Revista Eletrônica de Enfermagem - Vol. 03, Num. 01, 2001 - ISSN 1518-1944
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás - Goiânia (GO - Brasil).
 

CONSTRUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE UM PAINEL INFORMATIVO PARA PASSAGEM DE PLANTÃO: relato de experiência

 Cristina Arreguy-Sena, Raquel Muniz Leite Oliveira, Denise Maria Lessa de Lima, Cátia Maria Rocha Vasconcellos, Eduardo Lúcio do Sacramento *


ARREGUY-SENA, C.; OLIVEIRA, R. M. L.; LIMA, D. M. L.; VASCONCELLOS, C. M. R.; SACRAMENTO, E. L. - Construção e utilização de um painel informativo para passagem de plantão: Relato De Experiência.  Revista Eletrônica de Enfermagem (online), Goiânia, v.3, n.1, jan-jun. 2001. Disponível: http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen


RESUMO: Pesquisa-ação que descreve a construção, utilização e avaliação de um painel, contendo figuras que retratam procedimentos técnicos/administrativos sobre situações da passagem de plantão realizada pela equipe de enfermagem em UTI. Num hospital do interior mineiro, que atende pessoas com câncer, aplicou-se um painel (10/2000 a 04/2001), contendo 25 figuras distintas imantadas, sendo seu uso avaliado após 20 plantões de manuseio. O mesmo foi considerado bom/muito bom por 75% dos participantes entrevistados, mas, de forma unânime, foi enfatizada a capacidade do painel para sintetizar informações. Destacou-se seu valor como suporte complementar no processo comunicativo durante a passagem de plantão numa UTI.

UNITERMOS: passagem de plantão, comunicação, UTI, enfermagem, pesquisa-ação.

ABSTRACT: It is a research and action work, which describes the building, use and evaluation of a panel that contains pictures, which reproduce technical and administrative procedures on a specific situation. This situation involves a turn procedure done by the nurse staff into a UTI. In a hospital from the interior of Minas Gerais, which attends cancer patients, a panel was exhibited  from October 2000 to April 2001. This panel contains 25 mantled and distinctive pictures, and its use was evaluated after 20 turns. It was considered to be good by 75% of the interviewed participants. By all of the participants, on the other hand, it was emphasized the panel capacity to synthesize information. It was assessed its value as a complementary support to the communicative process during the turn on the UTI.

KEY WORDS: Turn procedure, communication, UTI, nurse, research-action work

01- INTRODUÇÃO

Para a qualificação do serviço de enfermagem numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI), é imprescindível garantir a continuidade das atividades desenvolvidas pelos profissionais da área de saúde que atuam em horários complementares, assumindo diretamente a assistência multidisciplinar.

Como o perfil  dos profissionais da equipe de enfermagem envolve atividades ininterruptas e uma interação com todas as categorias profissionais da área de saúde e dos serviços de apoio (como limpeza, lavanderia, manutenção, transporte, dentre outros), a utilização da transferência de informações adquire um caráter de fundamental importância.

Nesse contexto, a comunicação pode ser concebida como algo mais abrangente que a exteriorização de palavras, ou seja o compartilhamento de idéias e informações imprescindíveis para proporcionar uma atividade laboral em grupo (KRON, 1972; LOURENÇO et al. 2000). Acrescenta Quick (apud LOURENÇO et al., 2000, p.43) que “a maneira como as pessoas se comunicam em palavras ou em linguagem não-verbal não somente reflete como se sentem em relação ao trabalho, mas também como constroem (ou abatem) a eficácia do grupo”.

A obtenção da efetividade, rapidez e atualização da comunicação entre profissionais da enfermagem influencia na tomada de decisões clínico-administrativas e no planejamento e replanejamento da assistência de enfermagem.

Como o processo comunicativo entre os profissionais da enfermagem constitui-se um indicador da qualidade do atendimento, faz-se necessário usar estratégias que sejam capazes de tornar a comunicação eficaz na área de saúde. Isso porque a captação de sinais e sintomas, realizada de forma incompleta pelos profissionais da área de saúde, pode gerar distorções e inferências precipitadas ou errôneas  sobre as manifestações ou os motivos de um determinado fato.

A passagem de plantão é uma estratégia descrita nos manuais e rotinas institucionais, implementada pela maioria dos serviços, a qual é capaz de assegurar a transferência de informações e evitar a solução de continuidade dos cuidados necessários aos usuários do sistema de saúde nas 24 horas.

Ao lidarmos com uma clientela criticamente enferma, o processo comunicativo adquire relevância ainda maior (TALHINHAS et al. 1997), uma vez que as informações atualizadas são a base para o processo decisório de intervenções que podem fazer a diferença entre a vida e a morte. Isso porque as intervenções nos setores intensivos são adotadas tendo por base a prioridade de fatos e a avaliação dos resultados.

Ao analisar a importância da passagem de plantão, CAMARGO et al. (1998, p.74) consideram que ela é “um instrumento de comunicação relevante que a enfermagem utiliza para informação do estado de saúde do paciente, visando ao planejamento da prestação de assistência de enfermagem e estimulando a reflexão crítica sobre a assistência a ser prestada no plantão subseqüente”

Numa passagem de plantão, o conteúdo das mensagens permutadas diz respeito a situações assistenciais-administrativas relativas à pessoa internada e ao setor da internação. Essas situações são operacionalizadas através do relato das condições de saúde dos usuários  e da infra-estrutura física e material do setor. O que se pretende, com essa atividade profissional é criar condições para que haja a continuidade dos cuidados nas 24 horas subseqüentes. Num setor aberto (aquele em que o fluxo de profissionais atende a demanda espontânea, ou seja, as pessoas podem entrar ou sair do setor sem restrições rígidas), a passagem de plantão, via de regra, ocorre na sala da chefia, no posto de enfermagem ou em outro ambiente dentro do próprio setor. Reúnem-se, ali, profissionais de dois turnos distintos: o grupo que está saindo (emissor das informações) e outro que assumirá o setor (receptor das informações). São trabalhadores da equipe de enfermagem de distintas categorias que se encontram num mesmo ambiente físico ou em ambientes distintos para que haja a troca de informações. Quando há separação de categorias, ela ocorre em dois grupos: no primeiro, reúnem-se as categorias profissionais de nível médio e em outro, os enfermeiros.

