OCORRÊNCIA DE ENTEROPARASITOS EM CRIANÇAS ATENDIDAS
NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE UMA AREA DE ABRANGÊNCIA DO
MUNICÍPIO DE VESPASIANO, MINAS GERAIS, BRASIL
OCCURRENCE OF PARASITIC DISEASES IN CHILDREN
ASSISTED AT THE FAMILY HEALTH PROGRAM OF A VESPASIANO CITY DISTRICT,
MINAS GERAIS, BRAZIL
OCURRENCIA
DE ENFERMEDADES PARÁSITAS EN NIÑOS ATENDIDOS EN EL PROGRAMA
DE LA SALUD DE LA FAMILIA, EN AREA DE ABRANGENCIA DEL MUNICIPIO
DE VESPASIANO, MINAS GERAIS, BRASIL
Moisés E. S. Santo1
Thaia Ogando1
Bruna P. V. Fonseca1
Carmelino E. G. Júnior1
Joziana M. P. Barçante1,2
RESUMO: No Brasil, os grandes inquéritos coproparasitológicos
foram realizados até a década de 70. Apesar disto, as parasitoses
intestinais são de grande importância, uma vez que constituem
graves problemas de saúde pública, contribuindo para o agravamento
de problemas econômicos, sociais e médicos. Por esta razão,
o presente trabalho objetivou verificar a ocorrência dos enteroparasitos
mais freqüentes entre cianças (0-10 anos) cadastradas e residentes
na área de abrangência do Programa de Saúde da Família (PSF)
do bairro Morro Alto em Vespasiano, estado de Minas Gerais,
Brasil. Foram analisados 3250 prontuários de três unidades de
PSF. A ocorrência geral de enteroparasitoses foi de 18,4%, sendo
que algumas crianças se apresentavam poliparasitadas. Os enteroparasitos
mais frequentes foram Giardia lamblia (43%), Ascaris lumbricoides
(34%) e Entamoeba coli (13%). A faixa etária de 6 a 8 anos foi
a que apresentou um maior número de indivíduos parasitados.
A coleta de dados para este projeto evidenciou que o município
não possui levantamentos sobre a ocorrência de parasitoses,
justificando com isso a importância desse estudo uma vez que
seus resultados oferecem subsídios para a elaboração de políticas
municipais de saúde pública voltados à infância e juventude.
PALAVRAS CHAVE: Parasitoses; Saúde da Criança;
Programa Saúde da Família.
ABSTRACT: The greatest copro-parasitological
researches were developed until the 70´s in Brazil. In despite
of the intestinal parasites are very important, because constitutes
a severe problem to public health, contributing to the aggravation
of the social, economical and medical problems. Thus, the objective
of this study was to verify the occurrence of the most frequent
enteroparasites among children (0-10 years old), in the Health
Family Program (PSF) area situated in the district of Morro
Alto in Vespasiano city, state of Minas Gerais,Brazil. It was
analyzed 3250 handbook indexes of three PSF units. The general
occurrence was 18.4% positive and some children have more than
one parasite. The most founded enteroparasitos was Giardia lamblia
(43%), Ascaris lumbricoides (34%) and Entamoeba coli (13%).
The 6 to 8 ages shows the highest incidence of children with
parasites. The data collected to this project evidenced that
Vespasiano-city doesn’t have related researches to parasites,
justifying the importance of this study and its results offers
subsidies for elaboration of municipal public health policies
for childhood and youth.
KEY WORDS: Parasitic Diseases; Child Health
(Public Health); Family Health Program.
RESUMEN: Los más extensas investigaciones
de enfermedades parasitarias fueron realizadas en el Brasil
hasta los años 70. Sin embargo, los parásitos intestinales son
muy importantes, una vez constituyen un severo problema de Salud
Pública, contribuyendo al agravamiento de los problemas sociales,
económicos y médicos. Así, el objetivo de este estudio fue verificar
la ocurrencia de los enfermedades parasitarias más frecuentes
entre los niños (0-10 años), en el área del programa de Salud
de la Familia (PSF) situada en el barrio de Morro Alto en la
ciudad de Vespasiano, estado de Minas Gerais, Brasil. Fuera
analizado 3250 prontuarios de tres unidades de PSF. La ocurrencia
general era 18.4% positivos y algunos niños tienen más de un
parásito. Los parasitas intestinales encontrados fueran Giardia
lamblia (43%), Ascaris lumbricoides (34%) y Entamoeba coli (13%).
