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BALISTA, Carolina;
BASSO, Emiliana; COCCO, Marta; GEIB, Lorena T. C - Representações
sociais dos adolescentes acerca da violência doméstica.
Revista Eletrônica de
Enfermagem, v. 06, n. 03, 2004. Disponível em http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen |
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Artigos originais / Original papers / Articulos originales | |
REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS DOS ADOLESCENTES ACERCA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA1 |
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ADOLESCENTS’ SOCIAL
REPRESENTATION ABOUT DOMESTIC VIOLENCE |
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Caroline Balista2, Emiliana Basso2, Marta Cocco2, Lorena T. C. Geib3 |
RESUMO: Com o objetivo de analisar as representações sociais dos adolescentes sobre a violência doméstica, realizou-se esta pesquisa qualitativa junto a 18 alunos de escolas de ensino médio em Passo Fundo - RS, com técnicas projetivas e entrevistas semi-estruturadas, evidenciando-se a representação da violência como um fenômeno presente na sociedade, ancorada no consumo de drogas, na defesa pessoal com porte de armas e na conduta anti-social. A violência doméstica é representada como uma atitude de fuga e defesa, maléfica, intencional e impune e como uma banalização legitimada. Essas representações ancoram-se na sensação de abandono e rejeição, cuja superação deverá ser buscada de forma multidimensional para a internalização de novas práticas e condutas socialmente aceitas.
PALAVRAS CHAVES: Violência; Adolescência; Saúde Pública.
ABSTRACT: This qualitative study was held with the objective of analyzing the adolescentes’ social representation about domestic violence. It involved eighteen high school students in Passo Fundo – RS. Through some prejecting techniques and semi-structured interviews, it was possible to notice that the violence representation is a present phenomenon in the society and it is supported by the use of drugs, personal defence with the use of guns and by the antisocial behaviour. The domestic violence is represented as an attitude of escape and defence, harmful, intentional and unpunished and as a legitimate trivialization. This representation is supported by the sensation of abandonment and rejection and it should be overcome through the search of a multi-dimensional way to introduce new practices and socially acceptable behaviour.
KEYWORDS: Violence; Adolescence; Public Health.
RESUMEN: Con el objetivo de analisar las representaciones sociales de los adolescentes sobre la violencia doméstica, se realizó esta encuesta calificativa junto a 18 alumnos de escuelas de enseñanza de nivel medio en Passo Fundo-RS, con técnicas proyectivas y entrevistas semiestructuradas, se evidenciando la representación de la violencia como un fenómeno presente en la sociedad, amparada en la consumación de drogas, en la defensa personal con porte de armas y en la conducta antisocial. La violencia doméstica es representada como una actitud de fuga y defensa, maléfica, intencional e impune y como una banalización legitimada. Essas representaciones se amparan en la sensación de abandono y rechazo, cuya superación debe ser buscada de manera multidimensional para la internalización de nuevas prácticas y conductas aceptas en la sociedad.
PALABRAS CLAVES: Violencia; Adolescencia; Salud Pública.
INTRODUÇÃO
A violência - concebida como um fenômeno socialmente construído - é representada de forma diferente entre as sociedades e entre os grupos de uma mesma sociedade. No contexto das mudanças culturais provocadas pela sociedade pós-industrial, a família reconfigurou seus papéis com uma distribuição desigual de autoridade e poder e uma maior fragilidade de diálogo. A emancipação feminina e o ingresso da mulher no mundo do trabalho diminuíram a participação dos pais na educação dos filhos, criando um vácuo formativo não preenchido pelas creches, nem pelas escolas. Em decorrência disso, estabeleceu-se uma indefinição de papéis sociais e de limites da (in) disciplina e do abuso físico dos filhos. Os comportamentos socialmente aprendidos nos espaços domésticos são freqüentemente reproduzidos pelos adolescentes nos espaços extrafamiliares, configurando-se, muitas vezes, em atitudes de permissividade e violência.
Os adolescentes tornam-se, assim, transmissores culturais dessa conduta, que gera para si mesmos, conflitos interpessoais, baixa auto-estima, frustrações e risco de ser tanto agressor quanto vítima, com a possibilidade de perpetuar a violência intergeracional.
