A EDUCAÇÃO FÍSICA NO CURRÍCULO ESCOLAR E O ESPORTE: (IM)POSSIBILIDADE DE REMEDIAR O RECENTE FRACASSO ESPORTIVO BRASILEIRO

MARCÍLIO SOUZA JÚNIOR*

RESUMO

Este texto analisa o discurso que tenta caracterizar a Educação Física no currículo escolar como um meio para remediar o recente fracasso esportivo brasileiro, tornando-a locus para a massificação do esporte e, por conseqüência, momento de descoberta de talentos esportivos que venham a ser atletas olímpicos. Para tanto, nele selecionamos falas de dois dirigentes esportivos de renome nacional que circularam em veículos de mídia impressa. Diante de tais falas, confrontamos os princípios do esporte buscados por tais dirigentes (rendimento, espetáculo, olímpico) com o papel da Educação Física na escola e, a partir daí, com a função social desta, inquirindo: o esporte na/da escola deve preocupar-se em identificar talentos esportivos ou oferecer a apropriação deste fenômeno/conhecimento da produção social e histórica da humanidade? A Educação Física Escolar deve ajudar a formar pessoas que possam usufruir do esporte como um praticante e sujeito ativo, a começar pela sua apropriação, por meio da escola, como um conhecimento elaborado, ou contribuir para formar os não-talentos esportivos (a maioria) em meros consumidores contemplativos dos ídolos esportivos mitificados?

INICIANDO A DISCUSSÃO

Existe hoje uma vasta produção acadêmico-científica acerca do esporte, discutindo sua história, seus princípios, suas modalidades, suas dimensões, reconhecendo-o com diversas adjetivações: esporte de lazer, esporte-participação, esporte de rendimento, esporte-performance, esporte espetáculo, esporte educacional e outras. Para aprofundar tais discussões e qualidades sugiro, dentre muitos outros autores, ler Tubino (1992), Kunz (1994), Gaya (1994), Bracht (1997). O esporte é hoje um fenômeno de grande expressividade social, que merece atenção dos estudiosos, inclusive dos que procuram pensar a Educação Física Escolar. No entanto, penso que não é mais possível justificar a existência do esporte no currículo escolar, como conteúdo nas aulas de Educação Física, com um discurso que argumenta em favor da descoberta e fomento do talento esportivo, muito menos quando este está atrelado a iniciativas para que este esporte escolar venha a se tornar a base de uma pirâmide esportiva olímpica.

Neste texto procurarei não apenas analisar argumentos e contextos de tais discursos, procurando evidenciar a impossibilidade da Educação Física Escolar vir a tornar-se locus para descoberta de talentos esportivos, mas também apresentar possibilidades para o tratamento do esporte como conteúdo para as aulas de Educação Física.

Para tecer as análises e críticas contidas neste texto estarei me referindo ao esporte como fenômeno do mundo moderno que assume/apresenta características/princípios de comparações objetivas, sobrepujança, busca do recorde, selecionamento, especialização, instrumentalização, racionalização... Enfim, estarei me referindo ao esporte de rendimento, esporte-espetáculo e, às vezes, ao esporte olímpico.

Dois fatos históricos do mundo esportivo demarcam o retorno de um discurso presente na Educação Física Escolar, principal-mente na década de 1970 e que, hoje, não mais atende ao contexto social – tanto no âmbito educacional escolar quanto no próprio mundo esportivo – e ignora a evolução da produção acadêmica na área da Educação Física Escolar.1

RECENTES FRACASSOS DO ESPORTE BRASILEIRO

Primeiro fato

No dia 12 de julho de 1998, o mundo inteiro ficou surpreso com a derrota da seleção brasileira de futebol masculino, durante a Copa da França, para os “donos da casa”. Com uma derrota de 3 x 0 para a seleção da França, a seleção brasileira ofereceu à sua população – em especial, aos amantes do futebol – uma enorme tristeza. Afinal, muitos eram aqueles que, mesmo tendo assistido a uma campanha insatisfatória da seleção e acompanhado a conturbada (não) escalação da equipe brasileira, a qual gerou histórias diversas (e que, ainda hoje, ecoam nas CPIs do futebol e da Nike, com explicações contraditórias e misteriosas), ainda desejariam ver a seleção de seu país sair vitoriosa.2

