ABORDAGENS METODOLÓGICAS DO ENSINO DO ESPORTE NO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA/UFG

NILVA PESSOA DE SOUZA*

RESUMO

Este texto trata das abordagens metodológicas do ensino do esporte no curso de Educação Física da FEF/UFG, desde a criação do curso até os momentos atuais. Aponta ainda as dificuldades e os acertos na adequação pedagógica do esporte, como componente da cultura corporal, que deveria ser considerada como conteúdo da educação física escolar pelos estudantes, principalmente na prática escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Abordagens metodológicas, cultura corporal, educação física.

Antes de entrarmos em detalhes sobre o referido tema, achamos que se faz necessário situar o ensino do esporte no currículo da licenciatura da Faculdade de Educação Física/UFG. De acordo com a Resolução n.º 393/CCE/UFG, que fixa o currículo pleno do Curso de Educação Física, as ementas de todos os esportes trazem o seguinte teor:

Conhecimento histórico dos fundamentos e das regras básicas da modalidade técnica esportiva, visando ao domínio de suas características fundamentais, o método e a didática de transmissão dos seus conteúdos. Participação na organização prática e eventos desportivos e na análise destas na Cultura Desportiva.

Ainda nessa resolução, fica evidente que procuramos formar professores que atuem nas escolas, procurando através de sua prática a transformação social, com base fundamentada no estudo da motricidade humana. Diante do exposto, podemos perceber que o esporte é, para o curso, um componente, ou melhor um conteúdo, que, juntamente com as demais áreas, integra os conteúdos da educação física escolar. E, quando procuramos caracterizar o esporte como conteúdo da educação física, em nossas aulas, nas diversas modalidades esportivas, distribuídas nos Desportos Coletivos e Individuais, concordamos com Luckesi (apud Medeiros, p. 83): “Não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, ainda que bem ensinados; é preciso que se liguem, de forma indissociável, à sua significação humana e social.”

Pois, somente dessa maneira conseguiremos passar a nossos alunos a essência do esporte, como agente transformador e formador de cidadãos conscientes dentro do ambiente escolar.

Partindo para uma análise histórica, percebemos que o ensino do esporte, desde a criação do curso de Educação Física, passou por diversas etapas:

1. No início a compreensão do currículo para os professores era algo extremamente delicado, uma vez que vínhamos de uma formação tradicional e altamente técnica, e sem conhecimento das novas tendências da educação física. Mas, aceitamos o desafio, desafio porque a partir daquele momento quebrávamos todos os conceitos, vivências e credos que tínhamos a respeito de nossa formação profissional, para juntamente com os colegas “dar cara” ao curso que se iniciava na UFG.

2. Diversas dificuldades sobrevieram, sendo algumas mantidas até o presente momento. A primeira foi a de não conseguir estabelecer diferenças entre uma aula do modelo tradicional e a do modelo que visava à formação humanista de nossos acadêmicos. Com isso, não conseguíamos fazer ou proporcionar uma ponte de aproximação com o esporte como conteúdo da educação física escolar, o que foi facilmente identificado na disciplina didática e prática de ensino. Constatamos que os acadêmicos sentiam dificuldades em lidar com tal conteúdo ao atuar no CEPAE. Porque, traziam em si o modelo preconcebido de esporte, aquele passado historicamente pela política governamental, pela mídia, pelos professores que atuavam na rede de ensino, nos clubes, nas associações e também vivenciados por nós, professores. Mesmo que tal modelo fosse tratado e discutido em nossas aulas como um referencial a ser mudado, tentamos caracterizar o trato do esporte não como educação física, mas como conteúdo. Foi através da busca de sustentação teórica, de diversas discussões entre companheiros da FEF/UFG e com nossas turmas que pudemos melhor entender o papel do ensino do esporte na licenciatura e conseqüentemente na escola.

3. Hoje essa ponte entre o esporte e a escola já não é mais problema. Nossos acadêmicos já trabalham com didática e prática de ensino no CEPAE, com mais tranqüilidade e conhecimento e consideram o esporte como conteúdo da educação física escolar. Mas isso não quer dizer que os problemas acabaram. Chegamos à conclusão que, embora a educação física esteja caminhando a largos passos para sua identificação com as demais áreas de conhecimento, acreditamos que o esporte como conteúdo escolar está avançando à medida que os modelos metodológicos para o trato desse conhecimento também estão sendo construídos historicamente. Consideramos que existe menos conhecimento sistematizado sobre as mudanças acerca do conteúdo do esporte e, principalmente, acreditamos que tal construção vai contra os objetivos do mercado de trabalho, uma vez que existe a necessidade de historicizar os conteúdos do esporte. É necessário situá-los a cada mudança social, levando em consideração as implicações dos modelos politizados do esporte enquanto espetáculo, do esporte enquanto imagem Portanto, necessitamos situar esses modelos, usando-os como referenciais para a compreensão, além de aproximar o esporte com os demais conteúdos da educação física escolar.

