VIVENCIANDO UMA EXPERIÊNCIA AMOROSA DE CUIDADO COM MÃES E SEUS RECÉM-NASCIDOS PRÉ-TERMO
Maria Emilia de Oliveira *
OLIVEIRA, M. E. - Vivenciando uma experiência amorosa de cuidado com mães e seus recém-nascidos pré-termo. Revista Eletrônica de Enfermagem (online), Goiânia, v.3, n.2, jul-dez. 2001. Disponível: http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen
RESUMO
- O trabalho relata vivência na Unidade de Internação Intensiva Neonatal, de
um hospital escola de Florianópolis-SC. Utilizando-se uma relação dialógica
que envolveu o encontro, presença, relacionamento e chamados e respostas, objetivou-se
prestar um cuidado de Enfermagem, cujo foco central foi o amor. A metodologia
utilizada foi baseada no modelo humanístico de Pateson e Zderad, valorizando
tanto o conhecimento objetivo quanto o subjetivo, compreendendo três fases:
diálogo intuitivo, diálogo científico, fusão intuitivo-científica. O modelo
utilizado permitiu conhecer e refletir com as mães, o processo vivenciado quando
do nascimento prematuro, sendo que a partir de um cuidado amoroso a relação
foi valorizada.
PALAVRAS-CHAVES : recém-nascido pré-termo, cuidado amoroso, relação dialógica.
ABSTRACT
- In this work, the author’s experience at the Neonate Intensive Admission
Unit of a teaching hospital in Florianópolis- SC narrated. Starting from a dialogue
involving meetings, presence, relationships, calls and answers, the author has
offered nursing care of which the main focus was love. The employed methodology
was based on Paterson and Zderad’s humanistic model, valuing both objective
and subjective knowledge, and encompassing 3 stages: intuitive dialogue, scientific
dialogue, and intuitive-scientific conjugation. The implemented proposal allowed
to know and think out, in conjunction with the mothers, this process lived throughout
premature birth where, through a loving care, great value was given to the relation.
KEY– WORDS:
pre-term newborn, loving care, dialogue relation.
INTRODUÇÃO
O meu interesse profissional, já há alguns anos, vem sendo na área materno-infantil e mais especificamente na neonatologia, vislumbrando sempre, a humanização do cuidado. Este estudo, foi motivado principalmente por minhas vivências no âmbito da Unidade de Internação Neonatal (UTI). Foi neste ambiente, onde a tecnologia seduz o profissional e sobrepuja as situações humanas, onde o recém-nascido vivencia um momento solitário, precisando lutar pela sua sobrevivência, já que a relação com sua mãe foi interrompida, que minha preocupação e inquietação acerca da importância de um cuidado centrado no amor, ultrapassando as fronteiras do tecnicismo frio e impessoal, foi intensificada. Sentia a necessidade de explicitar este sentimento tão obscurecido na prática da enfermagem. Parecia-me prioritário que algo acontecesse, para que as pessoas se dessem conta de que o amor existe e que ele está presente na nossa profissão, no nosso modo de agir.
O nascimento é a passagem que ocorre, no mínimo, entre dois universos diferentes; o interior do corpo materno e o mundo aqui fora. Simbolicamente, durante toda a nossa vida, nascemos muitas vezes em cada passagem de uma situação conhecida para outra desconhecida, mas nenhuma mudança é tão significativa quanto a provocada pelo nascimento concreto de uma criança, pela relação biológica de parturição com sua mãe (Monticelli, 1994).
É no momento do nascimento, após a longa espera, que a mãe precisa ter ao seu lado o filho, acalentá-lo, demonstrar o seu amor, compartilhar com os familiares este momento de troca, suavizando a passagem do nascimento, dando-lhe as boas vindas.
Quando tudo corre bem, a mãe está disposta e a equipe de saúde colabora, o nascimento pode tornar-se um momento mágico de encontro e comunicação. Nas primeiras horas após o parto, o bebê nascido em boas condições ( a termo, sem problemas de saúde), está num estado muito especial de alerta, que permite estabelecer um contato íntimo de boas vindas. O encontro através do olhar, do toque carinhoso e de palavras amorosas, traduz a melhor qualidade de acolhida ao bebê em seu novo mundo (Maldonado, 1993). Isso ficará na memória como um poderoso alicerce de bem estar e estar melhor.
Acariciar com suavidade o corpo do bebê, colocá-lo junto a si, embalá-lo, são as maneiras mais prazerosas de transmitir ao bebê a idéia de que há coisas boas nesse mundo, e que algumas até são parecidas com as do mundo intra-uterino.
Estar sensibilizado da importância deste encontro, deste primeiro contato, é fundamental para que os profissionais de enfermagem estejam dispostos a prestar um cuidado mais humanizado e de melhor qualidade ao recém- nascido e sua mãe. No entanto, a prática tem nos revelado que este encontro pode ficar extremamente prejudicado, principalmente quando surgem problemas, como a prematuridade, problemas orgânicos com o recém- nascido, ou o nascimento de crianças com baixo peso.