Segundo fato

No dia 15 de setembro de 2000, o Brasil deu início à corrida por medalhas olímpicas em Sydney, na Austrália. Muitas esperanças, chances e indicações de favoritismos anunciavam a expectativa de superar a melhor participação do Brasil em olimpíadas, ou seja, ampliar as 18 medalhas de Atlanta, em 1996, 3 das quais foram de ouro e 3 de prata. Tal anúncio sempre vinha acompanhado de um discurso de grandes investimentos e de seriedade na política esportiva do país. Finalizadas as competições olímpicas, um novo discurso3, que já no meio da Olimpíada surgira, busca convencer a população de que, numa disputa esportiva, o importante é competir e não vencer, e que certas medalhas de pratas, diante da crise social e econômica atual do país e, conseqüentemente, do esporte brasileiro, significavam verdadeiras conquistas de primeiros lugares.

ANALISANDO OS FATOS E DISCURSOS

A partir desses marcos e em meio a inúmeros outros fatos do mundo esportivo e da história social do país, a Educação Física Escolar passa a ser o mote, o foco para o desenvolvimento de talentos esportivos nacionais, na tentativa de preparação dos futuros campeões olímpicos. Tal discurso/argumentação, sem necessitar recontar a história da Educação Física na escola brasileira,4 remonta a uma Educação Física quase que absolutamente submissa aos códigos de uma instituição esportiva, na qual a padronização técnica dos gestos esportivos e a exigência de rendimentos atléticos, entre outros elementos, passaram a definir os conteúdos deste componente curricular na Escola de Educação Básica (EEB).

Quem vem acompanhando nosso cenário esportivo, certamente lembra-se de inúmeros episódios em que atletas, ex-atletas, técnicos, dirigentes e jornalistas esportivos ressuscitam discursos da década de 1970, afirmando a possibilidade de se criar um quadro de futuros atletas olímpicos através das aulas de Educação Física na EEB.

Para atribuir mais propriedade a esta análise, selecionei, entre inúmeros discursos de pessoas com renome no mundo esportivo nacional, os de dois dirigentes da política esportiva brasileira: Carlos Carmo Andrade Melles (Ministro de Esporte e Turismo) e Carlos Arthur Nuzman (Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro – COB).

Partindo desta “possível” relação entre as aulas de Educação Física e o Esporte Olímpico, vemos a retomada de um pensamento que procura colocar as aulas de Educação Física à disposição do sistema esportivo nacional. O mais preocupante nisto é a forma simplista e, talvez, irresponsável de se estabelecer tal relação, tanto por negligenciar os prejuízos que podem causar aos alunos da educação básica quanto por fragilizar os verdadeiros investimentos5 necessários ao bom desenvolvimento de atletas olímpicos.

Eis então exemplos dos discursos que explicitam o que se espera das aulas de Educação Física Escolar, tendo como pano de fundo os recentes fracassos esportivos brasileiros:

1- A Educação Física voltará a ser obrigatória na escolas. Foi um erro tornar essa matéria facultativa, pois ela é fundamental para a massificação do esporte. (...) Nós queremos que esta obrigatoriedade já esteja em vigor em 2001. É uma questão de educação, de saúde de nossos jovens. A Educação Física jamais deveria ter deixado de ser praticada nas escolas. (Melles, 2000a)

2- A Olimpíada Colegial6 tem como um dos objetivos primordiais resgatar a importância da Educação Física no currículo escolar e conseqüentemente valorizar o papel do professor de Educação Física. O COB considera que a prática esportiva é um dos melhores caminhos para a orientação sadia dos jovens na nossa sociedade e a escola é o melhor celeiro para a descoberta de valores. (Nuzman, 2000)

3- O Ministério está empenhado nessa causa fundamental para o esporte brasileiro. Como parte do projeto de massificação do esporte, a Educação Física voltou a ser valorizada no currículo escolar. Assim, acredito que o Brasil esteja dando um grande passo para construir a nação esportiva que todos desejam. (Nuzman, 2001)