A violência origina-se do latim violentia que significa o ato de violentar abusivamente contra o direito natural, exercendo constrangimento sobre determinada pessoa por obrigá-la a praticar algo contra sua vontade (CLIMENE & BURALLI, 1998).
Considerada um fenômeno multicausal, a violência é um processo de vitimização que se expressa em “atos com intenção de prejudicar, subtrair, subestimar e subjugar, envolvendo sempre um conteúdo de poder, quer seja intelectual quer seja físico, econômico, político ou social. Atingem de forma mais hostil os seres mais indefesos da sociedade, como as crianças e adolescentes, e também as mulheres sem, contudo, poupar os demais” (ROCHA et al., 2001, p.96).
Entre as várias formas de expressão da violência estão a física, a sexual, a psicológica e a negligência. A primeira consiste no uso intencional, não acidental da força, através de agressões, tapas, murros, maus tratos e espancamentos. A violência sexual é vista como um abuso do poderio exercido sobre determinada vítima sem seu consentimento como carícias indesejadas, incesto, exploração sexual, exibicionismo, pornografias infantis e estupro. A violência psicológica é caracterizada por desrespeito, verbalização inadequada, humilhação, ofensas, intimidações, traição, ameaças de morte e de abandono emocional e material, resultando em sofrimento mental. Por fim, temos a negligência como uma forma de omitir o atendimento das necessidades básicas (GUERRA, 1998; BRAGHINI, 2000).
A violência quando praticada dentro do lar é chamada violência doméstica. Essa ocorre em meio às interações pai- mãe -filho, e não deve ser considerada algo natural; ao contrário, é algo destrutivo e que permeia a dinâmica familiar, podendo atingir crianças, mulheres e adolescentes de diferentes níveis sócio-culturais.
A respeito disso, PEREIRA et al. (2001, p. 98) referem-se a um documento do Ministério da Saúde que considera a violência doméstica contra crianças e adolescentes como “uma violência interpessoal e intersubjetiva; um abuso do poder disciplinar e coercitivo dos pais e responsáveis; uma negação dos valores humanos fundamentais como a vida, a liberdade e a segurança e violação dos direitos essenciais da criança e d@ adolescente; redução da vítima à condição de objeto de maus tratos; pode prolongar-se por meses e anos, pois como pertence à esfera do privado reveste-se do sigilo”. Entre as inúmeras causas que levam ao aumento da incidência dos atos violentos estão as insatisfações próprias do ser humano, que podem produzir uma falta de autocontrole resultando em atitudes agressivas praticadas em seu convívio familiar.
A violência leva a conseqüências orgânicas, psicológicas, comportamentais (autoritarismo, delinqüência, entre outros) e desequilíbrio familiar. As orgânicas estão relacionadas com seqüelas a nível corporal como lesões abdominais, oculares, fraturas, queimaduras e lesões permanentes ou temporárias, podendo levar à morte. As psicológicas caracterizam-se por raiva, medo, ansiedade e revolta frente ao agressor, resultando em desconfiança, diminuição do aprendizado, sentimentos de exclusão e receio nos relacionamentos interpessoais. Entre as conseqüências comportamentais, o autoritarismo revela uma pessoa que perpassou por momentos de sofrimento, levando a mesma às atitudes de imposição, negação e não aceitação de idéias contrárias; a delinqüência faz o indivíduo praticar delitos e crimes, levando a punições severas pelos atos executados.
A violência gerada e presenciada a nível doméstico torna necessário que se faça algo de cunho preventivo visando a um decréscimo nos acontecimentos e a uma melhor interação intrafamiliar. A violência intrafamiliar difere do conceito de violência doméstica por incluir “os outros membros do grupo, sem função parental, que convivem no espaço doméstico” (BRASIL, 2002, p. 15). Entre os fatores de risco da violência intrafamiliar, há componentes associados à família, à relação do casal, à criança, ao idoso e à deficiência. A família, como grupo de pessoas com vínculos afetivos, de consangüinidade ou de convivência (BRASIL, 2002), tem a função primordial de socialização de seus membros. Essa função é exercida num contexto dinâmico de organização e de relação e poder. Nesse contexto emergem: distribuição desigual de autoridade e poder entre os membros da família; relação centrada em papéis e funções rigidamente definidas; indiferenciação dos papéis com apagamento de limites entre os membros; ambiente estressor, com dificuldade de diálogo e descontrole de agressividade; estrutura de funcionamento fechada, com pobre interação social; situações de crises ou perdas (morte, separação, migração, entre outras); baixo nível de desenvolvimento da autonomia dos indivíduos; história de violência familiar na família de origem das pessoas envolvidas; abuso de drogas; antecedentes criminais ou uso de armas; comprometimento psicológico/psiquiátrico dos indivíduos; dependência econômica/emocional e baixa auto-estima entre os membros (BRASIL, 2002). Todos esses fatores predispõem à violência.
