ARTIGOS ORIGINAIS/ORIGINAL PAPERS/ARTICULOS ORIGINALES |
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SANTOS,
Silvana de Lima Vieira dos; SOUZA, Adenícia Custódia
Silva e; TIPPLE, Anaclara Ferreira Veiga; SOUZA, Joaquim
Tomé de. O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO
SUPERIOR NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS IMUNOPREVENÍVEIS.
Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 08, n. 01,
p. 91– 98, 2006. Disponível em http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen |
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O
PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS
IMUNOPREVENÍVEIS
THE
ROLE OF HIGHER EDUCATIONAL INSTITUTIONS IN PREVENTING IMMUNEPREVENTABLE
DISEASES
EL
PAPEL DE LAZ INSTITUCIONES DE ENSEÑAZA UNIVERSITÁRIA EN LA PREVENIÓN
DE LAS ENFERMIDADES INMUNOPREVENIBLES
Silvana de Lima Vieira dos Santos1
Adenícia Custódia Silva e Souza2
Anaclara Ferreira Veiga Tipple2
Joaquim Tomé de Souza3
RESUMO:
Estudo descritivo, realizado com alunos do último ano
dos cursos de graduação da área de saúde, que objetivou caracterizar
a atuação das Instituições de Ensino Superior (IES) na orientação
do graduando quanto à vacinação, às doenças imunopreveníveis
de importância para os Profissionais da Área de Saúde (PAS),
em Goiás. Realizamos o teste piloto e com auxílio do software
Epi-info, versão 2004, calculamos um n=651, o que corresponde
a 54,0 % da população de estudo, com intervalo de confiabilidade
de 95%. Foram observados os aspectos ético-legais. Os dados
foram obtidos por meio de questionário, apresentados em figuras
e tabelas e analisados por meio de estatística descritiva. Afirmaram
ter sido orientados sobre as vacinas 92,0% dos estudantes. A
informação foi obtida por meio de disciplina curricular em 32,3%,
e da direção da faculdade em 13,6% das citações. Reconhecem
como vacinas recomendadas aos PAS: a anti- hepatite B em 94,8%,
a anti-difteria e tétano em 77,3% das citações. Embora as IES
em Goiás estejam abordando esta temática, a fazem de forma fragmentada
e pouco consistente.
PALAVRAS
CHAVES: Exposição Ocupacional; Saúde do Trabalhador;
Imunização.
ABSTRACT: This is a descriptive study peformed
with the undergraduating students (last graded) in the health
field. We aimed at characterizing the performance of the Higher
Educational Institutions (HEI) in orientating such students
concerning vaccination, immunepreventable diseases of high importance
to heath care professionals (HCP), in Goiás. A sample test was
carried out using Epi-Info 2004 Software, n=651, which corresponds
to 54,0% of the studied population, reliability interval of
95%. The ethical-legal aspects of the research were observed.
Data was collected through questionnaire, shown in figures and
tables, and assessed by descriptive statistics. Of the students,
92, 0% reported having been orientated towards vaccination.
lnformation was obtained by the means of curricular subject
in 32,3%, and the faculty directors accounting for 13,6% of
reports. Vaccines which are known as recommended to such professionals
are: anti-hepatitis B in 94,8%, anti-diphtheria and anti-tetanus
in 77,3% of the citations. Although the HEI in Goiás have been
discussing such issue, they do that in a fragmented and little
consistent way.
KEY
WORDS: Occupational Exposure; Occupational Health;
Immunization.
RESUMEN:
Estudio descriptivo realizado con alumnos del último
año de estudios, de los cursos de graduación en el area de la
salud, tuvo como objetivo la actuación de las Instituciones
de Enseñanza Superior dando orientación al graduando en lo que
se refiere a la vacunación de las enfermidades inmunoprevenibles
importantes para los profesionales del area de la salud (PAS),
en Goiás. Realizamos el test modelo y con el auxilio del software
Epi-info, versão 2004, calculamos un n=651, lo que corresponde
a 54,0% de la población estudiada, con un intervalo de confiabilidad
de 95%. Los aspectos éticos-legales fueron observados. Los datos
fueron obtenidos mediante un cuestionario, presentados en figuras
y tablas, analizados mediante estadística descriptiva. Confirmaron
haber sido orientados sobre las vacunas 92,0% de los estudiantes.
