ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL PAPERS / ARTICULOS ORIGINALES |
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BOTTI,
Nadja Cristiane Lappann; Cotta, Eline Mascarenhas; CÉLIO,
Fabiano de Almeida. VISITA AO MUSEU DE LOUCURA:
UMA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM SOBRE A REFORMA PSIQUIÁTRICA.
Revista Eletrônica de Enfermagem,
v. 08, n. 01, p. 52 – 57, 2006. Disponível em http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen |
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VISITA AO MUSEU DE LOUCURA: UMA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM
SOBRE A REFORMA PSIQUIÁTRICA
VISITING
THE MUSEUM OF MADNESS: THE EXPERIENCE OF LEARNING ABOUT THE
PSYCHIATRIC REFORM
VISITA
AL MUSEO DE LA LOCURA: UNA EXPERIENCIA DE APRENDIZAJE SOBRE
LA REFORMA PSIQUIÁTRICA
Nadja Cristiane Lappann Botti1
Eline Mascarenhas Cotta2
Fabiano de Almeida Célio3
RESUMO:
O Museu da Loucura de uma cidade do interior do estado
de Minas Gerais é um espaço onde arte, história e memória revelam
as diferenças da psiquiatria do início do século passado e a
abordagem atual. Foi realizado um estudo qualitativo com 39
acadêmicos de Enfermagem, objetivando identificar o significado
da visita ao Museu da Loucura para os acadêmicos. O referencial
metodológico foi o Discurso do Sujeito Coletivo e o teórico
a Reforma Psiquiátrica. Os dados mostram o significado da visita
como vivência potencial de aprendizagem das dimensões da Reforma
Psiquiátrica ao conduzir o aluno a questionar as práticas e
saberes da Psiquiatria na lógica asilar.
PALAVRAS-CHAVE: Educação em Enfermagem; Saúde
Mental; Reforma dos Serviços de Saúde.
ABSTRACT: The Museum of Madness in the landscape
of the Minas Gerais State is a place where art, history and
memory disclose the differences about the Psychiatry approach
since the beginning of the last century till nowadays. A qualitative
study with 39 nursing undergraduate students was developed,
aiming to identify the meaning of the visit to the Museum of
Madness. The methodological referential was the Collective Subject
Discourse and the theoretical the Brazilian Psychiatric Reform.
The data shows the meaning of the visit as potential experience
of learning of the dimensions of the Psychiatric Reform when
leads the student to question the practice and to know of Psychiatry
in the asylum perspective.
KEY
WORDS: Nursing Education; Mental Health; Health Care
Reform.
RESUMEN: El Museo de la Locura en el estado
de Minas Gerais es un local donde arte, historia y memoria revelan
las diferencias de la abordaje de Psiquiatría del principio
del siglo pasado hasta la actualidad. Fue realizado un estudio
cualitativo con 39 estudiantes de graduación en Enfermería,
objetivando identificar el significado de la visita al Museo
de la Locura. Lo referencial metodológico fue el Discurso del
Sujeto Colectivo y el teórico la Reforma Psiquiátrica Brasileña.
Los datos demuestran el significado de la visita como experiencia
potencial de aprendizaje de las dimensiones de la reforma psiquiátrica
al conducir el académico a cuestionar la práctica y saber de
la Psiquiatría en la perspectiva asilar.
PALABRAS-CLAVE: Educación en Enfermería; Salud
Mental; Reforma en Atención de la Salud.
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INTRODUÇÃO
Segundo CHAUÌ
(1994) os antigos gregos consideravam a memória uma identidade
sobrenatural ou divina. A deusa Mnemosyn (memória), mãe das
musas, era quem protegia as Artes e a História, ela dava aos
poetas e adivinhos o poder de voltar ao passado e de lembrá-lo
para a coletividade. Para os antigos romanos, a memória ainda
possuía outra função, era considerada essencial para o aprendizado.
A constituição
histórica do conceito de loucura começa com a história da espécie
humana e a sintomatologia apresenta-se ligada à vida social,
assim a definição de loucura sofreu modificações ao longo do
tempo (JORGE & SILVA, 2000). A partir do século XIX, tem-se
início a assistência psiquiátrica brasileira, centrada no paradigma
asilar.
Historicamente
a Reforma Psiquiátrica surgiu para questionar os saberes e práticas
profissionais propostas pelo paradigma asilar, pautados na tutela,
segregação e exclusão social (AMARANTE, 1997). A reforma da
atenção ao portador de sofrimento mental é hoje uma realidade
incontestável no Brasil.