Las edades de 6 a 8 años demostraron la más alta incidencia
de niños con los parásitos. Los datos colectados en esto proyecto
evidenciaron que la ciudad de Vespasiano no tiene estudios relacionado
a los parasitas, justificando así, la importancia de este estudio
y de sus resultados ofrecen subsidios para la elaboración de
políticas municipales de salud pública para la niñez y la juventud.
PALABRAS CLAVE: Enfermedades Parasitarias;
Salud del Niño; Programa Salud de la Familia. |
INTRODUÇÃO Parasitismo
é a associação entre seres vivos, na qual existe uma unilateralidade
de benefícios, sendo um dos associados prejudicado nessa relação.
Desse modo, surge o parasito, agente agressor e o hospedeiro,
agente que abriga o parasito (NEVES, et al, 2005).
No momento
em que surge essa relação, é relevante estudar os aspectos envolvidos
entre o parasito e o hospedeiro. Entre estes, a ocorrência de
más instalações sanitárias e maus hábitos de higiene favorecem
a ocorrência de parasitoses em determinadas regiões. Portanto,
para estudar adequadamente essa distribuição geográfica, utiliza-se
a epidemiologia, que é a ciência que estuda a distribuição de
doenças ou enfermidades e de seus determinantes na população
humana, chamados de fatores de risco, tendo como objetivo principal
a explicitação de que as doenças não ocorrem por acaso ou de
forma aleatória em uma comunidade (ROBBINS et al, 1996).
Com relação
a estes fatores de predisposição às doenças, sabe-se que os
grupos sociais economicamente privilegiados são pouco sujeitos
a certos tipos de enfermidades, cuja incidência é acintosamente
elevada nos grupos economicamente desprivilegiados. Os enteroparasitos,
por exemplo, em sua maioria, estão associados a locais sujos,
como os esgotos a céu aberto, córregos, lagoas e riachos contaminados,
que podem acumular grande quantidade de dejetos e fezes eliminados
por pessoas enfermas, bem como o lixo que costuma atrair numerosos
insetos e roedores (NEVES et al, 2005).
Em nosso país,
o número de indivíduos com algum tipo de enteroparasitose é
sabidamente elevado, principalmente na população pediátrica
(0-5anos) e crianças em idade escolar. Tal fato tem sido fonte
de novos estudos, principalmente no campo da saúde, sob o enfoque
de grupo de risco. A imaturidade imunitária deste segmento etário,
sua dependência de cuidados alheios, entre outros fatores, torna-o
mais suscetível a agravos de qualquer espécie (PUFFER &
SERRANO, 1973). Dentro deste contexto, as infecções por parasitos
intestinais são de grande importância não só pela morbidade
resultante, mas também pela freqüência com que produzem déficits,
que podem comprometer o desenvolvimento físico e cognitivo das
crianças (FERREIRA et al, 1997; MACHADO et al, 1999; DIAS &
COPELMAN, 2000; PRADO et al, 2001; SILVA & SANTOS, 2001).
Desta forma, as doenças parasitárias são causas e conseqüências
do subdesenvolvimento e estão normalmente ligadas ao analfabetismo,
subnutrição, alienação do povo, corrupção e irresponsabilidade
de políticos e empresários (ROBBINS et al, 1996).
Pesquisas
populacionais sobre parasitos intestinais foram realizadas em
diversas regiões do Brasil e mostram freqüências bastante diferentes,
de acordo com as condições locais de saneamento e características
da amostra analisada.
Segundo dados
da OMS, as doenças infecciosas e parasitárias continuam a figurar
entre as principais causas de morte, sendo responsáveis por
2 a 3 milhões de óbitos por ano, em todo mundo. Grande parte
dessas complicações poderia ser evitada se as investigações
parasitológicas não fossem tão negligenciadas em nosso país.
No município de Vespasiano, por exemplo, não se conhece o perfil
parasitológico da população, tampouco é sabido sobre a real
prevalência de parasitos intestinais na região. A escolha do
tema dessa pesquisa teve como justificativa, dois aspectos importantes,
a gravidade que assumem as parasitoses intestinais na infância
e o escasso estudo sobre a situação atual das enteroparasitoses.
Tendo exposto
um dos principais problemas de saúde pública que acomete a população,
principalmente a infantil, esta pesquisa teve o objetivo de
estabelecer a ocorrência de crianças parasitadas menores de
10 anos de idade, atendidas pelo Programa de Saúde da Família
Morro Alto, no município de Vespasiano, Minas Gerais.
