ANTI-SEPSIA PARA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS
POR VIA ENDOVENOSA E INTRAMUSCULAR
ANTISEPSIS
THROUGH INTRAVENOUS AND INTRAMUSCULAR VIA FOR MEDICINE ADMINISTRATION
ANTISEPSIA
PARA ADMINISTRACIÓN DE MEDICAMENTOS POR VIA ENDOVENOSA Y INTRAMUSCULAR
Shirley Ribeiro Cardoso1
Lara Solana Pereira2
Adenícia Custódia Silva e Souza3
Anaclara Ferreira Veiga Tipple3
Milca Severino Pereira4
Ana Luiza Neto Junqueira5
RESUMO: A pele abriga vasta microbiota,
que poderá penetrar camadas mais internas durante a aplicação
de medicamentos por via parenteral, daí a importância da anti-sepsia
para este procedimento. Objetivamos identificar a utilização
da anti-sepsia para a administração de medicamentos por via
endovenosa e intramuscular como medida de prevenção de infecção.
Estudo descritivo, realizado com a equipe de enfermagem, em
oito unidades de um hospital de ensino do município de Goiânia-Go.
Os dados foram obtidos mediante observação e preenchimento de
check-list. Observamos 212 profissionais. Quanto à
via de administração, 19,8% dos procedimentos foram realizados
por via EV direta, 72,6% por via EV com sistema já instalado
e 7,6% por via IM. A maioria dos profissionais, 79,2%, não lavou
as mãos antes de realizar o procedimento. Das 154 medicações
feitas em sistema venoso já instalado, não foi realizada a desinfecção
do injetor de borracha em 47 (30,5%). No que se refere à anti-sepsia,
72,4% das medicações realizadas por via EV e 27,6% por via IM,
utilizaram o anti-séptico em todas as situações mas, em apenas
40,5% das injeções EV e em 37,5% das IM foram feitos os cinco
ou mais movimentos em um mesmo sentido com o algodão embebido
com álcool a 70%, que é o procedimento preconizado para a realização
da anti-sepsia da pele. Após a anti-sepsia, 25 profissionais
tocaram o local, contaminando-o, destes apenas 13 (52,0%) fizeram
nova anti-sepsia, portanto, houve a recontaminação em 12 situações.
Os dados revelam que medidas necessárias à prevenção de infecção,
na administração de medicamentos via parenteral nem sempre são
adotadas, representando um desafio à educação permanente e do
controle de infecção no hospital em estudo.
PALAVRAS-CHAVES: Agentes antiinfecciosos Locais;
Infecção Hospitalar.; Cuidados Básicos de Enfermagem.
ABSTRACT: The skin shelters vast micro biota,
which could penetrate more internal, layers during the medicine
application through parenteral via, therefore the importance
of antisepsis for this procedure. We aimed to identify the application
of antisepsis through intravenous (IV) and intramuscular (IM)
via for medicine administration as measures for the infection
prevention. Descriptive study, accomplished with a nursing team,
in eight units from an educational hospital in Goiânia’s district.
The data was obtained through observation and filling out the
check-list. We observed 212 professionals. As far as the administration
via, 19,8% of the procedures were accomplished through direct
IV via, 72,6% through IV via with an already installed system
and 7,6% through IM via. Most of the professionals, 79,2%, did
not wash their hands before accomplishing the procedure. From
the 154 medications done in the venous system already installed,
the disinfection of the rubber injector was not accomplished
in 47 (30,5%). As far as the antisepsis, 72,4% of the medications
were accomplished through IV via and 27,6% through IM via, but
spite the use of the antiseptic in all the situations, only
in 40,5% of the IV injections and in 37,5% of the IM were done
five or more movements in the same way with soaked cotton with
alcohol at 70%, which is the extolled procedure for the accomplishment
for the skin antisepsis. After the antisepsis, 25 professionals
touched the place, contaminating it, of these just 13 (52,0%)
made new antisepsis, therefore, there was recontamination in
12 situations. The data reveals that: necessary measures for
the infection prevention in the medicine through parenteral
via are not always adopted, representing a challenge for the
permanent education and for the infection control at the hospital
in study.
KEYWORDS: Local Anti-infective Agents; Hospital
Infection; Primary Nursing Care.