Outro fator que influencia a passagem de plantão é a forma de organização da equipe de enfermagem, ou seja, a maneira como o trabalho é divido entre a equipe. Nos casos em que há divisão por atribuição, a passagem de plantão de todo o grupo permite uma melhor visualização do que está ocorrendo com as pessoas que necessitam de cuidados; já no caso de divisão de trabalho por assistência integral, os grupos que cuidaram e que irão cuidar das pessoas criticamente enfermas poderão integrar-se numa permuta de informações.

Cabe destacar, ainda, que dentre as vantagens da passagem de plantão realizada com toda a equipe de enfermagem, há a possibilidade de compartilhamento de informações por profissionais que podem ter percepções diferentes sobre um mesmo fato e sobre as condições do setor. A visão global desencadeada pela passagem de plantão que ocorre envolvendo toda a equipe, possibilita a obtenção de melhores resultados do ponto de vista da satisfação do trabalhador, uma vez que o trabalho é percebido como um produto final concreto quando comparado ao parcelamento de informações e à fragmentação da assistência.

A comunicação que ocorre no transcorrer da passagem de plantão será eficaz na medida em que traduzir o modo como a equipe lida com a pessoa em estado crítico, fornecendo-lhe alternativas de recuperação (ATKINSON & MURRAY, 1989; TALHINHAS et al., 1997; MESQUITA, 1997).

Como as intervenções de enfermagem são de caráter contínuo, reunir toda a equipe de enfermagem constitui-se uma atividade que requer esforço máximo, planejamento bem elaborado e determinação precisa. As interrupções durante a passagem de plantão pelos usuários do sistema de saúde, seus familiares, profissionais de saúde, serviços de apoio e outros grupos são fatos de ocorrência comum que refletem a dinâmica e continuidade do modelo de atendimento hospitalar.

São diferenciadores da passagem de plantão de um setor de internação de clínica ou cirurgia para uma UTI a dificuldade da equipe para se afastar das pessoas que se encontram internadas e a rapidez do fluxo em que as informações são geradas e precisam ser compartilhadas.

Visando a amenizar a dificuldade de reunir a equipe de enfermagem, intensificando a precisão da transferência de informações e proporcionando percepção da exatidão dos fatos, é comum observarmos a passagem de plantão ser realizada próxima ao leito do usuário do sistema de saúde.

Em nossas experiências diárias, muitas vezes, prestamos assistência de enfermagem a pessoas leigas que não compreendem o significado dos termos técnicos, o que faz com que elas fiquem sem parâmetros para avaliarem se o que está sendo dito a seu respeito é ou não correto. Apesar não entenderem a linguagem técnica, os indivíduos atendidos numa UTI emitem julgamentos próprios acerca daquilo que lhes está acontecendo. Modificações de condutas, descrição de pareceres de outros profissionais e detalhamento das condições de saúde do indivíduo são mencionados ao lado do leito das pessoas criticamente enfermas, num linguajar nem sempre compreendido pelos usuários; uma das críticas realizadas à passagem de plantão próxima ao cliente fundamenta-se nessa atitude.  

Ponderam GOMES & KAWAKAME (1998, p.79) que nem sempre a passagem de plantão é bem aproveitada e compreendida pelos membros da equipe de enfermagem, ao afirmar que:

 “embora essa atividade seja de grande importância para a garantia da continuidade da assistência prestada aos pacientes, a mesma tem sido executada como um ritual, muitas vezes sem significado e, permeada por vários obstáculos que interferem na sua qualidade, tais como: ruídos, interrupções, tempo destinado à atividade dentre outros”

Daí elaborarmos o presente estudo na área da comunicação que ocorre  durante a passagem de plantão, uma vez que julgamos importante estabelecer uma estratégia complementar que contenha a síntese de algumas informações pertinentes aos procedimentos invasivos, não-invasivos e questões administrativas vinculadas a pessoas criticamente enfermas.

02- OBJETIVO

Descrever a construção, utilização e avaliação do painel, contendo figuras que retratam procedimentos técnicos/administrativos sobre situações da passagem de plantão realizada pela equipe de enfermagem na UTI.

03- METODOLOGIA

Pesquisa qualitativa da linha humanista da pesquisa-ação, segundo referencial de  Paulo Freire (FREIRE, 1987; FREIRE, 1990; FREIRE, 1996), o qual permite a interação entre pesquisadores e pesquisados num movimento contínuo e processual de preparo e desenvolvimento didático-pedagógico para a elaboração, implementação e avaliação do painel complementar destinado à passagem de plantão da equipe de enfermagem numa UTI. O presente trabalho não contou com financiamento, sendo realizado com recursos dos próprios pesquisadores. Após realizarmos prévio contato com a Direção Geral e de Enfermagem da Instituição na qual pretendíamos implementar o painel, elaboramos uma parceria com a mesma. O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para apreciação, tendo sido aprovado. Ele foi implementado em duas etapas, a saber: 1ª) a construção de um painel esquemático para subsidiar o processo comunicacional realizado durante a passagem de plantão de uma UTI; 2ª) a avaliação do uso do painel complementar.

1ª etapa: Construção de um painel esquemático para subsidiar o processo comunicacional realizado durante a passagem de plantão de uma UTI pela equipe de enfermagem

O painel foi construído, a partir das experiências dos pesquisadores em atuar em áreas intensivas e em lidar com pessoas criticamente enfermas, tendo como temática central conteúdos administrativos e assistenciais prioritários que permeiam o quotidiano de uma passagem de plantão da equipe de enfermagem.