O problema da violência chega aos serviços de saúde em diferentes situações e momentos, principalmente quando o evento de agressão provocou repercussões graves. Deparando-se com essa realidade, os profissionais de saúde devem estar orientados e preparados emocionalmente para que possam se defrontar com momentos de tensão no atendimento de pessoas vítimas de violência, prestando uma assistência integral.
Para o adolescente e especificamente para a Enfermagem - entendida como “uma prática social que se articula às demais práticas, especialmente aquelas que se conformam como trabalho coletivo que responde pela produção de serviços de saúde” (RAMOS, 2001, p. 15) - o processo de análise das representações sociais nessa faixa etária implica explicitar o não-dito, o latente, investigando, na trama complexa das relações sociais do adolescente, a violência instituída na vida gregária e familiar com seus contornos corriqueiros, seus simbolismos e seus mecanismos de construção e expressão. Nesta perspectiva, usaremos a teoria da representação social proposta por MOSCOVICI (1961). Nela, a representação social é entendida como uma modalidade de conhecimento socialmente elaborado e compartilhado, equivalendo, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais, que podem também ser vistos como a versão contemporânea do senso comum (RODRIGUES et al., 2001; PADILHA, 2001).
O acesso a essas representações poderá subsidiar estratégias de prevenção e atenuação do dano físico e emocional. Essas estratégias poderão ser incluídas em programas de assistência à saúde do adolescente desenvolvidos pelos cursos de enfermagem em escolas de ensino fundamental e médio. Essa forma de atuar fundamentada na proposição de cuidado de enfermagem ao adolescente – esse considerado como um cidadão que assume a construção de seu processo de vida pessoal e coletiva com emancipação, autonomia e responsabilidade social (RAMOS, 2001) - exige novos olhares sobre a família e a escola, loci de experiências significativas no processo de crescimento, desenvolvimento e construção de identidade do adolescente.
OBJETIVO
Analisar as representações sociais dos adolescentes sobre a violência doméstica em escolas de ensino médio do município de Passo Fundo - RS.
METODOLOGIA
A pesquisa é de abordagem qualitativa com enfoque teórico-metodológico nas representações sociais.
O objeto das Ciências Sociais é essencialmente qualitativo. Entende-se por pesquisa qualitativa “aquela que é capaz de incorporar a questão do Significado e da Intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas” (MINAYO, 1994, p. 10). O qualitativo coloca como tarefa das representações sociais a compreensão da realidade humana vivida socialmente e totalmente diversa do mundo das Ciências Naturais.
Neste estudo, a violência foi concebida como construção social, que transcende as questões puramente biológicas ou emocionais. Com a intenção de resgatar o contexto de produção das representações, tomamos como ponto de partida a percepção dos adolescentes sobre a expressão da violência em situações cotidianas. Ao longo do processo de construção de conhecimento estivemos abertas à observação de MINAYO (1994, p. 174) de que “as representações sociais não são necessariamente conscientes. Perpassam o conjunto da sociedade ou de determinado grupo social, como algo anterior e habitual, que se reproduz e se manifesta a partir das estruturas e das relações coletivas e dos grupos”.
Essas representações, para MINAYO (1994, p.174), “podem ser consideradas matéria-prima para análise do social e também para a ação pedagógico-política de transformação, pois retratam a realidade”. São reflexos do cotidiano, traduzidos pelo sujeito, considerado como um ser humano dotado de concepções próprias, autônomo no pensar e comunicar suas crenças, valores e visão do mundo, elaborados e compartilhados socialmente e com possibilidade de ser expressos por meio de imagens, conceitos e categorias, que contribuem para a construção de uma realidade inerente a determinado grupo social (MAINGUENEAU, 1993).