RESUMEN: La piel contiene vasta cantidad de
microorganismos, que podrán penetrar em las camadas más internas
durante la aplicación de medicamentos por la vía parenteral,
por esto se debe hacer la antisepsia que es muy importante para
este procedimiento. Nuestro objetivo es identificar la utilización
de la antisepsia para administración de medicamentos por vía
endovenosa y intramuscular como medida para la prevención de
infecciones. Estudio descriptivo, realizado con el equipo de
enfermería, en ocho unidades de un hospital de enseñanza en
la ciudad Goiania-GO. Los datos se obtuvieron por la observación
y rellenando listas de objetos y acciones hechas. Observamos
212 profesionales. Con respecto a la administración, 19,8% de
los procedimientos se realizaron por vía EV directa, 72,6% por
vía EV con sistema ya instalado y 7,6% por vía IM. La mayoría
de los profesionales, 79,2%, no se lavo las manos antes del
procedimiento. De las 154 medicaciones hechas en el sistema
venoso ya instalado, no se realizo la desinfección del injector
de goma en 47 (30,5%). En lo que se refiere a la antisepsia,
72,4% de las medicaciones se realizaron por vía EV y 27,6% por
vía IM, pero del uso antiséptico em todas las situaciones, solamente
en 40,5% de las inyecciones EV y en 37,5% de las IM se hicieron
los cinco o más movimientos en el mismo sentido con el algodón
embebido en alcohol a 70%, que es el procedimiento recomendado
para la realización de la antisepsia de la piel. Después de
la antisepsia, 25 profesionales tocaron el local contaminándolo,
de éstos, apenas 13 (52,0%) hicieron nueva antisepsia, por lo
tanto, hubo una recontaminación en 12 situaciones observadas.
Los datos revelan que las medidas necesarias a la prevención
de las infecciones en la administración de medicamentos vía
parenteral ni siempre son adoptadas, representando un desafio
a la educación permanente y al control de las infecciones en
el hospital en estudio.
PALABRAS-CLAVE: Agentes Antiinfecciosos Locales;
Infección Hospitalaria; Cuidados Básicos de Enfermería. |
INTRODUÇÃO
As infecções
decorrentes da administração de medicamentos pela via intramuscular
e, principalmente, pela via endovenosa são evidentes devido
a microbiota residente que, segundo MOLINA (2004) e CERQUEIRA
(1997), pode ser responsável por infecções sistêmicas graves
nos pacientes imunodeprimidos ou através de procedimentos invasivos
que permitam a sua penetração na corrente sanguínea, linfática
ou nos tecidos.
Os microrganismos
encontrados na pele e nas mucosas humanas são classificados
em microbiota residente, transitória e temporariamente residente.
A microbiota residente pode ser definida como a de microrganismos
persistentemente isolados na pele da maioria das pessoas e constituída
por aqueles que conseguem aderir, sobreviver e colonizar a superfície
das células epiteliais. Esses microrganismos multiplicam-se
em perfeito equilíbrio com os mecanismos antiinfecciosos locais
do hospedeiro, constituindo, portanto, a população estável que
só pode ser removida parcial e temporariamente pela descamação
celular natural ou forçada por procedimentos de degermação e/
ou anti-sepsia (GRAZIANO et al., 2000).
A microbiota
transitória, também conhecida como microbiota contaminante,
não colonizadora da pele, pode ser definida como a de microrganismos
isolados da pele, porém não demonstrados como consistentemente
presentes na maioria das pessoas. Resulta do contato da pele
com o meio ambiente (objeto ou outras pessoas), é extremamente
variável, não-aderente ao epitélio e, portanto, facilmente transferida
para outros indivíduos e fômites. A microbiota transitória sobrevive
na pele por curto período de tempo e é removida pelo suor ou
eliminada pelos mecanismos antiinfecciosos locais e pelos procedimentos
de limpeza, como lavagem com água e sabão (GRAZIANO et al.,
2000). Normalmente, os microrganismos sobrevivem por um curto
período de tempo, cerca de 48 horas. Entretanto, apesar desse
tempo curto, os microrganismos que compõe essa microbiota são
os principais responsáveis pelas infecções hospitalares (estafilococos
e bactérias Gram-negativas) (CERQUEIRA, 1997).
A microbiota
temporariamente residente pode ser definida como a de microrganismos
normalmente transitórios da pele ou mucosas, mas que podem comportar-se
temporariamente como residentes por períodos que variam de dias
até semanas. Como exemplo tem o Enterobacter e a Klebsiella.