La información fue obtenida mediante disciplina del currículo
de estudios en 32,3% y en la dirección de la facultad en un
13,6% de las citaciones. Son reconecidas como vacunas recomendadas
a los PAS: la anti-¬hepatitis B en 94,8%, la anti-difteria y
anti-tetánica en 77,3% de las citaciones. Aunque las IES en
Goiás estén abordando este tema, lo realizan de forma fragmentada
y de poca consistencia.
PALABRAS
CLAVES: Exposición Ocupacional; Salud Laboral; Inmunización. |
INTRODUÇÃO
Os Profissionais
da Área de Saúde (PAS) estão expostos a vários tipos de riscos
ocupacionais, sendo de maior impacto, o risco biológico.
O risco ocupacional
biológico está presente ao manusear, de forma direta ou indireta,
material orgânico de pacientes portadores de diversas patologias,
sendo este, fonte de transmissão de microrganismos para pacientes
e para outros profissionais (HOEFEL & SCHNEIDER, 1997; QUEIROZ,
1998).
Os trabalhadores
da área de saúde estão potencialmente expostos a diferentes
tipos de agentes, tais como: vírus, bactérias, fungos, protozoários
e ectoparasitas. O sangue e as vias aéreas representam as principais
formas de contágio, seja por meio de acidentes com perfurocortantes,
respingo de sangue em mucosas ou pela inalação de aerossóis
ou gotículas (GOIÁS, 2003).
Ao relacionarmos
este risco a estudantes, se torna mais preocupante, pois observamos
que a prevenção e controle das doenças imunopreveníveis não
têm sido tratadas com a ênfase esperada, embora recomendada
pelo CDC (CDC, 2001) e Ministério da Saúde (BRASIL. MS, 2004).
TIPPLE (2000),
ao investigar o estado vacinal de alunos de Odontologia de Goiânia,
encontrou um alto percentual de adesão às vacinas que integram
o esquema preconizado para a infância, chamando a atenção o
fato de 6,4% destes alunos não referirem imunização anti-hepatite
B, embora tenha sido implantada na Faculdade uma campanha de
vacinação, após o ingresso desses alunos. Neste mesmo estudo,
identificou-se ainda que a hepatite B não é a doença infecto-contagiosa
que mais os preocupa, sendo citada a hepatite B por 58,0% dos
alunos, enquanto 91,1% referiram a AIDS.
CARVALHO et
al (1998), em um estudo sobre hepatite B com o objetivo de identificar
o perfil de proteção em estudantes dos cursos de Medicina, Odontologia
e Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), verificaram
que 49,0% dos entrevistados haviam recebido a vacina anti-hepatite
B; 32,4% afirmaram não ter recebido e 18,5% não sabiam informar,
ou seja, 51,0% dos estudantes estavam com baixo nível de proteção
e com risco aumentado de adquirirem infecção. Os autores ressaltam
a necessidade de se tornar obrigatória a comprovação da vacinação
no ato da matrícula, pois somente por meio deste procedimento
poderá ser garantido que os mesmos se protejam.
Em estudo
realizado por REYN et al (2001), cujo objetivo foi analisar
reações de teste de sensibilidade com proteínas derivadas do
Mycobacterium tuberculosis e avium, entre PAS e estudantes de
Medicina, identificaram que dos 395 estudantes somente 5,0%
haviam recebido a BCG e do total geral de sujeitos (784), somente
3,0% haviam recebido a vacina BCG.
SOARES et
al (2004), verificaram a prevalência da prova tuberculínica
positiva, entre alunos da Faculdade de Medicina de Campos (RJ),
e observaram que as taxas foram crescentes, de acordo com o
progredir das atividades práticas com 13,1% em alunos do último
ano. Ressaltam que, as políticas públicas no Brasil priorizam
a detecção do paciente bacilífero e do tratamento adequado,
e pouca ou nenhuma ênfase é dada à biossegurança, no que se
refere à TB, dos estudantes de Enfermagem e Medicina, e recomendam
a realização de estudos pelo Ministério da Saúde, para validar
a indicação de revacinação por BCG, bem como implantação de
políticas nas Faculdades da área de saúde.
