“QUIETINHO, SENTADO, OBEDECENDO À PROFESSORA”: A REPRESENTAÇÃO DO CORPO DA CRIANÇA NA PRÉ-ESCOLA*

MARIA DO CARMO MORALES PINHEIRO**

Este estudo se propôs a compreender e a explicar como a criança pré-escolar internaliza uma representação de corpo, construída a partir do cotidiano da escola. Nossa hipótese foi de que tal representação volta-se aos interesses de manutenção dos preceitos morais sustentadores da sociedade capitalista. Para isso, realizamos um estudo de caso etnográfico no Jardim de Infância do Instituto de Educação de Goiás durante 1999. A tomada de dados ocorreu através de observações, entrevistas, análise de documentos, brincadeiras, ilustrações e desenhos. O referencial de análise fundamentou-se nos estudos de Wallon e Vygotsky. Baseado nesse

O referencial e nas informações coletadas, realizamos análise de como a escola vê o sujeito ‘criança’, para explicar, então, o processo em que se constitui a representação de corpo por ela formulada. Como conclusões, apontamos: 1) ao representar-se na escola, a criança sempre representa o ‘outro’, sejam as autoridades com as quais lida – professora, coordenadora –, os colegas ou as regras; 2) a menção exaustiva das crianças aos meios coercitivos de que a escola se utiliza para manter uma ‘ordem’ indica que as regras ainda não foram internalizadas, apesar de já serem conhecidas. Nesse caso, o controle da instituição ainda é externo; 3) há uma diferenciação das imagens corporais entre meninos e meninas, notadas através de certas referências de vaidade, indicando que a sexualidade começa a ser ‘definida’ desde tenra idade, processo no qual a escola interfere significativamente; 4) nem sempre a escola consegue formar um corpo bem adaptado à sociedade; 5) a relação entre pré-escola e mundo do trabalho se explicita somente quando a escola admite que educa a criança com vistas à apreensão de conhecimentos utilitários, quais sejam: ler e escrever. Para isso, a criança precisa ficar ‘quieta’, ser ‘obediente’ e ‘bem-comportada’, ou seja, ajustar-se às normas sociais.

NOTAS

* Dissertação de Mestrado em Educação Brasileira, orientada pela Profª Drª Ivone Garcia Barbosa, defendida em setembro de 2000, na Universidade Federal de Goiás.

** Professora substituta do curso de Educação Física da Universidade Federal de Goiás/ Campus Avançado de Catalão.

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