Vale aqui ressaltar que os profissionais que trabalham em instituições
de saúde podem apresentar uma microbiota diferenciada nas mãos
e cavidades orofaríngeas em função da microbiota temporariamente
residente (GRAZIANO et al., 2000).
A microbiota
endógena é responsável por 70 a 80% das infecções hospitalares.
Logo, grande parte das infecções hospitalares é causada por
microrganismos próprios da microbiota humana. Com isso, pode-se
verificar quão importante é prevenir essas infecções por meio
de medidas simples, porém eficazes, como a anti-sepsia para
administração de medicamentos, tanto por via intramuscular,
como por via endovenosa, vias pelas quais se torna evidente
o risco de infecção. Assim, a inadequada preparação local da
pele do paciente antes de procedimentos invasivos, contribui
para o desenvolvimento de infecções, sendo que uma minuciosa
anti-sepsia deve ser realizada, com adequada escolha do anti-séptico
(CERQUEIRA, 1997).
Constituem
espécies microbianas encontradas com predominância na pele:
Staphylococcus epidermidis: incidência de 85-100%;
Staphylococcus aureus: incidência de 5-25%; Propionibacterium
acnes: incidência de 45-100%; Corynebacterium aeróbias
(diphtherial): incidência de 55%; Provavelmente Acinetobacter
e certos membros da família Enterobacteriaceae (GRAZIANO
et al., 2000; MOLINA, 2004).
Os estafilococos
resistentes a meticilina (MRSA) são importantes patógenos nosocomiais.
Um estudo realizado por JUNQUEIRA (2000) em uma Unidade de Terapia
Intensiva de um hospital de urgências de Goiânia-GO, mostrou
que dos 52 profissionais da saúde pesquisados acerca da presença
de estafilococos nas narinas e na saliva, todos eram portadores
deste microrganismo. Os profissionais da enfermagem representavam
82,7% da população e destes, 63,1% foram identificados como
portadores de estafilococos resistentes a meticilina (MARSA).
Portanto, a equipe de enfermagem tem um papel relevante na cadeia
epidemiológica de transmissão de infecções no ambiente hospitalar.
A autora conclui que o elevado número de profissionais portadores
desses microrganismos reflete na importância da adoção de medidas
preventivas para o controle destas infecções.
A pele forma
a primeira barrreira contra infecção, pois é uma cadeia compacta
de células que propicia uma barreira física impenetrável contra
invasão de microrganismos, os quais residem no ambiente externo
e interno (PHILLIPS, 2001). Na administração dos medicamentos
por via parenteral, há interferência no mecanismo de defesa
não-específico do hospedeiro, representado pela pele. Portanto,
para minimizar o risco de infecção durante este procedimento
é necessária a adoção de medidas assépticas que visem à redução
da carga microbiana presente na pele.
Dentre essas
medidas, a anti-sepsia é a mais importante por destruir ou inibir
o crescimento de microrganismos existentes nas camadas superficiais
(microbiota transitória) e profundas (microbiota residente)
da pele e de mucosas, pela aplicação de agentes germicidas classificados
como anti-sépticos (BRASIL, 1998).
A anti-sepsia
no local da aplicação da medicação é um procedimento relativamente
simples, barato, e certamente, estará evitando possíveis complicações
tais como abscessos, flebites, tromboflebites, que são as infecções
mais comuns decorrentes da injeção por via endovenosa (CARVALHO,
2000; CASSIANI, 1998; COIMBRA, 1999; SOUZA & JUNQUEIRA,
2001). Ainda, as infecções primárias da corrente sanguínea (IPCS)
têm grande importância no contexto das infecções hospitalares,
pelo seu alto custo e, principalmente, pela alta mortalidade
a elas atribuída, que varia de 14 a 38% (RICHTMANN, 1997).
Apesar do
risco de infecção ser menor em injeções intramusculares, se
comparada às endovenosas, não podemos esquecer que a microbiota
residente (endógena) está presente na pele da maioria das pessoas
e poderá trazer infecções com sérias conseqüências, caso não
haja uma anti-sepsia adequada antes da realização deste procedimento
(AYLIFFE et al., 1998; CERQUEIRA, 1997; MOLINA, 2004).