Na interpretação da vida social dos adolescentes face à violência doméstica, procuramos desenvolver um processo de interação pesquisador/pesquisado, com valorização do encontro, do diálogo e da representação, considerando que o objeto do estudo tem também o seu sujeito. A análise adota, portanto, a subjetividade como instrumento de conhecimento e as representações sociais como eixo condutor.
Assim este estudo procurou elaborar as Representações Sociais como um processo dinâmico, considerando a inserção do adolescente num contexto sociocultural definido e também a sua história pessoal e social, visando apreender a representação social da violência doméstica, e entender as formas como os adolescentes elaboram esse conhecimento e como eles convivem com essa problemática no seu cotidiano.
Para isso, buscamos o limite entre o psicológico e o social, onde se inserem as representações sociais e a estrutura de cada representação, desdobrada em suas faces figurativa e simbólica, que contêm dois processos intrinsecamente associados: objetificação e ancoragem.
O processo de objetificação é aquele que transforma algo abstrato em algo concreto. PADILHA (2001, p.71) descreve a objetificação como “... o processo que dá materialidade às idéias, tornando-as objetivas, concretas, palpáveis...”.
Para realizar-se a objetificação são necessárias três etapas:
a) Construção seletiva da realidade: corresponde a forma específica utilizada pelos indivíduos e grupos sociais para apropriar-se dos conhecimentos acerca de determinado objeto. Esse conhecimento sofre um processo de descontextualização, originando uma nova estrutura capaz de explicá-lo, analisá-lo e avaliá-lo.
b) Esquematização flutuante à formação de um núcleo figurativo – “é a formação de uma estrutura de imagem que reproduz uma estrutura figurativa ou conceitual” (COUTINHO, 2001, p.62). O núcleo figurativo facilita a expressão sobre o que ele representa.
c) Naturalização: é a formação do abstrato em concreto. Os pensamentos convertidos em figuras são transportados para dentro da realidade.
A ancoragem é o processo que “permite compreender a forma como os elementos contribuem para exprimir e constituir as relações sociais” (MOSCOVICI, 1961, p. 318), ou seja, a ancoragem contribui para dar sentido aos acontecimentos, pessoas, grupos e fatos sociais a partir da rede de significados oferecidos pelas representações sociais. Dessa forma, transforma o objeto estranho em algo familiar.
Fundamentada nesse referencial teórico e considerando a recomendação de JODELET (1988, p. 44), ao afirmar que “as representações sociais devem ser estruturadas articulando elementos afetivos, sociais, integrando a cognição, a linguagem e a comunicação, as relações sociais que afetam as Representações Sociais e a realidade social e ideativa sobre a qual elas intervêm”, percorremos a seguinte orientação metodológica:
O estudo foi desenvolvido em três escolas públicas estaduais do município de Passo Fundo, escolhidas intencionalmente, de forma a abranger níveis sócio-econômicos e culturais distintos, com a participação de 18 adolescentes de 15 a 19 anos de idade, presentes nas escolas por ocasião da coleta de dados, distribuídos da seguinte forma: grupos de 11, 05 e 02 adolescentes, sendo cada grupo proveniente de uma das escolas.
A realização do estudo foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo (Processo nº 38/2002) e foi formalmente autorizada pela 7ª Coordenadoria Regional de Educação. Todos os adolescentes e seus representantes legais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seguindo-se rigorosamente a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, atendendo aos seguintes aspectos: o consentimento das instituições e dos sujeitos da pesquisa, assegurando-lhes o sigilo, anonimato e respeito aos seus valores culturais, morais, sociais, religiosos e éticos, bem como aos seus hábitos e costumes.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido resguardou aos autores do projeto a propriedade intelectual dos dados e a divulgação pública dos resultados. Coletaram-se os dados em novembro de 2002, com a utilização das seguintes técnicas: a) oficinas com colagens, que expressassem os pensamentos e sentimentos dos adolescentes sobre a violência doméstica, permitindo a objetificação (núcleo figurativo). Para a ancoragem foi solicitado aos participantes que expressassem verbalmente os conhecimentos a respeito do fenômeno, “transformando a imagem em linguagem, dando-lhes uma explicação, um contexto inteligível ao objeto” (PADILHA, 2001, p. 11).