Bebês prematuros, com problemas orgânicos ou com baixo peso, habitualmente precisam ficar internados em uma Unidade de Tratamento Intensivo, e esta internação poderá ser muitas vezes, prolongada. Algumas unidades neonatais, permitem o livre acesso dos pais, e estimulam a participação dos mesmos em algumas práticas, a fim de que possam contribuir para a humanização, como a visita de irmãos, incentivo para que as mães cuidem de seus bebês, convidar a mãe para dar de mamar ao seio, para tocá-lo, pegá-lo ao colo, ou simplesmente aninhá-lo em seus braços.
Práticas que favoreçam o relacionamento caloroso entre mãe e filho, precisam sempre ser estimuladas e oportunizadas, pois facilitam o desenvolvimento natural da relação e deixam os bebês e as mães mais calmos e tranqüilos, fortalecendo os seus vínculos. Estas práticas podem ser sistematizadas ou não. Na verdade, humanizar não consiste somente na providência de sistemáticas ambientais de trabalho consideradas convencionalmente ‘práticas humanizadoras’, implica sim, em sensibilidade de pessoas para o envolvimento, e então, flexibilidade e singularidade para olhar as situações de enfermagem, quando se trata de mães e recém-nascidos.
As limitações, dificuldades e incertezas, expressas ou não pelas mães durante estas práticas, são consideradas, tomando-se o cuidado para não censurá-las com nossos valores, mas sim, aproveitando o momento para ouvi-las e orientá-las quando necessário, tentando diminuir a ansiedade e/ou bloqueios que possam surgir, pois o objetivo é a busca de uma relação harmônica, onde mãe/recém-nascido/enfermeira, possam juntos, estimular e serem estimulados das diferentes formas possíveis, na luta pela vida e na busca do bem estar ou estar melhor. É preciso entender que, para a maioria dos pais é chocante e estranho entrar pela primeira vez numa unidade e ver seu bebê cercado de fios e aparelhos. É difícil aceitar a volta para casa sem o filho, até porque sem levá-lo junto, os sentimentos experimentados pela mãe são a angústia, dor, ansiedade e incertezas.
O nascimento de um recém-nascido pré termo, com problemas orgânicos ou com baixo peso, pode desencadear uma série de sentimentos contraditórios e conflitantes nos pais, principalmente nas mães. Ao mesmo tempo que a maioria delas deseja estar ao lado de seu filho, elas lutam contra um sentimento de culpa, e o medo de não saber cuidar de seu filho tal como vê a equipe de saúde ou de enfermagem, ao desenvolver suas habilidades técnicas.
Klaus e Kennel (1992) dizem que o estabelecimento do comportamento maternal é um processo frágil, e que o nascimento de um bebê prematuro e/ou doente, a gravidez inconclusa, a separação precoce entre mãe e filho e um recém-nascido que responde pouco a estímulo, conspiram contra esta resposta maternal. Se a resposta maternal é inadequada, uma série de distúrbios podem aparecer no recém-nascido. Spitz (1983) denomina estes distúrbios de ‘carências afetivas’, que podem ir de uma simples cólica até uma grande depressão.
Geralmente, percebe-se quando a resposta maternal é adequada ou não. A postura da mãe durante as mamadas é, por exemplo, uma forma de comunicação. A maneira como a mãe toma o bebê em seus braços define também a relação que a mãe estabelece com a criança; estreitando-a para junto de si, da forma mais próxima possível, ou mantendo-a longe de seu corpo, em uma posição desconfortável, conservando distância de seu bebê.
Miura (1991) refere que dois sinais significativos de resposta maternal inadequada consistem na ausência de estimulação tátil e auditiva; e que a mãe dedicada comum, procura desde o início um diálogo vocal com o bebê. Ela modifica a voz, a torna mais suave e aguda que o normal; não resiste ao apelo corporal que o bebê proporciona, e o acaricia e toca várias vezes. Na minha vivência prática, não pude ainda compreender estes comportamentos das mães como uma resposta maternal inadequada, mas sim, como uma resposta maternal de sofrimento, própria da situação de crise, onde, com a ajuda da equipe e utilizando suas reservas internas, a mãe pode elaborar melhor esta situação, tomando consciência do sofrimento, para assim transformá-lo.
Na atualidade, tenho observado que mesmo com a inclusão de alguns elementos de humanização de práticas assistenciais em maternidades do nosso Estado, o cuidado de enfermagem ainda continua muito mecanizado, normatizado por procedimentos técnicos, e o processo de trabalho da enfermagem junto aos clientes vem ainda apresentando uma tendência de ‘fazer por’ antes que o ‘fazer com’.
Para ‘fazermos com’, no cuidado de enfermagem, precisamos envolver-nos pessoal, social, moral e espiritualmente. O ato de cuidar não é somente emoção, preocupação, atitude ou boas intenções. Ele é amplo, complexo, e requer ações concretas em dimensões humanísticas, sociais, éticas, biológicas e espirituais, em todos os locais em que se presta este cuidado, e principalmente na UTI Neonatal determinando, no processo de ajuda mútua, crescimento e desenvolvimento entre o enfermeiro, as mães e os recém- nascidos.