Considerando
o movimento da Reforma Psiquiátrica em curso, é importante ressaltar
que a mudança do modelo de assistência em Saúde Mental não implica
apenas em implantação de Serviços Substitutivos em Saúde Mental,
mas torna-se imprescindível uma modificação na prática profissional
pautado no modelo psicossocial, um paradigma das práticas em
Saúde Mental substitutivas ao modelo asilar (COSTA-ROSA, 2000).
SILVA FILHO
& LEIBING (1999) colocam que um dos desafios a serem enfrentados
pelo movimento da Reforma Psiquiátrica diz respeito à formação
dos recursos humanos da área da saúde para a construção de um
novo sistema de atenção em Saúde Mental. Neste sentido o ensino
da Saúde Mental e Psiquiatria do Curso de Graduação em Enfermagem
da PUC Minas – Betim visa contribuir na formação do profissional
enfermeiro a partir dos pressupostos da Reforma Psiquiátrica
Brasileira (AMARANTE, 1997) e do Paradigma Psicossocial (COSTA-ROSA,
2000).
A partir da
aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei
n. 9394/96 os projetos políticos pedagógicos dos Cursos de Enfermagem
possibilitaram maior flexibilização dos currículos, e, nesse
sentido, foi preciso ousar propondo e construindo experiências
acadêmicas criativas e inovadoras. Um outro aspecto que merece
referência diz respeito ao ensino por competência, que privilegia
pensar criticamente a realidade da saúde, com vistas a transformá-la.
E assim sendo, ressalta a importância e uma proposta metodológica
de ensino que trabalhe na perspectiva do paradigma ação-reflexão-ação
(GERMANO, 2003).
Por tais motivos
é proposta a visita dos acadêmicos de enfermagem da Pontifícia
Universidade Católica de Minas ao Museu da Loucura. Inaugurado
no dia 16 de agosto de 1996, o Museu da Loucura resgata a memória
da Psiquiatria, através de objetos, documentos, fotografias,
sons e imagens.
OBJETIVOS
O objetivo
deste estudo foi identificar o significado da visita ao Museu
da Loucura para os acadêmicos do 4° período do Curso de graduação
em Enfermagem, com vistas a conhecer possibilidades para o processo
ensino aprendizagem na temática.
REFERENCIAL TEÓRICO
E METODOLÓGICO
Por meio de
MINAYO (1999) podemos entender a pesquisa como uma atividade
básica da ciência na sua indagação da realidade. É a pesquisa
que alimenta a atividade de ensino e a alimenta frente à realidade
do mundo, assim, foi desenvolvido um estudo de natureza qualitativa
através do referencial metodológico do Discurso do Sujeito Coletivo
(DSC) proposto por LEFÈVRE & LEFÈVRE (2000).
A investigação
foi realizada com 39 acadêmicos do 4° período do Curso de Graduação
em Enfermagem. No transcorrer da disciplina de Saúde Mental
e Psiquiatria (que apresenta carga horária total de 90 horas/aula,
sendo 60 horas/aula teórica e 30 horas/aula prática) foi realizada
uma visita ao Museu da Loucura em Barbacena, no Estado de Minas
Gerais. A coleta de dados foi realizada com os acadêmicos que
participaram da visita ao Museu da Loucura. A participação no
estudo foi voluntária com consentimento livre e esclarecido.
Os dados foram coletados por meio de entrevista estruturada
respondida pelos acadêmicos após a visita ao Museu da Loucura.
Neste trabalho
investigatório tivemos 3 questões norteadoras: (1) O que significou
visitar o Museu da Loucura? (2) Qual a parte do Museu da Loucura
visitada mais significativa para você? (3) Você recomendaria
que outra pessoa visitasse o Museu da Loucura? Quem? Porquê?.
Os resultados
foram construídos através do referencial metodológico do Discurso
do Sujeito Coletivo (DSC) proposto por LEFÈVRE & LEFÈVRE
(2000). Segundo os autores a representação social é melhor visualizada
neste modo discursivo, a medida em que ela se apresenta sob
uma forma mais viva, real e direta de um discurso, pois esta
é a forma como os indivíduos pensam. A construção do DSC, requer
a utilização de figuras metodológicas elaboradas para organizar
e tabular os discursos: a Idéia Central, as Expressões-Chave,
as Ancoragens, e o Discurso do Sujeito Coletivo.