Dessa forma, obtivemos o núcleo simbólico. Essa técnica foi realizada em um encontro com uma hora e meia de duração com cada um dos grupos de adolescentes; b) Entrevista semi-estruturada, contendo na primeira parte itens referentes à identificação sócio-demográfica dos participantes e na segunda parte questões norteadoras estruturadas de acordo com o referencial teórico adotado. As questões norteadoras tiveram como enfoque principal o significado da convivência dos adolescentes com a violência social e doméstica.
Para registro dos dados, utilizou-se gravação em fitas K7, com consentimento dos participantes, transcrita na íntegra. Os dados foram analisados à luz do referencial teórico adotado, seguindo os passos metodológicos sugeridos por PADILHA (2001): 1o. Momento: Objetificação: correspondeu à gênese da representação social, ou seja, o resultado da objetificação. Através da colagem, chegamos ao processo de formação dos núcleos figurativos, que correspondem aos temas que possuem a propriedade de serem representados e que expressam a concretude da idéia. 2o Momento: Ancoragem: correspondeu à interpretação dos participantes sobre o material produzido nas colagens, atribuindo um significado para a imagem por eles produzida. Esta é a fase de tornar consciente o fenômeno com as informações já conhecidas por elas. É a identificação do processo de ancoragem.
Neste momento, colhemos as simbolizações e percepções a partir dos relatos verbais sobre os conhecimentos a respeito do fenômeno; na seqüência identificaram-se os temas que representam esse conhecimento, constituindo os núcleos simbólicos; 3o Momento: Validação: foram validadas pelos participantes as configurações dadas pelos pesquisadores à representação social da violência doméstica; 4o Momento: sistematização: sistematizamos as informações, agrupando os temas de destaque por classificação em núcleos figurativos e núcleos simbólicos. Posteriormente, à luz do referencial teórico, estabelecemos a ancoragem sobre a representação social dos participantes sobre a violência doméstica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1. As representações sociais da violência: resposta natural às carências
No enfoque da teoria da representação social, inicialmente buscamos transformar o não familiar em familiar, materializando um objeto abstrato – violência doméstica – para, posteriormente, atribuir-lhe um novo sentido. Dessa forma, pelos processos de objetificação e ancoragem os adolescentes representaram a violência em três categorias:
A violência como um fenômeno estrutural
A violência como fenômeno presente na sociedade foi expressa nos seguintes núcleos figurativos: repressão policial; contexto sócio-político e cultural (pobreza, miséria, falta de dinheiro, política, impunidade, rituais étnicos, favelização e terrorismo internacional); violência na rua (escuridão, acidentes de trânsito, arrombamentos, protestos, agressões físicas); e a violência nos meios de comunicação.
Como podemos perceber os núcleos figurativos revelam não só situações vivenciadas pelos adolescentes no seu cotidiano, mas também imagens projetadas pela mídia de massa.
Em relação às vivências da realidade social, os adolescentes atribuíram à repressão policial e às mazelas econômicas, políticas e culturais a gênese da violência como um fenômeno psicossocial. Dessa forma, ao simbolizarem a violência social a partir das interações estabelecidas com os seus colegas de escola representaram-na como um fenômeno radicado no espaço público e nas interações sociais, nas quais o ser humano desenvolve identidade e simbolismos e se abre para a diversidade de um mundo coletivo (JOVCHELOVICH & GUARESCHI,1994).
A violência ancorada no consumo de drogas e na defesa pessoal com porte de armas
Numa segunda abordagem, os adolescentes ancoram a violência social no consumo de drogas e na defesa pessoal com porte de armas, expressando-a no núcleo figurativo do consumo de drogas lícitas/ilícitas e também no uso pessoal e explícito de armas e de seus efeitos tais como: marcas de tiros (em vidros de carros, placas de sinalização em escolas, entre outros). A representação figurativa inclui além das armas de fogo, o uso de animais ferozes como elementos de defesa.
É interessante destacar que os adolescentes ao representarem o consumo de drogas lícitas o fizeram utilizando o cigarro e não o álcool sabidamente mais indutor de comportamentos violentos e de consumo freqüente nos estratos sócio-econômicos de onde esses adolescentes provinham. O fato dos adolescentes representarem o uso do tabaco como indutor da violência pode dever-se à exposição precoce dos mesmos ao fumo passivo, mas também ao fumo ativo existente no seu círculo de convivência familiar e social. Entretanto, o tabaco pode estar sendo representado como o escudo protetor dos usuários de álcool, devido à dificuldade dos adolescentes em revelar o seu uso pelos genitores e as conseqüências dolorosas daí advindas, entre as quais, a violência.