É inegável a importância da técnica e dos avanços tecnológicos, principalmente tratando-se do cuidado em unidades neonatais, de tratamento intensivo. Neste caso, a adoção de tecnologias gera a necessidade de um pessoal especializado e familiarizado não só com as patologias, mas com o uso de equipamentos e materiais ali utilizados. Porém, o que se observa, é que a especialização tecnológica está expulsando a preocupação com as necessidades humanas, o essencial ao objetivo de cuidar. Quando o aparato tecnológico tem supremacia, a experiência humana do cuidar tende a tornar-se obscurecida. Urge pararmos para refletir sobre o paradoxo aqui instalado, e voltarmos nossa atenção para o ser humano que necessita deste recurso, onde a tecnologia seja utilizada como um dos meios para o cuidado, e não o seu fim.
O que se deseja alcançar é um cuidado que vá além da objetivada execução de técnicas, favorecendo o estabelecimento de uma relação autêntica entre enfermeiro-cliente, num processo dialógico, que envolva encontros, relacionamentos e presenças, com chamados e respostas, numa demonstração de carinho, respeito e amor em que seres humanos, profissionais de enfermagem e clientes, possam conviver, cuidando e sendo cuidados.
Trata-se de um estudo qualitativo, realizado na Unidade de Internação Neonatal de um Hospital Universitário, na cidade de Florianópolis-SC, que teve como objetivo compreender a experiência vivenciada pelas mães quando do nascimento de filhos prematuros.
Como referencial metodológico utilizei conceitos e idéias da Teoria Humanística de Paterson & Zderad (1979), aliadas as concepções da Teoria de Kaplan & Mason (1960). Esta metodologia foi denominada vivenciando a relação dialógica, sendo que a mesma foi baseada nos fundamentos do modelo teórico de Paterson & Zderad (1979), porém, não compreendeu exatamente as etapas propostas pelas autoras.
Os clientes atendidos foram em número de oito, quatro mães e quatro recém nascidos. Os recém-nascidos se constituíram, segundo classificação de Bataglia & Lubchenco (apud Miura, 1991), de dois recém- nascidos moderadamente pré termo, necessitando de respirador artificial, monitorização e uso de incubadora, (entenda-se por moderadamente pré termo, os bebês que nascem entre 31 e 36 semanas); e dois recém-nascidos pré termo limítrofes, em incubadora e monitorizados, sem necessidade de respirador artificial e com desconforto respiratório leve, (que são os bebês nascidos entre 36 e 37 semanas). As mães eram jovens entre 20 e 30 anos, sendo que 03 delas vivenciavam o nascimento pela primeira vez, eram portanto mães primíparas; e uma, vivenciava o nascimento pela segunda vez, sendo que sua primeira experiência era de um parto a termo sem intercorrências clínicas, nem para a mãe, nem para o recém-nascido.
A Teoria Humanística de Paterson & Zderad
A enfermagem humanística é descrita por Paterson & Zderad (1988,p.18), como um “tipo de prática de enfermagem e de sua fundamentação teórica”. O termo Enfermagem Humanística foi escolhido para compreender os fundamentos e significados humanos da enfermagem, e para direcionar o desenvolvimento da enfermagem através da exploração de sua relação com o seu contexto humano.
A orientação humanística busca ter uma visão mais ampla do potencial dos seres humanos e, em lugar de tentar suplantar outras visões, volta-se para suplementá-las. Não existe uma maneira simples de definir a essência da enfermagem humanística, porque ela se preocupa com as experiências fenomenológicas dos indivíduos, com a exploração das experiências humanas.
A enfermagem humanística considerada como um diálogo vivo, oferece um marco de referência que envolve o encontro, a presença, o relacionamento e um chamado e uma resposta., e é um tipo particular de situação humana, na qual a relação inter-humana está dirigida intencionalmente a nutrir o bem estar e o estar melhor de uma pessoa com necessidades evidentes na relação com a dimensão saúde - doença, característica da vida humana.
Com base nesta visão, os elementos do sistema seriam o ser humano (cliente/enfermeira) reunidos numa transação intersubjetiva (a relação, o diálogo) com um fim determinado (a saúde) que se dá no tempo e no espaço (ambiente), num universo de homens e coisas (Paterson & Zderad, 1979).
A Teoria de Kaplan e Mason
Kaplan & Mason (1960), enfocaram as reações das mães ao nascimento de um bebê prematuro, ou do nascimento de filhos com problemas de saúde, sob o ponto de vista de uma reação aguda ao trauma, em vez da perspectiva de um processo patológico em andamento. Kaplan & Mason (1960) reconheceram que as reações a um evento estressante, tal qual o nascimento de um bebê pré termo, podiam ser intensamente condicionadas por fatores de personalidade previamente existentes, porém enfatizaram que as práticas hospitalares e o papel da equipe de saúde podem exercer uma influência positiva sobre estes fatores. Neste sentido, esquematizaram este processo vivido pelas mães, em quatro momentos, que precisam ser dominados pelas mães de bebês prematuros, para que a relação mãe-filho se estabeleça e seja uma relação saudável. Num primeiro momento, a mãe se prepara para uma possível perda do filho. Este preparo antecipado faz com que haja uma retirada da relação estabelecida com a criança que vai chegar, a mãe se prepara para a sua morte. Num segundo momento, enfrenta a sensação de fracasso ao reconhecer que como mãe, não conseguiu gerar uma criança a termo e/ou saudável. Num terceiro momento, se o recém-nascido melhora, o problema está em retomar o relacionamento que ficou interrompido, pois esta havia se preparado para a perda. No quarto momento, a mãe começa a compreender que o seu bebê difere de um recém-nascido normal em termos de desenvolvimento e necessidades, apresentando vontade de adquirir conhecimentos especiais para atendê-lo.
