Facebook® como meio de divulgação científica: aliado ou inimigo?

 

Facebook® as a means of scientific promotion: ally or enemy?

 

 

Talita dos Santos Rosa1, Fabiana Faleiros1, Larissa Yoshie Asito1, Ninna Hirata Silva1, Carla Beatriz Pereira da Silva1, Simone Souza da Costa Silva2

1 Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto (SP), Brasil. E-mails: talitarosa.usp.@gmail.com, fabifaleiros@eerp.usp.br, larissa.asito@usp.br, ninna.hirata@usp.br, carla.beatriz.silva@usp.br.

2 Universidade Federal do Pará – Belém (PA), Brasil. E-mail: symon.ufpa@gmail.com.

 

Como citar este artigo: Rosa TS, Faleiros F, Asito LY, Silva NH, Silva CBP, Silva SSC. Facebook® como meio de divulgação científica: aliado ou inimigo? Rev. Eletr. Enferm. [Internet]. 2020 [acesso em: _________];22:55122. Disponível em: https://doi.org/10.5216/ree.v22.55122.

 

Recebido em: 25/09/2018. Aceito em: 29/05/2020. Publicado em: 26/08/2020.

 

 

RESUMO

Diferentes estratégias para divulgação de uma nova ferramenta de comunicação e interação em saúde, voltada para pessoas com deficiência, foram aplicadas no Facebook® com o objetivo de identificar quais estratégias de divulgação aplicadas ao Facebook® promoveram mais acessos à rede social D Eficiência e caracterizar seus usuários. Estudo quantitativo, descritivo e longitudinal, com dados extraídos do gerenciador de métricas do Facebook®. A divulgação com busca ativa foi superior a passiva, sendo responsável por 91,4% (n=4.519) dos acessos, via celular (71%) por mulheres (81%). Publicações com hiperlink e imagens foram mais engajadoras. O Facebook® mostrou-se como uma ferramenta eficaz por atingir números expressivos de pessoas, e deve ser considerado na divulgação de novas tecnologias. Para tal, é necessário criar conteúdos atrativos e busca ativa de usuários. Estudos complementares devem continuar a avaliação dessa estratégia, com análise da divulgação orgânica e divulgação com impulsionamento pago.

Descritores: Redes Sociais Online; Publicações de Divulgação Científica; Comunicação em Saúde; Pessoas com Deficiência.

ABSTRACT

Different strategies for promoting a new health communication and interaction tool, aimed at persons with disabilities, were applied on Facebook® in order to identify which promotion strategies promoted hits to the D Eficiência social network, and to characterize its users. Quantitative, descriptive and longitudinal study, with data extracted from the Facebook® metrics manager. Active search promotion was higher than passive promotion, accounting for 91.4% (n=4,519) of hits, via cell phone (71%) by women (81%). Hyperlinked publications and images were more engaging. Facebook® proved to be an effective tool for reaching significant numbers of people and should be considered in the promotion of new technologies. For this, it is necessary to create attractive content and conduct an active search for users. Complementary studies should continue to evaluate this strategy, with analysis of organic promotion and paid promotion.

Descriptors: Online Social Networking; Publications for Science Diffusion; Disabled Persons.

 

 

INTRODUÇÃO

O uso da internet trouxe avanços significativos em todos os setores, em especial no contexto da educação em saúde e inclusão das pessoas com deficiência (PcD). A web 2.0 possibilitou a evolução das mídias sociais, transformando os usuários em criadores de conteúdos e não somente consumidores passivos. O acesso ao conhecimento, antes restrito a locais específicos, atualmente está literalmente na palma da mão, por intermédio dos dispositivos móveis de acesso à internet(1,2).

No Brasil, 116 milhões de pessoas estão conectadas à internet, sendo as redes sociais virtuais (RSV) um canal de comunicação promissor(3). Esse contexto é fundamentado pelo movimento “acesso aberto” iniciado em 1990(4). Consolidado por três declarações públicas: a “Iniciativa de Acesso Aberto de Budapeste”(5) em 2002, a “Declaração de Bethesda, sobre a publicação em Acesso Aberto”(4) e a Declaração de Berlim sobre o Acesso Livre ao Conhecimento nas Ciências e Humanidades, ambas de 2003(6). Esse movimento incentiva o acesso gratuito aos resultados de pesquisas científicas a todas as pessoas(4). Assim, as pesquisas desenvolvidas na área da saúde refletem benefícios quando aplicadas na prática clínica e no contexto de vida da população.