Participaram os cinco enfermeiros autores, externando sua aquiescência através da assinatura do “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”, conforme determina a Resolução 196/96. Foram realizadas 10 reuniões fora da instituição hospitalar, na residência de um dos participantes, até que fosse obtida uma lista de situações/procedimentos a serem incluídas no painel. Descreveremos, a seguir, as etapas operacionais realizadas até que o painel fosse disponibilizado para manuseio da equipe de enfermagem.

Os cinco autores, a partir de suas experiências, elaboraram individualmente uma lista de situações assistenciais e/ou administrativas de seu quotidiano em UTI, pertinentes ao perfil profissional da equipe de enfermagem e que são alvo de abordagens durante uma passagem de plantão. Optou-se pela utilização de um painel com figuras, sendo que o critério de sua composição baseou-se na ausência de poluição visual, na capacidade de síntese do maior número possível de informações através de figuras e na possibilidade de operacionalização no menor tempo possível.

Foram selecionados procedimentos invasivos/não-invasivos e situações técnico-administrativas que atendessem as peculiaridades dos usuários da Instituição (pessoas em pós-operatório imediato com transtorno oncológico). Isso porque pretendíamos contribuir para que toda a equipe de enfermagem da unidade obtivesse um recurso adicional que permitisse a visualização imediata das condições indispensáveis para assegurar cuidados integrais.

De posse do consenso das situações assistenciais e administrativas de maior relevância para a dinâmica dos cuidados prestados pela equipe de enfermagem (tratadas durante a passagem de plantão), e considerando a necessidade de checagem das informações no transcorrer de um plantão, foram selecionadas as situações consideradas mais dúbias e de mais fácil esquecimento que tiveram prioridade para serem inseridas no painel. O designer final do painel contou com a escolha de 25 figuras que foram selecionadas num universo de 48. Cada uma delas foi analisada e discutida por todo o grupo até a obtenção de consenso unânime.

Em seguida, as situações selecionadas foram entregues a uma desenhista que esboçou propostas de representações figurativas para cada situação, sendo as mesmas aprimoradas em sua idéia original e especialmente criadas para montagem do painel informativo. Houve necessidade de se estabelecer um contato próximo entre os autores e a desenhista, visando a obter uma adequação para a linguagem visual.

Na versão final, as figuras foram confeccionadas em desenhos coloridos na dimensão de 16 cm x 10,5 cm e optou-se pela plastificação de todas elas. Nossa maior dificuldade foi encontrar uma forma que permitisse a perfeita fixação dos desenhos no quadro já existente dentro da UTI. Foi respeitado o quantitativo de 4 leitos existentes na unidade, com a preocupação de garantir que o material a ser utilizado para fixar as figuras: 1) não desencadeasse risco ao manuseio; 2) fosse de fácil manuseio; 3) comportasse o processo de desinfecção adotado na unidade e 4) permitisse pronto ajustamento à dinâmica de um paciente criticamente enfermo.

Após usarmos ímãs, sem sucesso, optamos  pela fixação de folha imantada na região posterior das figuras, sendo que essa opção se mostrou eficaz como processo de fixação. Recortamos tiras do material imantado (dimensão de 9 cm x 2,5 cm) e as fixamos no verso das figuras nas bordas superior e inferior com o auxílio de fragmentos de fitas adesivas transparentes.

O painel metálico de tamanho (100 cm x 100 cm) comportou horizontalmente a identificação do leito acrescida de até oito figuras. Para cada leito foi disponibilizado um kit de figuras contendo 25 opções distintas, visando a retratar, o mais fielmente possível, a realidade das situações identificadas em cada  usuário do sistema de saúde admitido na UTI.

Após o término da elaboração do painel, foram realizadas dinâmicas grupais, envolvendo todos os funcionários da UTI, para promover uma aproximação deles com o material confeccionado, visando integrar o processo comunicacional durante a passagem de plantão. Realizamos treinamento com todos os profissionais que atuavam na UTI antes da  instalação do painel. Fizemos uma demonstração para a equipe de enfermagem da UTI sobre como usar o quadro e integramos a passagem de plantão com o uso do mesmo por um período

Foto 1: Demonstração da utilização do painel informativo junto com a equipe de enfermagem no momento do treinamento. Juiz de Fora out/mai 2001.

Foto 2: Demonstração do manuseio do painel informativo pela equipe de enfermagem durante o plantão dentro de uma UTI. Juiz de Fora out/mai 2001.

 

2ª etapa: avaliação da utilização do painel complementar:

Essa etapa se caracteriza como uma pesquisa quantitativa de cunho descritivo.

Como critério de inclusão, participaram todos os profissionais da equipe de enfermagem, de ambos os sexos, de todas as faixas etárias existentes, que atuavam na UTI da Instituição pesquisada e que tinham regime de trabalho com vínculo institucional. Todos eles consentiram em participar voluntariamente da avaliação do uso do painel. Foram excluídos os profissionais da equipe de enfermagem que manusearam o painel complementar da passagem de plantão por um número de plantões inferior a 7 (menos da metade do número de plantões realizado pela escala mensal de trabalho e folga). Como concordância em participar, adotamos os critérios previstos na Resolução 196/96.

Essa etapa foi realizada numa instituição hospitalar de atendimento a pessoas com câncer, de caráter filantrópico, do interior do Estado de Minas Gerais, que possui uma UTI com 4 leitos para adultos e crianças, excetuando menores de 5 anos. O período de utilização do painel foi de dois meses (março e abril 2001).