O Processo de Enfermagem
A vivência dialógica proposta compreendeu três fases : o diálogo intuitivo, o diálogo científico e a fusão intuitivo-científica. É importante lembrar que as fases não ocorreram de formas distintas, elas muitas vezes apareceram sobrepostas ou interligadas, ocorrendo simultaneamente.
A primeira fase denominada o diálogo intuitivo, envolveu o encontro, relacionamento, presença e um chamado e uma resposta. Encontro é o reunir-se dos seres humanos. No encontro enfermeira/mãe/recém-nascido, há alguém para atender e alguém para ser atendido. A enfermeira ao mesmo tempo que tenta conhecer, deixa-se conhecer. Ela procura incutir confiança para que a relação seja positiva, deixa a mãe expressar suas angústias e medos, dá atenção ao significado das palavras, reconhecendo tudo como novidade, estabelecendo uma escuta objetiva e subjetiva. Na relação mãe/recém-nascido a mãe acompanha os movimentos do bebê, ajusta-se ao mesmo para que haja reciprocidade no encontro. O bebê por sua vez, se acalma quando levado ao colo ou embalado. Os fatores que podem influenciar este encontro são sentimentos surgidos pela antecipação do encontro, a singularidade de cada ser, e a decisão de revelar-se ou conter-se com o outro.
No relacionamento, um está com o outro. É aqui que se estabelece a relação ‘EU-TU’ descrita por Buber (1974), onde um vai em direção ao outro, numa presença autêntica, buscando ‘vir a ser mais’. No relacionamento ocorre também a relação ‘EU-NÓS’, que é a relação estabelecida com a família, amigos, comunidade ou objetos. No relacionamento, a enfermeira partilha o processo de desenvolvimento do recém-nascido com os pais, enquanto os pais envolvem-se nos cuidados. O bebê para demonstrar a relação estabelecida, sincroniza os seus movimentos com o ritmo da voz da mãe ou da enfermeira, mostra-se ‘com’.
A presença é a qualidade de estar aberto, perceptivo, pronto e disponível. A enfermeira mostra-se disponível cognitiva e emocionalmente, e a mãe e o recém-nascido mostram-se presentes, respondendo da mesma forma. A presença pode ser vivenciada num olhar empático, na adaptação do comportamento ao ritmo do outro, no contato visual...
Chamados e respostas são entendidos como a comunicação. Enfermeira/mãe/recém-nascido chamam e respondem um ao outro, de modo simultâneo. Quando estabelecemos o encontro, o relacionamento e nos mostramos presentes, estamos sempre chamando e respondendo. O recém- nascido chama respondendo aos estímulos do meio através de desconforto ou choro, a enfermeira por sua vez, responde providenciando uma iluminação mais suave, buscando como resposta, o conforto do bebê. A enfermeira chama os pais para o preparo para a alta, estes respondem adquirindo habilidades para tal. Mãe/recém-nascido/enfermeira chamam e respondem, imitando ritmos e vocalizações para captar e manter o diálogo. Todo este processo dialógico é vivenciado através de gestos, palavras, olhares, atitudes, entonação da voz, expressões corporais e faciais, comportamentos...
Esta etapa estabelece-se, quando a enfermeira inicia o conhecimento do cliente, quando o vivencia. ‘Vivenciar’ a mãe e seu recém-nascido pré termo, significa vivenciar os acontecimentos junto com os mesmos, procurando compreender intuitivamente a sua experiência. Para vivenciar a experiência do outro, precisei buscar o auto conhecimento, através de leituras científicas, romances, poesias ou filmes que me fizeram refletir sobre as questões existenciais. O uso do auto conhecimento aliado à auto percepção e sensibilidade é o ponto chave para que a relação dialógica intuitiva se estabeleça.
Os registros foram feitos em um diário de campo, em forma de narrativa, procurando descrever de maneira clara e concisa como foi a relação dialógica intuitiva vivenciada pela enfermeira/mãe/recém-nascido.
A segunda fase do processo denominada o diálogo científico caracteriza-se por uma interpretação do diálogo intuitivo vivenciado, acrescentando o diálogo científico conhecido. É nesta etapa que se estabelece a relação ‘EU-ISSO’ de Buber (1974). A relação ‘EU-ISSO’ é que permite ao homem interpretar, categorizar e acrescentar o conhecimento. Utilizei como referência principal para a organização do conhecimento científico, a classificação de Kaplan & Mason (1960).
Nesta fase fiz a comparação e classificação dos dados intuitivos registrados, acrescentando o conhecimento científico explicitado, onde o fenômeno mostrou-se sob os seus vários aspectos.