O referencial
teórico que sustenta a discussão foi o das dimensões do movimento
da Reforma Psiquiátrica Brasileira, formulado por AMARANTE (1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
AMARANTE (1997)
propõe uma periodização da Reforma Psiquiátrica Brasileira composta
de trajetórias. A primeira trajetória é definida como alternativa,
que ocorre na década de 70, quando surge o Movimento de Trabalhadores
em Saúde Mental. O segundo momento da Reforma Psiquiátrica é
o da trajetória sanitarista, iniciada nos primeiros anos da
década de 80. A trajetória da desinstitucionalização é caracterizada,
sobretudo, pelo surgimento de novos serviços, estratégias e
conceitos em Saúde Mental, a partir da década de 90. Pode se
entender, em suma que a Reforma Psiquiátrica trata-se de um
processo que tem como princípios éticos a inclusão, a solidariedade
e a cidadania.
A Reforma
Psiquiátrica (AMARANTE, 1997) é um processo histórico de formulação
crítica e prática que tem como objetivo e estratégia o questionamento
e a elaboração de propostas de transformação do modelo clássico
e do paradigma da Psiquiatria.
A Reforma
Psiquiátrica é um processo em construção permanente, porque
mudam os sujeitos, mudam os conceitos, mudam as práticas, mudam
a história. |
“A visita
ao Museu da Loucura me fez repensar muitas coisas, sobre a
minha vida, sobre o mundo, sobre as diferenças sociais que
existem em nosso país e no mundo, significou uma mudança interior,
me fez sensibilizar a respeito das pessoas que ali vivem,
que ali viveram, uma reflexão e conscientização que os portadores
de sofrimento mental tem direito a uma vida digna.
Na visita
foi possível resgatar e ver a real história da assistência
psiquiátrica, e entender como surgiu o tratamento psiquiátrico
em Minas Gerais, as formas de tratamento adotadas, as condições
vividas pelos internos e o pensamento da sociedade em relação
aos "loucos", e assim, perceber a importância da luta antimanicomial.
Enfim,
com a visita foi reafirmada a importância da visão crítica
dos profissionais enfermeiros e de todos os enfermeiros em
formação Pensar como eu posso contribuir para a efetiva socialização
e cidadania dos portadores de sofrimento psíquico.” (DSC9)
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Neste
sentido entende-se por Reforma Psiquiátrica um processo social
complexo, pois é dinâmico, plural, articulado entre si por várias
dimensões que são simultâneas e que se intercomunicam, que se
retroalimentando, se complementam. Segundo AMARANTE (1997) as
dimensões que permitem caracterizar a Reforma Psiquiátrica como
processo social complexo são: dimensão teórico-conceitual, dimensão
técnico-assistencial, dimensão jurídico-política e dimensão
sócio-cultural.
1. Dimensão teórico-conceitual
No âmbito
da Reforma Psiquiátrica, questionam-se os conceitos de doença
mental, de normalidade, de cura, de periculosidade, a função
terapêutica do hospital psiquiátrico e as relações entre os
profissionais de saúde, a sociedade e os indivíduos considerados
loucos. Segundo AMARANTE (1997) os hospitais psiquiátricos terminaram
se transformando ao longo de sua existência em grandes "depósitos",
lugares de isolamento e abandono de pessoas consideradas loucas,
que não são respeitadas na sua diferença como sujeitos. |
“A visita
ao Museu da Loucura nos coloca diante de práticas ultrapassadas
e cruéis, mostra um lugar de um século de sofrimento e exclusão
onde milhares de pessoas já morreram vítimas do agravo da
superlotação, abandono e descaso, mostra a psiquiatria da
época e suas tentativas de lidar com os desvios humanos, com
os seus métodos e sua mão de ferro para domesticar a loucura
que orientava-se pelo pressuposto isolar para cuidar.
De acordo
com o que vimos na história da assistência psiquiátrica e
podemos constatar na visita, os pacientes eram tratados de
forma cruel como se representassem um grande risco para a
sociedade, viviam em condições de higiene precária, tratados
como se fossem animais. Hoje, já não se tratam os portadores
de sofrimento mental como bichos, aprisionados em celas, com
correntes amarradas nos pés.” (DSC1)
|
No
modelo psicossocial, o louco não é uma pessoa sem razão e sem
juízo, um ser alienado, como visto na Psiquiatria Tradicional
no modelo asilar. No entendimento da Reforma Psiquiátrica, o
portador de sofrimento mental passa a ser considerado um sujeito,
portanto, não se trata de enquadrar o portador de sofrimento
mental aos padrões socialmente aceitos, mas pensar a cidadania
em termos que considerem aspectos particulares e singulares
de cada caso. |
“A importância
do Museu da Loucura é nos levar a pensar como tantos sofredores
mentais foram marginalizados e excluídos e a partir dessa
reflexão tentarmos ver o portador de uma outra maneira, porque
o Museu da Loucura não deixa que a história da Psiquiatria
em Minas e no Brasil fique arquivada num passado distante.