MALLET &
BUCCI (1994), realizaram um estudo para identificar a situação
vacinal de estudantes de Farmácia, nos Estados Unidos, e verificaram
que 53,0% das escolas ofereciam a vacina MMR (sarampo, caxumba
e rubéola), 51,0% a vacina contra tétano, 44,0% a vacina contra
a hepatite B, e 5,0% outras vacinas. E concluíram que muitas
Escolas de Farmácia não aderem às recomendações sobre imunização,
fornecidas pelos CDC, para os PAS.
STACHDRA et al (2005), analisaram a situação vacinal dos graduandos
do curso de Enfermagem e Fisioterapia das Faculdades Integradas
Guarulhos e identificaram que 44,7% dos graduandos estavam com
as vacinas atrasadas.
Independente
da maneira como tem sido tratada esta temática nas instituições,
espera-se que durante a formação acadêmica o aluno seja preparado
quanto a medidas de promoção da saúde e prevenção de agravos,
para si e para o cliente, podendo assim atuar de forma consciente
e transformadora da realidade concreta.
A adesão a
medidas ou programas de controle de infecção, só se concretiza
quando há a compreensão de suas bases, sendo a educação um elemento
fundamental neste processo (APECIH, 1998; BOLYARD et al, 1998).
Percebemos,
por meio dos estudos com acadêmicos de cursos da área de saúde,
que as instituições de ensino não têm abordado de forma efetiva,
a prevenção e controle das doenças infecciosas. Entretanto,
estes estudos trazem à luz a discussão da não-adesão à imunização
e a falta de políticas nas IES, para que sejam alcançados maiores
percentuais de graduandos vacinados.
Visando mudanças
no cenário nacional, e na tentativa de garantir maiores coberturas
vacinais, no ano de 2004, o Ministério da Saúde do Brasil com
a Portaria nº 597, torna obrigatório em todo território nacional,
para efeito de matrícula em Universidades, o comprovante de
vacinação atualizado, de acordo com o calendário de vacinação
e faixa etária estabelecidos pelo Programa Nacional de Imunização
(BRASIL. MS, 2004)
OBJETIVO
Caracterizar
a atuação da Instituição de Ensino Superior na orientação do
graduando quanto à vacinação às doenças imunopreveníveis de
importância para os PAS.
METODOLOGIA
Estudo descritivo
sobre a atuação das Instituições de Ensino Superior no Estado
de Goiás, na orientação dos graduandos de cursos da área de
saúde, realizado, no período de abril a junho de 2005.
A população e amostra
foram constituídas por alunos dos cursos da área de saúde, credenciados/autorizados
pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), no Estado de Goiás,
obtivemos 31 cursos em funcionamento, onde participaram do estudo
19, os quais tinham alunos cursando o último ano/semestre em
2005.
Realizamos o teste
piloto e com auxílio do software Epi-info, versão 2004, calculamos
um n=651, o que corresponde a 54,0 % da população, com intervalo
de confiabilidade de 95%. Foram observados os aspectos ético-legais
da pesquisa. Os dados foram obtidos por meio de questionário,
que foi validado por três juízes. A aplicação do instrumento
foi em sala de aula. O banco de dados foi estruturado e processado
no programa Epi-info, versão 2004 (CDC, 2004) e os dados apresentados
em figuras e tabelas e analisados por meio de estatística descritiva.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram do estudo 777 acadêmicos de cursos da área de
saúde o que corresponde a 68,5% dos graduandos matriculados
no último ano/período dos cursos em 2005 (Tabela 1), superando
assim o quantitativo inicialmente esperado que era de 651 estudantes,
ou seja, 54,0%.
Tab.1 - Distribuição de graduandos dos cursos
da área de saúde que participaram do estudo, em relação ao
número de alunos matriculados no último ano de cada curso
em 2005. Goiás, 2005
Quanto à distribuição
dos graduandos estudados de acordo com o curso, na Tabela 2,
observa-se que a categoria com maior representatividade é a
de Enfermagem com 182 (23,4%) dos sujeitos, seguida pela Farmácia
com 172 (22,1%) e a Odontologia com 107 (13,8%). Este fato se
deve a um maior número de cursos de Enfermagem, em relação aos
demais, pois no Estado de Goiás existem dez cursos de Enfermagem.