É nesta etapa do diálogo científico, que se inicia em tese, o compartilhar de conhecimentos, a partir de temas que emergem da experiência vivenciada. Num processo de comunicação e troca, a enfermeira ensina e aprende. Este compartilhar foi vivenciado sempre que necessário, na relação individual ou em grupos.
Os registros foram feitos também no diário de campo, em forma de narrativa, descrevendo como se deu o diálogo científico.
A análise destas duas fases do processo, diálogo intuitivo e diálogo científico, foi feita pela enfermeira, a partir das expressões verbais ou não verbais das mães e seus recém-nascidos, enquanto atores vivenciando a relação dialógica.
A terceira fase denominada a fusão intuitivo - científica envolveu a compreensão do momento em que se deu o encontro entre o intuitivo e o científico. Foi na análise da experiência, vivenciada pela enfermeira/mãe/recém-nascido, que comparei e entrecruzei os diálogos intuitivo e científico, procurando compreender os processos vivenciados pelas mães quando experienciavam o nascimento prematuro. A partir desta análise, pude estabelecer metas, para reestruturar a prática assistencial, buscando sempre numa relação dialógica, um cuidado mais humanizado. Esta análise foi registrada no diário de campo, juntamente com os registros das fases anteriores.
RESULTADOS: VIVENCIANDO A RELAÇÃO DIALÓGICA
1ª Fase –O diálogo intuitivo –
Para vivenciar o diálogo intuitivo foi preciso relembrar e re-aprender a linguagem dos sentidos, dando um novo enfoque para o ver, ouvir e sentir o outro, estabelecendo assim uma interação empática, onde um foi ao encontro do outro (a relação EU-TU), buscando cuidar e ser cuidado com amor. Nesta perspectiva, procurei ser carinhosa no diálogo, no toque amoroso, nos olhares e nos gestos, tentando mostrar-me disponível para as mães e seus recém- nascidos.
Vivenciar o intuitivo numa relação, exige do indivíduo muita concentração, sensibilidade e reciprocidade, indo além dos procedimentos rotineiros aos quais estamos tão habituados na nossa prática diária. A intuição é designada de um modo geral, como um modo de conhecimento imediato e direto que coloca no mesmo momento, o espírito em presença de seu objeto (Durozoi & Roussel,1996). Para o alcance destes requisitos, torna-se necessário que a enfermeira busque conhecer-se, mantendo-se aberta às experiências do mundo. Na busca do meu auto conhecimento, fiz leituras de alguns romances, como “O Amor” e assisti a alguns filmes que abordam as várias faces da existência humana, como ‘Com honra e Mérito’ e ‘Razão e Sensibilidade’, que ajudaram-me no sentido de ser comigo mesma, fazendo-me refletir um pouco mais sobre as questões existenciais.
Nesta fase de diálogo intuitivo, procurei desde o primeiro momento com cada um dos clientes, e no decorrer de toda a vivência mostrar-me presente para o encontro, relacionamento e chamados e respostas.
Estar com o meu processo de crescimento pessoal em andamento, contribuiu para que eu pudesse estar amorosa na relação com as mães e seus recém-nascidos pré termo, pois é só desta maneira que podemos nos mostrar e estar disponíveis o suficiente na relação.
Senti que algumas vezes, mesmo mostrando-me disponível na relação, o encontro não aconteceu no primeiro momento.
Yalom (apud Cardella, 1994 p.61) afirma que estar disponível não assegura o encontro com o outro:
“Aproximar-me de uma outra pessoa com uma atitude EU-TU, não assegura o desdobramento de um encontro EU-TU mútuo. Sou incapaz de forçar o outro a encontrar-me. Não posso unilateralmente, por meio de algum empenho sobre-humano ou místico ocasionar o encontro. Aqui confronto-me profunda e inexoravelmente com os limites da minha própria humanidade”
Após um acordo compartilhado com as mães, ou pais presentes, para aceitação e participação no trabalho, procurei nos vários momentos do cuidado, na amamentação ou durante algumas práticas, buscar os chamados e respostas que me levariam a compreender as percepções das mães e seus recém-nascidos, acerca do nascimento prematuro.
Neste sentido, vejamos algumas das colocações das mães :
‘Quando soube que meu bebê era prematuro, nem sei o que pensei, senti muita tristeza, culpa, afinal o outro bebê não foi assim. Não sei, não o sinto como meu bebê’ (Mãe de Conquista)
‘É engraçado, só quando ele foi para o bercinho, é que senti que estava mais próxima dele. A incubadora, os fios, deixam a gente assustada, parece que aquele pequeno ser, não é nosso bebê...’ (Mãe de Simpatia)
A ansiedade e a culpa aparecem aqui, como as duas emoções mais aparentes nas conversas das mães. O nascimento de um bebê prematuro parece também reforçar nas mães um sentimento de fracasso e irrealidade junto à criança.
2ª Fase –O diálogo científico –
Durozoi & Roussel (1996) referem-se ao conhecimento científico como qualquer conhecimento racional, elaborado a partir da observação, do raciocínio ou da experimentação, opondo-se principalmente à opinião ou conhecimento imediato. Neste contexto, entendo o conhecimento científico como uma série de experiências, informações e conhecimentos, que quando mobilizados e aliados ao conhecimento intuitivo, ampliam e influenciam o saber na prática de enfermagem, oferecendo subsídios para o questionamento profissional e pessoal.