Os dados foram obtidos através de entrevistas individuais, gravadas com os participantes (profissionais da equipe de enfermagem). As entrevistas tiveram como questões norteadoras: 

  1. o que você achou da utilização do painel complementar para a passagem de plantão nas atividades de enfermagem?; 

  2. em que você considera que o painel facilitou e/ou dificultou a transmissão de informação e o processo de comunicação da equipe de enfermagem entre dois turnos distintos?; 

  3. o fato de você não ter que escrever algumas informações e lembretes para seus colegas de um plantão para outro (assistenciais e/ou administrativas) pode ser considerado por você: ofavorecedor odificultador. Por quê?; 

  4. o fato de você ter disponibilizadas algumas informações assistenciais e/ou administrativas para consulta no transcorrer do plantão é considerado por você como: ofavorecedor odificultador. Por quê?; 

  5. qual a sugestão que você daria para que o painel pudesse ser aprimorado?; 

  6. o tempo gasto por você para atualizar ou instalar informações novas no painel foi considerado: obom/curto espaço de tempo; orazoável/médio espaço de tempo; oruim/tempo excessivamente prolongado. Por quê?

As falas das entrevistas gravadas foram transcritas e consolidadas em sistema eletrônico editor de texto do Microsoft Word 98. Posteriormente foi realizada uma leitura flutuante dos dados para busca de categorias temáticas; utilizamos o referencial de BARDIN (1991) para extrairmos das falas dos participantes as categorias temáticas. A apreciação de satisfação dos usuários do painel foi consolidada em sistema eletrônico editor de texto do Microsoft Excel 97 e tratada com freqüência simples e percentual, sendo apresentada em texto descritivo.

03-  APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1-      Construção de um painel esquemático para subsidiar o processo comunicacional realizado durante a passagem de plantão de uma UTI pela equipe de enfermagem

Na Foto 3, é apresentada uma visão panorâmica do painel destinado a integrar a passagem de plantão realizada pela equipe de enfermagem na UTI em sua versão final. 

Foto 3: Visão panorâmica do painel complementar de passagem de plantão da equipe de enfermagem na UTI de uma Instituição de saúde. Juiz de Fora out/mai 2001.

Foto 4: Representação esquemática da dinâmica de entrevista individual realizada para avaliação do uso do painel complementar. Juiz de Fora out/mai 2001.

 

Foi realizada uma demonstração do manuseio do painel para a equipe de enfermagem, visando  a proporcionar  familiaridade e proximidade com o material didático complementar a ser utilizado nas passagens de plantão da UTI. Na Foto 1, exemplificamos o treinamento dos profissionais da equipe de enfermagem para o manuseio do painel complementar. Em seguida, integramos a passagem de plantão por um período superior a 20 plantões. 

Na Foto 5, são apresentadas as 25 figuras que foram confeccionadas para compor o painel complementar da passagem de plantão da UTI. Especificamos, a seguir, seus conteúdos, da esquerda para a direita, por coluna, a saber: 

1) SVF (usuário com cateter vesical foley- diurese horária);  

2) SNE (usuário com cateter nasoentérico);  

3) SNG (usuário com cateter nasogástrico- gavagem ou drenagem);  

4) colostomia (existência de colostomia);  

5) respirador (ventilação mecânica assistida e/ou controlada);  

6) coleta de sangue (alerta para existência de exames laboratoriais a serem realizados);  

7) raios-X (alerta para a existência de raios-X a ser realizado);  

8) desinfecção de leito (leito com desinfecção a ser realizada);  

9) reserva para cirurgia (leito bloqueado para usuário que se encontra em cirurgia);  

10) intracath (existência de veia profunda puncionada para terapêutica medicamentosa ou avaliação hemodinâmica);  

11) veia periférica (existência de veia periférica puncionada para terapêutica medicamentosa);  

12) transfusão de sangue (transfusão de hemoderivado em curso ou em reversa);  

13) NPT (nutrição parenteral total);  

14) curativo limpo;  

15) curativo com secreção;  

16) dreno de tórax (dreno localizado tórax em selo d´água, dreno tubular);  

17) dreno de sucção (presença de dreno tubular com sistema de sucção a vácuo em vigor);  

18) macrovaporização sob máscara;  

19) traqueotomia (existência de traqueotomia);  

20) macro tubo T (uso de macrovaporização em traqueotomia ou pelo TOT no processo de desmame do respirador);  

21) oxigênio sob cateter (oxigênio sob cateter nasal);  

22) usuário do sistema de saúde do sexo feminino;  

23) usuário do sistema de saúde do sexo masculino;  

24) mudança de decúbito (necessidade de atenção especial para mudança de decúbito e posição de conforto) e  

25) higiene oral (atenção especial para higienização da cavidade oral).  

Foto 5: Versão final das figuras elaboradas por Jullieny Mara Valadares para compor o painel complementar de passagem de plantão da equipe de enfermagem na UTI de uma Instituição de saúde. Juiz de Fora dez 2000.

 

2ª etapa: avaliação da utilização do painel complementar:

Dentre os 13 profissionais que atuam na UTI, 3 deles foram excluídos por serem autores do presente trabalho e 1 se recusou a participar. A caracterização dos 9 (100%) profissionais da equipe de enfermagem avaliadores do painel complementar ficou assim distribuída: 8 (88,9%) deles, técnicos de enfermagem e 1, (11,1%) enfermeiro. Dos 9 participantes da pesquisa, 6 (66,7%) eram do sexo feminino e 3 (33,3%) do sexo masculino. Foi unânime a faixa etária compreendida entre 20 a 40 anos. Cabe destacar que a predominância do sexo feminino é compatível com o perfil da equipe de enfermagem brasileira e a faixa etária demonstra um grupo de trabalho adulto- jovem.

Quando perguntamos aos profissionais da equipe de enfermagem o que eles acharam da utilização do painel complementar para a passagem de plantão nas atividades de enfermagem, foi possível constatar que dos 9 (100%) dos entrevistados, 1 (11,2%) deles considerou o painel razoável, 4 (44,4%) bom e 4 (44,4%) muito bom.

Na Figura 1, é possível identificar as categorias temáticas extraídas das falas transcritas dos 10 membros da equipe de enfermagem que avaliaram o painel complementar da passagem de plantão na UTI, por um período de contato com o mesmo superior ao período compreendido por 7 plantões. É possível identificar que das 7 unidades temáticas obtidas, 6 delas referiram-se ao processo de trabalho e apenas 1 menciona a habilidade criativa para o manuseio do painel. 