Tab.2 - Distribuição da freqüência e porcentagem
de graduandos estudados por cursos da área de saúde. Goiás,
2005
A idade dos
acadêmicos variou de 20 a 55 anos de idade, com média de 34,7
anos. A faixa etária com maior predominância é de 20 a 30 anos
com 650 (86,1%) dos sujeitos, o que demonstra uma população
jovem, em sua maioria, freqüentando os cursos superiores na
área de saúde.
O papel das IES na prevenção de doenças imunopreveníveis
As Instituições de
Ensino Superior tem papel primordial na prevenção e controle
das doenças imunopreveníveis, pois é durante a formação acadêmica
que se fundamentam conceitos e é construído o conhecimento.
Ao verificarmos sobre a orientação acerca da imunização durante
a graduação, apresentada na Figura 1, 710 (92,0%) dos estudantes
afirmou ter sido orientada, o que caracteriza a participação
das IES na formação do graduando quanto à prevenção de doenças
infecciosas.
Fig. 1 Distribuição da porcentagem de graduandos
dos cursos da área de saúde, segundo o recebimento de orientação
acerca da necessidade de imunização. Goiás, 2005
Apesar de
ser significativo o percentual de alunos orientados sobre imunização
como prevenção de doenças, observamos na Tabela 3, que em apenas
dois cursos, Medicina e Biomedicina todos os graduandos relataram
ter recebido esta orientação.
O conhecimento
construído na academia é fundamental e tende a ser aplicado
e repetido pelo trabalhador, quando inserido no mercado de trabalho
(AZAMBUJA et al, 2004). Portanto, durante a graduação, os egressos
devem ter “construído a compreensão dos aspectos teóricos e
práticos da prevenção e controle das infecções relacionadas
aos serviços de assistência a saúde, pois constituirão elementos
de uma atuação profissional coerente” (MELO, 2005 p.69).
Tab.3 Distribuição dos graduandos da área
de saúde, orientados a se imunizarem durante a graduação,
segundo o curso. Goiás, 2005
As vacinas
recomendadas durante a graduação, citadas com maior freqüência
(Tabela 4), foram a vacina anti-hepatite B por 478 (61,5%),
anti-difteria e tétano por 457 (58,8%), anti-amarílica por 223
(28,7%) e contra hepatite por 134 (17,2%) dos graduandos.
Tab.4 Distribuição da freqüência e porcentagem
de vacinas recomendadas aos graduandos dos cursos da área
de saúde, durante a graduação. Goiás, 2005
Destacamos
nesta tabela que 23 graduandos (2,9%) citaram outras vacinas,
dentre as quais a anti-caxumba e a anti-sarampo, mostrando não
serem relevantes dentro da estatística descrita. Estes dados
demonstram que, apesar das instituições de ensino orientarem
seus alunos sobre a imunização, este ensino tem sido frágil,
não explicitando quais vacinas devem ser recomendadas para os
profissionais da área de saúde, mesmo estando preconizado pela
Comissão Estadual de Controle de Infecção Hospitalar (CECIH),
(GOIÁS, 2003).
Identificamos
que, apenas uma unidade de ensino de nossa amostra, certifica
no ato da matrícula se o aluno está com o cartão de vacinas
em dia e, caso não esteja, solicita começar o esquema vacinal
e apresentar o comprovante. No ano de 2004, com a Portaria 597,
o Ministério da Saúde torna obrigatória a vacinação como requisito
para matrícula em instituições de ensino (BRASIL. MS, 2004).
O descumprimento desta portaria pode expor os graduandos, que
em alguns cursos começam precocemente a prática clínica.
Estudo realizado
por COOK et al (1993), em colégios e universidades americanas,
identificou que 55,0% destas instituições de ensino solicitam
o comprovante de vacinação, no ato da matrícula.
Dentre as
19 instituições estudadas, observamos que somente três IES disponibilizam
as vacinas na própria instituição e as demais orientam seus
graduandos a procurarem as unidades básicas de saúde dos respectivos
Municípios. Verificamos que dezoito unidades recomendam aos
graduandos, que se vacinem antes de iniciarem as atividades
práticas, sem, entretanto, comprovação posterior. Há mais de
dez anos, já havia esta preocupação (COOK et al, 1993) e como
pode ser verificado, não houve mudanças significantes no decorrer
destes anos, mesmo se tratando de diferentes realidades.