As drogas ilícitas figurativamente foram interligadas com furto e seringa com sangue, traduzindo vinculação da violência social com o consumo de drogas pesadas e com o tráfico de substâncias psicoativas, situações que revelam a representação da violência na sociedade brasileira e internacional.
No entender desses adolescentes, as drogas lícitas e ilícitas associam-se às situações violentas, demonstrando a lógica que vai delineando a gênese da violência, quer social ou doméstica. Já o porte de armas como meio de defesa pessoal pode revelar tanto a representação do exercício da violência quanto o poder conferido pela arma para defender-se de atos violentos.
A violência ancorada na conduta anti-social
A terceira categoria decorrente da técnica projetiva sobre a violência social, ancora-a a conduta anti-social, expressa nos núcleos figurativos do abuso sexual, espancamento, verbalização agressiva e fobia social. Essas condutas agressivas presenciadas pelos adolescentes são atribuídas a fatores individuais, familiares e ambientais (BALLONE, 2003).
No contexto familiar, a mutação de papéis sociais iniciada no século XX levou à perda gradual da autoridade paterna e ao distanciamento da figura materna do núcleo familiar. Em conseqüência disso, houve uma ruptura do equilíbrio entre autoridade e afeto em relação aos filhos, acontecida antes mesmo da satisfação plena de suas necessidades básicas de afeto e disciplina interna, consideradas fundamentais para a autodeterminação futura. Essa ruptura precoce pode criar carências que dificilmente serão compensadas na vida (GRÜNSPUN, 1982). Em decorrência disso, muitos jovens para suprir o sentimento de rejeição afetiva e abandono físico por parte de seus pais apelaram para condutas anti-sociais (mentiras, roubos, fugas, abuso de drogas, atos de crueldade e outros) como forma de defesa contra a ansiedade e a neurose, geradas por aqueles sentimentos.
Na sociedade pós-industrial a sensação de rejeição e abandono é reforçada pelo desemprego, que exclui o jovem do sistema produtivo. A rejeição, antes familiar, passa agora a ser social, desencadeando uma nova patologia – a violência, presente na família e na sociedade (GRÜNSPUN, 1982).
2. Representações sociais da violência doméstica: estratégia legitimada de enfrentamento das adversidades
Atitude de fuga e defesa
A convivência com atos agressivos e com a competitividade, a rivalidade nos relacionamentos e o individualismo - resultante das sensações de abandono e rejeição abordadas anteriormente - vão sendo assimilados pelos adolescentes e se configurando na representação social da violência - doméstica ou não - como uma atitude de fuga e defesa conforme se constata nestas falas: muitas vezes num momento de problema, estresse, tensão e não sabem como resolver, e resolvem agir com violência (A6), quando tem um problema ela expressa assim com violência, muitas vezes com pessoas que não devem... (A8).
A construção dessa representação converge para os seguintes sintomas da violência (GRÜNSPUN, 1982): a) sintomas de ataque – que incluem a destruição, a subversão (política, religiosa e econômica) e a repressão (política, econômica e cultural); b) sintomas de fuga – marginalização (cultural e social) e o abuso de drogas, entre outros.
Ação maléfica, intencional e impune
Esses sintomas manifestam-se em grupos sociais específicos (escolares, moradores de rua,...) que, no entendimento dos participantes do estudo, agem de forma maléfica, intencional e impune, como diz um deles:
“faz mal, cometem porque querem, mata e está tudo bem” (A1).
A falta de alcance pedagógico/socializador/humanizador da escola na formação da criança e na transmissão das normas e valores gerais da sociedade contribui para que alguns adolescentes construam suas experiências sem um referencial de civilidade. Dentre essas experiências, inclui-se a violência, que se dissemina livremente, tendo em vista a ausência de controle parental e escolar sobre as condutas agressivas da criança ou do adolescente.
