Revista Eletrônica de Enfermagem - Vol. 01, Num. 01, 1999 - ISSN 1518-1944
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás - Goiânia (GO - Brasil).
 

VIVENCIANDO OS DESAFIOS DO TRABALHO EM GRUPO

Michella F. B. Câmara, Virgínia Faria Damásio, Denize Bouttelet Munari *


CÂMARA, M.F.B.; DAMÁSIO, V.F.; MUNARI, D.B. - Vivenciando os desafios do trabalho em grupo. Revista Eletrônica de Enfermagem (online), Goiânia, v.1, n.1, out-dez. 1999. Disponível: http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen/index


RESUMO - O trabalho em grupo é uma realidade no cotidiano do trabalho do enfermeiro, sendo vivenciado em todo o período da sua formação acadêmica, porém é necessário buscar uma maior reflexão sobre esse tipo de trabalho, para podermos utilizá-lo de uma forma mais consciente, reflexiva e efetiva. Acreditamos ser de extrema importância os estudos referentes ao trabalho grupal enquanto estratégia aplicada na assistência de Enfermagem, para que tenhamos cada vez mais claro os seus fundamentos. Pesquisa desenvolvida com base na abordagem qualitativa, onde trabalhamos com três grupos de gestantes, na periferia do Município de Goiânia. Utilizamos para a coleta de dados a observação participante e registros escritos. Verificamos ao longo do desenvolvimento dos grupos, que os seus objetivos são atingidos de forma mais adequada quando seus membros tomam para si a responsabilidade de torná-lo uma experiência significativa, tendo a compreensão da importância de sua participação. Trabalhar com o grupo e vivenciar sua trajetória podendo refletir sobre seus movimentos é fundamental para apreendermos o papel de coordenador de atividades grupais, suas dificuldades e desafios. O desenvolvimento teórico-prático, a reflexão e a experiência concreta no trabalho grupal, nos possibilita afirmar que esse é um caminho que viabiliza a aprendizagem acerca do grupo e de seus benefícios enquanto estratégia para o trabalho da enfermagem.
Palavras Chaves: 1)grupos de gestantes 2)trabalho grupal 3)enfermagem

SUMMARY. The work in group is a reality in the daily of the nurses work, being lived in the whole period of your academic formation, however it is necessary to look for a larger reflection on that kind of work. We believed to be of extreme importance the referring studies to the grupal work while applied strategy in the Nursing attendance, so that we have more and more clear its foundations. Qualitative approach research developed with three groups of pregnant women that live in the periphery of Goiânia. We used for the collection of data the participant observation and written registrations. We verified along the development of the groups, that your objectives are reached in a more appropriate way when the members of the group take for itself the responsibility of turning a significant experience, tends the understanding of the importance of their participation. To work with the group and to live its path and them to be able to think about its movements is fundamental for us to apprehend co-ordinator’s of activities on the group, its difficulties and challenges. The theoretical-practical development, the reflection and the concrete experience in the grupal work, makes possible for us to affirm that it is a possible way to learn about the group and its benefits while strategy for the work in nursing attendance.
Key words: Pregnancy, grupal work, nursing.

INTRODUÇÃO

O trabalho em grupo é uma realidade no cotidiano do trabalho da Enfermagem, sendo vivenciado em todo o período da formação acadêmica do enfermeiro, bem como em toda a sua vida profissional, seja na atenção direta aos clientes, ou na relação com a equipe de trabalho. Porém é necessário a busca de maior reflexão sobre esta temática, para podermos utilizar o grupo como nos propõe MUNARI & RODRIGUES (1997) "de uma forma mais consciente, reflexiva e efetiva".

O homem é um ser de natureza gregária, por necessidade, antes mesmo de ter consciência deste fato. Grande parte das atividades cotidianas desenvolvidas pelos seres humanos é realizada em grupos que, quase sempre, influencia o indivíduo nos rumos de sua vida, (MAILHIOT, 1981; OSÓRIO, 1986; MUNARI & RODRIGUES, 1997).