Nesse sentido, as RSV tornaram-se ferramentas para promoção da saúde, educação e inclusão. Estudos demonstram, que os conteúdos sobre temas relacionados à saúde são os mais acessados da internet(1-6). Principalmente, por pessoas com doenças crônicas ou que sofreram alterações permanentes na saúde. Por outro lado, uma revisão sistemática demonstrou dificuldades para mensurar se, de fato, as pessoas aplicam o conteúdo que acessam(1). Nesse contexto, é primordial a participação dos profissionais de saúde em estratégias que aprimorem a disseminação de informações científicas nessas mídias, promovendo a troca de informações entre profissionais e pacientes em um ambiente virtual seguro(1-6).

Atualmente o Facebook® é a mídia social mais popular no mundo, com mais de dois bilhões de usuários, destes, 14,3 milhões demonstram interesse por acessibilidade, inclusão social e deficiência, constatando a relevância da produção de pesquisas direcionadas ao público PcD(5). Nessa direção, o acesso às tecnologias assistivas, em conjunto com a educação em saúde, por meio das RSV, contribuem para a inclusão, a acessibilidade, o empoderamento e a autonomia das PcD(7,8).

Por outro lado, o Facebook® não pode ser considerado um lugar seguro para troca e obtenção de informações, uma vez que, diversas páginas da rede possuem informações sem fundamentação científica, que podem gerar sérios danos à saúde de seus usuários(9,10). Esses dados confirmam a importância da atuação dos pesquisadores e dos profissionais de saúde na divulgação de conteúdos pautados em evidência científica. Visando minimizar a disseminação e acesso às informações equivocadas pelos usuários, além de conquistarem visibilidade para os seus resultados científicos.

Nesse cenário, aspirando maximizar a educação em saúde online voltada às PcD, pesquisadores de quatro universidades públicas brasileiras desenvolveram uma RSV para PcD. A RSV intitulada D Eficiência (www.demaiseficiencia.com), foi desenvolvida para promover um ambiente seguro para a troca de experiências, apoio mútuo e divulgação de informações baseadas em evidências científicas.

Considerando o Facebook® como um meio de divulgação amplamente utilizado no mundo, inclusive no contexto da educação em saúde(11-14), o objetivo deste estudo foi identificar quais estratégias de divulgação aplicadas ao Facebook® promoveram mais acessos à RSV D Eficiência e caracterizar seus usuários.

 

MÉTODOS

Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, comparativo e longitudinal. Aprovado por um Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de São Paulo, sob protocolo nº 74984617.8.0000.5393, além de seguir a Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 510 (2016). Todos os participantes aceitaram os termos de uso para serem usuários das RSV Facebook® e D Eficiência.

 

Desenvolvimento da D Eficiência

As pesquisas com uso das mídias sociais para PcD do Núcleo de Pesquisa e Atenção em Reabilitação Neuropsicomotora (NEUROREHAB) iniciaram-se em 2013, com o desenvolvimento de um fórum virtual para pessoas com mielomeningocele, em parceria com a Faculdade de Ciências da Reabilitação da Universidade de Dortmund na Alemanha(9). Esse estudo anterior fundamentou o desenvolvimento da RSV D Eficiência em 2014, com o apoio do edital de Tecnologia Assistiva no Brasil e Estudos sobre Deficiência n° 59/2014 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior(8). Três universidades brasileiras (Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Pará e Universidade Federal de Minas Gerais) foram responsáveis pela definição do escopo, projeto e conteúdos que veiculariam na D Eficiência. O Laboratório de Inteligência Computacional e Pesquisa Operacional da Universidade Federal do Pará, em parceria com o Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade Estadual do Maranhão e do Instituto de Engenharia e Geociências da Universidade Federal do Oeste do Pará, foram responsáveis pelo desenvolvimento tecnológico da rede.