Figura 1: Distribuição das categorias temáticas emergentes das falas dos participantes a respeito do que eles acham da utilização do painel complementar para a passagem de plantão numa UTI. Juiz de Fora out 2000 a abr 2001(M=membro participante)

UNIDADES TEMÁTICAS 

CÓDIGO PARTICIPANTES

FALAS EXEMPLIFICADORAS

Facilitando o trabalho da equipe de enfermagem

M1, M2, M3, M8, M9

“... facilitou bem o nosso trabalho de enfermagem na passagem de plantão.” M1

Despertando/utilizando a criatividade

M2, M6, M9

“...ficou uma passagem de plantão diferente e criativa.” M6

Lembrando ou evitando esquecer informações

M2, M3, M4, M9

“Olha, eu acho que melhorou, uma vez que muitas coisas a gente esquecia. Facilitou como lembrete.” M3

“Eu achei que o painel facilitou porque...o plantão.” M4

Consolidando, durante o plantão, as informações a serem compartilhadas

 

M2

“Aí, olhando o painel e fixando as figuras, durante o plantão, você organiza as informações do painel.” M2

Visualizando as informações na passagem e transcorrer do plantão

M4, M8, M9

“Passar o plantão visualizando as imagens faz com que fique mais completo.” M4  “É uma coisa que também ajuda muito no decorrer do plantão; a gente vê a situação do paciente.” M8

Garantindo a atualização das informações

M8

“Eu acho que, além de passar um plantão mais seguro com os dados que estão acontecendo com o paciente, ...”. M8

Potencializando o tempo de passagem de plantão

M2

“Achei que facilitou bem a passagem de plantão quanto à questão do horário” M2

Ao investigarmos em que o painel facilitou e/ou dificultou a transmissão de informação e o processo de comunicação da equipe de enfermagem entre dois turnos distintos, foi possível identificar que os 9 (100%) participantes foram unânimes em ratificar o benefício do uso do painel complementando a passagem de plantão. Na Figura 2, mencionamos as 7 unidades temáticas extraídas da fala transcrita dos entrevistados, referentes à indagação anteriormente comentada. Cabe destacar que, dentre elas, 4 (“registrando e lembrando as informações, facilitando o processo comunicacional, visualizando as informações e restringindo a passagem de plantão ao painel") referem-se ao processo comunicacional.

Embora a resposta relacionada aos possíveis benefícios do uso do painel e/ou suas restrições na opinião dos entrevistados tenha sido unânime em apontar a vantagem de seu uso, pudemos identificar a existência de uma unidade temática na qual transparece a restrição ao uso do mesmo. As unidades temáticas “identificando lacunas no painel” e “ampliando os espaços para inserir figuras no painel” demonstram que a aceitação do mesmo talvez esteja vinculada ao reforço de sua finalidade, ou seja, complementar o processo comunicacional que ocorre durante a passagem de plantão e incluir outras atividades/procedimentos considerados pelos participantes como importantes, a ponto de serem acrescentados ao painel.

Figura 2: Distribuição das categorias temáticas emergentes das falas dos participantes a respeito do que facilitou e/ou dificultou a transmissão de informações no processo de comunicação da equipe de enfermagem entre dois turnos distintos durante a passagem de plantão numa UTI. Juiz de Fora out 2000 a abr 2001 (M=membro participante)

UNIDADES TEMÁTICAS

CÓDIGOS PARTICIPANTES

FALAS EXEMPLIFICADORAS

Registrando e lembrando as informações

M1, M3, M4, M5, M6, M7, M9

“... alguns dados que eram, muitas vezes, esquecidos, o painel permitiu que eles fossem mencionados”.

Economizando tempo

M2

“...evita perder muito tempo escrevendo aquelas coisas todas que estavam nas figuras.” M2

Facilitando o processo comunicacional

M2

“A passagem de plantão ficou bem mais prática com o painel.” M2

Visualizando as informações

M3, M8, M9

“Devido às figuras que mostram as condições dos pacientes, fica mais fácil saber como eles estão.”  M3

“No decorrer do plantão, você vai fazer uma ocorrência e dá pra visualizar bem o quadro do paciente.” M8

Identificando lacunas no painel

M4, M7

“Faltam figuras ...” M4

Restringindo a passagem do plantão ao painel

M5

“As pessoas se atem muito ao quadro e se esquecem de passar isso na ocorrência, e o que vale é o que está escrito e não o que foi falado.” M5

Ampliando os espaços para inserir figuras no painel

M4

“... o espaço no quadro está sendo pouco para alguns pacientes” M4

   O fato dos participantes não terem que escrever algumas informações e lembretes para seus colegas de um plantão para outro, quer essas mensagens tenham conteúdo predominantemente assistenciais e/ou administrativas, foi considerado por 8 (88,9%) deles como sendo favorecedor e por 1 (11,1%) como dificultador.

Figura 3: Distribuição das categorias temáticas emergentes das falas dos participantes a respeito de não haver a necessidade de escrever algumas informações/lembretes para seus colegas, de um plantão para outro; o  que foi considerado facilitador e/ou dificultador na passagem de plantão numa UTI. Juiz de Fora out 2000 a abr 2001

UNIDADES TEMÁTICAS

CÓDIGOS PARTICIPANTES

FALAS EXEMPLIFICADORAS

Economizando tempo

M1, M6, M7, M9

“Quando o plantão está tumultuado, às vezes, não dá tempo de relatar todos os procedimentos no livro e assim, tendo o painel, você fixa as figuras com mais rapidez e facilidade.” M6

Visualizando as informações

M2, M9

“É bem favorecedor porque funciona como lembrete; está ali,à vista.” M2

Lembrando ou evitando esquecer as informações

M2, M3, M9

“Na passagem de plantão, você não tem como esquecer de passar para alguém um detalhe que ficou fixado no quadro.” M2