CARTWRIGHT & ZANDER (1975), destacam o fato de que boa parte das atividades do ser humano são executadas por pessoas em estreita interdependência. Segundo MUNARI & ZAGO (1997), "através do grupo o homem pode desenvolver habilidades nas suas relações pessoais, realizar tarefas, aprender e mudar seu comportamento, divertir-se, oferecer e receber ajuda. No interior dos grupos, é comum o desenvolvimento de um clima de solidariedade, companheirismo, trocas de experiência comuns. Esse movimento próprio pode oferecer aos seus membros, uma situação de conforto e segurança, o que facilita a unidade do grupo".

Na busca do entendimento da grupalidade nata do ser humano, vale tentar compreender o significado do termo grupo, que segundo OLMSTED (1970), pode ser "o grupo é definido como uma pluralidade de indivíduos, que estão em contato uns com os outros, que se consideram mutuamente e que são conscientes de que tem algo significativamente importante em comum".

Para ZIMERMAM (1993), "o grupo não é um mero somatório de indivíduos, pelo contrário, ele se constitui como uma nova entidade, com leis e mecanismos próprios e específicos". MUNARI & RODRIGUES (1997, p. 9), completam afirmando que "o grupo é uma entidade em si, com qualidades que podem diferir daquelas de cada membro em particular"

Os grupos podem assumir diversos formatos conforme suas finalidades, podendo ser de trabalho, de treinamento, terapêuticos, entre outros. Vale portanto nos reportarmos para WOOD (1990), quando este afirma que "é difícil dizer o que é e o que não é psicoterapia de grupo, principalmente porque os grupos não terapêuticos podem atingir resultados semelhantes ao dos grupos terapêuticos". Como nos coloca MUNARI & ZAGO (1997) "os resultados terapêuticos podem permear a vida de qualquer grupo, pela natureza que os caracteriza".

O grupo, independentemente de seu caráter, pode ser influenciado por diversas variáveis que podem contribuir ou não para o alcance de suas finalidades. Apesar do trabalho grupal estar integrado ao cotidiano de nossas vidas, e muitas vezes ser nossa ferramenta de trabalho, nem sempre consideramos os determinantes ligados ao seu êxito ou fracasso.

Esses determinantes estão ligados aos aspectos estruturais, de funcionamento, de dinâmica e de inter-relações, e por sua vez atuam conforme o caráter e objetivos do grupo. Neste aspecto atentamos para o fato de que o êxito deste trabalho parte da nossa conscientização sobre a existência destes determinantes, e isso se dará a medida que construirmos em nosso cotidiano a reflexão teórica e prática do trabalho grupal.

É nosso objetivo neste estudo buscarmos um entendimento acerca do trabalho grupal, compreender a sua contribuição enquanto estratégia de trabalho para a Enfermagem, e ainda entender os seus desafios.

METODOLOGIA

Nossa vivência ocorreu junto à grupos de gestantes, realizado pela Associação de Bairro de um setor da periferia de Goiânia, no desenvolvimento de um programa pré-natal, sendo que nossa participação foi voluntária.

Trabalhamos durante um período de seis meses, entre outubro de 1997 a março de 1998, com grupos formados a partir do Programa de Apoio à Gestantes na Comunidade, realizado pela Organização das Voluntárias de Goiás (OVG).

Estes grupos para serem formados na comunidade e receberem o apoio desta instituição devem seguir algumas normas colocadas pela mesma, tais como o acompanhamento de um líder comunitário, que tem como função reunir o grupo na comunidade, o seguimento de um cronograma com datas e temas preestabelecidos, ter um espaço físico adequado para as reuniões.

Trabalhamos com uma média de 15 gestantes em cada grupo, sendo que acompanhamos três grupos, onde predominava a participação de jovens com até 20 anos em primeira gestação, com o 1º grau incompleto e renda familiar não ultrapassando a dois salários mínimos.