O desenvolvimento da rede ocorreu em 10 meses, baseado no formato do Facebook® e Twiter®, com linguagem de programação PHP, ferramentas de desenvolvimento ágil de aplicações da Web 2.0 e base no framework Codelgniter. A divisão estrutural da D Eficiência consiste em: timeline, comunidades específicas a diversos tipos de deficiência, discussões e enquetes, conforme Figura 1. A rede foi lançada em maio de 2017.

Figura 1

 

Coleta de dados

Instrumentos para coleta de dados

Para coleta de dados foram utilizados dois softwares de monitoramento de tráfego de redes sociais virtuais:

 

Procedimento para coleta e análise de dados

Estratégias de divulgações e análises

Este estudo foi dividido em três fases: Fase passiva de divulgação, Fase com busca ativa para divulgação e Fase das análises do efeito das divulgações nos acessos à RSV D Eficiência. Inicialmente foi criado um perfil da D Eficiência no Facebook® para realizar as publicações (www.facebook.com/demaiseficiencia). O período das análises e estratégias de divulgações ocorreu entre 07 de abril e 07 de julho de 2017.

Fase de divulgação passiva

A fase de divulgação passiva consistiu em publicações da D Eficiência e seus propósitos, somente no Feed de notícias do perfil da rede no Facebook®. Foram realizadas seis publicações com conteúdo de imagens, textos e hiperlinks que direcionavam o usuário à página da rede social D Eficiência. Essas publicações ocorreram no período de 15 de maio a 20 de junho. Nessa fase foi analisado se o tipo de publicação interferiu no número de alcance e engajamento do perfil.

Fase de divulgação com busca ativa

Na fase de divulgação com busca ativa, as publicações da RSV D Eficiência ocorreram em grupos de PcD e demais perfis de PcD do Facebook®. A análise foi de 21 de junho a 07 de julho. Nesse período, especificamente, nos dias 22 e 23 de junho, 15 moderadores do grupo de pesquisa NEUROREHAB realizaram publicações de hiperlinks, textos e imagens que direcionavam para a rede social D Eficiência. Os grupos de PcD e perfis do Fengajadoras. foram encontrados, por meio do mecanismo de busca do Facebook®. Foram aplicados termos como, acessibilidade, deficiência, inclusão, lesão medular, paralisa cerebral, autismo e mielomeningocele. Foram encontrados ao todo 44 grupos e perfis de PcD, com total de 2.098.172 usuários pertencentes.

Fase de análise do efeito das divulgações na rede social D Eficiência

Nessa fase, foi analisada a influência dos tipos de divulgações nos acessos que a RSV D Eficiência recebeu nos períodos das divulgações.

Os dados coletados foram exportados do Google Analytics e Facebook Insigth® em formato de planilha do Excel e transferidos para o Stata Statistical Software versão 13.1 para Windows.

Para os testes estatísticos optou-se pela correlação de Spearman, após aplicar o teste Shapiro-Wilk (p>Z=0,0000) e para análise bivariada através do modelo de regressão logística, sob as variáveis dependentes (número de alcance das publicações no Facebook®; engajamento e curtidas) e variável independente (número de acesso à rede social D Eficiência). Foram considerados significativos os testes que obtiveram nível de significância de 5% (α=0,05) e (p<0,05).

Para a análise descritiva e caracterização da amostra, como sexo, idade, tipos de dispositivos de acesso e procedência dos acessos das redes sociais, foram realizados cálculos de frequência absoluta e relativa para as variáveis qualitativas, e tendência central (média) e variabilidade (desvio padrão) para as varáveis quantitativas.

 

RESULTADOS

As duas estratégias de divulgação foram realizadas e analisadas conforme as três fases descritas no método.

 

Caracterização dos usuários

A amostra foi composta por seguidores do perfil da D Eficiência do Facebook® e usuários que acessaram a RSV D Eficiência. A idade da amostra em ambas as RSV variou entre 18 e 75 anos, com média de 35,8 anos (± 12,07 anos) para o Facebook® e 41,19 (± 12,31) para a D Eficiência. O sexo predominante foi o feminino, com 79% (n=333) no Facebook® e 81% (n=2.341) na D Eficiência, conforme Figura 2.