A nossa principal dificuldade se situa na unidade metodológica. Tentamos organizar um seminário com a participação de todos os professores que trabalham com as disciplinas esportivas na FEF e nos dois campi. Essa tentativa foi em vão. Através de conversas isoladas entre alguns colegas, importantes pelos efeitos transformadores, conseguimos implantar algumas inovações, como: pontuar os conteúdos esportivos como objetivos educacionais; fazer a ponte entre o esporte e o trato com a educação física escolar; aproximar a disciplina esportiva com as demais disciplinas do curso; identificar os valores individuais, competitivos e seletivos do esporte e tratá-los de forma educativa dentro da disciplina educação física escolar; identificar as metodologias e didáticas trabalhadas nas aulas e aplicá-las nos diversos campos de trabalho: escola, clubes, associações, etc.; identificar as causas da exclusão e discriminação dentro do esporte; e reverter este processo com base em discussões e debates com as turmas de educação física escolar.

Ainda nos esbarramos na competitividade existente no esporte, mal compreendida pelos nossos acadêmicos, que acham que ela não deve existir nas aulas de educação física, que devem ser mais lúdicas. Pelo contrário, ela está presente em nossa relação, nos meios esportivo, educacional ou social. É possível que tal pensamento advenha do conceito de licenciatura por parte dos acadêmicos. Alguns deles entram e saem da FEF com as mesmas idéias de senso comum, outros conseguem identificar-se e engajar-se no projeto de licenciatura proposto pela Faculdade. No currículo, o esporte faz parte dos conteúdos da educação física escolar. Não rejeitamos a técnica, a competição, o caráter lúdico do esporte. Rejeitamos, porém, os modelos prontos de iniciação esportiva, trabalhados na educação física, assim como o fato de o esporte se tornar objetivo da aula de educação física. Acreditamos, sim, no esporte como conteúdo da educação física escolar, que tem um objetivo maior do que ensinar técnicas, que é:

[...] promover a liberdade pessoal, levando o aluno a um autoconhecimento que lhe possibilite superar suas próprias contradições, desenvolvendo a capacidade de compreender a si mesmo e a seu mundo, desvelando as mútuas relações que, tanto em nível pessoal como social, são historicamente condicionadas. (Gonçalves, 1994, p. 127)

Outra ação proposta por nós, em nossos planos de ensino, foi tentar adequar os conteúdos do esporte à realidade das escolas públicas de nosso Estado. Porque cada escola pertence a uma determinada região, a uma determinada classe social, porque detém um determinado espaço físico – se é que o tem –, com material técnico e didático escasso e, às vezes, com professores despreparados para enfrentar tais dificuldades.

De acordo com Medeiros (1998, p. 86), ao reportar uma pesquisa realizada sobre os conteúdos priorizados nas escolas de Goiânia, “a grande maioria dos informantes (80%) prioriza a prática esportiva nas suas aulas e nem sempre consegue fazer alguma diferenciação entre educação física e esporte”.

É essa realidade que pretendemos mudar. Queremos que os acadêmicos que procuram a licenciatura em educação física na FEF/ UFG, mesmo sem conhecimento suficiente acerca do projeto políticopedagógico definido na resolução citada inicialmente, possam participar na construção das mudanças da realidade da educação física escolar em nosso Estado.

Estamos certos de que conseguiremos essas mudanças quando tomarmos o

esporte como conteúdo a ser tratado na escola. Podemos dizer que para ensiná-lo não podemos abrir mão quer seja das ciências físicas e biológicas, das ciências sociais ou da cultura. Isso porque ensinar um esporte, enquanto conteúdo escolar, implica considerar desde os seus fundamentos básicos, os seus métodos de treinamento, o seu “jogar” propriamente dito, até o seu enraizamento social e histórico, passando, é claro, pela sua significação cultural enquanto fenômeno de massas em nossos dias. (Soares, Taffarel & Escobar, 1992, p. 217)

Pretendemos, portanto, com nossa ação pedagógica, formar “intelectuais transformadores [...] que contemplem tanto o ensino de habilidades e técnicas como a preocupação com a construção de uma sociedade democrática” (Ferreira, 1998, p. 110).

Estaremos, assim, contribuindo para qualificar os profissionais que estarão futuramente construindo os projetos políticospedagógicos da educação nos diversos sistemas de ensino.

E, parafraseando Medina, “que nossos sonhos sejam intensos o suficiente para iluminar o nosso cotidiano em busca de dias melhores”.

ABSTRACT:

This paper is about the methodological approaches to sports teaching at School of Physical Education from its beginning to nowadays. Failure and success are pointed out in sports pedagogical adequacy as a component of corporal culture. It should be considered as a content of school physical education by the students, as far as school practice is considered.

KEY WORDS: Methodological approaches, corporal culture, physical education.

NOTA

* Professora de Desporto Coletivo IV – Metodologia do handebol do Curso de Educação Física/ FEF/UFG. E-mail: npessoa@fef.ufg.br.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MOREIRA, Wey. (Org.). Educação Física & Esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus, 1992.

FERREIRA, M. G. Metodologia de ensino do basquetebol no curso de formação de professores de Educação Física: um relato de experiência. In: Pensar a Prática, Faculdade de Educação Física/UFG, v. 1, n. 1, jan/jun. 1998.

MEDEIROS, Mara. Didática e prática de ensino da educação física: para além de uma abordagem formal. Goiânia: Ed. do Autor. 1998. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992. GONÇALVES, M.A. Salin. Sentir, pensar, agir: corporeidade e educação. Campinas: Papirus, 1994.

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