Os encontros eram realizados uma vez por semana, em um intervalo de uma hora e meia, durante um período de dez semanas. As reuniões eram realizadas na sede da Associação do Setor, que era localizado na região do bairro, próximo ao colégio, a creche e ao posto policial.

O trabalho foi desenvolvido fundamentado na abordagem qualitativa, que segundo MINAYO (1996, p.24), "é aquela que não se preocupa em quantificar, mas sim em compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez, são depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Trabalha com a vivência, com a experiência, com a cotidianeidade e também com a compreensão das estruturas e instituições como resultados da ação humana objetivada".

Enquanto forma de abordar o trabalho de campo e coleta de dados, utilizamos a observação participante como nos orienta MINAYO(1996, p.59 e 60), sendo "aquela que se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais e dos eventos em seu próprios contextos. Nesta técnica podemos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observamos diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real."

A coleta de dados foi realizada através de registros escritos e da observação participante, onde enfatizamos a interação entre os pesquisadores, o objeto de estudo e os sujeitos envolvidos, levando em conta o que nos coloca MEDEIROS(1995), "O pesquisador é um ativo descobridor do significado das ações e relações que se ocultam nas estruturas sociais e, o objeto, não é um dado inerte e neutro, mas está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações".

VIVENCIANDO O TRABALHO GRUPAL

Tendo em vista que existe uma grande variedade de tipos de grupos, e como nos coloca MUNARI & RODRIGUES(1997, p.14), é de fundamental importância conhecermos suas diferenças, seus limites e possibilidades, sentimos a necessidade de entendermos as características do tipo de grupo no qual realizamos o nosso estudo.

Partindo dos objetivos do grupo, este tomou o caráter de suporte/ apoio, entendendo-o como aquele que pode ajudar pessoas durante períodos de ajustamento à mudanças, de crises ou ainda na manutenção ou adaptação à novas situações. O potencial preventivo desses grupos emerge da possibilidade dessas pessoas com situações semelhantes poderem compartilhar experiências comuns (MUNARI & RODRIGUES, 1997).

O grupo de apoio tem como finalidade fornecer aos indivíduos, convivendo com situações semelhantes, uma oportunidade de expressar suas preocupações e considerar modos alternativos para modificarem seu estilo de vida, (LEWIS, FRAIN & DONNELLY, 1993).

Neste tipo de grupo encontramos a figura do coordenador, que tem como objetivo facilitar e direcionar o grupo para seu próprio suporte. O participante deve fazer suas próprias descobertas, seguir o seu caminho e encontrar as soluções que lhe pareçam mais adequadas, embora experienciando situações difíceis, o participante têm mérito e é capaz (MUNARI & ZAGO, 1997).

Começar: os desafio do início do trabalho com grupos

Ao iniciarmos o trabalho, apesar de termos a pretensão de fazer algo mais que "ministrar conteúdos" em forma de aula, não conseguimos conter nosso ímpeto de trabalharmos com esse método, o que não nos levou a verificar o péssimo andamento do grupo, e a não assimilação satisfatória dos conteúdos pretendidos. Esse fato era caracterizado claramente pelos comportamentos das gestantes que não se sentiam interessadas nos conteúdos, dificilmente participavam das tentativas de discussão dos temas, se dispersando dos assuntos de diversas formas, além de apresentarem-se ansiosas para o término das reuniões.

Ao procurarmos saídas para esses problemas observamos que este tipo de dificuldade não era só nosso sendo problemas comuns vivenciados por diversos profissionais.

Assim, procuramos através da literatura entender os aspectos estruturais ligados ao grupo, o seu planejamento e o seu desenvolvimento, ao mesmo tempo em que elaborávamos um planejamento minucioso de nossas atividades, onde repensamos e estabelecemos os objetivos do nosso trabalho, bem como tentamos compreender as características do grupo e traçar estratégias para nossas atividades. Todo esse trabalho foi supervisionado passo a passo, possibilitado-nos uma atuação mais segura.

