Revista Eletrônica de Enfermagem - Vol. 03, Num. 02, 2001 - ISSN 1518-1944
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás - Goiânia (GO - Brasil).
 

 EDITORIAL

A FAMÍLIA NA UTI

O tempo passa e provoca muitas mudanças, algumas mais rápidas outras mais lentas. Há anos se fala na importância da visita dos familiares para os pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) como forma de humanização da assistência, e muito se tem escrito sobre os diferentes aspectos envolvidos na discussão deste tema. Alguns profissionais, entretanto, parecem ignorar os avanços nesta área e toda a ênfase que tem sido dada à compreensão das necessidades do paciente e sua família no sentido de promover uma assistência integral e individualizada.

Em muitas unidades, as regras para a visita à UTI ainda são rígidas, com proibição ou restrição da entrada de familiares, denotando ignorância ou desprezo pelos já comprovados benefícios advindos desta prática. Em alguns casos, os profissionais se eximem da responsabilidade pela proibição / restrição do acesso de visitantes, alegando que as ordens vêm dos dirigentes da instituição ou do chefe da unidade. Como é muito mais cômodo e simples obedecer a ordens do que assumir decisões contrárias ou propor mudanças, continuam se omitindo.

Não obstante, precisamos fazer um exame de consciência e assumir nossa parcela de culpa neste processo, pois só se empunha a bandeira das mudanças nas quais se acredita realmente. Portanto, as mudanças devem ocorrer primeiramente no plano pessoal, no interior de cada profissional. As necessidades psicológicas, emocionais e afetivas de pacientes e familiares serão tidas em maior consideração e merecerão atenção especial dos profissionais de saúde, quando e somente se eles reconhecerem que a visita é um direito do paciente e sua família; que o contato com os familiares pode ajudar de forma significativa na recuperação do paciente; que a família é importante fonte de informações úteis para o tratamento de seu ente querido e pode se tornar valiosa aliada no processo de tomada de decisões, especialmente em se tratando de pacientes sedados ou inconscientes; e que os demais membros da família também passam pelos mesmos estágios de adaptação à doença que o paciente e apresentam necessidades reais de assistência por parte da equipe de saúde.

Com o reconhecimento e a introjeção destes preceitos básicos, os profissionais de saúde que atuam nas UTIs certamente passarão a ver a visita de familiares e amigos aos pacientes como parte integrante do planejamento terapêutico, assumindo-os também como clientes, a quem têm a responsabilidade profissional de assistir.

Profa. Lizete Malagoni de Almeida Cavalcante Oliveira
Docente da Faculdade de Enfermagem/UFG e Coordenadora do Curso de Especialização em Enfermagem na UTI, da FEN/UFG