É possível a desmistificação e a "quebra" do preconceito do
louco. Permite imaginar um pouco da triste vida da qual os
então considerados "loucos" foram submetidos, quantos estigmas,
preconceitos, humilhações e falta de humanização, nos levando
a refletir sobre quais são os verdadeiros cuidados que hoje
estes precisam.” (DSC2)
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ROTELLI
& AMARANTE (1992) colocam que não basta substituir o manicômio
por outros serviços, mas há necessidade de uma mudança radical
que implica na construção de novas formas de entender, de lidar
e de tratar a loucura.
2. Dimensão técnico-assistencial
Um dos objetivos
específicos da Reforma Psiquiátrica é a substituição do modelo
de atendimento centrado na hospitalização e no isolamento por
uma atenção integrada ao indivíduo no seu local de domicílio,
em seu território. |
"Não
é possível ter a dimensão da Reforma Psiquiátrica se não conhecer,
por exemplo, a gigantesca área física da antiga colônia e
a maneira como era usada e como é hoje em dia.
Vi que
o indivíduo era considerado doente, não possuindo vínculo
social, vivia em um ambiente fechado, em condições precárias
de vida. Atualmente, com a proposta da Reforma Psiquiátrica,
tive a oportunidade de observar no Museu da Loucura, a verdadeira
terapêutica, com um propósito definido, de desinstitucionalização.
O tratamento hoje é voltado para a socialização com atividades
terapêuticas que possam integrar o indivíduo na sociedade,
desenvolvendo seu potencial e atendendo as diferenças individuais.”
(DSC3)
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O
modelo manicomial era realizado em instituições fechadas, baseada
na custódia, tutela, vigilância e disciplina, que promoviam
o isolamento e segregação das pessoas. A Psiquiatria Tradicional
do modelo asilar atuava sobre a doença e tinha como objetivo
a cura, com a Reforma Psiquiátrica novos conceitos e olhares
constroem outros modos de entendimento sobre a loucura, consequentemente,
promovem práticas diferenciadas. |
“A parte
mais significativa da visita ao Museu da Loucura foi a sala
de exposição dos materiais usados para o tratamento do doente
mental, como os aparelhos de eletrochoque, as seringas, a
grade das celas, e as fotos mostrando os pacientes enclausurados,
pois proporcionou uma observação da realidade vivenciada pelos
alienados naquela época, o que me trouxe muita angústia ao
me fazer refletir e tentar imaginar os sofrimentos que muitas
pessoas viveram, formas desumanizadas como também observou
Basaglia na visita a Barbacena.
Outra
parte interessante do museu é uma sala que simula um bloco
cirúrgico pois a maneira como as radiografias são mostradas,
a música de fundo com os sons de um coração, os instrumentais
cirúrgicos que se utilizavam para fazer as lobotomias, enfim
o clima que a sala proporciona nos deixa chocados com a maneira
como era tratada a loucura.” (DSC10)
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3. Dimensão jurídico-política
No campo das
políticas públicas já foram aprovadas várias portarias, resoluções
e leis voltadas para a implantação do projeto da Reforma Psiquiátrica,
em instancias municipais, estaduais e federais (BRASIL, 2002). |
“O Museu da Loucura testemunha a história dos métodos
de tratamento adotados pela Psiquiatria, quando nos deparamos
com a realidade exposta no museu cria-se uma expectativa de
mudanças concretas e duradouras que valorizem o ser humano acima
de tudo, mudanças que com a Lei da autoria do Deputado Paulo
Delgado, que prevê a extinção progressiva dos manicômios, começa
a tomar forma”. (DSC5)
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Como
conseqüência, as mudanças políticas no rumo da saúde mental
ampliam o debate sobre a situação dos pacientes psiquiátricos
internados nas instituições manicomiais, ameaçando interesses
de diversos setores da sociedade.