Ao iniciarmos um novo grupo, primeiramente tentamos estabelecer uma integração entre nós e os membros do grupo, fazendo também seguido uma reflexão sobre o seu caráter, seus objetivos, deixando claro que cumprido à apresentação dos temas preestabelecidos pela OVG, o grupo teria a flexibilidade de se direcionar para a busca da satisfação de seus anseios.

Tentamos nos basear nos fundamentos sugeridos por MUNARI & RODRIGUES (1997, p.91) de que "a convivência com um grupo que congrega pessoas com problemas semelhantes proporciona uma experiência que pode desenvolver um clima de muito valor terapêutico, essa situação ajuda os participantes a quebrarem barreiras(...), especialmente pela possibilidade de receberem feed-back e sugestões construtivas de outras pessoas que vivenciam os mesmos problemas".

Durante o transcorrer do nossos trabalhos reafirmávamos entre o grupo, os objetivos que norteavam nossas ações, sendo que estes se baseavam na troca de experiências, exposição de anseios, dúvidas, aliando-se a isso o repasse de informações do temas já determinados.

Um dado claramente observado e de extrema importância, foi a grande disponibilidade de aceitação e integração desta proposta de trabalho. Acreditamos que isso ocorreu em parte pela valorização que passamos a dar a todas as participantes enquanto responsáveis pelo andamento satisfatório do grupo, além de valorizarmos suas experiências, através de um espaço aberto para o debate e trocas de vivências.

Sendo assim percebemos que o grupo seguiu fluindo por si só, ou seja, ele andou com suas próprias pernas. A nós enquanto coordenadoras, cabia levar o tema até o grupo, e dar o ponta pé inicial nas discussões, sendo que ao término destas, o grupo já havia se dado as respostas para suas próprias perguntas, e quando isso não acontecia pelo menos já tínhamos em mãos quais eram os pontos em que o grupo apresentava dificuldades, e nos pedia auxílio, sendo assim partíamos destes dados para busca de respostas para tais anseios dentro de nossas possibilidades, sem corrermos o riscos de levarmos o grupo ao desinteresse.

Observamos claramente, que nos dois últimos grupos, os quais trabalhamos sobre essa perspectiva, observamos maior interesse, participação e vínculo entre o grupo, sendo que a assimilação dos conteúdos que deveriam ser repassados, segundo a orientação da OVG, tornou-se um aspecto secundário, por se constituir em algo acessório ao interesse do grupo.

A trajetória do grupo

Nosso trabalho no papel de coordenadoras do grupo tinha a finalidade de direcionar e facilitar o movimento grupal para sua própria direção. Esta tarefa se representava como um grande desafio para nós devido a sua complexibilidade, importância e responsabilidade. Afirmamos a importância do coordenador desenvolver o seu papel, concluindo que apesar de sua complexibilidade, não é algo inatingível e pode ser apreendido através da vivência teórica e prática do trabalho grupal, sendo que a supervisão é algo indispensável.

No decorrer de nossa experiência observamos que algumas características devem ser incorporadas e desenvolvidas pelo coordenador para que o mesmo possa realizar com êxito o trabalho grupal. Um dos pontos primordiais é a afinidade por esse tipo de trabalho, outro ponto de igual importância seria a empatia, o conhecimento de nossos próprios limites e capacidades, a preocupação em assistir o ser humano em sua totalidade e estar disposto a criar vínculos. O coordenador não precisa ser necessariamente um psicoterapeuta mas precisa ter nos fundamentos das relações interpessoais o seu guia.