Para Paterson & Zderad (1979), o conhecimento científico é vivenciado na relação EU-ISSO, ou seja sujeito - objeto, na qual é possível obter-se algum conhecimento do sujeito através da coleta de dados, em prontuários ou através de informantes. Caracteriza-se, a partir do intuitivo, como um momento de reflexão, análise, comparação, interpretação e categorização, sendo que pela relação EU-ISSO, a relação EU-TU é validada.
Nesta fase do diálogo científico, a situação de enfermagem vivenciada de modo intuitivo, foi conceituada e expressada levando-se em consideração o que já foi descrito por Kaplan & Mason (1960). Foi preciso, primeiro ouvir as mães, para então usar o experienciado, e a partir daí, cuidar com amor na sua vivência. Para tal, os registros do diálogo intuitivo foram lidos e relidos inúmeras vezes, buscando nas expressões e entonações de voz, compreender o seu significado, pois muitas vezes eles eram muito mais amplos do que se podia visualizar.
Para auxiliar na relação intuitivo científica realizei o exame físico de cada um dos recém nascidos, e li várias vezes os prontuários das mães e recém- nascidos, procurando identificar na história clínica e de enfermagem, dados que pudessem ser úteis nesta relação. Foi realizada uma entrevista informal com cada uma das mães, e duas reuniões com grupos de 02 a 03 mães, onde foram discutidos assuntos propostos pelas próprias mães. As mães pediram para conversarmos sobre prematuridade e cuidados com o bebê em casa.
A trajetória intuitivo científica precisou ser retomada várias vezes, para a compreensão das minhas interpretações.
Para Paterson & Zderad (1979), uma vez que a situação de enfermagem tenha sido vivenciada de modo intuitivo, ela é conceituada e expressada de acordo com algum referencial do conhecimento sistematizado como científico.
Foi neste sentido que utilizei-me das clássicas fases de Kaplan & Mason, para interpretar a fala e o gestual das mulheres no diálogo intuitivo, fazendo assim, a minha própria classificação, com o intuito de estabelecer a relação EU-ISSO.
A partir das expressões verbais ou não verbais, retomando as colocações das mães, evidenciadas no diálogo intuitivo, pude identificar que para as mães, vivenciar o nascimento prematuro significa: experienciar a ansiedade, por não ter em seus braços o bebê sonhado; o medo, por achar que não saberá lidar com o bebê real; a culpa e a sensação de fracasso, por não compreender as causas reais do nascimento prematuro; e um sentimento de irrealidade, por não sentir o bebê como seu, por senti-lo distante enquanto se encontra na incubadora. Nas colocações das mães, pude ainda observar que elas não estavam preparadas, nem física e nem psicologicamente para o nascimento do bebê. Parece-me que para as mesmas, o nascimento prematuro afeta a sua auto-estima e a sua capacidade de maternagem, e que toda a experiência do nascimento e apego, ocorre sob uma densa nuvem de medo. Estes sentimentos experienciados pelas mães de bebês prematuros (situação vivenciada através da relação dialógica), vem ao encontro do descrito por Kaplan & Mason(1960), entre outros, (situação experienciada), sendo possível identificar as fases pelas quais as mães passavam. Embora estas fases descritas por Kaplan & Mason, tenham sido resultado de práticas de atendimento anteriores, num ambiente hospitalar mais tradicional, o que pude observar, é que elas continuam presentes e atuais, mesmo a mãe tendo um contato precoce com o seu bebê.
Pude observar que a maioria das mães estavam passando pelo segundo momento ou seja a sensação de fracasso, ao mesmo tempo em que vivenciavam o terceiro momento, a retomada do relacionamento interrompido. Uma das mães, estava retomando o relacionamento interrompido, mas vivenciava ainda o primeiro momento, ou seja, o preparo para a perda, que de acordo com Kaplan & Mason (1960), pode ser vivenciado durante toda a internação. Notei que as mães vivenciavam estes momentos de fracasso e preparo para a perda, quando ao ver o seu bebê, este não correspondia à imagem do bebê esperado, como podemos ver retomando as colocações das mães:
‘Me sinto tão ansiosa. O bebê que eu queria era tão rosado, ele é tão amarelinho’... (Mãe de Felicidade)
Ou quando o bebê não respondia aos seus estímulos :
‘Não sei, ela parece que não liga para a gente, é tão diferente da minha outra filha...’ (Mãe de Conquista)
Ou ainda quando a mãe manifestava medo de organizar as coisas em casa para esperar o bebê :
‘Sabe, eu ainda não preparei nada em casa para esperá-la. A gente quer comprar, mas tem um certo medo, né? Não gosto nem de pensar, apesar de agora ela estar bem. Agora não tem mais perigo, não é? (Mãe de Simpatia)
Estas mães manifestaram temor, ansiedade e apatia, relacionando-se timidamente com seu filho, e, envolvendo-se pouco nos cuidados. A retomada do relacionamento pode ser observada, quando as mães sentiram que o bebê estava melhorando. Neste momento, procuraram maiores informações sobre o seu bebê, acariciavam, olhavam, conversavam e tocavam com mais freqüência.