Apresentamos,
na Tabela 5, as fontes de informação dos graduandos sobre as
vacinas recomendadas aos PAS. As mais citadas foram: disciplina
curricular com 293 (37,7%) seguida pela direção da faculdade
com 259 (33,3%), sendo a instituição de ensino, a fonte dessas
orientações em grande parte dos cursos.
O profissional
da área de saúde, que se encontra em situação permanente de
exposição ao sangue, além de se vacinar contra a hepatite B,
recomenda-se a realização do teste anti-HBs, para conhecimento
da resposta vacinal, tendo como objetivo conferir se o indivíduo
adquiriu imunidade, e auxiliar na profilaxia pós-exposição ocupacional
(APECIH, 1998; CONCEIÇÃO et al, 2000; CDC, 2001).
Identificamos,
na Tabela 5, que a orientação para realizar o exame anti-HBs,
ocorreu por meio de disciplina curricular, como citado por 251
alunos (32,3%); 106 (13,6%) citaram a direção da faculdade e
89 (11,5%), por meio de colegas. Consideramos baixo o número
de alunos orientados quanto à realização de um exame de tamanha
importância, corroborando, mais uma vez, com as nossas indagações
quanto à consistência da construção desse conhecimento pelos
acadêmicos, no decorrer da graduação.
Ainda, em
relação à disciplina curricular enquanto fonte de informação
sobre as vacinas, identificamos que os graduandos dos cursos
de Enfermagem e Farmácia foram os que afirmaram esta fonte,
com maior freqüência, sendo 91 (36,2%) e 57 (22,7%), respectivamente.
Ao fazermos a relação de citações de acordo com a proporção
de alunos, por curso, verificamos que ambos apresentam esta
fonte em menos de 50%, bem como os demais cursos. Reforçando
que, embora a disciplina curricular esteja presente, não é a
fonte principal de informação como acreditávamos.
Tab.5 Distribuição da freqüência e porcentagem
da fonte de orientação para as vacinas recomendadas aos alunos,
durante a graduação, e para a realização de exame anti-HBs
pós-vacina anti-hepatite B. Goiás, 2005
Apesar da
disciplina curricular se constituir, na maior fonte de informação,
observamos uma diluição deste conteúdo em uma série de disciplinas,
desde as do ciclo básico, comum a todas os cursos, como Bioquímica,
Imunologia e Microbiologia, até disciplinas específicas de cada
curso, não havendo consenso quanto a uma disciplina específica,
sendo citadas aproximadamente 32 disciplinas diferentes. Em
princípio, parece ser interessante este enfoque gradual e poderia
denotar uma construção sólida deste conhecimento, não fosse
a fragmentação existente, ainda hoje, no ensino, no qual cada
disciplina funciona de forma estanque, sem integração interdisciplinar.
Espera-se
que o ensino formal seja o responsável pela construção deste
conhecimento, e verificamos que não corresponde nem a 50,0%
das citações, apesar de 92,0% dos graduandos relatarem terem
sido orientados sobre imunização.
MELO et al
(2004), em um estudo realizado com estudantes do último ano
de Enfermagem de quatro cursos, no Estado de Goiás, verificaram
que a abordagem das medidas de prevenção e controle de infecção
ocorre em associação às temáticas referentes à formação técnica,
não existindo um consenso quanto a uma disciplina específica.
Em estudo
realizado por TIPPLE (2000), com estudantes de Odontologia,
no qual analisou a relação do processo de ensino com o controle
de infecção, identificou que existe fragilidade sobre o conhecimento
das medidas básicas de controle de infecção, relacionadas às
atividades clínicas dos alunos, pois verificou uma multiplicidade
de condutas utilizadas pelos alunos, resultantes da falta de
padronização nas diferentes disciplinas e lacunas teóricas e
práticas, reveladas nas ementas e conteúdos programáticos das
disciplinas.
TIPPLE et
al (2003), afirmam que uma única disciplina não dará suporte
suficiente para se trabalhar medidas preventivas, para o controle
de infecção e que todos os docentes deverão estar envolvidos
com os conteúdos sobre esta temática, pois se atribui ao corpo
docente, das instituições formadoras, um peso importante na
formação profissional.