Eis agora iniciativas e investimentos que estão sendo elaborados e/ou implementados para materializar os discursos e assim favorecer à construção da tal “nação esportiva”. Tais iniciativas são listadas nos discursos das personalidades7 já citadas:

1- Jogos Estudantis (Nacional) – Olimpíada Colegial: projeto do COB junto com o Ministério de Educação;

2- Núcleos para incentivo esportivo – Centros Olímpicos de Desenvolvimento de Talentos: iniciativa do COB para construção de uma sede para o projeto de descobrimento de talentos esportivos no meio infantil, mais especificamente entre crianças matriculadas nas escolas de redes públicas estaduais;

3- Locais para formação de especialistas em Esporte – Centro Olímpico de Estudos do Esporte: ação do COB para formar profissionais especializados nas diversas áreas do esporte (psicologia, medicina, marketing), além de professores de Educação Física;

4- Incentivos à produção científico-acadêmica na área do Esporte – 2ª edição do Prêmio Brasil Esporte: série de publicações realizadas pelo Ministério de Esporte e Turismo, cujo objetivo é estimular o desenvolvimento de tecnologias que possam favorecer o esporte.

Se as aulas de Educação Física nas escolas são mesmo o melhor local para a descoberta de talentos esportivos, e se para descobrir esses talentos entre as crianças na escola é preciso que estas estejam praticando esportes, por que não há investimentos diretos nas escolas para a prática esportiva, especialmente no que diz respeito a instalações e recursos apropriados?

A escola é mesmo este “celeiro” esportivo como dizem? Seria o termo “celeiro” a palavra mais adequada para referir-se a um espaço considerado tão importante para o esporte? O termo “celeiro”, segundo Bueno (1980, p. 244), significa “casa em que se ajuntam e guardam cereais; depósito de provisões; tulha; silo”. Partindo desta compreensão, seria prudente reconhecer a escola como local de ajuntamento e tulha de atletas em potencial? Penso que, a começar pelo termo, existe uma impropriedade em reconhecer a escola como locus para o surgimento de futuros atletas olímpicos e justifico isso por vários motivos:

1- Os alunos, na escola, não estão entulhados; isso degeneraria os alunos e a própria escola (maior instituição educacional de todos os tempos);

2- A escola hoje possui princípios que se tornam incompatíveis com os princípios do esporte moderno, a saber: a escola procura democratizar suas ações, o esporte procura selecionar; a escola busca o desenvolvimento de uma cultura geral, o esporte exige especialidade; a escola deve lidar com a diversidade dos alunos, o esporte procura padronizar; a escola intenciona sociabilizar o conhecimento, o esporte busca estabelecer comparações objetivas etc;

3- Há exigências para o desenvolvimento do talento esportivo que obrigam o cumprimento de princípios que a escola, por melhor que seja em termos de instalações, recursos e nível socioeconômico dos alunos, não é capaz de realizar, a saber: o esporte trabalha com a individualidade biológica para o desenvolvimento das aptidões físicas e atléticas, a escola trabalha com a coletividade heterogênea; o esporte precisa do rendimento corporal máximo, a escola tem no corpo sua fonte de apreensão do conhecimento; o esporte precisa que seu atleta tenha um bom estado nutricional, a escola, por mais que ofereça merenda aos alunos (fato que já é questionável, por ser um paliativo social), não possui controle alimentar sobre eles, seja daqueles que só comem na escola, seja daqueles que comem em casa mas dos quais não se registra a qualidade nutritiva dos alimentos ingeridos.

Penso que a escola não é espaço para descobrir ou desenvolver talentos, sejam eles de que especialidade forem. Se fizermos um levantamento estatístico acerca dos grandes talentos, inclusive dos esportivos, veremos que existem aqueles que não passaram pela escola. Contudo, poder-se-ia afirmar que seriam exceções à regra, pois, se fizermos um levantamento entre os talentos, veremos que a grande maioria passou pela escola, daí se justifica a afirmação de a escola ser um “celeiro de talentos”. No entanto, penso que este raciocínio é um silogismo linear e superficial, pois se perguntarmos aos talentos se foi na escola que eles desenvolveram seu potencial, creio que irão caracterizar a escola como ponto inicial, mas não como a maior responsável pelo desenvolvimento de suas habilidades especiais.