MATERIAL E MÉTODOS
Pesquisa
descritiva na qual foram examinadas 3.250 fichas utilizadas
pelos profissionais de saúde para anotação da consulta, arquivadas
em prontuários de famílias cadastradas e residentes na área
de abrangência do Programa de Saúde da Família do Morro Alto
da Policlínica Municipal Gonçalo de Moura.
Foram coletados
dados referentes às crianças com idade entre 0 e 10 anos, que
consultaram em uma das três unidades do PSF Morro Alto, no período
de janeiro de 2000 a janeiro de 2005. Os dados coletados foram
separados e organizados de acordo com a idade das crianças (0-2,
3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 anos).
Vespasiano
localiza-se a 22 Km de Belo Horizonte e ocupa uma área de 69
Km2 e 90.000 habitantes. A rede de saúde é composta por uma
policlínica central, nove unidades básicas de saúde (PSF), um
centro oftalmológico, centro de referência em adolescência,
Fundação Vespasianense de Saúde (Hospital-maternidade) e um
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
O presente
trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa,
da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (FASEH), Curso de Enfermagem.
RESULTADOS O
PSF Morro Alto em sua área de abrangência possui três áreas
de risco (esgoto a céu aberto, sem coleta de lixo e sem água
tratada) (Figura 1). Conforme estatísticas do Sistema de Informação
da Atenção Básica de 2004 (SIAB-2004) da Secretaria de Saúde
do Município de Vespasiano, 8,44% da população do Morro Alto
não têm saneamento básico, 1,38% não fazem uso de água tratada,
e 13,19% nunca freqüentaram a escola, 3,99% não tem coleta de
lixo e 87,46% não possuem plano de saúde. O Morro Alto é uma
área bastante carente, onde a renda da população na maioria
dos casos não chega a um salário mínimo por família.
Figura 1 (a-d) – Área de abrangência do PSF
Morro Alto, evidenciando áreas com esgoto não canalizado e depósitos
de lixo urbano nas proximidades das residências e estabelecimentos
comerciais.
Das 3.250
fichas existentes nas três unidades do PSF Morro Alto, foram
coletadas informações de 537 fichas que faziam referência à
suspeita de enteroparasitoses . A partir destas 537 fichas obteve-se
uma amostra igual a 100 diagnósticos positivos, 178 crianças
vermifugadas sem solicitação ou resultado de exames parasitológicos
de fezes e 259 diagnósticos negativos (Tabela 1).
Tabela 1 – Distribuição de enteroparasitoses
em crianças de 0 a 10 anos de idade, atendidas no PSF Morro
Alto, no período de janeiro de 2000 a janeiro de 2005.
NVC – Número de crianças vermifugadas.
A ocorrência
geral neste período foi de 18,4% positivos sendo que algumas
crianças se apresentavam poliparasitadas. Os enteroparasitos
de maior ocorrência foram Giardia lamblia (43%), Ascaris
lumbricoides (34%) e Entamoeba coli (13%) (Figura
2).
Figura 2 – Ocorrência de parasitoses intestinais
em crianças de 0 a 10anos da área de abrangência das três unidades
do PSF Morro Alto, atendidas no período de janeiro de 2000 à
janeiro de 2005.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
As
parasitoses intestinais ainda são, infelizmente, muito comuns
no Brasil e em outros países onde vigoram semelhantes condições
favorecedoras, representadas, sobretudo por deficiente saneamento
básico e má educação para a saúde (CORRÊA & NETO, 1990).
Para o diagnóstico
dessas infecções parasitárias o exame de fezes é fundamental,
de baixo custo e eficiente para a grande maioria dos enteroparasitos.
O coproparasitológico suplanta os méritos pertinentes a outras
táticas, calçados em subsídios imunológicos, por exemplo, devendo
ser satisfatoriamente estimulado e divulgado (CORRÊA & NETO,
1990). Apesar disto, é curioso reconhecer que, apesar dessas
ponderações, o exame parasitológico de fezes não tem a devida
atenção merecida.
Os resultados
do presente trabalho assemelham-se aos encontrados por SILVA
& SANTOS (2001), na área de abrangência do Centro de Saúde
Cícero Idelfonso em Belo Horizonte, onde os mesmos verificaram
uma maior freqüência de parasitismo por G. lamblia
(19%) e A. lumbricoides (17%).Esses parasitos são os
mais fáceis de se transmitir (via oral) e os mais encontrados
nas investigações de populações urbanas residentes em áreas
faveladas SILVA & SANTOS (2001).