Na verdade,
os graduandos receberam algum conteúdo sobre imunização durante
a graduação, porém ocorreu de forma compartimentada, e o aluno
por si não foi capaz de agregá-lo a ponto de transformá-lo em
uma prática no seu cotidiano, demonstrando que não existe interdisciplinaridade.
Para VILELA & MENDES (2003), a interdisciplinaridade é a
interação entre duas ou mais disciplinas, em contexto de estudo
e âmbito mais coletivo, que resulta em enriquecimento recíproco
e transformação de suas metodologias.
Percebe-se
ainda que, a maioria dos graduandos recebeu esta orientação
por meio da direção da faculdade, eventos extra-curriculares,
campanhas vacinais ou mesmo com colegas de turma (Tabela 5),
o que nos leva a questionar a consistência das informações recebidas.
A imunização
é parte essencial dos programas de controle de infecção em saúde
ocupacional, pois asseguram ao trabalhador da área de saúde
a redução nos riscos de aquisição a doenças imunopreveníveis,
bem como redução no número de indivíduos e profissionais suscetíveis,
reduzindo assim o risco de transmissão de doenças dos profissionais
aos pacientes e vice-versa (PRABHAKAR et al, 2000).
Apesar das
diferentes formas de orientação sobre imunização, quando solicitamos
que os alunos relacionassem as vacinas recomendadas, para os
PAS (Tabela 6), verificamos que 737 alunos (94,8%) reconhecem
as vacinas anti-hepatite B, 601 (77,3%) a anti-difteria e tétano
e 376 (48,3%) a anti-amarílica.
Tab.6 Distribuição dos graduandos da área
de saúde em relação ao conhecimento das vacinas recomendadas,
para os profissionais da área de saúde. Goiás, 2005
Identificamos
ainda que, para as demais vacinas, menos de 35,0% dos estudantes
sabem quais são as recomendadas. Isto é preocupante, pois se
trata de futuros profissionais a um passo de ingressarem no
mercado de trabalho. Estes dados nos levam a refletir sobre
a qualidade do ensino, sobre a temática de imunização dos PAS,
enquanto medida eficaz no controle de doenças imunopreveníveis.
PEREIRA et
al (2005) referem que, viabilizar o contato do estudante com
todas as normas e legislações orientadoras e reguladoras de
prevenção e controle de infecção é um importante caminho, e
quanto mais precoce se fizer na graduação, maior a chance do
futuro profissional se conscientizar e assimilar sobre a temática,
devendo este conteúdo compor as políticas da instituição de
formação profissional. Concordamos com os autores, pois somente
por meio de mudanças nas políticas das IES alcançaremos o perfil
desejado do egresso, quanto ao ensino da prevenção e controle
de infecções.
CONCLUSÃO
As Instituições de
Ensino Superior, no Estado de Goiás, no que se refere à imunização
dos graduandos, precisam dispensar maior atenção a este tema,
pois verificamos neste estudo que, embora estas trabalhem a
temática do controle de infecção, a abordagem tem sido fragmentada
e insuficiente, para que o aluno construa um corpo de conhecimento
consistente e aplicável a realidade.
Ressaltamos que,
o ensino da prevenção e controle de infecção deve ser adotado
com seriedade pela IES e principalmente, pelos responsáveis
pelas disciplinas que ministram as atividades práticas, peculiares
às profissões da área de saúde. As IES precisam observar o exposto
na portaria nº 597 que trata da obrigatoriedade da imunização,
para efeito de matrícula em universidades, em todo o território
nacional (BRASIL. MS, 2004).
O ensino desta temática
é antes de tudo, um compromisso ético, tanto das IES, quanto
dos educadores. E consideramos que deva ser estabelecida, com
urgência, uma política em que seja dada a ênfase necessária
à prevenção de doenças infecciosas que se adquire ocupacionalmente,
e de tanta importância para os profissionais da área de saúde.
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Texto
original recebido em 21/02/2006
Publicação aprovada em 30/04/2006
1Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Infectologia.
Mestre em Enfermagem. Professor da Universidade Salgado de Oliveira
– Campus Goiânia, Goiás. e-mail: silvanalvs@hotmail.com
2Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto
da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás.
Goiânia, Goiás. E-mail: adenicia@fen.ufg.br
3Médico. Doutor em Fisiologia. Professor Titular
da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás.
Goiânia, Goiás. E-mail tome@superig.com.br
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