Figura 2

No momento da análise, o perfil da RSV D Eficiência no Facebook® tinha 424 seguidores, destes 97,9% (n=415) eram procedentes do Brasil, 0,7% (n=3) da Itália, 0,5% (n=2) dos Estados Unidos e 0,2% (n=1) da Alemanha.

A RSV D Eficiência recebeu 4.945 acessos nos dois períodos, 83,4% (n=4.125) foram procedentes do Brasil, 9% de Portugal (n=444), 5,1 % dos Estados Unidos (n=255), 0,8 % das Filipinas (n=41), 0,4% da Argentina (n=20) e 0,3 % (n=15) do Canadá, Espanha, França e Luxemburgo respectivamente. Quanto aos acessos e seguidores provenientes do Brasil, os estados com o maior número de usuários, foram São Paulo, Pará, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Tabela 1).

Tabela 1

Quanto ao dispositivo de acesso à rede social D Eficiência, no período de divulgação com busca ativa, houve aumento dos acessos, por meio do dispositivo móvel em relação à divulgação passiva (74,2% ≠ 42,3%) conforme Tabela 2.

Tabela 2

 

Estratégia de divulgação Passiva

Durante a divulgação passiva foram realizadas oito publicações no Feed do perfil da D Eficiência no Facebook®, em um período de 35 dias. Cinco publicações com uso de imagens (62,5%) e três sem imagens utilizando apenas hiperlinks e textos (37,5%).

A correlação entre o tipo de publicação, com as médias de alcance e engajamento não demonstrou significância (p=0,64; IC95% = 174,22 – 685,72; p=0,23; IC95% = 6,28 – 47,03; Teste Mann-Whitney). Evidenciando que o conteúdo da publicação quando disponibilizado no Feed de notícias, não influenciou no alcance e engajamento dos usuários, uma vez que o acesso aos conteúdos publicados nos perfis do Facebook® são direcionados apenas para os seus seguidores.

Com a divulgação passiva, a página da D Eficiência no Facebook® atingiu 140 curtidas em 35 dias (média de 7 curtidas/dia). A RSV D Eficiência, no mesmo período, recebeu 426 acessos, em 74 dias (média de 5,75 acessos/dia), desses acessos 48,6% (n=285) cadastraram-se na RSV D Eficiência. A correlação entre o engajamento e o alcance das publicações do Feed de notícias da página no Facebook® (Figura 3) demonstrou que quanto maior for o alcance, maiores serão as chances de engajamento/interação com o conteúdo pelos usuários (p<0,001, R2=0,9247).

Figura 3

 

Estratégia de divulgação com busca Ativa

Durante essa divulgação foram realizadas 23 publicações, em 17 dias (média =1,35/dia), no Feed do perfil da D Eficiência no Facebook®, além de 44 publicações com imagem, textos e hiperlink com direcionamento de acesso à RSV D Eficiência em diversos grupos de PcD e perfis de usuários do Facebook®.

A correlação entre o tipo de publicação com imagens (n=15; 65,22%) e hiperlinks com texto (n=8; 34,78%), com o alcance e o engajamento mostrou que as publicações com imagens tenderam a alcançar mais usuários (p=0,02; IC95% = 220.161 - 734.78; Teste Mann-Whitney). Por outro lado, não houve diferença estatisticamente significativa em relação ao tipo de publicação e o engajamento (p=0,09; IC95% = 22.597 - 75.166; Teste Mann-Whitney), revelando que, somente a imagem não foi suficiente para gerar engajamento.

O alcance total do perfil da D Eficiência no Facebook®, apresentou média de 477,47 (dp=500,45), com variação entre 15 e 1.753 usuários alcançados. O engajamento obteve média de 33,69 (dp=23,16) com variação entre três a 93. A divulgação ativa impulsionou também o perfil da D Eficiência no Facebook®, uma vez que, após as publicações em demais grupos, alcançou 1.753 usuários e obteve 93 interações.