Como participante desta experiência humana, procurei estar sensível para reconhecer e vivenciar estas situações conjuntamente, estabelecendo uma relação amorosa e empática, de solidariedade ou apoio, dependendo do caso, adquirindo assim, uma percepção mais ampla não somente de quem é o outro, mas principalmente de quem sou eu. Segundo Watson (1988), os enfermeiros que reconhecem e usam sua sensibilidade, promovem auto-desenvolvimento, auto realização e são capazes de encorajar o mesmo crescimento em outros. Para a autora, a única maneira para desenvolver sensibilidade para o eu de alguém e do outro, é reconhecer e sentir seus próprios sentimentos.
Após análise destas duas fases, passamos para a 3ª fase, denominada de fusão intuitivo - científica, onde me proponho um exercício de reflexão, para compreender quando ocorre a fusão entre os diálogos intuitivo e científico. A fusão intuitivo - científica, não foi muito fácil de ser evidenciada, visto o tempo proposto para o desenvolvimento da prática ser muito limitado, e muitas vezes não conseguir diferenciar o que estava realmente vivenciando, pois os diálogos intuitivo e científico parecem alimentar-se um ao outro, estabelecendo assim uma comunicação.
O conhecimento intuitivo é feito para ser refletido, pensado, discutido, e se possível, incorporado na vida para se ter elementos de reflexão ou de sabedoria, aliando-se ao conhecimento científico.
Na verdade, os dados dos sentidos, ou seja o diálogo intuitivo, aparece aqui, como um recurso, que junto com o diálogo científico nos leva a compreender, que a partir do cuidado amoroso, consubstanciado pela relação dialógica, as mães passam a construir o seu conhecimento, acreditando no seu potencial, entendendo o processo vivenciado quando do nascimento prematuro, dividindo-o com a enfermeira, facilitando o encontro delas consigo mesmas e portanto, aproximando-se de seu filho, mais rapidamente.
CONCLUSÃO
Ao findar este trabalho, dou-me conta de que muito ainda há por se fazer na busca de um cuidado amoroso na enfermagem. Por este motivo, não pretendo apresentar soluções, pois acredito, como tantos outros autores, que as verdades não são absolutas, e entendo que elas devam ser instauradas num consenso de comunicação, onde as vivências possam e devam ser, questionadas, negociadas ou alteradas.
Refletindo sobre a vivência, observo que muitas vezes, esta, constituiu-se numa caminhada solitária, pois no ambiente da UTI Neonatal, ainda nos encontramos muito centrados no fazer e desenvolver habilidades e procedimentos, valorizando o objetivo, em detrimento da sensibilidade e intuição. Pouco a pouco porém, as portas foram se abrindo vagarosamente, e pude, junto com a equipe, trocar experiências, refletir sobre o referencial utilizado, e tecer estratégias para a construção do cuidado dialógico amoroso.
A união da subjetividade com a objetividade mostrou-se como fios entrelaçados, buscando na confecção de uma trama com cores diferenciadas, num cenário diferenciado, a relação dialógica proposta. Neste sentido, creio que fui mais bem sucedida na compreensão dos significados da experiência vivenciada pelas mães quando do nascimento de filhos prematuros, pois pude olhar a vivência sobre outra ótica, buscando a relação da vivência (senso comum, expressões, olhares, gestos, etc..), com a experiência (Kaplan e Mason, características do recém-nascido pré termo, conhecimento de técnicas humanizadoras, etc..) procurando no entanto, não deixar que este conhecimento prévio interferisse na análise do fenômeno, mas sim, implicando numa leitura, que contribuiu para transformar as vivências das mães em algo positivo.
Vir de lá para cá com o intuitivo, mostrou-se como um desafio. Neste estudo, o intuitivo manifestou-se não apenas como o elemento que trouxe qualidade para a tradução da compreensão da ciência, mas sim, como a condição essencial para que a ciência se estabelecesse.
A enfermagem dialógica apresenta-se como uma alternativa, onde o enfermeiro numa relação transacional, vive uma experiência existencial que permite o seu conhecimento e o do outro.
Nesta relação, busquei cuidar indo além da execução técnica de procedimentos e rotinas, compartilhando experiências, estando aberta aos questionamentos e questionando a mim mesma e ao outro, numa vivência autêntica.
Na busca da relação dialógica, tropecei algumas vezes, ora por dificuldade em oferecer uma presença genuína e um diálogo autêntico, ora por dificuldade em compreender o diálogo das mães e recém-nascidos, pois habituados que estamos com o lado objetivo e técnico, muitas vezes acabamos embotando a nossa sensibilidade e subjetividade. Acredito que leituras, momentos de reflexão e concentração ajudaram, e muito, na superação destas dificuldades, levando-me a assumir compromissos e a ampliar a minha maneira de ver e perceber, para que pudesse estar aberta aos inúmeros fenômenos que se manifestaram tanto na vivência profissional quanto na minha vida pessoal.