DANIEL(1983, p.126), Acrescenta que "a arte do relacionamento de ajuda inclui não só conhecer as regras técnicas e a aplicação das mesmas, mas também possuir maturidade emocional, sinceridade no contato, autenticidade; ser capaz de aceitar a pessoa com suas necessidades e não sentir culpado quando aos resultados esperados deixam de ser alcançados, apesar de se ter enviado todos esforços e sobre tudo ser capaz de ouvir atentamente."

Os grupos em questão eram conduzidos de forma que ao iniciarmos cada reunião, primeiramente tentávamos criar um clima descontraído, com apresentações e conversas bem informais sobre o cotidiano da vida dos integrantes. Após essa etapa colocávamos o tema daquele dia sendo que todos tinham livre acesso a intervenção, e essas sempre ocorriam, em maior ou menor intensidade, devido a inúmeros fatores, tais como o assunto em questão, a própria disponibilidade da participante para expor-se e devido ao clima de coesão apresentado pelo grupo. Sempre que necessário fazíamos uma explanação teórica sobre o assunto como uma forma de esclarece dúvidas.

Trabalhando os obstáculos e dificuldades

Durante o andamento de nossas atividades encontramos certas dificuldades, que acreditamos serem próprias do desenvolvimento normal de qualquer grupo e acreditamos ser importante discutirmos alguns desses aspectos.

Este foi um fenômeno apresentado em todos os grupos, e esta monopolização das falas ocorria na grande maioria, por participantes que já haviam passado por uma gestação anterior, e portanto traziam alguma bagagem sobre os temas colocados, além de apresentarem maior facilidade de expressão.

Até determinado ponto, este era um fato visto por nós de maneira benéfica, pois contávamos com a experiência destas participantes, que passavam suas vivências de maneira simples e positiva, numa relação de igual para igual, o que dava maior credibilidade as informações. No entanto, cabia a nós organizar as falas de forma a propiciar espaço para que as demais, também participassem.

Como colocamos anteriormente, trabalhávamos com uma agenda de temas e datas preestabelecidas, reconhecemos a importância da colocação destes temas, no entanto as gestantes nos passavam uma necessidade de direcionamento dos mesmos para as suas vivências, e na ordem em que julgavam mais importantes.

Acreditamos que um cronograma mais maleável, que deixe a cargo das próprias participantes a escolha dos temas mais interessantes ao grupo, seja mais eficiente para suprir as necessidades das participantes sendo também melhor aproveitado. Observamos que a riqueza desta forma de trabalho é maior quando os temas são escolhidos espontaneamente.

Notamos que este fato aconteceu em todos os grupos, portanto em menor intensidade nos dois últimos. Observamos que este acontecimento dava-se sempre com as mesmas integrantes, e os assuntos discutidos paralelamente entre elas, eram na maioria das vezes o tema da reunião, permeado de suas experiências, que chegava até nós numa afirmação de que o assunto as envolvia, mas que não é muito fácil para pessoas que não tem o hábito desse tipo de atividade, conviverem com regras do trabalho em grupo

Este foi um fenômeno observado sempre com maior intensidade no início de cada grupo, sendo que próximo ao seu término este era um fato esporádico. Assim, afirmamos que a confiança no grupo e o reconhecimento da importância individual de cada integrante havia se estabelecido e cada grupo tem seu próprio tempo para isso.

Reportamo-nos novamente a este item, só que neste momento o colocamos enquanto uma dificuldade. Anteriormente, quando tratamos deste assunto, nos referimos basicamente a nós enquanto facilitares dos referidos grupos. A coordenação destes era composta de três pessoas, e em certos momentos, isso não ocorreu de maneira harmônicas devido a um choque de concepções do que era o trabalho em grupo, e qual deveria ser o papel do coordenador. Além disso também observamos as conseqüências da pouca disponibilidade e compromisso com o trabalho grupal que vinha expressa de atitudes autoritárias frente ao grupo que, consequentemente, inviabilizava a criação de vínculos intragrupais.