As análises bivariadas, do alcance e do engajamento, com o coeficiente de correlação de Pearson e a regressão linear mostrou que ambos apresentaram correlação positiva e forte (p≤0,001; R=0,91). O valor de r na correlação, entre as variáveis, alcance e engajamento, sugeriu que 91% da variação do alcance pode ser explicada pela regressão em função do engajamento, ou seja, publicações com uso de imagens tendem a gerar maior alcance, aumentando em 91% as chances de existir engajamento no conteúdo publicado (Figura 4).

Figura 4

Esses resultados sugerem que as publicações em outras páginas e o tipo de conteúdo das publicações, interferem no alcance, que, por sua vez, incentivam os usuários a interagirem com o conteúdo, gerando engajamento. Nesse período, o perfil da RSV D Eficiência no Facebook® saltou de 140 para 424 seguidores, um aumento de 66,9% (n=284), com média de 16,7 seguidores por dia (Figura 5).

Figura 5

No período da divulgação com busca ativa, a RSV D Eficiência recebeu 4.519 acessos, em 17 dias (média de 285,8 acessos/dia), com cadastro de 1.067 novos usuários.

 

Comparação entre as estratégias de divulgações e a influência dessas nos acessos à rede social D Eficiência

A RSV D Eficiência nos dois períodos de divulgação recebeu 4.945 acessos, 9% (n=426) com a divulgação passiva e 91,4% (n=4.519) com a divulgação com busca ativa. A divulgação com busca ativa mostrou-se mais efetiva, tanto no alcance de usuários, quanto na disseminação e captação de usuários novos para a D Eficiência, quando comparada à divulgação passiva (p=0,02, Teste Mann-Whitney, Figura 6).

Figura 6

Não houve diferença estatisticamente significativa, durante a divulgação passiva, em relação ao número de acessos e o alcance (p=0,70, R2=0,004, coeficiente de correlação de Pearson) e o engajamento (p=0,74, R2=0,003, coeficiente de correlação de Pearson). Por outro lado, na divulgação com busca ativa, ambos demonstraram correlação significativa, positiva e forte para o alcance (p≤ 0,001, R2=0,8301, coeficiente de correlação de Pearson) e para o engajamento (p≤ 0,001, R2=0,770, coeficiente de correlação de Pearson). Sugerindo que 83,01% da variação dos acessos são explicados pelo engajamento, em função do alcance, com uma correlação forte e positiva entre as duas variáveis, ou seja, quanto maior o alcance, maior será o número de acessos (p≤ 0,001, R=0,910). As postagens com maior alcance no Facebook®, elevaram em 77% as chances do usuário se engajar com o conteúdo publicado e acessar a rede social D Eficiência (Figura 7).

Figura 7

 

DISCUSSÃO

O Facebook® modificou a maneira das pessoas interagirem entre si, democratizando o acesso a novas tecnologias e diversos tipos de informações(16,17). No entanto, a disseminação do conteúdo depende da maneira com que essas informações são publicadas na RSV(9,16,17).

 

Caracterização dos usuários das redes sociais virtuais

A maioria dos acessos recebidos foi procedente de território brasileiro (>90%). Tal ocorrência é decorrente do idioma português, utilizado nos textos das publicações, além, dos termos aplicados nas buscas no Facebook®. Entretanto, os dados relacionados ao estado de procedência sofrem efeito do algoritmo de direcionamento de conteúdo do Facebook®(15).

Esse algoritmo direciona os conteúdos publicados, de acordo com a região e interesse de cada usuário. Um estudo realizado na Universidade de Illinois e Michigan analisou publicações no Facebook®, e descobriu a existência do direcionamento automático de conteúdos, no qual o usuário somente tem acesso a conteúdos que o Facebook® julga ser pertinentes, de acordo com o histórico de navegação(15).

Nesse sentido, os estados que mais acessaram a RSV D Eficiência foram os estados que sediam as universidades públicas, participantes das pesquisas: São Paulo (71%), Pará (41%), Minas Gerais (27%). Os usuários residentes nessas regiões apresentaram maior probabilidade de receber o conteúdo das divulgações, do que os usuários das demais regiões.

