</p><p> </p><p><strong>REFERÊNCIAS</strong></p><p>1. Zanluca C, Melo VCA de, Mosimann ALP, Santos GIV dos, Santos CND dos, Luz K. First report of autochthonous transmission of Zika virus in Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz [Internet]. 2015 [acesso em: 31 mar. 2016];110(4):569-72. Disponível em: <a href="http://dx.doi.org/10.1590/0074-02760150192">http://dx.doi.org/10.1590/0074-02760150192</a>.</p><p>2. World Health Organization [Internet]. Geneva: World Health Organization (SW) [acesso em: 31 mar. 2016]. WHO | Zika vírus. Fact sheet. Updated January 2016. Disponível em: <a href="http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/en/">http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/en/</a>.</p><p>3. World Health Organization [Internet]. Geneva: World Health Organization (SW) [acesso em: 31 mar. 2016]. Frequently asked questions on IHR Emergency Committee. Disponível em: <a href="http://www.who.int/ihr/procedures/en_ihr_ec_faq.pdf">http://www.who.int/ihr/procedures/en_ihr_ec_faq.pdf</a>.</p><p>4. Butler D. Zika virus: Brazil’s surge in small-headed babies questioned by report. Nature [Internet]. 2016 [acesso em: 31 mar. 2016];530(7588):13-4. Disponível em: <a href="http://www.nature.com/doifinder/10.1038/nature.2016.19259">http://www.nature.com/doifinder/10.1038/nature.2016.19259</a>.</p><p>5. Tetro JA. Zika and microcephaly: causation, correlation, or coincidence? Microbes Infect [Internet]. 2016 [acesso em: 31 mar. 2016]. Disponível em: <a href="http://dx.doi.org/10.1016/j.micinf.2015.12.010">http://dx.doi.org/10.1016/j.micinf.2015.12.010</a>. [Epub ahead of print].</p><p>6. Schuler-Faccini L, Ribeiro EM, Feitosa IM, et al. Possible Association Between Zika Virus Infection and Microcephaly - Brazil, 2015. MMWR Morb Mortal Wkly Rep [Internet]. 2016 65(3):59-62. Disponível em: <a href="http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.mm6503e2">http://dx.doi.org/10.15585/mmwr.mm6503e2</a>.</p><p>7. Higgs S. Zika Virus: Emergence and Emergency. Vector-Borne Zoonotic Dis [Internet]. 2016 [acesso em: 23 fev. 2016];16(2):75-6. Available from: <a href="http://online.liebertpub.com/doi/10.1089/vbz.2016.29001.hig">http://online.liebertpub.com/doi/10.1089/vbz.2016.29001.hig</a>.</p><p>8. Marano G, Pupella S, Vaglio S, Liumbruno GM, Grazzini G. Zika virus and the never-ending story of emerging pathogens and transfusion medicine. Blood Transfus [Internet]. 2015 [acesso em: 23 fev. 2016]. Disponível em: <a href="http://dx.doi.org/10.2450/2015.0066-15">http://dx.doi.org/10.2450/2015.0066-15</a>. [Epub ahead of print].</p>}, journal={Revista Eletrônica de Enfermagem}, author={Minamisava, Ruth and Salge, Ana Karina Marques and Castral, Thaíla Corrêa and Souza, Sandra Maria Brunini de and Souza, Romilda Rayane Godoi and Sousa, Marília Cordeiro de}, year={2016}, month={mar.}, pages={e1136} }