Partindo das argumentações acerca do reconhecimento das características e princípios do esporte olímpico e da função social da escola hoje, devemos nos perguntar: o esporte na escola deve preocupar-se em identificar talentos ou oferecer a apropriação deste fenômeno/conhecimento da produção social e histórica da humanidade?

Reconheço, nos discursos e iniciativas para a busca do talento esportivo através das aulas de Educação Física na escola, indícios de um oportunismo vulgar, mal-intencionado, que não busca verdadeiramente construir a nação esportiva que todos desejam, mas sim aquela em que alguns poucos lucram. Duvido até que estão sendo sinceros em achar – ou fazer-nos pensar – que a escola pode superar o fracasso esportivo. Se são “sinceros”, não estariam sendo incompetentes? Se estão sendo competentes, estariam a favor da construção de que nação esportiva? Daquela que forma meros consumidores contemplativos dos ídolos esportivos mitificados, que calam as aspirações sociais, dentre elas, o acesso a uma educação de qualidade? Ou daquela que forma pessoas que usufruem do esporte como praticantes e sujeitos ativos, a começar pela apropriação deste como um conhecimento elaborado?8

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É necessário reconhecer que tipo de investimentos são realmente necessários para o desenvolvimento de atletas e onde estes investimentos devem ser aplicados. Seria muito interessante, para a Educação Física Escolar, receber as cifras dedicadas ao fomento do talento esportivo, no entanto, isto seria desonesto, pois, pelos argumentos apresentados, vê-se que a escola não é o locus apropriado para tal intenção.

O esporte precisa estar presente nas aulas de Educação Física Escolar como um conteúdo a ser apreendido pelos alunos, o qual deve ser organizado e estruturado pedagogicamente de forma a ser entendido, apreendido, refletido e reconstruído enquanto conhecimento que constitui o acervo cultural da humanidade, de forma a possibilitar sua constatação, sistematização, ampliação e aprofundamento (Coletivo de Autores, 1992).

Diante dos argumentos expostos, penso que a Educação Física não deve ensinar o esporte, com o intuito de fazer com que o aluno adquira aptidão atlética em uma modalidade esportiva como, por exemplo, ensinar a executar tecnicamente o fundamento da cortada no voleibol. Penso, sim, que a Educação Física, deve oferecer referências sobre o conhecimento do esporte, por exemplo, tratar sobre a história do jogo de voleibol na intenção de que o aluno aprenda que a essência deste jogo é passar a bola por sobre uma rede, mantendo-a no ar quando esta estiver de posse de sua equipe e forçando-a a cair no chão quando de posse da outra equipe; e que a cortada é, no voleibol, um fundamento técnico-gestual que ele (o aluno) precisa conhecer. Tais referências não seriam apresentadas exclusivamente na forma oral ou discursiva aos alunos, ao contrário de possíveis interpretações do enunciado acima. A ação pedagógica da Educação Física deve, através de experimentações corporais, favorecer prioritariamente a sistematização de percepções, representações e conceitos elementares, buscando elaborações de explicações, generalizações e sínteses cada vez mais conscientes e consistentes perante uma determinada dimensão da cultura corporal. As experimentações corporais são formas de aprendizado, portanto, durante sua realização, não interessa quem é forte, quem é fraco, quem é bom de bola, quem não é; o que importa é que o aluno aprenda o conteúdo da aula e possa, conseqüentemente, exercitá-lo, praticá-lo, vivenciá-lo.

A Educação Física na escola deve oportunizar aos alunos uma organização do pensamento a respeito de um conhecimento, tal como o esporte, favorecendo a reflexão pedagógica deste aluno. As atividades, tarefas e responsabilidades dos alunos não são simplesmente correr, brincar, jogar, exercitar, fazer. Esse “fazer” deve configurar-se como procedimento imprescindível para refletir criticamente o conhecimento trazido por um determinado tema da cultura corporal, compreendendo-o conceitualmente, inclusive através de experimentações corporais; ou seja, deve ser um “fazer” crítico-reflexivo.