Banalização legitimada
Essas condutas, ao contribuírem com a disseminação da violência, acabam por banalizá-la e legitimá-la. Assim, “de tanto acontecer, ela passa a ser banalizada e termina por ser considerada ‘naturalizada’, como se fosse ‘norma’” (CAMACHO, 2001), como vêem os adolescentes: todos utilizam (A3), pai mata filho, filho mata pai (A5). Como conseqüência, passa a ser culturalmente legitimada, e usada de forma a que uma violência justifique a outra, tornando difícil “distinguir o que é defesa do que é ataque, o que é proteção do que é agressão” (BATISTA; El MOOR, 1999).
3. Representações sociais acerca da gênese da violência doméstica: multiestrutural (individual, familiar e social)
Questionados sobre o que significava para eles a violência doméstica, os adolescentes revelaram seus pensamentos, crenças e reflexões agrupadas nas seguintes categorias: 1) Falta de diálogo...Desrespeito...Preconceito; 2) Autoritarismo parental; 3) Repercussão da sobrecarga de trabalho dos pais; 4) Comportamento descontrolado.
Como podemos perceber o significado atribuído à violência doméstica pelos adolescentes constitui o desvelamento da gênese da mesma.
Sua tendência é de responsabilizar a desarmonia no relacionamento pais e filhos como produtora da violência intrafamiliar, especialmente pela falta de diálogo... desrespeito... preconceito.
Aparentemente os adolescentes percebem um ambiente familiar carente de respeito, afeto e aceitação. Suas falas parecem revestir-se de um chamado de atenção sobre as circunstâncias vivenciadas no ambiente familiar, as quais mostram-se incompatíveis com as aspirações de relacionamento com seus pais.
Esse enfoque, que vislumbra as raízes da violência no interior das pessoas e na forma como elas estabelecem suas interações interpessoais, ficou evidenciado também na categoria: autoritarismo parental. A percepção dos pais como ciumentos, possessivos e punidores é revelada pelos adolescentes: acontece alguma coisa de errado eles descontam nos filhos, falta dinheiro eles descontam nos filhos... aí qualquer coisinha eles discutem, sabe qualquer coisa que tu faz sobra pra ti... (A2). É compreensível a exteriorização de conflitos no relacionamento dos adolescentes com seus pais, uma vez que ao tornaram-se adolescentes eles se debatem com a busca da independência e a conservação da sua própria identidade. Nesse processo é comum o confronto com os pais e com o estabelecimento de normas e regras rígidas. Contudo, é preciso considerar que “é impossível abolir-se o conflito sob o pretexto da harmonia total, mesmo porque este estado simplesmente necessita da condição humana e suas relações sociais” (ROCHA et al., 2001, p. 39).
Por outro lado, o autoritarismo dos pais constitui uma forma de violência ao expressar-se por atos opressivos e agressivos, que retiram o espaço do diálogo e do respeito, evidenciando a submissão e a dominação. Esse exercício de poder no interior das relações familiares que se configura como abuso psicológico não deve ser confundido com autoridade paterna, entendida como a função socializadora exercida pelos pais dos adolescentes, a qual inclui a transmissão de valores sociais e a definição dos limites das ações individuais, que canaliza e estabelece a contenção dos instintos, necessária à civilidade.
Os adolescentes representam ainda a violência doméstica como repercussão da sobrecarga de trabalho dos pais, advinda das seguintes falas:... com problema em casa, alguma coisa de errado no trabalho, chegam a descontar em cima de pessoas que não deviam ... (A9).
Suas faltas evidenciam a expressão da violência como um descontrole dos próprios pais, a qual tentam justificar pelas estratégias de sobrevivência. É preocupante, no entanto, a exposição desses adolescentes a essa violência que, se não controlada, passa a ocorrer constantemente com o risco de introjetar modelos comportamentais de agressividade, rejeição, revolta e medo, perpetuando-se no ciclo intergeracional.
Esse comportamento descontrolado foi percebido por alguns adolescentes:... têm casos que os adolescentes se revoltam, brigam com os pais, os pais acabam bebendo e batendo em seus filhos (A1) ... a gente fica assustado, a gente pensa que se os outros fazem porquê eu não vou fazê? se alguém está me provocando porque eu não vou reagir de uma forma violenta? (A6).