A realização
deste trabalho permitiu verificar que, muitas vezes, os profissionais
da saúde têm uma conduta, considerada como não sendo a mais
adequada, no que tange ao procedimento de vermifugarem as crianças
antes da realização do exame coproparasitológico. Esta prática,
pouco correta, acaba sendo um reflexo das altas de parasitismo
da população. Na tentativa de eliminar o sofrimento humano,
de forma rápida, a vermifugação é feita sem o conhecimento do
agente etiológico causador da enfermidade. Desta forma, o parasito
pode ser eliminado com o vermífugo sem que se saiba por qual
parasito as crianças estão infectadas. Esse desconhecimento
a respeito da freqüência das principais parasitoses ocorrentes
no município dificulta a adoação de medidas de controle específicas,
fazendo com que se perpetue à presença de indivíduos parasitados.
Apesar das
dificuldades encontradas, verificou-se que na área de abrangência
do PSF Morro Alto existe uma maior prevalência da infecção por
G. lamblia. A giárdiase é uma das causas mais comuns de diarréia
entre crianças, que, em conseqüência da infecção muitas vezes
apresentam problemas de má nutrição e retardo no desenvolvimento.
O estreito relacionamento de crianças portadoras e crianças
suscetíveis no peridomicílio, aliado ao fato de que seus folguedos
são na terra e que levam a mão à boca constante mente, faz com
que a faixa etária de um a dez anos apresente a prevalência
muito alta (NEVES et al, 2005).
Em termos
de perspectivas futuras, a avaliação desta população alvo é
de suma importância para o conhecimento da real situação das
enteroparasitoses no município. Além disso, a correlação entre
a ocorrência de parasitos intestinais e a situação sobre o saneamento
básico na área de abrangência do PSF Morro Alto, possibilitará
a avaliação e a proposição de medidas adequadas de manejo e
controle dos parasitos mais freqüentes na região. Somado a isto,
o envio dos resultados obtidos para a Secretaria de Saúde do
Município poderá contribuir para um maior engajamento entre
a comunidade e o sistema local de saúde.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS |
CORRÊA,
L.L; NETO, V.A. Exame Parasitológico das fezes. 5º
Edição. São Paulo. Editora Sarvier .1990.
DIAS, R.M.G; COPELMAN, H. Enteroparasitoses em indivíduos
de classes sociais A e B da cidade de Foz do Iguaçu – PR.
IV Semana do Aparelho Digestivo: Foz do Iguaçu, PR, 08 a 12
de outubro de 2000.
FERREIRA, C.B; MARÇAL JUNIOR, O. Enteroparasitoses em escolares
do distrito de Martinésia, Uberlândia – MG: Estudo Piloto. Rev.
Soc. Bras. Med. Tropical. v. 30, n. 5, p. 373-377. 1997.
MACHADO, R.C et al. Giardíase e helmintíase em crianças de creches
e escolas de 1º e 2º graus (pública e privada) da cidade de
Mirassol – SP. Rev. Soc. Bras. Med. Tropical. v. 32,
n. 6, P. 697-704. 1999.
NEVES, D.P et al. Parasitologia humana. – 11ª ed. São
Paulo: Editora Atheneu, 2005.
PRADO, M.S et al. Prevalência e intensidade da infecção por
parasitas intestinais em crianças em idade escolar na cidade
de Salvador. Rev. Soc. Med. Tropical. v. 34, n. 1,
p. 99-101. 2001.
PUFFER R.R; SERRANO, C.V. Caracteristicas de la mortalidad
en la niñez. Informe de la investigación interamericana
de mortalidad en la niñez. Washington (DC): OPAS; 1973.
ROBBINS, S.L; COTRAN, R.S; VINAY, K; SCHOEN, F.J. Patologia
Estrutural e Funcional. 5ª edição. Rio de Janeiro. Editora
Guanabara Koogan, 1996.
SILVA, C.G; SANTOS, H.A. Ocorrência de parasitoses intestinais
da área de abrangência do Centro de Saúde Cícero Idelfonso da
Regional Oeste da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Minas
Gerais. Rev. Biol. Cien. da Terra, v. 1, n.1, 2001
Disponível em: http://www.uepb.edu.br/eduep/rbct/sumarios/sumario_v1_n1.htm
[Acesso em: 25 fevereiro 2006].
Texto
original recebido em 25/03/2006
Aprovado para publicação em 30/04/2006
1FASEH/Faculdade da Saúde e Ecologia Humana; Vespasiano
– MG; Rua São Paulo, 958, Bairro Jardim Alterosa. Vespasiano-MG.
Curso de Enfermagem
2Departamento de Parasitologia, Instituto de Ciências
Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). jozithales@hotmail.com; jozithales@yahoo.com.br.
|