DOENÇAS PARASITÁRIAS INTESTINAIS: PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA, ALERTA PARA O ENFERMEIRO Leandro Barbosa de PINHO, Karine PALUDO * |
PINHO, L.B.; PALUDO, K. - Doenças parasitárias intestinais: problema de saúde pública, alerta para o enfermeiro. Revista Eletrônica de Enfermagem (online), Goiânia, v.2, n.2, jul-dez. 2000. Disponível: http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen
RESUMO - Este trabalho visa
registrar dados de um estudo sobre a incidência de Parasitoses Intestinais Infantis
em 1876 crianças atendidas no Ambulatório da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Pelotas / RS no primeiro Semestre de 2000. A metodologia empregada
foi quantitativa, qualitativa, descritiva e exploratória. O estudo confirma
que as estações mais quentes do ano são responsáveis pelo aumento dessas enfermidades.
Foram analisados 74 prontuários de crianças que estavam com diagnóstico provável
para parasitoses intestinais, concluindo-se que há a necessidade de aprimoramento
das orientações oferecidas pelos profissionais à população e principalmente
aos pais das crianças parasitadas.
Unitermos: parasitoses intestinais infantis, parasitose intestinal
SUMMARY - This work seeks
to register data of a study on the incidence of Children's Intestinal Parasites
in 1876 children assisted in the National health clinic of the Ability of Medicine
of the Federal University of Pelotas / RS in the first Semester of 2000. The
methodology maid was quantitative, qualitative, descriptive and exploratory.
The study confirms that the hottest stations of the year are responsible for
the increase of those diseases. They were analyzed 74 folders of children that
were with probable diagnosis for intestinal parasites, being ended that there
is the need of improvement of the orientations offered by the professionals
to the population and mainly to the children's parents.
Keywords: Children's Intestinal Parasites, intestinal parasites
INTRODUÇÃO
Ao observarmos os seres vivos - animais e vegetais - verificamos que o seu inter-relacionamento é muito grande. Podemos, até, afirmar que nenhum ser vivo é capaz de sobreviver e reproduzir-se independentemente de outro. Entretanto, esse relacionamento varia muito entre os diversos reinos, filos, ordens, gêneros e espécies, não sendo, ainda, estáticas. Há uma adaptação de cada um, tendendo ao equilíbrio. Porém, para que esse equilíbrio seja atingido, é necessário que cada ser vivo ultrapasse barreiras que impeçam tal objetivo, o que chamamos de Evolução.
Dessa forma, podemos dizer que meio ambiente e seres vivos estão em permanente e contínuo processo de adaptação mutua, isto é, estão "evoluindo" sempre. Porém, para que essa evolução ocorra, é necessário um pequeno desequilíbrio ambiental, o qual deve ser executado de maneira progressiva e lenta; se o desequilíbrio fora alcançado de maneira brusca e muito abrangente, não teremos evolução, e sim, teremos a destruição dos seres participantes. Esse processo acontece principalmente devido à maneira com que o homem está tratando a Natureza, ou seja, de maneira exploratória e desvirtuada, mantendo-o em condições não naturais e permitindo-nos desenvolver um conceito principal para o desenvolvimento desse trabalho: o conceito de Parasitismo (Parasitismo é a associação entre seres vivos, na qual existe uma unilateralidade de benefícios, sendo o outro associado prejudicado nessa relação. Desse modo, surge o parasito - agressor - e o hospedeiro - abriga o parasito (NEVES, 1998).
No momento em que surge essa relação, é relevante estudar a sua distribuição geográfica, que possui vários fatores intervenientes: presença de hospedeiros suscetíveis adequados, migrações humanas e principalmente condições ambientais (temperatura, umidade, altitude) e maior densidade demográfica, que acarreta em más instalações sanitárias e maus hábitos de higiene, favorecendo a elevação de parasitoses em determinadas regiões. Portanto, para estudar adequadamente essa distribuição geográfica, utiliza-se a epidemiologia, que é a ciência que estuda a distribuição de doenças ou enfermidades e de seus determinantes na população humana, chamados de fatores de risco, tendo como objetivo principal a explicitação de que as doenças não ocorrem por acaso ou de forma aleatória em uma comunidade (ROBBINS, 1996) e que está sempre preocupada em qualificar a comunidade a qual está-se dedicando.
Diante do exposto, objetivamos com esse trabalho principalmente analisar a incidência de parasitose intestinal nas crianças que passaram pelo Ambulatório da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas no primeiro semestre de 2000, além de tentar verificar a possível correlação entre as estações do ano e a incidência dessas doenças.
Este estudo caracterizou-se por ser qualitativo, quantitativo, descritivo e exploratório. Qualitativo porque se trabalhou com informações através dos prontuários médicos e de enfermagem do ambulatório; Quantitativo porque ele também se embasou na quantidade de crianças atendidas, descritivo porque as informações foram coletadas, analisadas e transcritas, e exploratório porque se objetivou explorar as informações contidas em tais formulários do ambulatório.
O referencial teórico utilizado é o proposto por MINAYO (1994). A análise qualitativa em saúde é importante porque trabalha com vários instrumentos que incluem relatos ou situações vivenciadas pelo objeto de estudo. Para isso, também é necessária uma análise quantitativa e descritiva, a qual determinará o universo estudado e o descreverá, além de explorar esse resultado.
