Milca Severino Pereira1
O título deste editorial retoma o tema central da 54ª reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho deste ano, no Campus da Universidade Federal de Goiás: Ciência e Universidade rompendo fronteiras.
O tema está relacionado com o profundo impacto decorrente de um desenvolvimento científico sem precedente ocorrido nas últimas décadas. A revolução produzida pelas novas tecnologias, pelas redes de comunicação de alcance planetário, pela globalização da economia e mundialização da cultura, certamente produziu transformações marcantes em nossa contemporaneidade.
A universidade convive com a crise do nosso tempo e tem a missão maior de garantir a liberdade pela via da tolerância e da paz. Cabe a ela pensar uma ciência voltada para o bem comum, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da sociedade.
Uma ciência norteada para o desenvolvimento do homem, afastada dos interesses meramente mercantilistas, desumanos e a-éticos.
Romper fronteiras significa, também, chamar para o debate os diversos grupos sociais e com eles construir projetos coletivos que caminhem em direção de uma sociedade mais justa. Num mundo cada vez mais integrado, é urgente romper outras fronteiras, aproximando visões de mundo, estreitando saberes, intersectando valores e culturas as mais díspares possíveis. Somente assim poderemos alcançar o tão almejado convívio solidário e plural, em que o respeito às diferenças sobressaia como o norte de todas nossas ações e práticas.
Superar desafios para fazer ciência produzir conhecimento é uma tarefa constante na vida daqueles que se dedicam ao mister de pesquisar. Neste momento de êxtase gerado pelo inconteste sucesso da Reunião da SBPC e seus reflexos na nossa universidade, conseguimos concretizar um sonho da Enfermagem, rompemos outra fronteira. Desde 1995/96 estamos conjugando esforços para ter um programa de Pós-Graduação implantado na Faculdade de Enfermagem da UFG. Porém, vários foram os empecilhos: quadro docente reduzido, poucos professores titulados, problemas de infra-estrutura, principalmente, biblioteca, baixa publicação, dentre outros. Mas falaram mais alto a perseverança e a convicção do grupo de professores e trabalhos foram feitos para a superação de cada uma das deficiências apontadas.
Após várias idas e vindas o nosso tão desejado Mestrado em Enfermagem foi recomendado pela CAPES e, agora sim, surge um novo espaço para professores, profissionais da área, pesquisadores se posicionarem rompendo mais esta fronteira, lócus adequado para o aprimoramento e geração do conhecimento.
Citando Cecília Meireles, com seu poema "Destino", parabenizo todos os atores sociais envolvidos neste importante projeto.
"Pastora de nuvens, fui posta a serviço
Por uma campina tão desamparada
Que não principia nem também termina
E onde nunca é noite e nunca madrugada"
1 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora titular da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás e Reitora da Universidade Federal de Goiás.