A idade média dos usuários que acessaram tanto a página do Facebook® quanto a RSV D Eficiência variou de 35,8 a 41,2 anos. O sexo predominante foi o feminino, com 79% dos acessos. Esses dados corroboram o levantamento realizado em 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil. E em 2018, pelo Pew Research Center, nos Estados Unidos. Esses estudos demonstraram que as mulheres adultas jovens, entre 19 a 35 anos, acessam 80% mais, as RSV em busca de informações de saúde e novos amigos, do que os homens(16,17).

Os dispositivos de acesso às RSV diferiram nas estratégias de divulgação. Na divulgação com busca ativa, os acessos ocorreram por meio do celular (74%). Diferentemente, da divulgação passiva, que teve como dispositivo principal de acesso, o computador (42,3%). Dados do IBGE e Facebook® Brasil demonstram que 88% da população brasileira (93 milhões de pessoas), acessam o Facebook® pelo celular. À medida que a divulgação com busca ativa, foi atingindo mais usuários, maior foi à probabilidade desse acesso ocorrer pelo celular(9,18).

O uso do celular e a acessibilidade dos dados móveis, fez com que 64% dos adultos jovens, residentes nos Estados Unidos, utilizassem o celular como único meio de acesso à internet. Um estudo realizado em 2015 observou que 41% dos adolescentes de famílias de baixa renda acessavam a internet somente pelo celular, pelo baixo custo na obtenção do aparelho e plano de dados. Desses, 62% utilizavam o celular para buscar informações de saúde(19). Corroborando os demais estudos, que indicam a facilidade do acesso às informações na internet, mesmo em regiões isoladas e/ou por pessoas que vivem em situações precárias, ocorre devido à expansão da banda larga e dos baixos custos dos dispositivos móveis de acesso à internet(20).

 

Estratégias de divulgações no Facebook® e acessos à rede social virtual D Eficiência

Na estratégia de divulgação passiva, as publicações eram visíveis apenas aos usuários que seguiam a página. Enquanto na divulgação com busca ativa, as publicações foram publicadas em diversos grupos e Feed de outros usuários. Obviamente, os acessos foram maiores na divulgação com busca ativa (n=4.519). Embora, as divulgações realizadas no Facebook® se mostraram eficientes. Estudos demonstram que a eficácia das divulgações ocorre pelo tipo, frequência e execução das publicações de acordo com os interesses demonstrados na rede pelo usuário(16).

Nesse cenário, um desses estudos identificou que apenas 40% dos conteúdos publicados nos Feed de notícias, atingem de fato o usuário(21). Esses achados são consistentes com o estudo, que utilizou o Facebook® para o recrutamento de participantes de pesquisas e afirma existir interferência no alcance das publicações, em decorrência dos interesses dos usuários na Web em geral, por meio do histórico de navegação e rastreamento de cookies(22). Outro fator que influencia no alcance e engajamento das publicações é o uso de imagens(16). As publicações da D Eficiência com imagens, atingiram mais usuários, quando comparada as que não utilizaram, sugerindo que o alcance e engajamento aumentam com o uso de imagens nas publicações.

Este estudo demonstrou que realizar busca de termos correspondentes aos objetivos da pesquisa nas RSV, assim como, buscar ativamente usuários com afinidade ao estudado contribuiu de forma significativa, tanto na expansão dos números de acessos à informação publicada (D Eficiência), quanto no alcance de mais pessoas. Podendo essa estratégia ser aplicada em diversos conteúdos científicos relevantes à população.

Contribuição importantíssima para as pessoas com doenças crônicas, visto que um estudo anterior aponta que 25% das PcDs, buscam informações de saúde na internet(23). Ampliados a esses dados, estudos que avaliaram a obtenção de informações de saúde e a interferência nas ações de saúde demonstraram que as PcDs consideravam as informações confiáveis independentemente da fonte, e 70% desses aplicavam as orientações no cotidiano e alteravam o tratamento proposto(24).