Enfim, espero, neste breve texto, ter ilustrado suficientemente com exemplos a impossibilidade de educação física escolar voltar a caracterizar-se de forma submissa ao esporte-espetáculo e, mais especificamente, ao esporte olímpico, e, ainda, ter contribuído para desnudar o discurso messiânico de que as aulas de Educação Física podem remediar o recente fracasso esportivo brasileiro. Espero também ter contribuído para refletir a possibilidade de abordar o conteúdo esporte nas aulas de Educação Física sob uma ótica diferente, de forma que seus princípios modernos – tais como especialização, comparações objetivas, instrumentalização, sobrepujança etc.

– sejam tratados pedagogicamente para que os alunos possam ter acesso a mais esta dimensão da cultura. Espero ainda ter contribuído para repensar o próprio esporte-espetáculo, colaborando na construção de uma concepção e de uma prática esportiva em que seus princípios não sejam procurados de forma obsessiva e a qualquer custo, de forma que a especialização não seja construída com precocidade; que as comparações sejam fruto de igualdade de chances; que a instrumentalização seja produto de um trabalho objetivo, porém humanizado, como não poderia deixar de ser; que a vitória seja produto de um processo planejado com ética e rigor científico.

ABSTRACT

This article analyses the discourse that attempts to characterize Physical Education programs in the school currivulum as a means to attenuate the recent Brazilian failure in sports, by making school a center of sports massification an, as a consequence, a place for discovering sports talents who could become olympic athletes. Therefore, the statements of two famous national sports leaders were selected from the press for this purpose. From their assertions, the sports principles sought by such leaders (performance, o spectacle, olympics) are confronted with the role of Physical Education at schools and, thereby, with its social function. It is inquired whether sports at or of schools should be concerned with identifying sports talents or offer the appropriation of this phenomenon and knowledge built by the social an historical production of human kind. It is also questioned whether Physical Education programs at Schools should help form people who are able to enjoy sport as an active participant, beginning with its appropriation, through the school, as an elaborated knowledge, or contribute to turn nom-talented sportspeople (the majority) into mere onlooking consumers of mystified sports idols who were once recognized as sports talents.

KEYWORDS: Physical Education – School Curriculum – Sports.

NOTAS

* Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), professor da Escola Superior de Educação Física (ESEF) da Universidade de Pernambuco (UPE) e coordenador do Laboratório de Estudos Pedagógicos (LAPED) do Centro de Estudos em Educação Física e Esporte (CESEFE) da UPE.

1 Tal ignorância pode ser interpretada sob vários sentidos: o que desconhece a produção, o que conhece a produção, mas a desconsidera, por achá-la irrelevante diante dos valores com os quais a julgam. É o sentido que, intencionalmente, desqualifica a produção, porque esta representa um risco para seus projetos sociais violentamente capitalistas.

2 Uma interessante análise acerca desta partida de futebol, que vem contribuir para a reflexão desenvolvida neste texto, pode ser encontrada num texto de Édison Gastaldo, “Os campeões do século: notas sobre a definição da realidade no futebol-espetáculo”, publicado na Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 22, n. 1, set./ 2000.

3 Gastaldo (2000), analisando os discursos de locutores e comentaristas no momento do jogo de futebol Brasil x França (dia 12 de julho de 1998), nos traz exemplos das mudanças de sentido dos discursos em função da alteração dos fatos reais (do jogo), que demonstram a relação entre esporte e sociedade, esporte e ética etc.

4 Sugiro ler Ghiraldelli Júnior (1988); Oliveira (1985); Castellani Filho (1988); Assis de Oliveira (2001), entre outros.

5 Para ter acesso a outros tipos de investimentos que o esporte olímpico brasileiro vem recebendo das autoridades competentes, sugiro consultar a reportagem em que Roberto Salim (2000) apresenta cinco atletas brasileiros que participaram da Olimpíada de Sydney.

6 “Este projeto foi apresentado pelo COB ao Ministro da Educação Paulo Renato de Souza. Este ano, o ministro reativou o projeto e então demos início à elaboração do evento, que difere das competições estudantis anteriores” (Nuzman, 2000).

7 Nuzman (2000 e 2001) e Melles (2000b).

8 A esse respeito sugiro consultar Coletivo de Autores (1992); Souza Júnior (1999); Assis de Oliveira (2001).

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