A agressividade desses adolescentes resulta da inaptidão no uso do diálogo e do transtorno no controle de impulsos. O despreparo da família em administrar os conflitos e controlar os impulsos agressivos manifesta-se sob forma de violência física, criando uma dinâmica própria de canalização de situações pessoais mal resolvidas. A proteção da saúde física e emocional dos filhos expostos a esse tipo de violência intrafamiliar requer a intervenção de profissionais da saúde para o manejo das lesões e o fortalecimento dos vínculos afetivos.
Parte do descontrole comportamental dos pais é atribuído à privação social, especialmente ao desemprego e à falta de dinheiro. Nesses casos, as raízes da violência estariam no contexto de vida das pessoas, que as impede de realizar suas aspirações. A frustração imposta pela falta de acesso aos bens e serviços imprescindíveis à satisfação das necessidades humanas básicas acaba atingindo a vida dos adolescentes como ponto de partida da violência.
4. O convívio com a violência: ferido em casa, discriminado na escola
Com o propósito de conhecer a que forma de violência esses adolescentes estavam expostos no âmbito doméstico e escolar, conduzimos a indagação e as discussões no grupo, o qual com muita espontaneidade revelou a convivência freqüente, tanto em casa, quanto na escola, com violência física, verbal e psicológica. A diferença está na intensidade, predominando a violência física no lar e a verbal na escola. Sem constrangimento os adolescentes revelaram que a violência física presenciada / vivenciada em casa manifesta-se por agressões, bater, machucar, ferir, os pais batem e batem. Na escola essa forma de violência ocorre entre colegas com brigas, encrencas e esbarros. Já a violência verbal e psicológica expressa-se na escola por discussões, bate-boca e bastante preconceito e em casa ocorre quando os pais não dão nenhuma atenção, falta de respeito e quando não têm relação aberta.
Percebe-se novamente uma denúncia velada do despreparo dos pais em dialogar, com sensibilidade e consideração, tornando o cuidado parenteral mais efetivo e afetivo, e menos impulsivo e agressivo.
A utilização de métodos violentos para impor limites e estimular a disciplina pode estar sendo incorporado pelos adolescentes como modelo de socialização. A família e a escola como instituições socializadoras, na medida em que perpetuam os comportamentos violentos, induzem os adolescentes a serem indivíduos maltratados e a disseminarem padrões sociais agressivos e comprometedores da saúde física e emocional. Esses padrões, pelo que pudemos perceber, foram detectados pelos adolescentes nos primeiros anos da infância.
Urge, pois, a implementação de ações educativas e cuidativas, que possam assegurar às novas gerações ambientes mais saudáveis de crescimento e desenvolvimento. No âmbito dos serviços de saúde, o favorecimento do vínculo afetivo precoce do recém-nascido com seus familiares pode ser a estratégia inicial de prevenção e atenuação de danos físicos e emocionais, por meio do provimento de afeto, lacuna considerada determinante na gênese da violência. A essa lacuna a equipe deverá estar constantemente alerta para detecção e intervenção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os adolescentes representam a violência doméstica a partir da gênese social da mesma, ancorada na sensação de abandono e rejeição afetiva, impulsionada pelas exigências de distanciamento familiar impostas pela sociedade pós-industrial. Dessa forma, suas representações denunciam o despreparo para o exercício da autoridade parental, a competição, o individualismo e a rivalidade como elementos a serem superados.
Acreditamos que essa superação também se dará, na medida em que pudermos contribuir para a organização da assistência à saúde desse grupo a partir das suas representações sociais, já que essas permitem interpretar as relações entre as pessoas ou com o ambiente, orientando e organizando os comportamentos, e suas implicações individuais e coletivas, em direção às transformações sociais e de internalização de novas práticas e de novos modelos de conduta a serem transmitidos socialmente.
A prevenção da violência e de suas seqüelas físicas e psíquicas poderá constituir-se num aprendizado oportunizado em espaços de escuta, discussão e reflexão, nos quais possam ser compartilhados as concepções, crenças, valores e sentimentos dos adolescentes relacionados à violência doméstica, impulsionando um adolescer mais saudável para as gerações atuais e futuras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Texto
recebido em 31/08/2004
Publicação aprovada em: 10/12/2004
1 Trabalho desenvolvido na disciplina de Iniciação Científica em Enfermagem do curso de Enfermagem da Universidade de Passo Fundo -UPF.
2 Enfermeiras. Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil.
3 Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde. Professora Titular do Curso de Enfermagem da Universidade Passo Fundo. lorena@upf.br