Lidar com esse fato para nós foi uma questão de aprendizado do que já havíamos encontramos na teoria. Notamos que no primeiro grupo, onde tivemos menor possibilidade de intervenção, os resultados de se conduzir grupos mediante o atitudes de pouco compromisso e de falta de afinidade com esse trabalho, foram expressos através do total desinteresse dos membros.

No segundo grupo tentamos direcionar a coordenação para um trabalho comum que todos tivessem em mente objetivos compatíveis com o trabalho grupal e dentro da mesma concepção. Com o afastamento voluntário do coordenador que nos referimos anteriormente, ficamos mais livres para trabalhar, construindo a identidade e os vínculos do grupo.

No terceiro nos deparamos com uma situação positiva que veio acrescentar à nossa experiência. Neste grupo ocorreu a troca do membro do qual referimos acima. Este novo membro veio nos colocar em uma situação contrária àquela vivenciada anteriormente, pois possuía concepções de trabalho grupal e do papel do coordenador que mais se assimilavam às nossas. A participação deste novo integrante se deu de forma dinâmica, onde a experiência anterior com esse tipo de trabalho serviu de suporte para nossa aprendizagem.

Neste ponto nos atentamos para a importância da realização contínua da avaliação, visto que só através desta teremos um visão global dos trabalhos realizados e de sua proximidade com os objetivos pretendidos, de forma a podermos direcionar o grupo para alcançá-los.

A avaliação deve ser um processo contínuo que inclua diversas estratégias envolvendo o grupo, a coordenação e a supervisão. A avaliação que foi realizada nos grupos envolveu basicamente só parte da coordenação e a supervisão, envolvendo indiretamente o grupo e esta foi uma falha que observamos ao longo do trabalho.

A avaliação, prioritariamente, se deu através de anotações em nosso diário de campo, realizadas sempre após às reuniões. Para este diário trazíamos as impressões retiradas de nossa vivência e das falas dos componentes do grupo. Estes dados eram levados e discutidos constantemente com a supervisão, e a partir destas reflexões planejávamos as próximas reuniões.

REFLEXÕES FINAIS

Considerando que a grande geradora de nossas motivações são nossas necessidades, fica-nos claro a facilidade de adesão das gestantes ao trabalho proposto, visto que elas se encontravam em um momento especial de suas vidas. A gravidez por sua vez, independente de idade, classe social, nível intelectual é caracterizada por ser um período de forte conteúdo emocional, pois as mudanças ocorridas no corpo da mulher, nos seus sentimentos, e na sua dinâmica familiar são fatores geradores de anseios e medos (SZYLIT & SCHVARTZ, 1984).

Neste ponto entendemos que a adesão ao grupo ocorreu a medida que este foi entendido como uma oportunidade de extravasamento dos anseios, temores, conflitos, dúvidas, enfim como uma possibilidade de se trabalhar os sentimentos.

O grupo funcionou procurando considerar cada componente em sua totalidade, sendo permeado de ações que enfatizavam a promoção da saúde mental de seus membros. Entendendo saúde mental como uma necessidade humana, que considera cada ser holisticamente, ou seja em todas as suas dimensões, tendo como meta final a saúde integral.

Um aspecto a ser considerado é a importância da supervisão como requisito à quem aprende a lidar com a coordenação de grupos. Como nos coloca MUNARI & RODRIGUES (1997, P.55) "a supervisão é um recurso extremamente benéfico ao grupo, que visa munir o coordenador de um apoio para sanar seus problemas quanto à condução do grupo, suas dúvidas e suas dificuldades, sendo um meio para calibrar os aspectos técnicos da coordenação de grupos".

Ao tomarmos esse aspecto como básico, a supervisão se dava no planejamento e na avaliação de cada reunião, com exposição de nossas dúvidas e anseios em relação ao trabalho grupal. Esta experiência nos possibilitou compreender a sua importância, mas acreditamos que esta deva ser feita não só para os coordenadores que são inexperientes, mas para todos aqueles que desenvolvem atividades com este caráter, pois é um momento impar para a reflexão do trabalho.