O processo utilizado levou-me a compreender melhor o ser humano, aprendendo a ouvir o que normalmente não é verbalizado, a enxergar o que não se mostra ao primeiro olhar, e a perceber melhor o que cada cliente queria transmitir. A intuição, foi evidenciada em íntima ligação com o autoconhecimento.
O ambiente da UTI Neonatal, tão conhecido das enfermeiras, manipulando equipamentos complicados e passando grande parte do tempo debruçadas sobre os bebês, com expressões sérias nos rostos, é compartilhado com as mães, que o sentem como um ambiente estranho e tenso, dificultando a interação com o seu filho. Ali as mães são ensinadas a cuidar, mas esquecemos de ensinar-lhes a observar os chamados e respostas dos seus bebês. Como poderíamos ensiná-las? Pude observar que a maioria das mães, não conversa com o bebê. Será que elas não querem conversar? Será que elas se sentem inibidas?
Na prática da ‘mamãe canguru’ as mães também não se mostram muito convencidas da eficácia da mesma. Ou será que elas se sentem pouco a vontade em um ambiente sem privacidade?
Chamou-me a atenção a insegurança das mães quanto ao cuidado com o bebê em casa. Será que não precisamos fazer um acompanhamento domiciliar? Como fazê-lo? Será que não precisamos estruturar a nossa equipe para atender estas mães?
Muitas são as indagações, muito se tem ainda a fazer, mas no momento ouso apenas propor algumas estratégias que acredito, poderão ajudar para que a trama em busca da relação dialógica continue a ser tecida.
Proponho que :
Pense-se em espaços, pequenos quartos ou biombos, onde as mães possam ter privacidade enquanto interagem com o seu bebê;
Os esforços dos pais sejam apoiados e assista-se as famílias na transição que ocorre após a alta do bebê, montando grupos de pais uma vez por semana ou ligando a família com recursos comunitários envolvidos no atendimento domiciliar;
Mantenha-se um livro de registros das visitas e telefonemas das mães, para determinar quais as mães que precisam de ajuda;
A UTI seja aberta 24 horas por dia aos pais e que seja flexível quanto à visita de avós, tios , primos ou irmãos;
Sejam providenciadas cadeiras de balanço ou cadeiras confortáveis, onde as mães possam embalar os seus bebês durante a prática da mãe canguru, ou quando estão com seus bebês no colo;
Sejam introduzidas novas práticas que favoreçam a humanização;
As mães e enfermeiras sejam estimuladas a engajarem-se nas práticas de humanização já introduzidas, como o projeto canguru;
A família seja encorajada a trabalhar junto durante a crise desencadeada pelo parto prematuro, ajudando pai e mãe a conversar sobre suas dificuldades um com o outro;
As mães sejam ensinadas a cuidar de seus bebês, enquanto este está hospitalizado, de modo que na alta a mesma sinta-se apta para atende-lo;
Oriente-se as mães, para que as mesmas aprendam a captar os sinais que o bebê apresenta, principalmente de mudanças no nível de atividade motora e orientações de postura;
Os pais sejam orientados sobre o que esperar dos bebês e deles mesmos. Ensinar como conseguir sorriso e contato olho a olho;
Oriente-se sobre a estimulação, que deve ser de tipos apropriados e adequada. Uma sobrecarga de estímulos pode deixar o bebê irritado e choroso;
Utilize-se vídeos para que os pais possam acompanhar o desenvolvimento de bebês egressos da UTI, facilitando assim por parte dos mesmos, a percepção dos padrões de crescimento e necessidades especiais de seus filhos;
Descreva-se a aparência do bebê antes da mãe entrar no berçário. Falar da incubadora, dos aparelhos, dos fios, mas reforçar principalmente a importância de sua presença e o quanto o bebê espera ansiosamente pela sua mãe, tocando-o, acariciando-o e conversando com ele. Explicar às mães que alguns estudos demonstram a eficácia do toque no relaxamento, na melhoria da respiração, no desenvolvimento físico e no ganho de peso.
A equipe de saúde procure o auto conhecimento, no sentido de compreender e se relacionar melhor com os seus clientes.
É importante nos conscientizarmos que na UTI Neonatal são no mínimo, três os pacientes: o recém-nascido, a mãe e o pai, e é proporcionando um cuidado de qualidade à mãe e ao pai, que poderemos estabelecer a relação dialógica com o recém-nascido.
Esta nova maneira de cuidar, implica em uma oportunidade em exercitar a sensibilidade e a troca, e constitui-se em um constante aprendizado humano.
A utilização do amor no cuidado, favorece a transformação, envolvendo uma mudança de valores e evolução, preparando o mundo para um discurso mais afetivo que racional. Oferece subsídios para a construção do conhecimento, envolvimento e participação dos profissionais e engajamento dos serviços de saúde, mostrando-se como uma contribuição, a uma preocupação que se torna cada vez mais premente na enfermagem- a qualidade do cuidado.
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Maria Emilia de Oliveira - Mestre em Assistência de Enfermagem pela UFSC, Professora do Departamento de Enfermagem da UFSC.
Dissertação defendida por Maria Emilia de Oliveira em outubro de 1998- UFSC. Título: Cuidando-aprendendo Enfermagem com amor: uma experiência dialógica com mães/recém-nascidos pré-termo