Para uma adequada
anti-sepsia prévia à administração de medicamentos por via parenteral,
recomenda-se que a pele do local a ser injetado deva ser completamente
limpa, friccionando-se etanol ou isopropanolol a 70%, retirando
o excesso de álcool do algodão e fazendo pelo menos cinco (5)
movimentos em um mesmo sentido e deixando secar (AYLIFFE, et
al., 1998; CARVALHO, 2000; CASSIANI, 1998; COIMBRA, 1999; SOUZA
& JUNQUEIRA, 2001).
Essas medidas,
simples e eficazes, muitas vezes são desprezadas pelos profissionais
de saúde, que ignoram a eficiência de uma adequada anti-sepsia.
Assim, esses profissionais, representam um importante papel
na transmissão de patógenos nos ambientes assistenciais, refletindo
no aumento da gravidade das doenças, no tempo de internação,
no número de complicações e nos custos econômicos e sociais
dos tratamentos.
Medidas profiláticas
em relação às infecções têm sido alertadas por vários autores,
principalmente para aqueles pacientes hospitalizados, nos quais
a presença de microrganismos multirresistentes apresenta relevante
papel epidemiológico (KLUYTMANS et. al., 1997). Assim, vimos
a necessidade de pesquisar em um Hospital Escola, junto à equipe
de enfermagem, como está sendo realizada a anti-sepsia prévia
à administração de medicamentos por via intramuscular e via
endovenosa, visando à prevenção e controle das infecções relacionadas
a estes procedimentos.
Estes dados
poderão contribuir para a normatização do serviço em relação
a esse procedimento e para que o planejamento da educação continuada
contemple essa temática.
OBJETIVO
Identificar, junto
à equipe de enfermagem, a utilização da anti-sepsia para administração
de medicamentos injetáveis por via endovenosa e intramuscular
como medida de prevenção de infecção em um hospital de ensino
de Goiânia-GO.
METODOLOGIA
Estudo descritivo, realizado em oito unidades de atendimento
(Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Pronto Socorro, UTI Médica,
UTI Cirúrgica, Pediatria, Maternidade e Ortopedia) de um hospital
de ensino na cidade de Goiânia – GO.
O projeto de pesquisa foi aprovado por um comitê de ética em
pesquisa e fizeram parte do estudo os membros da equipe de enfermagem,
responsáveis pela administração de medicamentos injetáveis por
via endovenosa e intramuscular, que concordaram em participar,
mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido,
que foi assinado pelo sujeito da pesquisa após o período de
observação.
O período utilizado para a coleta dos dados foi de 09/10/04
a 12/01/05, nos três períodos da escala de trabalho (matutino,
vespertino e noturno). A obtenção dos dados foi mediante observação,
utilizando-se check-list, atendendo aos aspectos ético-legais.
Cada profissional foi observado na realização de um procedimento.
O roteiro para esta finalidade foi validado, quanto à forma
e conteúdo, mediante apreciação por três especialistas em controle
de infecção, além de ser pré-testado com vistas à análise da
sua operacionalidade.
Os dados coletados foram processados, dispostos em tabelas
e analisados por meio de estatística descritiva, com a ajuda
do programa Epi-Info versão 6.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram observados 212 profissionais durante a administração
de medicamentos injetáveis intramusculares e endovenosos em
oito unidades de atendimento do Hospital em estudo. Os profissionais
que realizaram esses procedimentos, 10 (5.0%) eram enfermeiros,
195 (92.0%) técnicos de enfermagem e sete (3.0%) auxiliares
de enfermagem. A Tabela 1 apresenta as vias de administração
de medicamentos segundo a categoria profissional.
Tabela 1 - Distribuição das vias utilizadas
para a administração de medicação endovenosa e intramuscular,
segundo a categoria profissional. Goiânia, 2004-2005
O hospital
onde foi realizada a coleta dos dados recebe pacientes cuja
característica clínica exige longo tempo de hospitalização,
isso explica o fato de grande parte das medicações serem realizadas
por via endovenosa com sistema já instalado, a fim de manter
acesso venoso contínuo e diminuir o número de procedimentos
invasivos. Portanto, observamos também, a realização da desinfecção
nos injetores de borracha para a administração de medicamentos
por via endovenosa em sistema já instalado. A Tabela 2 apresenta
esta e outras medidas de prevenção de infecção utilizadas, segundo
a categoria profissional.