A abordagem da gestante dentro dessa perspectiva nos mostrou sua relevância quando se pretende um atendimento integral da totalidade humana. Este é um instrumento precioso que deve ser cada vez mais compreendido em toda a sua abrangência, para que possa cada vez mais ser utilizado, de maneira eficaz, propiciando assim, à nossos clientes uma atenção de real qualidade.

Em nossa experiência observamos que o grupo, enquanto um todo, evolui progressivamente a medida em que cresce a coesão e o vínculo. Com esta estratégia de trabalho, obtivemos uma maior assimilação dos conteúdos preestabelecidos, bem como um maior interesse e participação durante as reuniões, esta participação se dava espontaneamente, a medida que o próprio grupo estabelecia um ambiente confiável, tornando-se propício para a exposição de anseios, dúvidas, dificuldades e trocas experiências.

Verificamos que a união entre o embasamento teórico, a reflexão e a experiência concreta no trabalho grupal, traz a verdadeira aprendizagem acerca do grupo e de seus benefícios enquanto estratégia para o trabalho da enfermagem.

Nesta vivência conseguimos compreender o grupo como possuidor de vida própria e única, onde cada componente é um ser repleto de experiência, sentimentos e conhecimentos. Quando finalmente, consideramos esses aspectos no cuidado de enfermagem podemos dizer que estamos desenvolvendo assistência que tem como fundamento melhorar a qualidade de vida, que pode ser entendida para o cliente, mas também para o profissional que pode ter prazer pelo que faz, e sentir-se satisfeito com o seu trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.DANIEL, L.F. Atitudes Interpessoais em Enfermagem. São Paulo, Ed.EPV, p.126, 1983.
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3.MAILHIOT, G.B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. São Paulo, Duas Cidades, 1981.
4.MEDEIROS, M. Percepção dos Atores que Coordenam Programas de Atenção às Crianças e aos Adolescentes em Situação de Rua no Município de Ribeirão Preto. São Paulo, 1995. [ Dissertação de Mestrado. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP].
5.MINAYO, M.C. de S. et. al. Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. Petrópolis, Ed. Vozes, 1996.
6.MUNARI, D.B. & RODRIGUES, A.R.F. Enfermagem e Grupos. Goiânia, Ed. AB, 1997.
7.MUNARI, D.B & ZAGO, M.M.F. Grupos de Apoio/Suporte e Grupos Auto-Ajuda: Aspectos Conceituais e Operacionais, Semelhanças e Diferenças. Rev. Enf. URJ, RJ, v.5, n.º 1, p.359-366, 1997.
8.OLMSTED, M. S. O Pequeno Grupo Social. São Paulo, EDUSP, 1978.
9.OSÓRIO, L.C.et. al. Grupoterapia Hoje. Porto Alegre, Artes Médicas, 1986.
10.SZYLIT, R & SCHVARTZ, E. Preparo para a Maternidade Através da Estrutura de grupo. Rev. Esc. Enf. USP, São Paulo, 18(3):263-269, 1984.
11.WOOD, J.K. Pequenos Grupos Centrados na Pessoa: Mais que Terapia. Campinas, PCSG, 1990./mimiografado.
12.ZIMERMAN, D.E. Fundamentos Básicos das Grupoterapias. Porto Alegre, Artes Médicas Sul Ltda., 1993.

Pesquisa financiada pelo CNPq, realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde Integral da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (NEPSI/FEN/UFG).

AUTORAS

Michella F. B. Câmara - Acadêmica da Graduação em Enfermagem, Estudante de IC do PET/CAPES/FEN/UFG.
Virgínia Faria Damásio - Acadêmica da Graduação em Enfermagem, Estudante de IC PIBIC/FEN/UFG.
Denize Bouttelet Munari - Enfermeira, Professora Doutora /Titular da FEN/UFG

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