Centralizando as informações no painel

M2, M3, M5

“Porque muitas coisas que acontecem no plantão, nós complementamos o painel com alguma ocorrência tipo transfusão de sangue, raios-X para o outro dia, coleta de sangue... são todos acrescentados no painel.” M3

“Porque alguns dados complementares de alguns exames ficam ali no quadrinho; nós não somos computadores, então, não tem como saber de tudo a todo instante. Colocar aí é um lembrete.” M5

Assegurando feedback no processo comunicacional

M4, M5, M9

“Fazer um ocorrência, às vezes, para certas pessoas, é difícil; fazer uma ocorrência completa podemos esquecer de dados ou não expressarmos direito e isso dificulta para que o colega tenha uma compreensão. Com a passagem de plantão com o quadro, isso favorece; você consegue passar o plantão de uma maneira que o colega entenda perfeitamente o que está ocorrendo com o paciente.” M4

“... aí fala que o funcionário falou? Será que falou ou não falou? Põe em dúvida a passagem do plantão.” M5

Restringindo a passagem do plantão ao painel

M5

“... porque o funcionário de enfermagem tem que lembrar que o paciente não é um quadrinho. A passagem de plantão tem que ser perante o paciente, porque ele merece respeito; ele não é um quadrinho. Ele é um ser humano que está deitado ali e merece os meus cuidados. Na passagem de plantão, tem que mostrar para o colega o que realmente está acontecendo com o doente, porque às vezes pode esquecer o dreno pinçado, um curativo que, às vezes, é passado como limpo, em duas horas pode encharcar.” M5

Norteando os registros de enfermagem

M8

“Eu acho que foi favorecedor. Até mesmo para escrever se tornou mais fácil. Olhando o quadro, a sua ocorrência se desenvolve bem melhor.” M8

Limitando a divulgação de informações não relacionadas no painel

M5

“... porque as pessoas se atém ao quadro e se esquecem de transcrever alguns dados que são importantes.” M5

   Na figura 3, são apresentadas as 8 unidades temáticas, a saber: “economizando tempo”, “visualizando as informações”, “lembrando ou evitando esquecer as informações”, “centralizando as informações no painel”, “assegurando “feedback” no processo comunicacional”, “restringindo a passagem do plantão ao painel”, “norteando os registros de enfermagem”, “limitando a divulgação de informações não relacionadas no painel”.

A  1ª e a penúltima unidades temáticas referem-se direta ou indiretamente ao processo de trabalho; a 2ª, 3ª, 4ª, 5ª e última unidades temáticas fazem menção à comunicação; e a 6ª unidade aponta uma modalidade limitada do uso do painel dentro da passagem de plantão numa UTI.

O fato dos participantes terem disponibilizado algumas informações assistenciais e/ou administrativas para consulta durante o plantão foi considerado unânime por eles como favorecedor do uso do painel dentro da UTI, no transcorrer do turno de serviço e no momento da permuta de informações entre profissionais de horários distintos.

Figura 4: Distribuição das categorias temáticas emergentes das falas dos participantes a respeito do que eles acham do fato de a equipe de enfermagem ter disponibilizado algumas informações assistenciais e/ou administrativas para consulta, no transcorrer do plantão . Esse fato foi considerado facilitador ou dificultador na passagem de plantão numa UTI. Juiz de Fora out 2000 a abr 2001

UNIDADES TEMÁTICAS

CÓDIGOS PARTICIPANTES

FALAS EXEMPLIFICADORAS

Lembrando informações

M1, M4, M5

“... porque serve de lembrete no decorrer do plantão.” M1

Visualizando as informações

M2, M3, M8 e M9

“Porque, quando você recebe o plantão, você olha aquele quadro e você já tem uma noção até mesmo dos cuidados que vai ter com o paciente.” M8

Informando situações que integram a equipe no plantão

M4, M5, M6, M7, M9

“... porque não precisa, a toda hora, você abrir o livro de ocorrência ou então estar perguntando para o colega sobre o que foi feito com o paciente no horário que você não estava ali ou então estava ocupado fazendo outra coisa.” M7

Transpondo o uso do painel para outras unidades

M8

“Aquele quadro ali ajuda muito mesmo; pena que é só no CTI.”

   Na Figura 4, destacamos as unidades temáticas: “lembrando informações”, “visualizando as informações” e “informando situações que integram a equipe no plantão”. Todas elas possuem em comum o fato de mencionar o uso do painel complementar como uma estratégia adicional capaz de dar suporte ao resgate de informações no transcorrer do período de serviço e no momento da efetivação da passagem de plantão. Essa experiência foi vista por um participante como passível de ser transposta para outras unidades de internação da instituição, conforme podemos constatar na última unidade temática.

 As sugestões dos participantes que manusearam o painel para que seu uso pudesse ser aprimorado constam da Figura 5, sendo que as mesmas referem-se à possibilidade de ampliar o número de situações/procedimentos a serem incluídos no painel. Cabe destacar que a compatibilização visual do número de figuras com o tamanho do painel disponibilizado para fixá-las foi mencionada apenas por 1 avaliador. Alguns comentários nos preocuparam, uma vez que os mesmos podem, precipitadamente, ser analisados como um incentivo à redução dos registros cursivos que a equipe de enfermagem realiza a cada turno de trabalho e à utilização do painel como substitutivo a esses registros.