Tabela 2 - Distribuição das medidas de prevenção
de infecção utilizadas na administração de medicamentos (n =
212), segundo a categoria profissional. Goiânia 2004-2005
A higienização
das mãos é uma medida simples, porém muito eficiente na prevenção
da infecção hospitalar, especialmente a infecção cruzada. Observamos
que apenas 44 (20.7%) profissionais higienizaram as mãos ao
administrar medicamentos. E destes, oito profissionais não utilizaram
sabão e três não fizeram uso de papel toalha para a higienização
das mãos. Somente um membro da equipe - técnico de enfermagem
- higienizou as mãos conforme a técnica preconizada. A maioria
dos profissionais, 168 (79,2%), não higienizaram as mãos antes
da administração de medicamentos por via parenteral. Destes,
sete eram enfermeiros, 155 técnicos e seis auxiliares de enfermagem.
Diante desses dados, podemos perceber que os profissionais não
estão conscientes da utilização e da forma correta deste procedimento,
uma vez que apresentam baixa adesão a esta medida básica de
precaução padrão.
É consenso
na literatura a importância da adesão à higienização das mãos
pelo profissional de saúde, visto que se constitui em um procedimento
simples e de baixo custo na redução da microbiota transitória
das mãos, atuando como método preventivo das infecções hospitalares,
reduzindo consideravelmente os casos das mesmas. A higienização
das mãos deve se processar sempre que as mesmas estiverem visivelmente
sujas, antes e após o contato com os pacientes, particularmente
com aqueles imunologicamente comprometidos e após remoção das
luvas (GRAZIANO et al., 2000).
Para cuidados
gerais dos pacientes, a higienização das mãos com sabão neutro
sem anti-séptico, é o suficiente para atingir o objetivo de
remover resíduos, matéria orgânica e a microbiota transitória
das mãos. No entanto, sabe-se que a sua eficácia depende de
vários fatores, tais como: volume de sabão, tempo de fricção,
lavagem de toda a superfície das mãos e número de microrganismos
sob as unhas. O enxágüe deve ser rigoroso para remoção dos resíduos
de sabão e a secagem deve ser realizada por toalhas de papel.
A infra-estrutura para higienização das mãos (pias, saboneteiras
e toalheiros) deve ser de fácil acesso, próxima às áreas de
assistência (MOLINA, 2004). Neste estudo observou-se que nem
sempre a instituição disponibiliza sabão e papel toalha para
a higienização das mãos, também foi observado que as pias, muitas
vezes, se encontravam entupidas ou mesmo estragadas.
Os dados da
Tabela 2 também revelam que os profissionais subestimam a importância
da desinfecção do injetor de borracha anteriormente à administração
de medicamentos por via endovenosa com sistema já instalado,
já que 30,5% dos profissionais não realizaram essa medida preventiva.
Isso talvez seja explicado pelo fato desses funcionários acreditarem
que, por não ser preciso uma punção direta no paciente, não
seja necessário adotar técnicas assépticas. Entretanto, esta
punção pode introduzir no sistema venoso, estéril, microrganismos
que estejam aderidos à parte externa do equipamento de infusão.
A Tabela 3
apresenta como os profissionais observados realizam a técnica
de anti-sepsia previamente à administração de medicamentos pelas
vias endovenosa e intramuscular.
Tabela 3 - Apresentação da técnica de anti-sepsia
prévia à administração de medicamentos, segundo a via utilizada.
Goiânia, 2004-2005
Os anti-sépticos
são formulações hipoalergênicas, de baixa causticidade, com
função de matar ou inibir o crescimento de microrganismos quando
aplicados sobre tecidos vivos, em geral a pele ou mucosas. Os
agentes anti-sépticos que atualmente mais satisfazem as exigências
para aplicação em tecidos vivos - e recomendados pelo Ministério
da Saúde - são soluções iodadas (2,5%), a clorexidina (2% a
4%), as soluções alcoólicas (70%), os iodóforos (liberação de
1% de iodo ativo), as formulações à base de sais de prata, as
soluções aquosas de permanganato de potássio e outros princípios
ativos que cumpram a legislação específica (CERQUEIRA, 1997;
MOLINA, 2004; USBERCO et al, 2000).