Nessa perspectiva, o que se tem discutido atualmente nos estudos além da qualidade das informações de saúde são as barreiras impeditivas ao acesso. Um estudo realizado em 2017 demonstrou a preferência pela obtenção de informações de saúde on-line consolidadas e fundamentadas cientificamente, pois essas auxiliaram tanto nas tomadas de decisão dos profissionais de saúde quanto na confiança dos pacientes em seguir determinada conduta proposta(25). Contudo, estudos demonstram que é constante o acesso às informações de saúde sem qualidade e validação cientifica e sua aplicação nos cuidados de saúde que prejudicam milhares de pessoas no mundo(24,25). Indícios desses dados têm sido observados na luta constante do Ministério da Saúde em combater as informações falsas circulantes nas redes sociais sobre as vacinas, que já trazem impactos desastrosos à saúde pública(24).

Nesse contexto, os resultados destes estudos reforçam a importância de que só a atuação dos educadores de saúde no ambiente online, por meio de ações educativas, criação de páginas com conteúdo validado, não é suficiente, se essas publicações seguem uma estratégia de divulgação passiva(8).

Nesse sentido, este artigo demonstra como driblar as barreiras impeditivas do acesso às informações cientificas, mesmo frente às informações falsas, aos direcionamentos de conteúdo e algoritmos das RSV. Uma vez que a estratégia de divulgação com busca ativa minimiza essas objeções de acesso, como demonstrado que 94% da eficácia da divulgação foram provenientes dessa estratégia. Cabe aos profissionais de saúde, se apropriarem das funcionalidades das RSV, identificar por meio dos gerenciadores de métricas, quais conteúdos são mais acessados e geram interação. Além de acompanhar as mudanças comportamentais dos usuários na obtenção de informações de saúde, assim como desenvolver ações que fiscalizam informações falsas, bem como, aconselhar e capacitar seus pacientes na obtenção de informações confiáveis na internet(24).

Construir e motivar uma nova RSV, assim como, envolver ativamente os usuários é um processo árduo. Principalmente, quando essa RSV é de base científica. Há a necessidade de atualização constante das informações em conjunto com a ciência e de trabalhar a sensibilidade dos profissionais envolvidos na moderação da rede, para identificar mudanças comportamentais de saúde e dos usuários. Entretanto, atitudes inovadoras como esta em devolver um ambiente seguro, controlado, que facilite o acesso à troca de informações, a conexão entre pares, a formação de redes de apoio, entre PcD, familiar instituições e profissionais, que resultem em melhores índices de satisfação com a vida, de autonomia e da participação social, além de minimizar o isolamento social, causado pela deficiência, são ferramentas essências na atualidade(26). Todas essas possibilidades tornam a RSV D Eficiência aliada na atenção e na gestão de saúde pública(21).

Este estudo evidenciou importantes dados sobre a influência do algoritmo do Facebook®, e suas limitações nas divulgações que objetivam disseminar informações de saúde para pessoas com deficiência. O alcance das divulgações atingiu apenas algumas regiões e usuários que demonstraram interesse pelo assunto deficiência no Facebook®. Embora o estudo tenha apresentado limitações nas divulgações pelo curto período de tempo e pequena frequência e quantidade de publicações, a RSV D Eficiência” alcançou 4.945 acessos em sua página. Demonstrando que uma estratégia de divulgação aplicada de maneira ativa, pode driblar as barreiras e atingir mais usuários.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, foram descritas duas abordagens experimentais de divulgação no Facebook®. As publicações que fizeram uso de imagens tiveram maior probabilidade no alcance de usuários. Assim como, quanto maior foi o alcance, maior foi à possibilidade de interação do usuário com a publicação.

A estratégia de divulgação com busca ativa foi mais efetiva quanto ao número de acessos que a RSV D Eficiência recebeu. Sendo o Facebook® um grande aliado à divulgação de conteúdos científicos quando realizada à estratégia de divulgação com busca ativa.

A divulgação cientifica por meio dos profissionais de saúde, devem ocorrer com frequência, com publicações atualizadas e com uso de imagens e textos autoexplicativos, com auxílio da busca ativa para reter, atrair e maximizar a saúde de usuários.

 

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