Figura 5: Distribuição das categorias temáticas emergentes das falas dos participantes a respeito das sugestões no sentido de  aprimorar o uso do painel na passagem de plantão numa UTI. Juiz de Fora out 2000 a abr 2001

UNIDADES TEMÁTICAS

CÓDIGOS PARTICIPANTES

FALAS EXEMPLIFICADORAS

Ampliando o número e a possibilidade de acréscimo de figuras no painel

M1, M2, M3, M4, M5, M6, M7,  M8 e M9

“Existem alguns dados que não têm ainda nas figuras apresentadas pela equipe que construiu o quadro. Então, alguns dados ainda faltam; tipo: paciente que saiu da cirurgia ou vai entrar na cirurgia, paciente que está com jejunostomia, paciente que está fazendo radioterapia... Alguns, a mais, deveriam ser acrescentados para melhor facilitar a visualização do paciente e a passagem de plantão.” M5

“Eu acho que ele deveria ter mais figuras que envolvessem mais as sensações do paciente, porque eu acho isso importante.” M7

Tornando o painel mais visual

M9

“O painel é pequeno e, às vezes, as gravuras ficam um pouco emboladas, dificultando a observação.” M9

Somos da opinião que o painel pode tornar a comunicação entre a equipe de enfermagem mais dinâmica. Entretanto, em hipótese nenhuma julgamos que o mesmo dispensar a realização dos registros, nem que sozinho seja um instrumento viável para abarcar todas as peculiaridades que envolvem a passagem de plantão. Sugerimos que o painel  seja usado como uma estratégia complementar no processo comunicacional que se concretiza na passagem de plantão dentro de uma UTI, mas que os registros são imprescindíveis, pois   nos asseguram provas legalmente aceitas, avaliação retrospectiva da qualidade do atendimento proporcionado a pessoas internadas, recapitulação de informações em dias subseqüentes e fornecem dados para a realização de sindicâncias.

Consideramos, entretanto, que, se o conteúdo das informações contidas no painel for periodicamente transposto de forma esquemática para o prontuário da pessoa criticamente enferma, através de um impresso adequado a essa finalidade, e essa conduta se consistir num protocolo institucional, os registros cursivos poderão ser priorizados às situações não contempladas/previstas no painel. Lembramos, todavia, da necessidade de desmembrar as situações administrativas das assistenciais, uma vez que os prontuários dos clientes não comportam os registros administrativos que devem ter outros trâmites previstos dentro do fluxo de informações da instituição (MATSUDA ;ARREGUY-SENA & CORREIA,1999; ARREGUY-SENA & CORREIA, 1999).

Sabendo que o tempo gasto em qualquer atividade desenvolvida numa UTI é de fundamental importância na reabilitação das pessoas internadas, perguntamos aos 9 (100%) profissionais da equipe de enfermagem o que eles acharam sobre o tempo gasto para atualizar ou instalar informações novas no painel; alcançamos o seguinte resultado: 6 (66,7%) deles o consideraram bom e de rápida resolubilidade, em oposição a 3 (33,3%) que o consideraram razoável, ou seja, envolvendo médio espaço de tempo. Não houve apreciação que contemplasse um gasto de tempo excessivo. Obtivemos 9 unidades temáticas que emergiram das razões apresentadas pelos entrevistados a respeito do tempo gasto por eles para manusearem o painel: 3 delas referem-se ao fato das figuras favorecerem a redução do tempo gasto no manuseio do painel  (“manuseando o painel”, “utilizando o tempo para organizar o painel” e “caracterizando as figuras”); 1 unidade temática (“identificando a adequação do painel”) mencionou que a redução do tempo deve-se ao fato das figuras retratarem o quotidiano da instituição; outra (“fornecendo a integração do serviço de enfermagem”), relata o vínculo entre a disponibilidade de informações e a interferência no planejamento da assistência; e as duas últimas unidades temáticas (“identificando o melhor momento para manusear o painel” e “ampliando espaço para inserir figuras no painel”) mostram que o tempo poderia ser minimizado se houvesse mais figuras representativas das situações/questões administrativas disponibilizadas e que o próprio ritmo do setor pode dificultar o seu manuseio.

Figura 6: Distribuição das categorias temáticas emergentes das falas dos participantes a respeito do tempo gasto por eles para atualizar ou inserir informações novas no painel na passagem de plantão numa UTI. Juiz de Fora out 2000 a abr 2001.

UNIDADES TEMÁTICAS

CÓDIGOS PARTICIPANTES

FALAS EXEMPLIFICADORAS

Manuseando o painel

M3, M4

“Manusear e atualizar o quadro ou instalar novos dados não tem dificuldade devido à facilidade que é lidar com as figuras.” M4

Utilizando o tempo para organizar o painel

M2, M9

“... você tem várias figuras a sua disposição... então, você disponibilizando disso tudo, é prático; não gasta muito tempo organizando.” M2

Caracterizando as figuras

M6

“As figuras são bem claras e objetivas” M6

Identificando a adequação do painel

M1

“...retrata a realidade dos nossos pacientes no CTI” M1

Favorecendo a integração do serviço de enfermagem

M4, M9

“... isso faz com que o funcionário se integre melhor no serviço, na troca do paciente e troca de dados.” M4

“... caso esteja no Quadro que um paciente está com dreno de penrose, por exemplo, imediatamente é possível programar o controle de drenagem.” M9

Identificando o melhor momento para manusear o painel

M7, M8

“Eu acho que, quando está um plantão mais calmo, para montar o painel, é fácil e até melhor, mas quando está um plantão tumultuado, às vezes, você vai ter que deixar para montá-lo num intervalo que esteja tranqüilo, porque você pode se confundir” M8

Ampliando os espaços para inserir figuras no painel

M5

“...forneceram apenas 8 figuras; e o paciente da UTI, pelo menos aqui, ele tem muito mais do que  8 dados a serem registrados.” M5

   O período em que a equipe de enfermagem manuseou o painel complementar de passagem de plantão da UTI mostrou-se viável para a realidade para a qual ele foi construído, sendo evidenciadas algumas sugestões para sua otimização.

03-  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Descrever a construção, utilização e avaliação do painel, contendo figuras que retratam procedimentos técnicos/administrativos sobre situações da passagem de plantão realizada pela equipe de enfermagem numa UTI, possibilitou a reunião e permuta, entre os autores, de experiências  em lidar com pessoas criticamente enfermas, no sentido de criar uma estratégia complementar para integrar o processo comunicacional da equipe e de disponibilizar um momento de reflexão do grupo quanto às necessidades emergentes do setor.