O universo dessa pesquisa foi constituído pelas 1876 crianças que passaram pelos serviços do Ambulatório da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas até junho de 2000. Para amostragem, utilizamos 74 crianças que realmente estavam com suspeita de parasitoses e o instrumento metodológico utilizado constou de verificação dos prontuários das crianças, a partir de autorização prévia do médico especialista envolvido. Essa análise foi realizada durante o período de 26 de junho a 01 de julho de 2000.
Os resultados foram agrupados em várias categorias: total de crianças atendidas divididas por mês, sexo das crianças atendidas e porcentagem de infecções parasitárias em cada mês estudado, limitando a pesquisa de janeiro a junho de 2000.
Das 1876 crianças atendidas, 276 (14,7%) foram atendidas em janeiro, 320 (17,1%) em fevereiro, 389 (20,7%) em março, 346 (18,4%) em abril, 306 (16,3%) em maio e 259 (13,8%) em junho, sendo destas 36% meninas e 64% meninos.
No mês de Janeiro, 19 das 74 crianças foram atendidas com suspeitas de parasitoses, representando 25,7% do total da amostra. Dessas 25,7%, 15% estavam parasitadas com Enterobius vermicularis, 15% com Enterobius vermicularis associados a Giardia lamblia, 8% com Giardia lamblia, 15% com Ascaris lumbricoides, 8% com Trichuris trichiura associados a Giardia lamblia, 15% com Trichuris trichiura e 24% continuaram suspeitas devido à não realização do exame de fezes confirmatório.
No mês de fevereiro, 13 crianças foram atendidas, ou seja, 17,6%. Dessas, 8% estavam com Giardia lamblia, 8% estavam com Strongyloides stercoralis e 84% das crianças continuaram suspeitas.
No mês de março, foram atendidas 11 crianças, representando 14,9%. Dessas, 82% continuavam suspeitas, 9% estavam parasitadas com Strongyloides stercoralis e 9% com Endolimax nana, um cestódeo novo que, para ser identificado, exigiu a pesquisa de vários profissionais da área, entre eles médicos e biólogos.
No mês de abril, 10 crianças foram atendidas com o quadro clínico, um total de 13,5%. Dessas, 67% continuavam suspeitas, 11% estavam com Giardia lamblia, 11% com Endolimax nana, e 11% com Giardia lamblia associada a Endolimax nana.
No mês de maio, 11 crianças foram examinadas, representando 14,9%. Dessas, 46% continuavam suspeitas, 9% estavam com Strongyloides stercoralis, 18% com Ascaris lumbricoides e 27% com Giardia lamblia.
No mês de junho, 10 crianças foram atendidas, ou seja, um total de 13,5%. Dessas, 80% continuaram suspeitas e 20% estavam parasitadas com Giardia lamblia.
Finalmente, pode-se verificar que 34% das crianças estiveram parasitadas em janeiro, 8% em fevereiro, 8% também em março, 17% em abril, 25% em maio e 8% em junho. Com esse resultado, ainda pode-se concluir que em janeiro - ápice do verão - a incidência de parasitoses é mais elevada, em contraste com o mês de junho - ápice do inverno - no qual a incidência declina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatamos com a realização desse trabalho que as parasitoses intestinais são elevadas, com o acometimento de mais da metade da população mundial. Tal situação decorre das condições de vida adversas, que se refletem em habitações inadequadas, baixo grau de instrução e ausência de saneamento básico.
Em função desses fatores, verificamos que são mesmo as crianças as mais prejudicadas com essa situação, pois têm alimentação e imunidade insuficientes e se expõem mais facilmente aos locais de infecção. Além disso, averiguamos que são doenças às vezes individuais, às vezes coletivas, e que têm, comprovadamente, uma maior prevalência nos meses mais quentes do ano.
Podemos, ainda, concluir outras premissas que julgamos de fundamental importância para a conclusão desse trabalho:
- Se todas as crianças analisadas tivessem realizado o exame de fezes, teríamos obtido um número maior de crianças parasitadas, facilitando o tratamento pela identificação do parasito;
- Crianças que apareceram com sintomas de náuseas, vômitos, dor abdominal e diarréia e não realizaram o exame, poderiam estar com parasitoses, mas isso precisaria de um estudo mais aprofundado.
Finalmente, cabe a nós, futuros profissionais de saúde, a fiscalização desses problemas com intervenção segura e oportuna, na tentativa de minimizar ou, até mesmo, erradicar essas patologias que só trazem desconforto físico e psicológico para seu portador e até mesmo impedem a evolução normal da raça humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, José Arthur Ramos. Parasitoses Intestinais na Infância: Interferência no Crescimento. Pediatria Moderna, Vol. XXXI, julho de 1995.
MOTA, J.A.C. Parasitoses Intestinais. In: Penna, F.J. & Mota, J.A.C. Doenças do Aparelho Digestivo na Infância. Rio de Janeiro, Medsi, 1994, p.167-91.
NEVES, David Pereira. Parasitologia Humana. 9ª Ed. São Paulo: Atheneu, 1998.
MINAYO, M.C.S. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 3ª edição, São Paulo: HUCITEC, 1994.
ROBBINS, Stanley L; COTRAN, Ramzi S; VINAY, Kumar, SCHOEN, Frederick J. Patologia Estrutural e Funcional. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A, 1996.
Leandro Barbosa de Pinho e Karine Paludo - acadêmicos do 4º Semestre do Curso de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal de Pelotas / RS. E-mail: lbpinho@uol.com.br.