EDITORIAL

Este ano vem sendo para a Educação Física brasileira um ano de grandes transformações. A cisão que representa o marco regulatório legal para a Formação em Educação Física em nosso país, produtora da antinomia Licenciado versus Graduado, seguramente, logo se fará sentir também sobre o campo acadêmico da área no ritmo em que as centenas de Instituições Formadoras de Educação Física forem se "conformando" às novas Diretrizes Curriculares, em certa medida, ajuste e reflexo tanto da heterogeneização da profissão como da tendencial mercantilização das práticas corporais.

Os desdobramentos deste movimento ainda estão por se definir, mas as interrogações que se abrem para estudantes e professores de Educação Física são as mesmas que apanham os Editores deste periódico científico. Talvez no futuro tenhamos "duas" Educação Física, isto em todas as dimensões, desde a "funcionalização" do trabalho e a identidade profissional, passando pelo ensino de graduação e pós-graduação, até chegar na pesquisa e produção do conhecimento. A lógica será a da segmentação. Cabe observar aí como se comportarão as agências de fomento e qual será a resposta das entidades e periódicos científicos da Educação Física.

É importante que se fale disso pois os critérios de cientificidade e qualidade construídos a partir dos indexadores reconhecidos pelas agências de fomento têm provocado uma significativa homogeneização dos periódicos científicos da área de Educação Física. Em que pese o avanço na quantidade-qualidade destes periódicos, o que acompanha o próprio desenvolvimento da formação de quadros de pesquisadores no campo, se nos balizarmos somente em critérios técnico-quantitativos relacionados ao número de artigos originais publicados e titularidade de seus respectivos autores, seremos cada vez mais forçados a fechar as portas aos saberes produzidos fora do espaço acadêmico e, sobretudo, fora da pós-graduação, caminho que pode unilateralizar o saber científico, em larga escala, tornando-o estranho ao professor.

Esse é um dos dilemas que tem acompanhado os Editores da Pensar a Prática. Não foi por outro motivo que abrimos espaço neste número para o tema "Metodologia de ensino de Educação Física", privilegiando aí o diálogo com a intervenção na realidade prática e social da Educação Física. Esta opção temática reaproxima também a Pensar a Prática da problemática da Educação Física Escolar, já que é a partir deste contexto de intervenção que tem se produzido maior discussão sobre metodologias de ensino.

No que se refere aos números, foram trinta e um trabalhos recebidos, um dado deveras positivo, indicador do reconhecimento, visibilidade e autoridade científica que a Pensar a Prática vem conquistando nacionalmente. Mas se o aumento do volume de trabalhos nos traz contentamento, também provoca preocupação. Pode ser resultado da demanda represada da produção em torno do tema da Escola que não tem encontrado nos periódicos da Educação Física brasileira estímulo e possibilidade de difusão. De qualquer modo, tal acréscimo de demanda trouxe para os Editores a necessidade de maior rigor ainda na avaliação dos trabalhos, sem descuidar dos critérios técnico-quantitativos, mas igualmente orientados por critérios ético-qualitativos, primando sempre pela seriedade e respeito com os pesquisadores, colaboradores e leitores da Pensar a Prática.

Ampliamos assim nosso corpo de consultores e pareceristas externos que, junto aos parceiros históricos da Pensar a Prática, redobraram atenção com a qualidade e relevância social dos trabalhos que nos foram enviados, tendo indicado nove deles para publicação. O conteúdo deste número da Pensar a Prática apresenta, portanto, importantes contribuições para a área da Educação Física, mas, especialmente, para a Educação Física Escolar, construindo interface com o debate teórico-metodológico a respeito da organização do trabalho pedagógico na Escola, sobre a educação física adaptada e sobre a pedagogização dos elementos da cultura corporal, com destaque para a ginástica e a capoeira.

Vale aqui ainda registrar o lançamento deste segundo número do sétimo volume da Pensar a Prática na VIII Semana Científica da Faculdade de Educação Física da UFG, realizada em Catalão-GO, abordando o tema da "Formação de Professores e o Mundo do Trabalho". Sintonizada ainda com o que se desenvolve na Faculdade de Educação Física da UFG, a Pensar a Prática começa a atrair a contribuição de pesquisadores internacionais, fato que reflete no âmbito da difusão o que, na realidade da produção desta mesma Faculdade já se fez acordo de cooperação acadêmico-científico com o Instituto del Profesorado en Educación Física de Córdoba, aproximando o centro-oeste brasileiro do centro argentino, o que contribui para a maior integração do cone-sul latino-americano, isso a fim de superar as desigualdades ainda tão marcantes do desenvolvimento da Educação Física em nossas regiões e países.

E para encerrar, nunca é demais ressaltar o apoio recebido para a publicação da Pensar a Prática vindo do Programa de Apoio às Publicações Periódicas da UFG, coordenado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, já renovado para o seu próximo volume e sem o qual seria por demais difícil dar continuidade ao nosso trabalho. Este é um dos motivos que nos fazem acreditar na responsabilidade que a Universidade Pública possui para com a qualificação social da Educação Física e para com a produção e difusão do conhecimento em nosso país.

Os Editores

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