O referencial metodológico da pesquisa-ação adotado mostrou-se viável, permitindo a integração e uma aproximação entre o objeto de pesquisa, ou seja, o processo comunicacional desenvolvido durante o turno de trabalho e por ocasião da passagem de plantão, e a equipe de enfermagem envolvida.

Concordamos que, o fato de termos adotado figuras, que foram desenhadas especificamente para retratar a situação de uma clientela criticamente enferma, de serem coloridas e de contemplar parte das ocorrências vivenciadas no setor, tenha influenciado favoravelmente para sua aceitação pela equipe de enfermagem, uma vez que, segundo os próprios entrevistados, essa modalidade foi considerada criativa, o que os motivou a intensificar a adesão ao seu uso.

Embora tenhamos elaborado 25 figuras para retratar situações assistenciais/administrativas distintas, esse número foi considerado pelos 9 avaliadores do painel (que o manusearam por um período superior a 20 plantões) como sendo insuficiente para retratar os procedimentos/situações que eles consideraram compatíveis de serem abordados por esse meio.

O painel foi considerado, por unanimidade, como capaz de sintetizar e disponibilizar informações, não só na passagem de plantão como também durante o período de trabalho, funcionando como um recurso adicional para consulta no transcorrer do mesmo. Confrontando a apreciação sobre a utilização do painel com as sugestões emitidas pelos participantes quanto ao aprimoramento do mesmo, é possível deduzir que o número de 25 figuras disponibilizadas inicialmente tenha influenciado no julgamento da utilização do painel como razoável dentre os parâmetros disponibilizados. Mais de 80% dos participantes que avaliaram o painel o consideraram como favorecedor por se tratar de um recurso visual, que otimiza a permuta de informações entre uma mesma equipe e entre equipes de turnos distintos. A praticidade e a rapidez no manuseio do painel foram abordadas por 77,8% dos participantes.

Tendo por base as categorias temáticas extraídas das entrevistas feitas com os participantes e a apreciação dos autores deste trabalho sobre todas as etapas de implementação e utilização do painel, conclui-se que ele se mostra uma estratégia complementar favorável para nortear o processo comunicacional durante a passagem de plantão, fixar informações e democratizá-las entre os profissionais da equipe de enfermagem.

Concordamos com as sugestões referentes à ampliação do  número de procedimentos retratados nas figuras distintas. Sugerimos que elas sejam redimensionadas, a fim de compatibilizá-las com o tamanho do quadro, e que as situações administrativas sejam separadas  das assistenciais.  

04-  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATKINSON, L.D.; MURRAY, M.E. Fundamentos de enfermagem: introdução ao processo de enfermagem. In: Capítulo 2: O processo de Comunicação.1989; Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, p43-96. 

BARDIN, L. Análise de conteúdo, Lisboa Edições 70, 1991

CAMARGO, A.T.; SILVEIRA, M.R.; MATOS, S.S.; STEFANELLI, M.C. Passagem de plantão como instrumento de comunicação em instituição hospitalar.1998, p.74.

FREIRE, P. Ação cultural para a libertação e outros escritos 8ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p.142.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade 22ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p.158

FREIRE, P.; MACEDO, D. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. Trad. Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, p.167.

GOMES, J.B.; KAWAKAME, P.M.G. Passagem de plantão ao lado do leito em UTI: o significado para o paciente, 1998, p.79

KRON, T. Communication in nursing. Philadelphia: W.B. Company, 1972. 

LOURENÇO, M.R.; ZBOROWSKI, I dos P.; TREVIZAN, M.A. Comunicação: análise de obstáculos entre os enfermeiros. In: 7º Simpósio Brasileiro de Comunicação em Enfermagem- SIBRACEn. (Org. Isabel Amélia Costa Mendes e Emília Campos de Carvalho) Ribeirão Preto: Fundação Instituto de Enfermagem de Ribeirão Preto, 2000, p.43-47.

MATSUDA, L.M: ÉVORA, Y.D..M, BOAN, F.S. A comunicação como diferencial para a qualidade do serviço de enfermagem: o real e o ideal.  In: 6º Simpósio Brasileiro de Comunicação em Enfermagem- SIBRACEn. (Org.  Emília Campos de Carvalho) Ribeirão Preto: Fundação Instituto de Enfermagem de Ribeirão Preto, 1998,p.63-68.

MESQUITA, A. A importância da comunicação no cuidar da criança/família. Nursing Ed. Portuguesa 1997 Sep 114:10, p.24-30.

TALHINHAS, C.; MARTINS, C.; VARELA, M.; BRISSOS, E.; MENDES; J.; DURÃO, M:M. Comunicação como vector de humanização. Nursing Revista Técnica de Enfermagem Ed. Portuguesa 1997 Jul/Ago: 113:10, p.21-26.

Autores:

Cristina  Arreguy-Sena - Enfermeira, Professora Assintente da Faculdade de Enfermagem da UFJF, Doutoranda da EERP-USP e orientadora do artigo.

Raquel Muniz Leite Oliveira - Enfermeira, Especialista em UTI e intensivista do Hospital Regional Dr. João Penido e Hospital ASCOMCER. E-mail: muniz@intefire.com.br.

Denise Maria Lessa de Lima – Enfermeira, Especialista em UTI e supervisora no Hospital Regional Dr. João Penido e Hospital ASCOMCER

Cátia Maria Rocha Vasconcellos – Enfermeira Especialista em UTI e supervisora no Hospital Regional Dr. João Penido, no Posto de Saúde SASE da Secretaria Municipal de Saúde de Três Rios e na Clínica Mantiqueira.

Eduardo Lúcio do Sacramento - Enfermeiro, Especialista em UTI, responsável técnico pelo Hospital ASCOMCER e intensivista no Hospital Regional Dr. João Penido. E-mail: sacramento.@uol.com.br.

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