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“Na visita tivemos a oportunidade de compreender melhor
como a vida política, social e econômica de nosso estado influenciou
na História da Psiquiatria, isso cria alguns questionamentos
dentro de nós, que nos leva a refletir sobre o nosso papel
enquanto cidadãos, estudantes e futuros profissionais da saúde”.
(DSC4)
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4. Dimensão sóciocultural
A Reforma
Psiquiátrica ao produzir um novo espaço social para os indivíduos
considerados loucos, objetiva transformar o imaginário social,
isto é, as representações, os pré-conceitos que a sociedade
tem sobre a loucura, para tanto é preciso transportar a loucura
para fora dos muros institucionais, promovendo mudanças no interior
da sociedade, revendo valores e crenças excludentes e estigmatizantes.
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“Eu
recomendaria a visita ao Museu da Loucura de pessoas que como
eu viviam o estigma da loucura concordando com a institucionalização
do paciente e que interpretam o "louco" como um perigo para
a sociedade, que possuem o pensamento que eles devem ficar
isolados da sociedade.
Na verdade
a recomendação seria para todos: crianças, jovens, adultos,
idosos, estudantes, profissionais de saúde, políticos, pois
através do conhecimento pode-se contribuir para a não marginalização
e o não preconceito mantidos em relação aos portadores de
sofrimento mental, e desta forma proporcionar adesão dos visitantes
como membros essenciais na tolerância de qualquer doente mental”.
(DSC7)
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No
processo da Reforma Psiquiátrica pretende-se demonstrar como
é possível as pessoas consideradas loucas assumirem diversos
papéis na sociedade, ou seja, o portador de sofrimento mental
passa a ser reconhecido por suas habilidades reais e como sujeito
de direito, evitando o peso de assumir unicamente o papel de
"doente mental", assim ele deve ser reconhecido socialmente
acima de tudo como indivíduo, sendo respeitadas as suas diferenças.
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“A parte
mais interessante do Museu da Loucura são as fotos de cada
interno ou ex-interno individualmente, pois através da expressão
facial parece nos falar e demonstrar o que sentem, pois é
uma forma de mostrar que cada um é indivíduo com sua particularidade,
com sua necessidade diferente do outro. São impactantes, pareciam
ter vida e alguns olhares ocultamente chamavam por afetividade.
Foi
uma forma que o Museu encontrou de mostrar a individualidade
e a importância de cada paciente, além do mais também transmite
o estado dos pacientes cronificados, que são seres humanos
mas que expressam semblantes sofridos, tristes e miseráveis,
muito devido a anos de isolamento, descaso e perda da autonomia
e auto-estima, que pararam de viver e passaram a sobreviver
numa sobrevivência cruel.” (DSC8)
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CONCLUSÃO A
vivência acadêmica de visitar o Museu da Loucura em Barbacena,
no estado de Minas Gerais, possibilita a aprendizagem das dimensões
da Reforma Psiquiátrica ao conduzir o aluno ao questionamento
das práticas e saberes da Psiquiatria Tradicional do paradigma
asilar, por tal motivo a visita é uma experiência mobilizadora,
pois o Museu da Loucura é um espaço onde a arte, a história
e a memória se organizam para resgatar e preservar fragmentos
da psiquiatria mineira, revelando através da exibição de equipamentos,
acervo do hospital e documentações de dados coletados e pesquisados,
em todo o Estado de Minas Gerais, as abissais diferenças entre
as práticas e saberes da psiquiatria do início do século passado
e a abordagem atual do portador de sofrimento mental, assim
do alto do torreão do Museu não é possível que o passado, tempo
de horrores, seja esquecido. Além de que tal proposta em sintonia
com o Projeto Político Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem
da PUC Minas – Betim ao proporcionar diversificação dos cenários
da aprendizagem e atores envolvidos no processo pode contribuir
para a formação de profissionais enfermeiros com compromisso
social, visão ética e humanística, críticos e reflexivos e sensibilizados
com os pressupostos da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
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Texto
recebido em 25/12/2005
Publicação aprovada em 30/04/2006
1Enfermeira, Psicóloga, Dra. em Enfermagem Psiquiátrica.
Professor Adjunto III da PUC Minas – Betim. Belo Horizonte,
Minas Gerais. E-mail: nadjaclb@terra.com.br
2Acadêmica do 3° período do Curso de Graduação em
Enfermagem da PUC Minas – Betim - E-mail: eline_sl@yahoo.com.br
3Acadêmico do 3° período do Curso de Graduação em
Enfermagem da PUC Minas – Betim - E-mail: maitiz@gmail.com
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