MOLINA (2004)
baseado no “New and Non Official Drugs” (NND) refere que a seleção
de um anti-séptico deve considerar algumas propriedades e requisitos
tais como: amplo espectro de ação, ação rápida, efeito residual,
efeito cumulativo, baixa toxicidade, baixa inativação por matéria
orgânica, ser estável e não corrosivo, ter odor agradável e
boa aceitação pelo usuário, custo acessível e disponibilidade
no mercado local e, veiculação funcional em dispensadores ou
embalagens de pronto uso.
O álcool a
70% é o produto padronizado nesta unidade de saúde, por ser
recomendado para procedimentos imediatos, como injeções e cateterização
venosa periférica, ter ação germicida quase imediata, mesmo
não possuindo ação residual. Além disso, a concentração a 70%
tem sido a mais indicada, por causar menor ressecamento da pele
e possuir, dentre outras concentrações, a maior eficácia germicida
(ANDRADE et al., 2002; CERQUEIRA, 1997; MOLINA, 2004; SANTOS
et al., 2002).
A preparação
e administração de infusões endovenosas deve ser realizada com
cuidados rígidos de assepsia. A pele do local da infusão deve
ser completamente limpa com etanol a 70% ou isopropanolol, com
ou sem adição de clorexidina, ou PVP-I e deixada secar. O local
não deve ser tocado após a anti-sepsia. Rigorosas técnicas assépticas
tanto para inserção do cateter quanto nos cuidados subseqüentes
garantem uma considerável redução nos índices de infecção da
corrente sanguínea (AYLIFFE et al, 1998; FERNANDES & FILHO,
2000). O álcool a 70% é uma ótima alternativa usada com o intuito
de reduzir esses riscos, sendo este produto de baixo custo e
fácil aplicação, não justificando assim a negligência do não
uso (ANDRADE et al., 2002; AYLIFFE et al., 1998; CERQUEIRA,
1997; MOLINA, 2004; SANTOS et al, 2002).
Apesar de
todos os profissionais terem utilizado o anti-séptico recomendado,
em apenas 17 (40.5%) das injeções endovenosas, em 6 (37.5%)
intramusculares e em 23 (14.9%) com sistema venoso já instalado
foram feitos os cinco ou mais movimentos em um mesmo sentido
com o algodão embebido com álcool a 70%, que é o procedimento
preconizado para a realização da anti-sepsia da pele/ desinfecção
do injetor de borracha. A realização da limpeza da região, verificando
a presença ou não de sujidade, sendo necessária a mudança da
face do algodão ou mesmo a sua troca, foi realizada por apenas
três profissionais, sendo que seis mudaram a face do algodão.
Isso indica que nem sempre esta prática está relacionada com
a conscientização da importância de uma anti-sepsia correta,
sendo um procedimento mecânico, sem a preocupação com o seu
objetivo, que é a redução da microbiota presente na pele, a
fim de evitar infecções (AYLIFFE et al., 1998; CARVALHO, 2000;
CASSIANI, 1998, COIMBRA, 1999; SOUZA & JUNQUEIRA, 2001).
Do total de
procedimentos, 58 (27.36%) envolvem a anti-sepsia. Destes, em
7 (43.7%) injeções intramusculares, e em 21 (50.0%) injeções
endovenosas, os profissionais deixaram o anti-séptico secar
antes da aplicação do medicamento, os outros aplicaram a droga
com a pele ainda úmida. Os Centers for Disease Control and Prevention
- CDC (2002) recomendam que se permita que o anti-séptico seque
por ação do ar antes do procedimento.
De acordo
com a recomendação dos CDC (2002), a palpação do local de injeção
não deve ser feita após a aplicação de anti-séptico, a menos
que seja mantida uma técnica asséptica. Neste estudo, observou-se
que após a anti-sepsia, 25 profissionais tocaram o local, contaminando-o
(24 vezes para injeção EV e 1 vez para injeção IM), porém 13
(52,0%) fizeram nova anti-sepsia (12 para injeção EV e 1 para
injeção IM). Portanto, houve a contaminação em 12 situações,
tornando-se um fator preocupante, já que as mãos constituem
importantes disseminadores de germes, aliadas ao ambiente hospitalar
e aos fatores intrínsecos do paciente (ANDRADE et al., 2002;
JUNQUEIRA, 2000).
Apesar das
normas de órgãos competentes e estudos realizados, a equipe
de enfermagem não adota medidas preventivas simples e que podem
evitar grandes transtornos para o paciente, visto que neste
estudo verificou-se que todos profissionais utilizaram o anti-séptico
recomendado, porém nem todos utilizaram a técnica preconizada.
Diante disso, fazemos uma reflexão sobre a importância de aprofundar
essa temática durante a formação desses profissionais e a necessidade
de investir na educação permanente, de forma a promover mudanças
nessa realidade.
Além da higienização
das mãos para administração de medicamentos injetáveis IM e
EV, AYLIFFE et al (1998) recomendam que as luvas devam ser utilizadas
como proteção para o profissional sempre que houver riscos de
contato com sangue e secreções. Observamos, quanto aos procedimentos
que exigiam o uso de luvas, que somente 31,03% (18/58) dos profissionais
adotaram essa precaução. As luvas foram utilizadas somente em
40,5% (17/42) das injeções endovenosas e em 6,3% (1/16) das
injeções intramusculares (Fig. 1). De acordo com os CDC (2002),
a técnica asséptica apropriada não requer necessariamente luvas
estéreis, um par de luvas não estéreis descartáveis poderá ser
utilizado em conjunto com uma técnica “sem toque”.
Figura 1 - Distribuição do uso de luvas pela
equipe de enfermagem para a administração de medicamentos, segundo
a via. Goiânia 2004-2005
Os dados indicam
a necessidade de investimento na educação permanente sobre os
aspectos de prevenção e controle de infecção hospitalar, não
apenas relacionados aos pacientes, mas também direcionados à
proteção profissional, pois nesse caso o uso das luvas tem a
finalidade de proteção individual. Reforçamos a proposição de
TIPPLE (2000) de que para um resultado mais positivo e consciente
das atividades desenvolvidas, que são resultantes da formação
anterior do indivíduo, é necessário investir também na formação
acadêmica, que tem se mostrado deficiente quanto ao ensino e
a prática do controle de infecção.
CONCLUSÃO
Ao administrarmos
medicamentos pelas vias endovenosa e intramuscular, estamos
rompendo a primeira barreira de proteção, que é a pele. Assim,
torna-se necessário o uso de medidas preventivas, como a anti-sepsia
da pele anteriormente a esses procedimentos, visando impedir
a penetração de microrganismos nas camadas mais profundas da
pele e com isso, diminuir a possibilidade da instalação de processo
infeccioso.
Neste estudo, verificamos
que há resistência por parte dos profissionais da equipe de
enfermagem, em adotar medidas simples, mas que podem evitar
danos ao paciente, visto que, no hospital de ensino onde foi
realizada a pesquisa, a anti-sepsia prévia à administração de
medicamentos por via endovenosa e intramuscular não está sendo
realizada como forma de prevenção das infecções. Vimos que apesar
de todos os profissionais da equipe de enfermagem terem utilizado
o algodão embebido em álcool a 70%, a maioria não realizou a
anti-sepsia de acordo com a técnica preconizada.
Também as medidas
complementares à anti-sepsia, tais como a higienização das mãos,
o uso de luvas e a desinfecção dos injetores de borracha para
as medicações que foram realizadas em sistema venoso já instalado,
se mostraram bastante falhas, pois a maioria dos profissionais
não lavou as mãos antes de realizar o procedimento e não fez
uso de luvas nas situações que prescindiam essa precaução. No
que se refere à desinfecção dos injetores de borracha, grande
parte dos funcionários negligenciaram essa medida de prevenção.
Acreditamos que trabalhando
a educação permanente com os profissionais de enfermagem é possível
uma conscientização da necessidade destes procedimentos como
medida de prevenção das infecções a fim de se obter qualidade
da assistência na administração de medicamentos injetáveis endovenosos
e intramusculares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.
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Texto
recebido em 25/01/2006
Publicação aprovada em 30/04/2006
1 Graduanda em Enfermagem. Universidade Federal
de Goiás – UFG. e-mail: shirleyribeiro_enf@yahoo.com.br
2 Graduanda em Enfermagem. Universidade Federal
de Goiás – UFG. e-mail: lara_enf2005@hotmail.com.br
3 Professoras doutoras da Faculdade de Enfermagem.
Universidade Federal de Goiás – UFG.
4 Doutora em enfermagem. Reitora da Universidade
Federal de Goiás – UFG.
5 Orientadora. Professora mestra da Faculdade de
Enfermagem. Universidade Federal de Goiás – UFG. e-mail: ananeto@fen.ufg.br
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